Na sequência da cobertura
eleitoral das eleições em Moçambique, alguns repórteres das rádios Encontro e
Watana afirmam estar a receber ameaças de morte. A polícia diz que ainda não
recebeu nenhuma queixa formal.
Está instalado o clima de medo
entre os jornalistas de Nampula que fizeram a cobertura integral da votação da
última quarta-feira. Desde sábado (13.10), o diretor e o diretor-adjunto da
Rádio Encontro, os padres Benvindo Tápua e Cantifula de Castro, estão a ser
alvo de ameaças de morte por parte de indivíduos desconhecidos, alegadamente
por terem influenciado as eleições com vista à derrota da Frente de Libertação
de Moçambique (FRELIMO) na cidade de Nampula.
"Consideramos este ano de
2018 como sendo o ano das ameaças e intimidações contra a Rádio Encontro,
porque tudo começa aquando da realização das eleições intercalares aqui no
município de Nampula", começa por explicar o padre Cantifula de Castro.
"Primeiro, a rádio recebeu uma
interferência na sua frequência de emissão. Alojou-se lá uma outra [rádio] que
obstruiu o nosso trabalho. Seguiram-se as ameaças de morte depois das eleições
intercalares que culminaram com a vitória do partido RENAMO na cidade de
Nampula. Depois de um tempo, parece que a situação tinha amainado, mas aquando
da realização destas últimas eleições, eu e o meu colega começámos a receber
telefonemas de números privados a ameaçarem-nos de morte", relata o
sacerdoce. "Chamaram-me à atenção para que me cuide, porque os nossos dias
estão contados", denuncia Cantifula de Castro.
Cobertura em toda a província
Durante as eleições, a Rádio
Encontro enviou 40 repórteres para fazer a cobertura dos acontecimentos, em
tempo real, a partir das assembleias de voto. O padre Cantifula de Castro diz
que a emissora não reportou à polícia as ameaças recebidas, acusando as
autoridades de passividade em relação a queixas anteriores da Rádio Encontro.
No entanto, o diretor-adjunto da
rádio católica já reportou o caso a outros órgãos, como o núcleo do Instituto
de Comunicação Social da África Austral (MISA-Moçambique) em Nampula, o Fórum
Nacional das Rádios Comunitárias (FORCOM) e a Embaixada da Suécia. "Para
nós isto é uma clara perseguição para nos intimidarem e fragilizarem",
lamenta o clérigo.
Outra rádio alvo de intimidação
Também jornalistas da Rádio
Watana na cidade de Nacala-Porto, uma outra estação afeta à igreja católica e
também estação parceira da DW África, dizem estar a ser ameaçados por pessoas
desconhecidas. À semelhança dos colegas da Rádio Encontro, os repórteres da
Rádio Watana são acusados de contribuir para a derrota do partido no poder nas
autárquicas.
Um jornalista daquela rádio, que
pediu o anonimato, descreveu à DW África outra das ameaças recebidas. "Eu
e os meus colegas temos vindo a receber ameaças, através de chamadas
telefónicas com números estranhos a dizerem-nos que temos que nos cuidar porque
fomos culpados da derrota da FRELIMO em Nacala. Já denunciámos ao MISA e o MISA também
nos encorajou a denunciarmos o caso à polícia e hoje já o fizemos por
escrito", garante o repórter.
Em comunicado, o MISA-Moçambique
condena a situação, lamentando "que os partidos políticos transfiram a
responsabilidade das suas derrotas aos profissionais de comunicação
social". A organização pede às instituições da justiça que identifiquem os
autores das ameaças para que possam ser responsabilizados criminalmente.
A DW África tentou, sem sucesso,
ouvir a polícia sobre este caso, esta segunda-feira. Na noite deste domingo,
contactado pela DW, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia moçambicana,
Zacarias Nacute, afirmou que as autoridades ainda não tinham recebido qualquer
denúncia relativa às ameaças contra jornalistas na sequência das autárquicas.
Sitoi Lutxeque (Nampula) |
Deutsche Welle
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