sábado, 11 de agosto de 2018

Em defesa da língua portuguesa em Timor-Leste


Há uns dias partilhei uma reflexão no Jornal Tornado com o nome Porque razão Timor-Leste optou pelas línguas oficiais Tétum e Português. 

M. Azancot de Menezes*| Jornal Tornado

Este texto, durante vários dias, foi o mais visto neste órgão de comunicação social, tendo ocupado o primeiro lugar neste jornal, que é consultado, em média, por 5 milhões de pessoas.

Estou a salientar estes aspectos para evidenciar a importância da questão das línguas no nosso país, principalmente num momento em que é evidente o interesse que o governo australiano está a demonstrar em (tentar) aniquilar a implantação da língua portuguesa em Timor-Leste e substituir a nossa segunda língua oficial (português) pela língua inglesa.

A propósito das escolhas das duas línguas oficiais, Tétum e Português, obviamente, sem desvalorizar a importância das línguas maternas, revisitando o livro «Processo educativo na educação pré-escolar e no 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico» da autoria do Ministério da Educação e Cultura do VII Governo Constitucional da RDTL, penso que é de toda a conveniência relembrarmos de forma resumida as razões que nos levaram a optar pelo português como segunda língua oficial.

A escolha da língua portuguesa contabiliza: um peso simbólico (por ser língua de resistência à invasão indonésia, língua usada para dar informações ao mundo sobre a luta e os efeitos da invasão), um aspecto identitário (o do seu passado sem grandes imposições, sem grande impacto), um aspecto afectivo(ligação ao catolicismo, igreja que em conflitos de guerra – segunda guerra mundial, invasão indonésia – nunca abandonou o povo) e um aspecto geoestratégico (Timor confinado à Indonésia e à Austrália).

A escolha da língua tétum constitui, por um lado, a assunção do compromisso de defesa, desenvolvimento e promoção de uma língua em situação altamente desfavorecida. (Costa, 2012, p. 215, citado por Carvalho in Guedes et al., 2015, p. 152).

O que disseram dirigentes dos principais partidos timorenses, académicos e religiosos

Para que não restem dúvidas sobre o desejo da língua portuguesa em Timor-Leste, na qualidade de cidadão timorense que lutou pela libertação do país (Nota do Director: por entendermos pertinente dar a conhecer o percurso de Azancot de Menezes publicamos uma nota biográfica e respectivo Certificado no fim do texto), decidi compilar algumas frases célebres de alguns dirigentes:

da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN); do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT); do Partido de Libertação Popular (PLP); do Partido Democrático (PD); bem como de académicos; da Igreja Católica; internacionais apoiantes da causa de Timor-Leste,

para avivar a memória de alguns e para esclarecer os mais novos que pouco sabem a este respeito.

Por outro lado, numa outra perspectiva, independentemente das boas relações que podemos manter e estabelecer com a vizinha Austrália, há uma mensagem directa ao governo australiano: o povo maubere está atento, a língua portuguesa em Timor-Leste não será substituída pela língua inglesa, nem a curto, nem a médio, nem a longo prazo.

Vejamos as frases célebres em defesa da língua portuguesa em Timor-Leste (na totalidade em Tornado):





É natural de Díli (Lahane Oriental) e Secretário-Geral do Partido Socialista de Timor (PST). Durante a luta de libertação nacional de Timor-Leste representou a AST – Associação Socialista de Timor (1991) e mais tarde o PST, junto da CPLP, Europa e Nações Unidas, onde apresentou várias petições a favor da independência de Timor-Leste.

Em 1996 envolveu-se nas acções políticas e militares da Brigada Negra, Força Especial das FALINTIL, durante a luta de libertação nacional de Timor-Leste no âmbito da Guerrilha Urbana.

Na década de 90, enquanto Representante do PST no Exterior, divulgou mensagens escritas de vários líderes da resistência, onde se incluem Avelino Coelho, Taur Matan Ruak e Kay Rala Xanana Gusmão (este último para o Presidente de Angola), entre outros. Teve reuniões com o Governo de Portugal, dos PALOP e da CPLP, e com a Amnistia Internacional, para denunciar a violação dos direitos humanos em Timor-Leste.

Em 2001 foi candidato à Assembleia Constituinte de Timor-Leste e em Dezembro de 2004, provisoriamente, foi Deputado do Parlamento Nacional de Timor-Leste.

Azancot de Menezes é Professor Universitário, Doutor em Educação na Especialização em Administração e Política Educacional pela Universidade de Lisboa, Mestre em Educação na Especialização em Supervisão e Orientação Pedagógica pela Universidade de Lisboa, Pós-Graduado com o Curso de Especialização Pós-Licenciatura, Área de Organização e Desenvolvimento Curricular, Especialidade em Formação Pessoal e Social/Educação para a Cidadania – pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada de Lisboa e Licenciado em Matemáticas Aplicadas.

Trabalhou em Portugal, Angola e Timor-Leste no ensino secundário e no ensino superior durante mais de 25 anos, como professor, formador, consultor e investigador em educação.


Depois destas evidências demonstradas pelas personalidades políticas, académicas e religiosas referidas, e atendendo a que “a imprecisão, ambiguidade e insuficiência semântica do tétum actual para traduzir muitos dos conceitos político-administrativos, técnicos e científicos da cultura contemporânea determinam a importância crucial reconhecida à língua portuguesa, no sistema de ensino, na produção legislativa, na administração, na aplicação do direito e no plano das relações internacionais” (Vasconcelos, 2011).

Seria bom que o Jornal Tornado entrevistasse académicos timorenses sobre esta matéria para que se evidenciem aspectos de âmbito epistemológico que ajudem a perceber a complexidade da aprendizagem e do uso da língua, em particular a língua portuguesa, com base em argumentação teórico-conceptual adequada, em particular, através do paradigma cognitivista da linguística e da pragmática linguística.

Sem comentários:

Mais lidas da semana