segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Portugal | Ventanias de fim-de-semana e remodelações de embalar


O fim-de-semana ido foi visitado por ventanias que incidiram com mais violência no centro do país, mas também em São Bento, morada oficial do primeiro-ministro. No Centro, o furacão Leslie soprou até aos 176 quilómetros por hora e escavacou a eito cidades, vilas e aldeias. Prejuízo avultados. Quase 30 feridos mas sem gravidade, é o que se sabe.

Também António Costa, maioral do governo, gerou ventanias neste fim-de-semana que passou. Caíram ministros em vez de árvores e outras traquitanas. Trocou uns por outros e outros por uns. Aproveitou o remoinho de longa duração do Caso de Tancos e do amorfo ministro da defesa Azeredo que se devia chamar Azarado e imbecil nestas coisas da política. Azarado fora e lá abriu ele a porta das remodelações de embalar do governo. Uns a favor, outros contra. Costa está a ser preso por ter cão e também preso por não o ter. Uns ladram, outros acenam verticalmente com a cabeça que transportam sobre o pescoço. E nós a vermos passar esta linda brincadeira que até parece o bailinho da Madeira, mas não é. Para esse bailarico já demos no tempo do Alberto João daquele jardim madeirense. Adiante.

Vamos ver e ouvir o vira o disco e toca o mesmo do álbum Remodelação Governamental. Pena não ser em vinil para se perceber o negro que contém. Em CD vem mascarado de cor prata, quase um espelho que ao o olharmos deixa perceber as orelhas de burro que nos querem impingir. Querem? Sim. O Costa e a comunicação social - que tratam o assunto como seja grande coisa, boa ou má (depende dos tiques). Serram presunto com os comentadores da treta habitual e inundam os fóruns, os écrans, a imprensa, a rádio e, quem sabe, até no verso das embalagens da Farinha Amparo e/ou nas caixinhas do MacDonalds. Pela certa que a ressaca da ventania em questão também dará azo a inscrições nos preservativos com que nos alargam o ‘sim senhor’. E pronto, os Zés e Marias consideram que houve mesmo uma grande ventania ‘made in São Bento’ e que tudo vai ser melhor ou pior (dependendo dos tiques) porque depois da tempestade vem a bonança.

Bonança (Bonanza). Havia uma série da RTP – já lá vão muitas décadas – que aos sábados à noite surgia a preto e branco nos écrans por todos os cafés do país – que era onde os pobres com um escudo para tomar uma bica (café) podiam ver televisão, ou 6 tostões para um copo de 3 (vinho). Era uma ‘coboiada’ com uma música de abertura estridente. A modos como as ‘coboiadas’ protagonizadas por estes políticos nacionais de hoje, de antes e de sempre. Só que agora vestem-se com roupagens diferentes e vocabulário pseudo democrático que não sabe a carne nem a peixe para quem tem palato afinado e dois dedos de testa e de experiência suficiente para saber o que a “casa gasta” - a súcia gasta.

Aguentem-se firmes e recuperem os sons e dança do Raspa. Sempre ajuda a suportar todas as ventanias que possam surgir. Assim como as mentiras, as ações prestidigitadoras dos grandes mestres da política do rapa e tira, mas que ignoram o põe e o deixa.

Bom dia. Se amanhã não chover vai ficar um dia lindo. Hoje está muito feio. Chove chuva e outras coisas desagradáveis que nem merecem ser mencionadas.

Sigam ao ritmo do Expresso Curto por Vítor Matos. Melhor que nada, já que existimos. Existimos? (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O furacão no Governo e o segredo da Sala das Bolachas

Vítor Matos | Expresso

Bom dia! E que dia longo vai ser este...

O Furacão Leslie passou por Portugal na madrugada de domingo, fez 28 feridos e 61 desalojados, e deixou 100 mil habitações sem eletricidade, o que levou a EDP Distribuição a declarar, pela primeira vez, estado de emergência. Chegaram a ser noticiadas duas mortes, mas o INEM diz que o temporal não fez qualquer vítima mortal, e ainda bem. Horas depois de o mau tempo acalmar, apesar de Lisboa ter sido poupada aos piores vendavais que ultrapassaram os 170 km/h, um tufão político passou pela capital: não, não foi o anúncio da distribuição das verbas para o Orçamento do Estado que vai ser conhecido hoje e que foi fechado na Sala das Bolachas - como é conhecido entre a "geringonça" o lugar onde decorreram as negociações. Na verdade, três ministros levou o vento de António Costa, ou quatro, contando com a demissão do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, na sexta-feira. As tomadas de posse são hoje ao meio dia. O Orçamento deve ser conhecido mais tarde.

