A grande guerra comercial sino-americana

Octávio Serrano* | opinião

Com grande estardalhaço informativo noticiou-se que estalou a guerra comercial sino-americana! Mas será para levar a sério?

Pelo menos em palavras, que satisfaçam nacionalismos e opiniões publicas mais exacerbadas, parece que é para valer! Os EUA de Trump, impuseram taxas alfandegárias de 25%, sobre importações oriundas da China, no valor de 29 Mil Milhões de euros; e os chineses, revanchistas, responderam à letra com medida equivalente; bem feita; carvão, petróleo, produtos químicos, gás natural, automóveis e alguns equipamentos médicos, levaram com o mesmo tratamento.

Até parece que é uma escalada; que não parará brevemente; mas se se examinar com calma, os previsíveis resultados económicos e fiscais destas medidas, verifica-se que têm mais a ver com problemas internos americanos, do que com as relações comerciais sino-americanas!

Como é que era até agora? A China tem feito desde sempre, dumping salarial e batota cambial; ambos servem para manter competitivas as suas produções, dentro das competitivas economias dos mercados emergentes; mas na realidade, quem pratica e domina as exportações “chinesas”, para os EUA, são multinacionais com capitais americanos; pois são elas que dominam os sectores comerciais de retalho e grossista americanos; embora possam ter as suas sedes fiscais fora dos EUA. Logo quem faz a maioria das exportações para os EUA, não é a China, mas sim multinacionais, que dominam o circuito intermediário; e que fabricam na China, através de parcerias, ou adquirem mercadorias aos fabricantes chineses; e são também estas multinacionais, que impõem os preços de venda dentro dos EUA; o que lhes tem permitido, grandes margens e a obtenção de fabulosos lucros.

Agora os EUA, passaram a impôr nas suas fronteiras 25% de taxas aduaneiras, sobre produtos fabricados na China, mas que estão na posse de multinacionais americanas! Á partida, esses produtos, custarão ao consumidor americano mais 25%; e quando um produto sobe o seu preço, a tendência do mercado consumidor é consumir menos dessa mercadoria ou mesmo substitui-la por outra; ou até, se for possível, e que se propiciem as condições de mercado necessárias, esse produto passe a ser fabricado internamente. Logo, isto colocaria em perigo, o maná dos interesses dessas multinacionais, que se enchem na intermediação do processo.

O interesse destas, é que os consumidores continuem a consumir ao mesmo nível, e que não se produza nada, dentro das fronteiras dos EUA; logo estas, irão tentar dois caminhos; ou deixam de fazer a importação por via directa, passando a utilizar um país terceiro para a operação de importação, que não esteja sujeito às citadas taxas alfandegárias; ou o que vai, suceder em muitas situações, vão reduzir os preços de entrada das mercadorias nos EUA, suportando elas próprias parte importante do imposto; e podem-no fazer, pois as margens de lucro são tão grandes, que dão para tudo.

Quanto à administração Trump, garante uma receita fiscal enorme, que lhe permite compensar financeiramente a descida de impostos interna; fomentando desse modo o consumo interno e o emprego; poderá haver alguma inflação interna, devido às importações oneradas, mas isso no contexto global, não será importante.

Quanto à China, continuará a vender na direcção dos EUA, sensivelmente o mesmo; quanto à lista de produtos americanos que eles “castigaram” com taxas aduaneiras, ou eles já são autossuficientes, ou já os importam de outras paragens! O que eles realmente, necessitam de importar dos EUA, nomeadamente produtos alimentares, não lhe aplicaram qualquer aumento de taxas. 

Um jogo forte de aparências, com fortes influências nacionalistas!

*Octavio Serrano-Pagina de Analise Politica | em Facebook - 15 de setembro de 2018