António José Gouveia | Jornal de
Notícias | opinião
Tribunais, investigações,
mandados, buscas, crimes, terrorismo, sequestro. Todas estas palavras estão
ligadas, de alguma forma, ao futebol e aos clubes portugueses. Tem sido assim
ao longo de décadas e já se pode dizer que, infelizmente, está impregnado no
seu ADN.
O futebol tem tanto de
apaixonante e vibrante como de fazer ressurgir os sentimentos mais primitivos.
Todos os casos à volta deste desporto, desde os e-mails, do e-Toupeira, do Mala
Ciao, do ataque de um bando de homens das cavernas aos jogadores do Sporting e,
mais recentemente, do alegado envolvimento do ex-presidente Bruno de Carvalho,
só vêm provar que é necessária uma revolução no futebol português. Os
principais culpados nem são os dirigentes. Esses fazem o que lhes é permitido
pelos adeptos, pelos patrocinadores ou pelas autoridades que deveriam zelar por
uma indústria que já é bastante relevante em Portugal. Enquanto
os adeptos não castigarem os seus dirigentes pelos alegados atos ilegais, estes
vão sempre assumir que o clube são eles e eles o clube. A postura dos sócios e
adeptos de cada vez que há razões para investigações, mandados, buscas ou
crimes é a de culpabilizar o rival colocando no pedestal do Olimpo aqueles que
prevaricaram ou até que prejudicaram gravemente o clube. Ponham os olhos na
Liga Inglesa. Fala-se de tudo dentro e fora das quatro linhas, mas raramente de
escândalos semelhantes aos que se passam neste retângulo da Península Ibérica.
Mas as "culpas" também são repartidas por quem organiza os
campeonatos e por leis que são feitas para serem laxistas, ultrapassáveis e até
esquecidas. É um cenário negro e mesmo assim consegue mover multidões. É só
essa a razão por que existem ainda patrocinadores que apostam no futebol. E
mesmo esses vão rareando. A não ser aqueles que, para o seu negócio, estão
dependentes de um dos conteúdos mais apetecíveis.
*Editor-executivo do JN
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