"7 minutes contre le
CFA" (7 minutos contra o franco CFA) é o título de um novo tema rap muito
popular, recentemente apresentado em Dakar, no Senegal. Os músicos protestam
contra a moeda que consideram "neo-colonial".
Dez artistas, oriundos de sete
diferentes países, manifestam-se assim contra a moeda que circula em 14 países
da África Central e Ocidental: o franco CFA. "Acabe-se com o bla-bla,
queremos o fim do CFA, a história avança, um grito agudo nas nossas ruas!"
- é esta a mensagem deste rap.
O franco CFA contraria a
soberania dos estados africanos, é um reflexo neo-colonial, dizem os músicos,
todos eles bastante conhecidos nos seus países de origem. É o caso do
rapper Elom Vince (melhor conhecido por "Elom 20ce"), do Togo:
"Resolvemos lançar este tema contra o franco CFA porque achamos que
esta é a melhor maneira de espalhar uma mensagem que deve ser ouvida por
um público mais vasto. Até agora o tema do franco CFA era discutido apenas
entre jovens intelectuais em zonas urbanas. Ora isso está a mudar radicalmente.
A mensagem é simples e está a passar: O franco CFA vai morrer e nós vamos
festejar durante o funeral dessa hedionda moeda."
Dois francos CFA formalmente
diferentes
Na realidade existem dois
francos CFA diferentes: na África Ocidental aderiram, ao todo, oito países
à zona CFA: Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali, Níger,
Senegal e Togo. A sede do Banco Central da África Ocidental é Dakar, capital do
Senegal. O Franco CFA dos Países da África Central foi adotado por mais seis
países: Guiné Equatorial, Gabão, Camarões, Congo Brazzaville, Chade e República
Centro-Africana. A sede do banco da África Central é Yaoundé, capital dos
Camarões.
Ambas as moedas foram criadas em
1945 e desde o início mantiveram um valor de câmbio fixo, relativamente ao
franco francês. Quando a França adotou o euro, o CFA passou a ter um valor fixo
em relação à moeda europeia. Um euro equivale, nomeadamente, a 655,957 Francos
CFA, aplicando-se o mesmo câmbio para ambos os francos CFA.
50% das reservas CFA em Paris
O banco central de França
continua a garantir o valor das duas moedas africanas. Em contrapartida os
países africanos comprometeram-se a depositar pelo menos 50 por cento das suas
reservas em Paris. Armin Osmanovic, chefe da sucursal da Fundação
Rosa Luxemburg, ligada ao partido alemão de esquerda "Die Linke", em
Dakar, em entrevista à DW África, confirma: "O franco CFA é, de facto, uma
moeda idealizada nos tempos coloniais, pela França colonial, para as suas
ex-colónias. Mais de 50 anos depois das independências das ex-colónias
francesas, o CFA constitui, por assim dizer, um anacronismo. Ou seja: continua
a ser um instrumento da tradicional política de influência contínua de França
sobre as suas ex-colónias, uma política que se convencionou apelidar
de 'françafrique'."
Para além de argumentos políticos
também há argumentos económicos que poderiam ser utilizados contra o CFA.
"A moeda nao confere flexibilidade à política financeira dos países
aderentes ao franco CFA. A moeda está crónicamente sobre-valorizada devido ao
câmbio fixo em relação ao euro. Isso encarece as exportações e também
desencoraja o investimento estrangeiro na zona do CFA."
Franco CFA: fator de estabilidade?
Por sua vez, o economista Thomas
Koumou, do Togo, sublinha os aspetos positivos de uma moeda acoplada ao euro:
"O facto do franco CFA estar 'acoplado' ao euro confere uma estabilidade
muito importante à moeda e constitui por isso um bom travão contra uma inflação
indesejável. O Franco CFA é, por assim dizer, uma boa defesa contra possíveis
choques conjunturais, e isso é muito importante num sistema comercial cada vez
mais interdependente e globalizado".
Entretanto os rappers africanos
que se uniram para fazer campanha contra o franco CFA, prometem intensificar a
sua luta contra uma moeda que - na sua opinião - "cimenta o
colonialismo". Palavras do músico Jah Moko, do Mali: "Nós somos a voz
da juventude. Com este projeto vamos despertar a consciência de muita gente,
que até agora não estava a par do assunto. Vamos fazer a diferença. Chegou a
hora de África assumir as suas responsabilidades e pegar as rédeas do seu
destino, adotando moedas que sirvam os interesses dos africanos e não os
interesses dos europeus."
Kathrin Gänsler, António Cascais
| Deutsche Welle
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