Ainda está por saber se Azeredo antecipou a demissão por saber que ia cair em breve dada a sua fragilidade ser cada vez mais insustentável por causa das dúvidas acerca do que sabia sobre o encobrimento da recuperação do material de Tancos, ou se António Costa aproveitou a janela de oportunidade para fazer de imediato a remodelação que estava a preparar para outro momento do calendário. Ninguém remodela três ministros - mais um - se não estivesse a planear um refrescamento profundo para breve. O primeiro-ministro não se limitou a ir atrás dos acontecimentos. Aproveitou para não adiar o inevitável. O Expresso explica aqui as razões de uma remodelação como não se via há quase 20 anos: "O cavalinho apanhou chuva: porque saem estes ministros e porque entram os outros". Costa chegou a dizer há dias que "não estava prevista" nenhuma mudança no Governo, mas o PM segura sempre os ministros até ao limite, mesmo quando considera as demissões "infantis", explica o Miguel Santos Carrapatoso.

Adalberto Campos Fernandes já era mais um poço de problemas que uma fonte de energia e soluções. Não chegou ao nível de Azeredo, mas a sua gestão política das crises que lhe iam caindo nos braços - da deslocalização do Infarmed, às demissões nos hospitais - só acrescentavam problemas ao Governo. Marta Temido, a nova ministra, apesar de ser uma técnica respeitada na área da gestão na Saúde, ainda é um melão por abrir.

Na Defesa entra também um novo ministro: João Gomes Cravinho tem pelo menos a vantagem de saber mais de Forças Armadas do que Azeredo Lopes quando chegou ao edifício do Restelo. Foi investigador no Instituto de Defesa Nacional durante dois anos e, nos seis anos de experiência governativa como secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, nos dois governos de Sócrates, teve de lidar com muitos dossiês comuns à Defesa. O melão já foi provado, mas as circunstâncias são novas e difíceis.

Os outros dois ministros têm um par de aspetos em comum: tanto os que caem como os que transitam. Os dois que são remodelados não existiam: Manuel Caldeira Cabral era "demasiado tímido" para ministro da Economia, como um dia Costa chegou dizer dele e Filipe Castro Mendes não se notava na Cultura, a não ser quando as coisas corriam mal. Pedro Siza Vieira, que passa a ministro da Economia efetivo, e Graça Fonseca, que vai gerir o maior orçamento de sempre na Cultura - veremos hoje no OE se é verdade - são ambos amigos do primeiro-ministro. Ele desde os tempos de faculdade. Ela porque fez todo o seu percurso político com Costa, dos gabinetes ministeriais, passando pela câmara, até ao Governo. O primeiro dará finalmente à Economia peso político e será um interlocutor privilegiado com os empresários. A segunda levará um caráter mais executivo à Cultura em ano eleitoral, em que pode potenciar o contentamento dos agentes culturais - que têm peso em termos de liderança de opinião como capacidade de roubar votos ao Bloco de Esquerda.

Ora os parceiros de esquerda registaram o facto de não terem sido informados da remodelação antes do anúncio público, e o Bloco de Esquerda até mostrou alguma preocupação com a transição da Energia para o Ambiente, conta-nos a Rosa Pedroso Lima no Expresso.

Na reação do PSD, Rui Rio aponta críticas nas pastas remodeladas e questiona por que razão não saiu também o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues: "Esta remodelação assenta nas áreas em que o PSD tem feito as suas principais críticas ao Governo. Nessa medida, significa que o primeiro-ministro acaba por reconhecer aquilo que nós temos dito, de certa forma", disse o líder social-democrata.

Assunção Cristas foi mais longe do que o próprio Rui Rio, e apontou baterias diretamente ao primeiro-ministro: a líder do CDS disse que é o próprio António Costa que precisa de ser remodelado.

Em "como Costa montou uma remodelação relâmpago", o Observador dá-nos o contexto de como tudo se passou nos últimos dias.

