Apesar de homem branco frustrado
ser estereótipo do simpatizante de partidos populistas de direita na Europa,
estudo mostra que cada vez mais mulheres apoiam tais legendas. Elas seriam mais
suscetíveis à xenofobia.
Em Chemnitz, no leste da
Alemanha, uma multidão saiu às ruas nos últimos dias para pedir medidas mais
duras contra imigrantes. Especialmente homens se fizeram ouvir nos protestos,
mas mulheres sempre estavam presentes entre os manifestantes.
No imaginário da opinião pública,
o homem branco frustrado se tornou o estereótipo dos simpatizantes do movimento
Pegida (sigla em alemão para "Patriotas europeus contra a islamização do
Ocidente") ou do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha
(AfD).
No entanto, tal estereótipo não
condiz com a realidade – não só na Alemanha, mas em toda a Europa, aponta um
estudo da Fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social-Democrata da
Alemanha (SPD).
Além da Alemanha, o estudo
analisou a situação na França, Grécia, Polônia, Suécia e Hungria. Em todos
esses países observou-se quem vota em partidos populistas e por quê. A
principal conclusão: cada vez mais mulheres estão votando em partidos
populistas de direita.
Trata-se de uma revelação
surpreendente, já que os partidos populistas de direita são notórios por
propagarem uma imagem mais retrógrada das mulheres. No entanto, no leste da
Alemanha, por exemplo, 17% das mulheres votaram na AfD – nos estados da antiga
Alemanha Ocidental, foram apenas 8%.
Na Polônia, 40% das mulheres
votaram no partido conservador de direita Lei e Justiça (PiS) – um percentual
maior do que o dos homens. Mas o que torna esses partidos políticos atraentes
para as mulheres?
"Em muitos dos países
estudados, populistas de direita estão tentando ganhar pontos com as mulheres
através da legislação sobre temas sociais", afirma Elisa Gutsche, autora
do estudo, intitulado O triunfo das mulheres. "Por exemplo, com um
aumento da assistência social para cada filho e outros aspectos ligados à
política populacional."
Na Polônia, por exemplo, o PiS
lançou o programa "Família 500 plus", que garante às famílias a
partir do segundo filho uma taxa mensal de 500 zlotys (cerca de 120 euros) por
criança até estas completarem 18 anos de idade.
Na Alemanha, a AfD tem propagado
uma "cultura de boas-vindas às crianças" – fazendo um contraponto
à política de boas-vindas a refugiados. Especialmente na Alemanha, o
estudo mostra que as eleitoras da AfD votaram na legenda populista por receios
quanto ao futuro e quanto a suas aposentadorias, ou seja, questões sociais.
O estudo não analisou as mulheres
somente como eleitoras, mas também o papel delas na liderança de legendas
populistas. Chamou a atenção dos pesquisadores o fato de mulheres dificilmente
desempenharem um papel relevante nos partidos populistas de direita da Europa.
Nas bancadas parlamentares, por exemplo, a maior presença dos homens é
gritante.
Entre 92 parlamentares da AfD no
Bundestag (Parlamento alemão), há apenas dez mulheres. No entanto, há várias
mulheres na liderança dos partidos: Alice Weidel, na AfD, Marine Le
Pen, na Reunião Nacional (ex-Frente Nacional), e a ex-premiê polonesa Beata
Szydlo, do PiS.
"É dado às mulheres o papel
de ser o rosto amigável e moderno do partido, de modo que este
seja uma opção atraente para as eleitoras", explicou Gutsche, em
entrevista à DW. "No entanto, existe um padrão: estes não são partidos
progressistas no que diz respeito à igualdade de direitos nas estruturas
partidárias."
A imagem do direitista
exclusivamente do sexo masculino é contestada por meio de outra conclusão do
estudo: as mulheres são mais suscetíveis à xenofobia e à crítica ao islã.
"Essa foi a maior surpresa para mim", admite Gutsche.
A razão para isso pode estar
ligada especialmente à posição social das mulheres. Numa sociedade patriarcal,
as mulheres enfrentam mais obstáculos, têm remuneração menor e são
afetadas mais frequentemente pela pobreza na velhice.
"Acredito que as mulheres
percebem que estão na parte inferior da escala social e, desta forma, mais
propensas a competir com refugiados e imigrantes", disse a autora do
estudo. Também por isso, muitas mulheres estão recorrendo a partidos que prometem
reduzir a imigração.
Friedel Taube (pv) | Deutsche
Welle
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