Pequim, 16 out (Lusa) - O
governador da região do Xinjiang, extremo noroeste da China, descreveu hoje o
internamento massivo de membros da minoria étnica chinesa de origem muçulmana
uigure como um "sistema de formação" que "salva" do
extremismo religioso.
Shohrat Zakir admitiu que foi
criado um "modelo" que ensina a "língua comum do país,
conhecimentos legais e competências profissionais", e salva os que foram
enganados pelo extremismo religioso.
As autoridades do Xinjiang
transformaram, nos últimos anos, a região num estado policial, através de uma
campanha repressiva, que foi reforçada a partir de 2016, quando o secretário do
Partido Comunista Chinês (PCC), Chen Quanguo, foi transferido para a região,
após vários anos no Tibete.
Numa rara admissão pelas
autoridades chinesas da detenção extrajudicial de uigures, Zakir afirmou que os
centros são destinados a pessoas "influenciadas pelo terrorismo e extremismo,
mas apenas suspeitos de delitos menores, que podem assim ser isentos de
repressão penal".
A Comissão Executiva para a China
do Congresso dos Estados Unidos e organizações não-governamentais denunciaram
já o "internamento massivo e arbitrário de até um milhão ou mais de
uigures" em campos onde são forçados a criticar o islão e a própria
cultura, a aprender mandarim e a jurar lealdade ao PCC.
Citado pela agência noticiosa
oficial Xinhua, Zakir não menciona detenções, mas admite que as instituições
mantêm agentes de segurança à entrada.
As declarações de Zakir ilustram
a visão de Pequim, na qual grupos étnicos da Ásia Central que habitam Xinjiang
devem ser submetidos a uma intensa assimilação da língua, cultura e história da
China, e pressionados a adotar o que o PCC considera um estilo de vida moderno
e civilizado.
Em 2009, a capital do
Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas
últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em
cargos de poder político e empresarial regional.
Zakir afirmou que os
"formandos" participam em atividades culturais e desportivas e que a
formação coloca-os no caminho de uma "vida moderna" e torna-os
"confiantes no futuro".
Na semana passada, a China criou
uma nova lei que permite o uso de centros para "educar e transformar
pessoas influenciadas pelo extremismo" religioso.
Os esforços de Pequim para
legitimar as medidas no Xinjiang surgem numa altura de crescente pressão internacional.
No mês passado, a Alta-Comissária
da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou que a região devia
permitir a entrada de observadores internacionais.
JPI // JMC
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