Rafael Marques recebido pelo
Presidente angolano João Lourenço, após incidente de terça-feira, quando foi
impedido de entrar no Palácio juntamente com outros membros da sociedade civil.
O ativista angolano Rafael
Marques elogiou esta quarta-feira (05.12.) "a frontalidade" do
Presidente angolano João Lourenço ao discutir com a sociedade civil temas como
os direitos humanos ou a corrupção,após
a reunião que manteve esta quarta-feira (05.12.) com o chefe de
Estado.
"Falámos obviamente de
corrupção. Penso que é importante o contributo da sociedade no sentido da
moralização, não só das instituições públicas, mas dos próprios cidadãos, de
modo a que a corrupção deixe de ser este cancro que corrói a sociedade e que
delapida os nossos recursos, que deveriam ser investidos na educação e na
saúde", referiu o também jornalista, após a reunião com João Lourenço, que
durou cerca de 45 minutos.
Nas declarações aos jornalistas,
Rafael Marques elogiou "a frontalidade" do chefe de Estado ao
discutir estas questões e a "iniciativa importante" de convidar
organizações não-governamentais e da sociedade civil angolanas para discutir o
futuro do país - encontro que se realizou na terça-feira e que juntou cerca de
uma dezena de instituições -, uma vez que o diálogo deve "ser
estimulado".
"Todos os cidadãos devem
contribuir e todos nós conhecemos casos de corrupção. Nas escolas, onde estudam
os nossos filhos, nos hospitais, onde vamos todos os dias, em todos os
setores", acrescentou o diretor do MakaAngola.
Moralizar a sociedade
Para Rafael Marques, "é
importante" que a sociedade angolana perceba que a corrupção "não é
só feita pelos ministros, por altas entidades públicas".
"Há corrupção diária na
nossa sociedade, a pequena corrupção em que todos estão envolvidos. Quando, por
exemplo, um enfermeiro leva uma seringa para casa ou vende medicamentos, tudo
isso afeta a nossa sociedade. Como vamos moralizar a sociedade deve ser a nossa
maior preocupação, de modo a que saibamos assumir a responsabilidade enquanto cidadãos
de fazermos melhor pelo nosso país", sustentou. Além da corrupção e dos
direitos humanos, o ativista disse ter discutido com João Lourenço a lei
sobre o repatriamento de capitais, o estado da economia e a moralização da
vida pública.
"Incidente está resolvido e
ultrapassado"
O ativista destacou ainda o
"gesto nobre" de João Lourenço por tê-lo recebido hoje, após o
incidente de terça-feira (04.12.), quando foi impedido de entrar no Palácio
Presidencial juntamente com os outros representantes da sociedade civil por
alegadamente não constar na lista de convidados.
"[A situação está]
ultrapassada. O Presidente [João Lourenço] lamentou o incidente e foi um gesto
nobre. [O incidente] está resolvido e ultrapassado" disse Rafael Marques.
Sobre o pouco mais de um ano de
governação de João Lourenço, o jornalista angolano disse que a sua esperança
não é diferente da dos cidadãos em geral, apesar de se saber que a situação
económica não é boa e que a população "está a sofrer".
"Temos de saber que soluções
se podem encontrar de forma célere para que efetivamente todas essas mudanças,
a nível de mentalidade nas instituições do Estado, possam garantir que essa
agenda do Presidente seja bem-sucedida. É necessário que as pessoas tenham o
que comer para que possam celebrar a democracia", sublinhou.
Melhorias no respeito pelos
direitos humanos
Questionado sobre se a situação
dos Direitos Humanos em Angola melhorou durante a Presidência de João Lourenço,
empossado a 26 de setembro de 2017, Rafael Marques salientou que, em relação ao
tema, o Presidente angolano e o Governo que lidera têm dado "bastante
atenção" para que haja melhorias.
"Mas é necessário, mais uma
vez, que não façamos depender as políticas do Estado da vontade do Presidente.
Cada um de nós deve fazer a sua parte", defendeu.Sobre a questão do
repatriamento de capitais angolanos a partir do exterior, cujo prazo para o
retorno sem qualquer punição termina a 26 deste mês, Rafael Marques admitiu a
existência de dificuldades, dando como exemplo o caso de Portugal.
"Todos nós sabemos que
muitos dos fundos estão fora de Angola e são poucos os que têm conhecimento
sobre o destino dado a alguns desses fundos. Portugal já disse: 'se tivermos de
fazer o repatriamento isso pesaria na economia portuguesa, desequilibraria a economia
portuguesa'", sublinhou.
Operação Resgate
Em relação à "Operação
Resgate", destinada a repor a autoridade do Estado em todo o país,
considerou-a positiva, mas manifestou reservas quanto à forma como está a ser
conduzida.
"Todos nós temos reservas
sobre a 'Operação
Resgate' pela forma como está a ser conduzida. Isso é líquido. É
necessário que as medidas coercivas, sobretudo com as camadas mais
desfavorecidas, sejam antes acompanhadas de medidas, de soluções, de
alternativas, para que as pessoas que não têm outra forma de subsistência
possam ser inseridas no mercado de trabalho, ou se possam criar mercados alternativos",
defendeu.
"Mas todos os cidadãos têm
de colaborar, e eu vinco isso, porque o exercício da cidadania é fundamental
para que a agenda do Governo seja bem-sucedida. É preciso que cada um faça a
sua parte. Mas o fundamental aqui é reconhecer que o Presidente tem essa
frontalidade em falar diretamente e também quando as situações são erradas de
tomar nota e de tentar corrigi-las", acrescentou.
Agência Lusa, ar | em Deutsche Welle
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