segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Protesto em tom de rap contra o franco CFA


"7 minutes contre le CFA" (7 minutos contra o franco CFA) é o título de um novo tema rap muito popular, recentemente apresentado em Dakar, no Senegal. Os músicos protestam contra a moeda que consideram "neo-colonial".

Dez artistas, oriundos de sete diferentes países, manifestam-se assim contra a moeda que circula em 14 países da África Central e Ocidental: o franco CFA. "Acabe-se com o bla-bla, queremos o fim do CFA, a história avança, um grito agudo nas nossas ruas!" - é esta a mensagem deste rap.

O franco CFA contraria a soberania dos estados africanos, é um reflexo neo-colonial, dizem os músicos, todos eles bastante conhecidos nos seus países de origem. É o caso do rapper Elom Vince (melhor conhecido por "Elom 20ce"), do Togo: "Resolvemos lançar este tema contra o franco CFA porque achamos que esta é a melhor maneira de espalhar uma mensagem que deve ser ouvida por um público mais vasto. Até agora o tema do franco CFA era discutido apenas entre jovens intelectuais em zonas urbanas. Ora isso está a mudar radicalmente. A mensagem é simples e está a passar: O franco CFA vai morrer e nós vamos festejar durante o funeral dessa hedionda moeda." 

Dois francos CFA formalmente diferentes 

Na realidade existem dois francos CFA diferentes: na África Ocidental aderiram, ao todo, oito países à zona CFA: Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali, Níger, Senegal e Togo. A sede do Banco Central da África Ocidental é Dakar, capital do Senegal. O Franco CFA dos Países da África Central foi adotado por mais seis países: Guiné Equatorial, Gabão, Camarões, Congo Brazzaville, Chade e República Centro-Africana. A sede do banco da África Central é Yaoundé, capital dos Camarões. 

Ambas as moedas foram criadas em 1945 e desde o início mantiveram um valor de câmbio fixo, relativamente ao franco francês. Quando a França adotou o euro, o CFA passou a ter um valor fixo em relação à moeda europeia. Um euro equivale, nomeadamente, a 655,957 Francos CFA, aplicando-se o mesmo câmbio para ambos os francos CFA. 

50% das reservas CFA em Paris

O banco central de França continua a garantir o valor das duas moedas africanas. Em contrapartida os países africanos comprometeram-se a depositar pelo menos 50 por cento das suas reservas em Paris. Armin Osmanovic, chefe da sucursal da  Fundação Rosa Luxemburg, ligada ao partido alemão de esquerda "Die Linke", em Dakar, em entrevista à DW África, confirma: "O franco CFA é, de facto, uma moeda idealizada nos tempos coloniais, pela França colonial, para as suas ex-colónias. Mais de 50 anos depois das independências das ex-colónias francesas, o CFA constitui, por assim dizer, um anacronismo. Ou seja: continua a ser um instrumento da tradicional política de influência contínua de França sobre as suas ex-colónias, uma política que se convencionou apelidar de 'françafrique'."

Para além de argumentos políticos também há argumentos económicos que poderiam ser utilizados contra o CFA. "A moeda nao confere flexibilidade à política financeira dos países aderentes ao franco CFA. A moeda está crónicamente sobre-valorizada devido ao câmbio fixo em relação ao euro. Isso encarece as exportações e também desencoraja o investimento estrangeiro na zona do CFA."

Franco CFA: fator de estabilidade? 

Por sua vez, o economista Thomas Koumou, do Togo, sublinha os aspetos positivos de uma moeda acoplada ao euro: "O facto do franco CFA estar 'acoplado' ao euro confere uma estabilidade muito importante à moeda e constitui por isso um bom travão contra uma inflação indesejável. O Franco CFA é, por assim dizer, uma boa defesa contra possíveis choques conjunturais, e isso é muito importante num sistema comercial cada vez mais interdependente e globalizado". 

Entretanto os rappers africanos que se uniram para fazer campanha contra o franco CFA, prometem intensificar a sua luta contra uma moeda que - na sua opinião - "cimenta o colonialismo". Palavras do músico Jah Moko, do Mali: "Nós somos a voz da juventude. Com este projeto vamos despertar a consciência de muita gente, que até agora não estava a par do assunto. Vamos fazer a diferença. Chegou a hora de África assumir as suas responsabilidades e pegar as rédeas do seu destino, adotando moedas que sirvam os interesses dos africanos e não os interesses dos europeus."

Kathrin Gänsler, António Cascais | Deutsche Welle

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