Em situações destas, nada como uma triste polémica nas redes sociais: Isabel Moreira saudou no Twitter a escolha da “primeira ministra lésbica fora do armário” e foi criticada pela distrital do PSD de Santarém. Nenhuma das partes tem razão nos termos utilizados: um ministro não deve ser louvado nem criticado pela sua orientação sexual, mas sim pelo seu trabalho e competências.

Tudo isto significa que "estamos em campanha eleitoral" e o primeiro-ministro "já está a comer as doze passas" do Novo Ano, como escreveu aqui o Pedro Santos Guerreiro, diretor do Expresso: "António Costa não mudou apenas de ministros, mudou de assunto. Hoje há remodelação, amanha há Orçamento e daqui a nada estamos em campanhas eleitorais, três em 2019".

Mas não só. Todo este processo político mostra bem quem é António Costa. Manuel Carvalho, diretor do Público, escreve um editorial com o sugestivo título: "A arte de transformar derrotas em vitórias". Nem sempre sai tudo bem ao primeiro-ministro, mas este movimento político foi um golpe de mestre: "Ao transformar a substituição de um ministro na mais profunda remodelação de um governo nos últimos 17 anos, António Costa ergueu uma parede de imunidade ao contágio da desastrada saída de Azeredo Lopes".

Quem explica num de seis pontos porque razão é que a pasta da Energia muda para o Ambiente é o João Vieira Pereira, que recorda que Pedro Siza Vieira tinha pedido escusa para tutelar o setor, uma vez que como advogado tinha clientes no setor e conflitos de interesses - nomeadamente, a China Three Gorges - acionista da EDP que lançou uma OPA sobre a elétrica portuguesa. "A verdade, que Costa não assumiu, é que o seu novo ministro da Economia não pode tocar na pasta da Energia."

Do conjunto de análises que o Expresso publicou ontem na sequência da remodelação, pode ler também a opinião do Martim Silva: "Agora é que o jogo começa. Até aqui estivémos todos em exercícios de aquecimento. O que se passa daqui em diante é que vai ser decisivo para percebermos o que vai acontecer nas próximas eleições legislativas".

Se preferir ouvir o comentário político gravado ontem de emergência na nossa redação às seis da tarde, pode ouvir aqui o podcast da "Comissão Política", edição extraordinária a propósito da remodelação, com a moderação do Filipe Santos Costa.

Ainda no comentário: Luís Marques Mendes considerou a remodelação positiva, no comentário na SIC Notícias. "Retoca o Governo em áreas que estavam frágeis sobretudo em ano de eleições. Teremos amanhã um OE mais eleitoralista e um Governo mais eleitoralista também", que se torna mais "político" mais "coeso e partidário". (Pode ver o vídeo integral do comentário aqui).

O SEGREDO REVELADO: UM ORÇAMENTO ELEITORALISTA QUASE SEM DÉFICE

Esta seria o tema de abertura deste Expresso Curto (ou o Furacão Leslie) não fosse dar-se o caso de António Costa se ter lembrado de remodelar os ministros que no dia anterior tinham estado com ele, todos em volta da mesma mesa, a aprovar o Orçamento do Estado num Conselho de Ministros realizado a um sábado. Coisas que acontecem. António Guterres chegou a ter ministros já remodelados, no Parlamento, a defender o Governo sem que ninguém soubesse que já era tudo uma encenação.

Quanto ao Orçamento, o que queremos saber é, afinal de contas - e é tudo uma questão de contas -, se ainda há mistérios por saber do que foi sendo negociado ao longo de semanas na Sala das Bolachas. Sabe o que é a Sala das Bolachas? Pois fique a saber que, em parte, o seu futuro ou o que vai sentir no seu bolso ao longo do próximo ano, foi decidido numa divisão a quem os protagonistas da "geringonça" deram esse nome porque era o que iam petiscando para enganar a fome ao longo das horas intermináveis de discussões sobre números e medidas. A história foi-nos contada num artigo com detalhes nunca revelados sobre os bastidores da negociação do orçamento, assinada pelo Miguel Santos Carrapatoso e pela Rosa Pedroso Lima, na edição do Expresso em papel este sábado. Contaram-nos as ciumeiras entre Bloco e PCP, a guerrilha de comunicação e disseram-nos como se preparam os vários intervenientes: sabia que só do lado do PCP estão envolvidas umas 30 pessoas?

