quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Autárquicas em Moçambique: Jornalistas alvo de ameaças de morte


Na sequência da cobertura eleitoral das eleições em Moçambique, alguns repórteres das rádios Encontro e Watana afirmam estar a receber ameaças de morte. A polícia diz que ainda não recebeu nenhuma queixa formal.

Está instalado o clima de medo entre os jornalistas de Nampula que fizeram a cobertura integral da votação da última quarta-feira. Desde sábado (13.10), o diretor e o diretor-adjunto da Rádio Encontro, os padres Benvindo Tápua e Cantifula de Castro, estão a ser alvo de ameaças de morte por parte de indivíduos desconhecidos, alegadamente por terem influenciado as eleições com vista à derrota da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) na cidade de Nampula.

"Consideramos este ano de 2018 como sendo o ano das ameaças e intimidações contra a Rádio Encontro, porque tudo começa aquando da realização das eleições intercalares aqui no município de Nampula", começa por explicar o padre Cantifula de Castro.

 "Primeiro, a rádio recebeu uma interferência na sua frequência de emissão. Alojou-se lá uma outra [rádio] que obstruiu o nosso trabalho. Seguiram-se as ameaças de morte depois das eleições intercalares que culminaram com a vitória do partido RENAMO na cidade de Nampula. Depois de um tempo, parece que a situação tinha amainado, mas aquando da realização destas últimas eleições, eu e o meu colega começámos a receber telefonemas de números privados a ameaçarem-nos de morte", relata o sacerdoce. "Chamaram-me à atenção para que me cuide, porque os nossos dias estão contados", denuncia Cantifula de Castro.

Cobertura em toda a província

Durante as eleições, a Rádio Encontro enviou 40 repórteres para fazer a cobertura dos acontecimentos, em tempo real, a partir das assembleias de voto. O padre Cantifula de Castro diz que a emissora não reportou à polícia as ameaças recebidas, acusando as autoridades de passividade em relação a queixas anteriores da Rádio Encontro.

No entanto, o diretor-adjunto da rádio católica já reportou o caso a outros órgãos, como o núcleo do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA-Moçambique) em Nampula, o Fórum Nacional das Rádios Comunitárias (FORCOM) e a Embaixada da Suécia. "Para nós isto é uma clara perseguição para nos intimidarem e fragilizarem", lamenta o clérigo.

Outra rádio alvo de intimidação

Também jornalistas da Rádio Watana na cidade de Nacala-Porto, uma outra estação afeta à igreja católica e também estação parceira da DW África, dizem estar a ser ameaçados por pessoas desconhecidas. À semelhança dos colegas da Rádio Encontro, os repórteres da Rádio Watana são acusados de contribuir para a derrota do partido no poder nas autárquicas.

Um jornalista daquela rádio, que pediu o anonimato, descreveu à DW África outra das ameaças recebidas. "Eu e os meus colegas temos vindo a receber ameaças, através de chamadas telefónicas com números estranhos a dizerem-nos que temos que nos cuidar porque fomos culpados da derrota da FRELIMO em Nacala. Já denunciámos ao MISA e o MISA também nos encorajou a denunciarmos o caso à polícia e hoje já o fizemos por escrito", garante o repórter.

Em comunicado, o MISA-Moçambique condena a situação, lamentando "que os partidos políticos transfiram a responsabilidade das suas derrotas aos profissionais de comunicação social". A organização pede às instituições da justiça que identifiquem os autores das ameaças para que possam ser responsabilizados criminalmente.

A DW África tentou, sem sucesso, ouvir a polícia sobre este caso, esta segunda-feira. Na noite deste domingo, contactado pela DW, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia moçambicana, Zacarias Nacute, afirmou que as autoridades ainda não tinham recebido qualquer denúncia relativa às ameaças contra jornalistas na sequência das autárquicas.

Sitoi Lutxeque (Nampula) | Deutsche Welle

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