Paulo Baldaia | Jornal de Notícias
| opinião
Tudo serve para atacar o
presidente, mas a má relação que existe entre a maioria dos colunistas de
Direita e Marcelo Rebelo de Sousa resulta de um paradoxo. Eles querem que o
chefe de Estado seja exatamente o que o acusam de ser, um presidente faccioso.
Essa Direita, que se instalou de
armas e bagagem no "Observador" mas também no "Eco", jornal
online defensor do neoliberalismo, olha para Marcelo à luz de um pecado
original. Ocupado o Palácio de Belém, ele tinha de correr com a geringonça e
convocar eleições. Uma vingança que Cavaco Silva teria todo o gosto em
concretizar, se a Constituição da República lhe tivesse permitido, mas que o
novo presidente nunca considerou. Marcelo tem consciência dessa dificuldade de
relacionamento com parte dessa Direita e, na entrevista que lhe fiz em julho do
ano passado, assume-o e justifica-se: "Alguns eleitores de centro-direita
esperaram ou desejaram a dissolução [que teoricamente podia ter ocorrido a
partir de abril de 2016] ou ansiaram por isso e, nisso, tiveram alguma
desilusão - isso estava completamente longe do meu pensamento, teria
consequências dramáticas em termos do OE para 2016, que chegariam a termos tais
que a consequência para o país seria verdadeiramente desastrosa".
Uma parte significativa da
Direita que faz opinião, e por arrasto a claque que os segue online, nunca lhe
perdoou. Por isso, criticam-lhe as intervenções e os silêncios, por isso, não
gostam do que ele faz e do que deixa de fazer. Não vinha daqui nenhum mal ao
Mundo não fosse dar-se o caso do ego de Marcelo lhe exigir estar bem com Deus e
com o Diabo. A essa Direita faz muita confusão que Marcelo tenha índices de
popularidade de 80%, o presidente gostava de chegar aos 100%. E, porque isso
nunca vai acontecer, Marcelo Rebelo de Sousa escorregará em todas as cascas de
banana que lhe puserem no caminho.
Sobre Tancos, o presidente da
República foi sempre muito assertivo na exigência de que se apurem todas as
responsabilidades, "doa a quem doer". Em defesa de uma investigação
criminal rápida e profunda, Marcelo chegou a pegar no caso, quando ninguém o
estava a fazer, mas isso não impediu que o acusassem de ter segurado o
ministro, de nada ter dito, de ser corresponsável político desta grande
trapalhada. No limite, insinuaram que o presidente poderia ter sabido da
encenação levada a cabo pela Polícia Judiciária Militar. Marcelo foi a correr
desmentir essa tese, deixando incrédulos a maioria dos portugueses a quem nunca
passou pela cabeça esta teoria da conspiração.
Eu bem que percebo os mais
militantes desta causa. Descontentes com Rui Rio, não reconhecendo competência
a Assunção Cristas para liderar um projeto de Direita, sonham com um populismo
justiceiro que lhes tire da frente umas esquerdas a quem eles não reconhecem o
direito de governar. Não é a democracia que lhes está no sangue. Gostam de
eleições, mas é a autocracia que almejam. Não a que concentra o poder num único
governante, mas a que atribui esse poder a um comité de sábios, que são eles
próprios. Por isso, não gostam do populismo presidencial que dá altas taxas de
popularidade a Marcelo e, por isso, a democracia vive agradecida ao presidente.
Marcelo Rebelo de Sousa é o colesterol bom que impede a chegada em força do
colesterol mau, como se tem visto com a ascensão de perigosos populistas em várias
partes do Mundo. Domingo chega mais um ao poder, no Brasil. Por cá, não faltará
quem festeje essa vitória. O primeiro passo para um dia destes defender que Portugal
precisa de uma solução desse calibre.
* Jornalista
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