Há uns dias partilhei uma
reflexão no Jornal Tornado com o nome Porque
razão Timor-Leste optou pelas línguas oficiais Tétum e Português.
M. Azancot de
Menezes*| Jornal Tornado
Este texto, durante vários dias,
foi o mais visto neste órgão de comunicação social, tendo ocupado o primeiro
lugar neste jornal, que é consultado, em média, por 5 milhões de pessoas.
Estou a salientar estes aspectos
para evidenciar a importância da questão das línguas no nosso país,
principalmente num momento em que é evidente o interesse que o governo
australiano está a demonstrar em (tentar) aniquilar a implantação da língua
portuguesa em Timor-Leste e substituir a nossa segunda língua oficial
(português) pela língua inglesa.
A propósito das escolhas das duas
línguas oficiais, Tétum e Português, obviamente, sem desvalorizar a importância
das línguas maternas, revisitando o livro «Processo educativo na educação
pré-escolar e no 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico» da autoria do Ministério da
Educação e Cultura do VII Governo Constitucional da RDTL, penso que é de toda a
conveniência relembrarmos de forma resumida as razões que nos levaram a optar
pelo português como segunda língua oficial.
A escolha da língua portuguesa
contabiliza: um peso simbólico (por ser língua de resistência à invasão
indonésia, língua usada para dar informações ao mundo sobre a luta e os efeitos
da invasão), um aspecto identitário (o do seu passado sem grandes
imposições, sem grande impacto), um aspecto afectivo(ligação ao
catolicismo, igreja que em conflitos de guerra – segunda guerra mundial,
invasão indonésia – nunca abandonou o povo) e um aspecto geoestratégico (Timor
confinado à Indonésia e à Austrália).
A escolha da língua tétum
constitui, por um lado, a assunção do compromisso de defesa, desenvolvimento e
promoção de uma língua em situação altamente desfavorecida. (Costa, 2012, p.
215, citado por Carvalho in Guedes et al., 2015, p. 152).
O que disseram dirigentes dos
principais partidos timorenses, académicos e religiosos
Para que não restem dúvidas sobre
o desejo da língua portuguesa em Timor-Leste, na qualidade de cidadão timorense
que lutou pela libertação do país (Nota do Director: por entendermos pertinente
dar a conhecer o percurso de Azancot de Menezes publicamos uma nota biográfica
e respectivo Certificado no fim do texto), decidi compilar algumas frases
célebres de alguns dirigentes:
da Frente Revolucionária de
Timor-Leste Independente (FRETILIN); do Conselho Nacional da
Resistência Timorense (CNRT); do Partido de Libertação Popular
(PLP); do Partido Democrático (PD); bem como de académicos; da Igreja Católica; internacionais apoiantes da causa
de Timor-Leste,
para avivar a memória de alguns e
para esclarecer os mais novos que pouco sabem a este respeito.
Por outro lado, numa outra
perspectiva, independentemente das boas relações que podemos manter e
estabelecer com a vizinha Austrália, há uma mensagem directa ao governo
australiano: o povo maubere está atento, a língua portuguesa em Timor-Leste não
será substituída pela língua inglesa, nem a curto, nem a médio, nem a longo
prazo.
Vejamos as frases célebres em
defesa da língua portuguesa em Timor-Leste (na totalidade em Tornado):
É natural de Díli (Lahane
Oriental) e Secretário-Geral do Partido Socialista de Timor (PST). Durante a
luta de libertação nacional de Timor-Leste representou a AST – Associação
Socialista de Timor (1991) e mais tarde o PST, junto da CPLP, Europa e Nações Unidas,
onde apresentou várias petições a favor da independência de Timor-Leste.
Em 1996 envolveu-se nas acções
políticas e militares da Brigada Negra, Força Especial das FALINTIL, durante a
luta de libertação nacional de Timor-Leste no âmbito da Guerrilha Urbana.
Na década de 90, enquanto
Representante do PST no Exterior, divulgou mensagens escritas de vários líderes
da resistência, onde se incluem Avelino Coelho, Taur Matan Ruak e Kay Rala
Xanana Gusmão (este último para o Presidente de Angola), entre outros. Teve
reuniões com o Governo de Portugal, dos PALOP e da CPLP, e com a Amnistia
Internacional, para denunciar a violação dos direitos humanos em Timor-Leste.
Em 2001 foi candidato à
Assembleia Constituinte de Timor-Leste e em Dezembro de 2004, provisoriamente,
foi Deputado do Parlamento Nacional de Timor-Leste.
Azancot de Menezes é Professor
Universitário, Doutor em Educação na Especialização em Administração e Política
Educacional pela Universidade de Lisboa, Mestre em Educação na Especialização
em Supervisão e Orientação Pedagógica pela Universidade de Lisboa, Pós-Graduado
com o Curso de Especialização Pós-Licenciatura, Área de Organização e
Desenvolvimento Curricular, Especialidade em Formação Pessoal e Social/Educação
para a Cidadania – pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada de Lisboa e
Licenciado em Matemáticas Aplicadas.
Trabalhou em Portugal, Angola e
Timor-Leste no ensino secundário e no ensino superior durante mais de 25 anos,
como professor, formador, consultor e investigador em educação.
Depois destas evidências
demonstradas pelas personalidades políticas, académicas e religiosas referidas,
e atendendo a que “a imprecisão, ambiguidade e insuficiência semântica do tétum
actual para traduzir muitos dos conceitos político-administrativos, técnicos e
científicos da cultura contemporânea determinam a importância crucial
reconhecida à língua portuguesa, no sistema de ensino, na produção legislativa,
na administração, na aplicação do direito e no plano das relações
internacionais” (Vasconcelos, 2011).
Seria bom que o Jornal Tornado
entrevistasse académicos timorenses sobre esta matéria para que se evidenciem
aspectos de âmbito epistemológico que ajudem a perceber a complexidade da
aprendizagem e do uso da língua, em particular a língua portuguesa, com base em
argumentação teórico-conceptual adequada, em particular, através do paradigma
cognitivista da linguística e da pragmática linguística.
Sem comentários:
Enviar um comentário