Enquanto não sabemos exatamente o que vem lá, pode ler aqui sobre 26 medidas orçamentais que já são conhecidas: seja sobre benefícios para o interior, salário, pensões e IRS, ao aumento do preço dos sacos de plástico. O Expresso explica-lhe ainda como o Bloco ultrapassou o PCP na curva e conseguiu a despenalização das reformas antecipadas mais cedo. Como os contribuintes passam a ter três meses para entregar o IRS. E ainda como o Governo incentiva patrões a oferecerem PPR do Estado aos trabalhadores. Se quiser ter uma visão mais crítica do que está para chegar, o Jorge Nascimento Rodrigues aponta neste artigo os riscos que vão complicar a vida a Centeno e que nos podem complicar a vida a todos: das guerras comerciais aos potenciais contágios vindos de fora.

Este é o texto de que em de ler para começar a saber o que pode mudar na sua vida em 2019. A Elisabete Miranda, coordenadora da Economia do Expresso, explica aqui tudo aquilo que já se sabe do OE e que tem influência terá no quotidiano de cada um.

Na semana passada, o Pedro Santos Guerreiro e a Elisabete Miranda foram falar com o então (e ainda) ministro adjunto, Pedro Siza Vieira, que lhes falou como se fosse aquilo que agora viria a ser: ministro da Economia. E disse isto: “Estamos atentos aos pedidos das confederações empresariais e estamos a trabalhar em algumas das suas propostas”. Ou então: “Vamos ter um Orçamento amigo das empresas". Se isto não é o que parece, as cartas estavam marcadas.

Mantenha a atenção focada no site do Expresso porque ao longo do dia vamos dar toda a informação sobre o conteúdo do Orçamento do Estado, as notícias do dia, a conferência de imprensa do ministro das Finanças, as análises económicas e políticas e as reações ao último orçamento da "geringonça" antes das legislativas. Mas este Curto é longo. Há muitas outras notícias relevantes hoje.

OUTRAS NOTÍCIAS

O rescaldo do Furacão Leslie. No sábado à tarde fui ao Teatro D. Maria II ver a fantástica performance de Rui Mendes e Beatriz Batarda em "Teatro", um texto de Pascal Rambert, que supostamente iria ter uma conversa com o público no final da peça. Não aconteceu. Eram cerca das 21h30, quando terminados os aplausos, Tiago Rodrigues, o diretor artístico do D. Maria II, subiu ao palco e convidou toda a gente a ir para casa. Tinham ligado da Câmara Municipal ou da Proteção Civil - não percebi muito bem - a aconselhar a audiência a recolher-se por causa do Furacão Leslie cuja fúria se antecipava que desabasse sobre Lisboa. Àquela hora, pouco mais do que chuviscava na capital. Toda a gente saiu, provavelmente seguindo as recomendações do teatro. Depois das tragédias que assolaram o país o ano passado, é compreensível que as autoridades zelem mesmo por excesso. Na capital, no entanto, a intempérie acabou por não ser assim tão intensa. Mas no centro do país sim. O Leslie soprou, assustou e feriu, a EDP declarou estado de emergência no distrito de Coimbra e o Exército foi mobilizado para ajudar a repor o fornecimento de eletricidade a 100 mil casas. Pelo menos 50 mil clientes da rede fixa da Altice Portugal, detentora da Meo, também foram afetados pelos estragos causados pelo furacão.

SMS indevidos pela EMEL. Mais uma polémica instalada. Na manhã de domingo, já com um atraso substancial, milhares de lisboetas receberam mensagens por SMS com alertas para os efeitos do furacão. Qual o problema? É que as mensagens não foram enviadas pela Autoridade Nacional da Proteção Civil, mas sim pela Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa (EMEL). O que está em causa tem a ver com a proteção de dados e com o processo que levou a esta tomada de decisão. Veja aqui a peça da SIC sobre o assunto.

Mais dúvidas com negócios em Pedrógão Grande. As obras de reconstrução de casas destruídas pelo fogo estão nas mãos de apenas duas empresas, conta-nos o Público (notícia ainda sem link). Das 800 casas reconstruídas, apenas 285 estão concluídas. Dessas obras adjudicadas pela Comissão de Coordenação Regional do Centro, dois terços (209) ficaram nas mãos ddo consórcio Edivisa/Lúcio da SIlva e da empresa Manteivias.

