Xi Jinping representa a “nova
era” da República Popular da China e o sonho chinês. O marasmo da “Revolução
Cultural” deu lugar a estratégicos investimentos em diplomacia, armamento,
investigação e inteligência artificial.
Luísa Gaspar* | Público | opinião
Uma das maravilhas da economia é
a sua imprevisibilidade e capacidade de reinventar a cada segundo que passa.
Recentemente, um relatório divulgado pela PwC apresentou as previsões de
crescimento para as 32 maiores economias do mundo e os países que dominarão o
planeta em 2050, colocando a China como o grande líder mundial, ao representar
20% do PIB mundial. Surpreendente? Diria que não, quer por mérito próprio, quer
por desmérito dos seus rivais, que ao tentar conter a sua expansão, poderão
favorece-la ainda mais.
Depois de um regime pautado pela
miséria, opressão e fome, o atual presidente ambiciona tornar a China na maior
referência à escala global, prosperando e legitimando o seu sistema económico e
político. Fruto desse objetivo, inúmeras medidas, parcerias e planos
estratégicos têm sido estruturados e implementados, seguindo um regime
comunista assente em princípios do mais puro capitalismo.
Em 2016, o gigante asiático
converteu-se no segundo maior investidor do mundo com um total de 170.110
milhões de dólares, tendo um quarto desse valor (41.150 milhões) tido a União
Europeia como destino. Portugal é um dos países que melhor pode testemunhar a
estratégia chinesa, ao ser o segundo país europeu que mais investimento direto
recebeu da China entre 2010 e 2016, tendo em conta a sua dimensão económica. A
venda da EDP, REN e Fidelidade estarão ainda gravadas na memória dos
portugueses ao marcar a triunfal entrada dos grandes grupos chineses – China
Three Gorces, State Grid e Fosun - no mercado português. Na América Latina, o
país já concedeu mais crédito que o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), representa um terço de todas as aquisições nas economias
latino-americanas e adquire mais de quarto de toda a exportação de produtos de
extração.
Para culminar este domínio, a
Rota da Seda da China, a efetivar-se, poderá ser o passo final na transformação
da China como potência económica mundial. Aquele que é já um projeto antigo,
ambiciona reativar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através
da Ásia Central, África e Sudeste Asiático. Zhang Qian foi o pioneiro desta
estratégia há cerca de 2000 anos, ao ligar economicamente a China com a Ásia
Central e o mundo árabe. Enquanto no passado o seu nome estava intrinsecamente
associado ao principal produto exportado – seda, atualmente o objetivo é
transacionar produtos de todos os tipos, desde matérias-primas a eletrónicos.
Este ousado projeto incluirá 60 países e divide-se numa numa rota terreste, que
ligará a China à Europa através da Ásia Central e Ocidental, e marítima, que
ligará a China a outros países da Ásia, África e Europa. Para apoiar o
financiamento desta iniciativa, que implica a construção de infraestruturas de
transporte e comunicação, o governo chinês investiu cerca de 40 bilhões de
dólares através do “Silk Road Fund, criado em 2014, e do Banco Asiático de
Investimento em Infraestrutura.
Portugal é, também, parte
interessada, e pode aproveitar os estímulos dados por Pequim para valorizar os
seus portos, revitalizar a sua atividade marítima e renascer como importante
ponto nas rotas comerciais, tirando partido da sua posição central e histórica
no Oceano Atlântico.
Dada as fortes relações
empresariais entre Portugal e a China, será de aproveitar os valiosos recursos,
nomeadamente os portos continentais de águas profundas, caso de Sines, o
posicionamento estratégico das ilhas e a Zona Económica Exlcusiva (terceira
maior da União Europeia e com um pedido de extensão pendente). Adicionalmente,
poderá desempenhar um papel importante no contecto energético da mobilidade
marítima, ao inserir-se nas rotas de transporte e reabastecimento de gás natural
liquefeito (GNL).
* Aluna da Universidade Nova de
Lisboa
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