Martinho Júnior, Luanda
1- Quando em 1998, no Gabinete de
Apoio ao Estado-Maior Geral das FAA se seguiu a pista da superestrutura
ideológica da UNITA, de acordo com o professor e “historiador” togolês
ATSUTSÉ KOKOUVI AGBOBLI duas questões ressaltavam:
- No terreno a divisão de Angola
por via dum meridiano opondo o “interior” ao “litoral”, os dos
diamantes, contra os do petróleo, os “autóctones” contra os “crioulos”,
partindo deliberadamente Angola em duas, o que nos dava o sinal que se estava
mais uma vez a “dividir para melhor reinar”;
- No carácter da filosofia
aplicada, (um ajuste ao pensamento fundamentalista-radical de Savimbi), tendo
em conta por um lado a sua nova rectaguarda que passara a ser o então Zaíre,
por outro lado o facto de ele, mantendo a “velha”matriz maoista da teoria
do “cerco à cidade a partir do campo”, colocar-se no sentido da
reinterpretação do Conservative Caucus inscrito no Partido Republicano dos
Estados Unidos, que o considerava, enquanto “freedom fighter”, um“cristão”.
Em qualquer dos casos, o modelo
fundamentalista-radical ajustava-se que nem luva ao carácter das explorações e
negócios de diamantes com o objectivo de financiar a guerra.
As explorações de diamantes
aluviais de Savimbi eram ilegais, em grande parte clandestinas e os negócios
com os diamantes secretos, acompanhados com o secretismo dos seus enredos (por
exemplo as operações de logística utilizando vários tipos de moedas nas trocas),
tirando partido do facto de “o segredo ser a alma do negócio”,
particularmente neste tão delapidador “métier” africano.
O fundamentalismo-radical tornava
tudo ainda mais clandestino, ainda mais secreto, com um senão: se fossem
localizadas as explorações dos diamantes aluviais, o grosso da manobra seria
identificável, até por que as forças militares e paramilitares de Savimbi, nas
suas posições defensivas só podiam estar ao redor das minas, a fim de garantir
a sua própria inviolabilidade (por via de cordões de defesa), protecção e
segurança.
Por essa razão começou por ser
relativamente pouca a mão-de-obra estrangeira empregue nas minas de Savimbi,
pois a alucinante mágica, a miragem e as ilusões do enriquecimento por via dos
diamantes, possuía os constrangimentos impostos pelo fundamentalismo-radical de
Savimbi, obcecado pela tomada do poder em Luanda, pela força das armas e com
uma ideologia em tudo a condizer.
Todavia, à medida que o tempo foi
passando, as conexões da rectaguarda haviam de suprir mão-de-obra recrutada
cada vez mais no próprio Zaíre, em função dos interesses naquele país vizinho,
particularmente no enorme Kasai e em função das correntes aluviais da sub-bacia
do rio com o mesmo nome, a principal da margem esquerda do grande Congo antes
da sua foz.
2- O critério dessa radiografia
foi na altura fundamental para a detecção do potencial da manobra dos
expedientes e das forças de Savimbi, assim como para a capacidade de
reconhecimento e contrainteligência por parte das forças e meios
governamentais, inclusive os operados a partir do Gabinete de Apoio ao
Estado-Maior Geral das FAA na região central das grandes nascentes, na origem,
por exemplo, da projecção da Operação Restauro.
Com os olhos de hoje, 20 anos
depois, há outra constatação a fazer: o espectro dos diamantes aluviais, no que
diz respeito à sua exploração desenfreada e à tipologia dos negócios ilegais,
clandestinos, ou semiclandestinos, apresta-se a motivar fundamentalismos-radicais
quer de natureza sócio-política (como por exemplo o caso do ilegal Movimento do
Protectorado Lunda Tchokwe), quer de natureza de guerra psicológica com
orientação provocatória em consonância com interesses da CIA (como por exemplo
o caso do Rafael Marques de Morais, um assalariado da Open Society e do
National Endowment for Democracy), quer de natureza religiosa (como por exemplo
linhas de fundamentalismo islâmico e cristão, neste caso com a progressiva
implantação da IURD, Igreja Universal do Reino de Deus, na área dos diamantes
aluviais).
Por via dessa constatação,
comprova-se que a raiz dos fundamentalismos-radicais teve um outro
aproveitamento do choque neoliberal protagonizado por Savimbi entre 1992 e 2002
com os ”diamantes de sangue”: agora está-se a tirar partido da
fragilização, se não mesmo vulnerabilização ou subversão duma paz inquinada
pela terapia neoliberal, em muitos casos com os mesmo manancial humano
interessado na anterior guerra, moldando-o tenuemente à tácita aceitação do
Processo Kimberley, suas ilusões, suas miragens, suas limitações e seu fluxo de
alienações de toda a ordem, muitas delas desembocando na proliferação de seitas
religiosas, velhas e novas.
Em todo o caso, esse tipo de
contenciosos humanos tiram partido da malha político-administrativa muito
larga, que deixa espaços sem controlo, ou de muito difícil controlo, onde é
possível a instalação dum campo ilegal, subversivo, ou mesmo rebelde.
A mobilização e recrutamento de
mão-de-obra estrangeira migrante, particularmente congolesa e a proveniente dos
países do Sahel, expandiu-se em relação aos tempos da “guerra dos
diamantes de sangue”, pois agora já não há os constrangimentos da aliança
Mobutu-Savimbi nos diamantes, nem a convulsão duma guerra para impor um “diktat”sobre
as explorações e os negócios.