Faz hoje um ano dos grandes fogos de outubro. O Expresso preparou um grande trabalho multimédia que pode ver aqui, intitulado "Pareciam foguetes de lágrimas" e que esteve a ser ultimado até esta madrugada. As histórias na primeira pessoa, as fotos um ano depois e as imagens impressionantes que nos fizeram olhar de modo diferente para nós próprios. Um trabalho conjunto de Raquel Moreira, João Santos Duarte, Tiago Miranda e Tiago Pereira Santos.

A dimensão da corrupção segundo Marques Vidal. É segunda-feira mas, apesar da torrente noticiosa das últimas 24 horas, convém parar um pouco para refletir. A entrevista da ex-procuradora Geral da República Joana Marques Vidal ao Expresso e à SIC é de leitura obrigatória: “Surpreendeu-me a dimensão da corrupção em Portugal”, afirmou ao Micael Pereira e ao Luís Garriapa. "Embora considere que não podemos cair na frase feita de que Portugal é um país de corruptos. Temos instituições que funcionam. Mas somos um país onde o problema da corrupção tem uma dimensão que é urgente atacar. Tem de ser encarada como uma questão essencial do Estado de direito democrático. Penso que politicamente a resposta não é eficaz, tem sido muito superficial. Não há uma estratégia nacional contra a corrupção. Não só na resposta judiciária, estou a falar da dimensão cultural e da rejeição que deveria haver de todos". E ainda acrescentou que "a luta contra a corrupção é uma luta pela transparência. Transparência no exercício dos cargos públicos e contra o financiamento dos partidos políticos". Mas este é apenas um dos pontos da entrevista. Marques Vidal fala do caso Sócrates, de Tancos e da sua não recondução.

A correspondência violenta entre Costa e Negrão. António Costa disse a Fernando Negrão em pleno debate quinzenal que ia escrever-lhe a recordar quando este faltou à palavra. O líder parlamentar social-democrata prometeu que iria tornar tudo público. Está aqui, e como pode ver não foi bonito. O primeiro-ministro recorda um caso de fuga de segredo de justiça em que o caso que visava Negrão, ex-diretor da Judiciária, foi arquivado. Leia o texto do Filipe Santos Costa e faça o seu juízo.

Mais um episódio na trama de Tancos. O caso continua a gerar mais dúvidas que certezas. Agora, o ex-diretor da PJM - coronel Luís Vieira - suspeita que o memorando sobre a recuperação encenada do material furtado foi fabricado para prejudicar Azeredo Lopes. E põe em causa a versão inicial contada pelo investigador major Vasco Brazão, que desencadeou o processo que levou à saída do ministro da Defesa com as declarações ao juiz de instrução. É mais uma notícia do Expresso - uma investigação do Hugo Franco e da Joana Pereira Bastos - que adensa as contradições neste processo. Quem fala verdade?

A seleção ganhadora. Parece que não há razões para grande preocupação na frente da equipa das quinas. Com Ronaldo ou sem Cristiano na Liga das Nações, com a equipa renovada que ganhou à Itália e à Polónia ou com as segundas escolhas que ontem bateram a Escócia num jogo amigável por 3-1, Fernando Santos vai fazendo caminho para o europeu. A Tribuna Expresso analisa a partida neste texto: "Bar aberto para os estreantes e para um velho herói que quer continuar a escrever história"

Derrota de aliados de Merkel na Baviera. Na hora de reagir aos resultados das eleições estaduais na Baviera deste domingo, o líder da CSU, Markus Söder, disse que os resultados teriam de ser "aceites com humildade", ainda que o partido tenha recebido um mandato de governação claro ao ser o mais votado. Os conservadores desceram de 47,7% para 35,5% e os Verdes foram os grandes vencedores com 18,5%. AfD de extrema-direita conquistou 11% e o SPD - de centro-esquerda - bateu no fundo. O cenário mudou no maior e mais rico estado do sul da Alemanha e vai ser preciso uma coligação para o governar.

No Brasil multiplica-se a violência. Há um discurso de ódio, agressões e violência generalizada antes da segunda volta das presidenciais entre Haddad e Bolsonaro. Os apelos à calma estão a perder para a multiplicação de atos de violência registados por todos os estados federais. O ambiente para a segunda volta das eleições atinge níveis de agressão que leva a ONU a pedir aos líderes políticos que apelem à calma com veemência, conta-nos a Cristina Peres. O próprio Michel Temer, o homem que está prestes a deixar a chefia de Estado, apelou à calma e ordem este sábado durante uma missa em Brasília a que assistiu em missão oficial.

