Principal partido da oposição
acusa a Frelimo de fraude nas eleições municipais de quarta-feira e de
“empurrar” Moçambique para “um novo ciclo de conflitos”.
Atrasos na publicação de
resultados não são uma novidade em Moçambique, mas após três dias de escrutínio
continuam sem ser divulgados os votos finais em mais de um terço dos 53
municípios do país. E, como têm notado observadores e ONG, os atrasos centram-se
em autarquias onde a Renamo, principal força da oposição, estava em vantagem.
“Se o voto popular não for
respeitado a Renamo vai romper com as negociações e as consequências que daí
advirem serão da inteira responsabilidade do Presidente [Filipe Nyusi] e da
Frelimo”, disse o coordenador
interino da Renamo, Ossufo Momade, que falava em videoconferência a partir
da serra da Gorongosa para os jornalistas em Maputo. O partido
denuncia irregularidades em cidades de pelo menos seis províncias e já rejeitou
oficialmente os resultados em quatro autarquias.
Na quinta-feira à noite, o Centro
de Integridade Pública (CIP), que faz a sua própria contagem, já alertava que a
lentidão no processamento e divulgação dos resultados era “preocupante em
alguns municípios”, sempre em casos onde a Renamo (Resistência Nacional
Moçambicana) estava “a liderar a tendência de voto”.
Marromeu, na província de Sofala,
foi cenário de episódios de grande tensão, com a polícia a disparar balas de
borracha e gás lacrimogéneo e a desaparecer durante um dia com as urnas de dez
centros de voto, entretanto devolvidas ao pessoal da STAE (Secretariado Técnico
de Administração Eleitoral).
A Renamo alerta, entre outras,
para a situação de Monapo, em Nampula, onde esteve à frente, com 49,16%, antes
de serem encontrados 1300 boletins de voto extra que reverteram o resultado e
deram a vitória à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Momade diz que
a Renamo tem cópias de editais das 63 mesas de voto da cidade que confirmam a
sua vitória.
Segundo a contagem do CIP logo no
dia seguinte à votação, a Renamo
estava “em condições de ganhar dez ou mais municípios, o que seria um máximo
histórico” – o partido nunca governou em mais de cinco. A Frelimo
chegou a estas eleições com o poder em 49 das 53 autarquias.
As eleições municipais eram o primeiro teste
à nova lei eleitoral acordada no âmbito do processo de paz negociado
pelo líder histórico da Renamo Afonso
Dhlakama até à sua morte, em Maio, com o Presidente Nyusi. O partido
da oposição não aceitara os resultados das eleições gerais de 2014, ao que se
seguiram três anos de confrontos e muitas mortes.
“Não queremos guerra mas também
não admitimos nem aceitamos qualquer tentativa de pôr em causa a vontade
popular”, sublinhou Momade. “O que mais nos preocupa é o silêncio cúmplice do
Presidente da República”, acrescentou, acusando a Frelimo de querer “empurrar a
Renamo para um novo ciclo de confrontos”.
Sofia Lorena | Público | Foto: Ricardo
Franco, Lusa
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