Lisboa, 31 out (Lusa) - Um
ativista de defesa dos direitos humanos na Guiné Equatorial acusou agentes de
segurança à paisana de o terem espancado e esfaqueado no sábado, segundo
organizações internacionais, entre elas a Human Rights Watch (HRW) e a Amnistia
Internacional.
O vice-presidente do Centro de
Estudos e Iniciativas de Desenvolvimento (CEID), Alfredo Okenve, contou que os
homens o forçaram a sair do carro com uma arma e que, depois de o espancarem e
esfaquearem numa perna, o abandonaram numa área desabitada, revelam hoje num
comunicado conjunto a HRW, EG Justice, Amnistia Internacional, Associação para
os Direitos Humanos de Espanha e CIVICUS.
Os agentes de segurança estariam
à procura do seu irmão, o chefe de um partido político da oposição, mas continuaram
a espancar Okenve mesmo depois de confirmarem a sua identidade, pode ler-se no
comunicado enviado à agência Lusa pela HRW.
A Guiné Equatorial faz parte dos
Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, assim como
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e
Príncipe e Timor-Leste.
"Independentemente das
razões, o ataque (...) parece ser a mais recente tentativa do Governo de
silenciar a dissidência à força", acusou o diretor da EG Justice, Tutu
Alicante, citado no comunicado, entidade que monitoriza os abusos dos direitos
humanos na Guiné Equatorial.
Elementos da EG Justice falaram
com Okenve, vice-presidente do CEID, após o incidente.
Okenve estava num carro com um de
seus irmãos, disse o próprio, quando se dirigia para a casa de sua família em
Newtown, um bairro em Bata, a maior cidade da Guiné Equatorial quando um carro
bloqueou a sua viatura. O carro era da mesma marca e modelo geralmente usado
pelos agentes de segurança do país.
Dois homens armados, à paisana,
abordaram-no, disseram-lhe que estava preso e começaram a espancá-lo. Um
ameaçou matá-lo se resistisse, contou o ativista.
A fim de demonstrar que eles já o
estavam a acompanhar há algum tempo, os homens mostraram a Okenve uma foto de
seu irmão, Celestino Okenve, o que o levou a acreditar que os homens tinham
sequestrado a pessoa errada, disse Okenve à EG Justice.
O irmão, Celestino Okenve, é um
elemento pró-democracia e líder do grupo de oposição política União Popular.
O ativista foi levado para uma
área florestal remota, vendado e com um pano na boca. Tiraram-lhe as calças,
voltaram a espancá-lo com as pistolas e varas por todo o corpo, inclusive nas
solas dos pés, nas pernas, no rosto e nos braços. As fotografias que forneceu
são consistentes com a história, sublinhou a HRW.
Antes de ser abandonado, Okenve
foi esfaqueado na perna esquerda. Os homens ficaram com os seus documentos de
identificação e telemóvel, dizendo que precisavam de investigar o seu conteúdo.
"Este ataque físico contra
Alfredo Okenve não deve ficar impune", afirmou a ativista da Amnistia
Internacional na África Ocidental Marta Colomer.
"Defensores dos direitos
humanos e ativistas na Guiné Equatorial estão a fazer um trabalho legítimo. As
autoridades devem tomar todas as medidas necessárias para que possam continuar
a trabalhar em segurança, sem ameaças, ataques ou outras formas de
assédio", defendeu.
JMC // FST
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