Estados Unidos endurecem posição com Arábia Saudita. A morte violenta do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi no consulado da Arábia Saudita em Istambul, Turquia, levou Donald Trump a prometer "uma punição severa", noticia o The New York Times. Khashoggi era colunista do Washington Post e foi sido morto e desmembrado naquele posto consular turco do reino árabe.

O pintor Eduardo Arroyo morreu. Aos 81 anos, desapareceu um nome maior das artes. O Público conta-nos neste texto assinado pela Luísa Soares de Oliveira, a história deste artista que rompeu com as correntes mais informalistas e espontâneas do século XX: "Em 1965, um crítico francês organizou uma exposição em Paris, numa galeria particular, que recebia o ambicioso título de 'A Figuração Narrativa na arte contemporânea'. Foi aqui que um jovem artista de 28 anos, Eduardo Arroyo, assinou com dois amigos também pintores um dos principais manifestos deste movimento: uma série de pinturas figurativas, obviamente, em que Marcel Duchamp era espancado e morto".

AS MANCHETES DO DIA

Público: "Governo faz pequenos alívios no IRS sem mexer nos escalões"

Jornal de Notícias: "Só foram recuperadas 36 casas de 366 ardidas"

i: "Uma remodelação secreta"

Correio da Manhã: "Aumento reforçado na função pública"

Negócios: "Carros da empresa vão pagar mais impostos"

O QUE ANDO A LER

Um livro para nos ajudar a pensar nos dias que correm à luz da experiência de uma mulher que conheceu os horrores e as reviravoltas do século XX: "Fascismo", de Madeleine Albright (Clube do Autor), chama-nos a refletir sobre "os pesadelos e as ameaças" que pairam sobre a democracia, dos Estados Unidos à Europa. Albright, que nasceu na Checoslováquia em 1937, cuja família fugiu do nazismo e do comunismo - os familiares que não sobreviveram à II Guerra morreram nos campos de concentração -, foi a secretária de Estado de Bill Clinton. Professora universitária, chama-nos ao chão para não banalizar o significado das palavras: "Para um adolescente rebelde, a palavra fascismo pode aplicar-se a qualquer restrição de utilização do telemóvel imposta pelos pais. Quando as pessoas dão livre curso às frustrações diárias, a palavra sai de um milhão de bocas" para designar o que quer que seja como "fascista". É preciso ter cuidado.

Albright diz-nos que colocou essa questão aos seus alunos na universidade. Afinal, o que é o fascismo? Perante a miríade de respostas, ela própria deu a sua definição (parte do livro descreve como Hitler e Mossulini ascenderam ao poder). "Ao contrário da monarquia ou da ditadura militar, que são impostas à sociedade a partir de cima, o fascismo vai buscar a energia aos homens e mulheres transtornados por causa de uma guerra perdida, do emprego perdido, de uma memória de humilhação ou da sensação de que o seu país está em declínio acentuado". Ou seja, "o fascismo é uma forma extrema de governo autoritário", em que "os cidadãos são obrigados a fazer o que os dirigentes dizem, nem mais nem menos". Mais do que isso, trata-se de uma inversão do contrato que fundamenta as nossas sociedades: "Em vez de serem os cidadãos a conferir poder ao Estado a troco da proteção dos seus direitos, o poder começa com o líder, e as pessoas não têm quaisquer direitos. No fascismo, a missão dos cidadãos é servir; a tarefa do Governo é dirigir".

A seguir, afina o significado: "Na minha ideia, fascista é alguém que se identifica fortemente com uma nação inteira ou com um grupo e que reivindica falar em seu nome, alguém que não se preocupa com os direitos dos outros e que está na disposição de usar todos os meios necessários - incluindo a violência - para alcançar os seus objectivos. Dentro desta conceção, um fascista será talvez um tirano, mas o tirano não tem de ser fascista." Isto quer dizer que muitos dos atuais "populismos" não são exatamente fascismos, embora se alimentem dos mesmos ressentimentos que fizeram levantar esse monstro no século XX. Uma coisa é certa, deixam a democracia em risco.

Ainda havia muito a dizer sobre esta leitura, mas este Curto já está demasiado longo. Fico por aqui.

Espero que tenha um bom dia, apesar do mau tempo, e vá acompanhando tudo pelo site do Expresso. Ainda hoje publicaremos uma edição especial e aberta do Expresso Diário sobre o Orçamento do Estado.

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