Essa migração da miragem em
direcção ao sul de África (a outra parte dissemina-se pelo Mediterrâneo em
direcção à Europa), estimulada em Angola pelos “Bosses”, o tipo de moedas
de troca e outros expedientes tendo como fulcro cada“comptoir”, impactou em
todas as “transversalidades” sociais do triângulo norte do país e em
Luanda, acto contínuo com aproveitamentos de cariz religioso, como um manancial
em reforço das alienações e das contribuições, no caso da IURD, do dízimo,
esvaindo parte dos dividendos além-fronteiras.
Muitos angolanos atraídos pelo
enriquecimento fácil, tornam-se assim membros dessas seitas e igrejas (caso do
IURD), algo que se repercute no espectro humano das sensibilidades
sócio-políticas, partidos adentro, MPLA incluído!
A IURD, que se tem identificado
com as terras proféticas de Israel e da Palestina (quantas excursões religiosas
já não foram realizadas com angolanos), está assim não só mais próxima da
ortodoxia judaica, mas do próprio sionismo, numa nova “profissão de fé” da “civilização
judaico-cristã ocidental”!
Essa tendência, apesar das
rupturas que começam a surgir no seu seio em função da “discreta ganância”,
está também a estimular outras “concorrentes” que estão no terreno há
muito mais tempo, como a Igreja Católica Apostólica Romana, que guarda a sete
chaves o seu interesse nas áreas diamantíferas, algo que foi tenuemente
constatado durante o processo 105/83 por via duma entidade que dava pelo nome
de Apolinário João Negrão de Barros, que se optou por não deter em função
especialmente dos seus laços com o bispado da região…
Em relação às implantações
religiosas mais antigas, será por acaso que a igreja Metodista tem um núcleo
duro tão importante em Malange?
Em relação às mais novas
implantações, qual o significado duma entidade como Noé Baltazar, que tem tido
tanto peso na área dos diamantes, ter um papel importante na seita Testemunhas
de Jeová, quando os franceses o têm identificado (em “Les Gemmocraties, l’économie
politique du diamante africain”, da autoria de François Misser e Olivier
Vallé), como um homem da CIA?
Assim sendo, por via também das
religiões estão garantidos múltiplos e “desdobráveis” impactos “transversais” sobre
a sociedade angolana, de intensidade variável e ramificando-se por um leque de
actividades, que vão desde as que se inserem no comércio informal e retalhista,
às que se prendem à actividade dos “fazedores de opinião”, desde alguns
jornais, a alguns “activismos”, parte dos quais reinterpretando a seu modo
e de acordo com as conveniências e interesses, as questões que se prendem
a “direitos humanos”, quantas vezes face a face em relação às
contramedidas governamentais!
Quem diz que a África não
continua a ser “um corpo inerte onde cada abutre vem depenicar o seu
pedaço”?...
Até as máfias chinesas, bem
espalhadas por todos os recantos das “minas de Salomão”, são atraídas por
esse tipo de“expedientes”, procurando sempre ocultar os seus verdadeiros
motivos e vocações…
Martinho Júnior - Luanda, 3 de Novembro de 2018
Imagens:
- Mapa de Angola com relevância
para alguns dos cursos da “rosa dos rios” angolanos: no triângulo
norte, a evidência vai para o Cuango e o Cassai;
- A esposa de Savimbi entre membros
do CDS, sob os auspícios do “Le Cercle” e na prolongada esteira do
Exercício ALCORA depois do 25 de Novembro de 1975;
- Savimbi na Jamba, numa foto do
arquivo familiar;
- Paul Manafort, no apogeu da
administração de Ronald Reagan, foi “indispensável” para a construção
das imagens públicas, entre outros, de Savimbi e de Mobutu;
- Um livro que fez parte da
publicidade internacional de Savimbi, com a cobertura dos mais conservadores “lobbies” dos
Estados Unidos.
UNITA – Uma nova estratégia de
desestabilização do País – IV
Fontes: “DEMAIN L’UNITA” – 08 AGO
98
“COMUNICAÇÃO DE SAVIMBI” –
02 AGO 98
“QUADRO OPERACIONAL DAS FORÇAS
ARMADAS DA UNITA” – 22 MAI 98
16 AGO 98
I. O ARGUMENTO POLÍTICO
IDEOLÓGICO DA UNITA SUSTENTADO PELOS SEUS APOIOS INTERNACIONAIS , NUM CLARO
DESAFIO ÀS SANÇÕES DO CS DA ONU .
1) A 05 MAI 98, aproveitando as
comemorações do MAI 68 em PARIS e fazendo uma “colagem” ideológica a
esses acontecimentos, a UNITA, com o apoio de seus aliados em FRANÇA, realizou
um Colóquio na SORBONNE, subordinado ao tema “GUERRA OU PAZ EM ANGOLA ?”.
Na sequência desse Colóquio, o
espaço “DEMAIN L’UNITA”, à revelia e em desafio às sanções impostas pelo
CONSELHO DE SEGURANÇA da ONU, está a dar publicidade às posições defendidas por
alguns dos seus intervenientes em benefício da Organização Armada da UNITA, num
acto contrário aos esforços no sentido da implementação e consolidação do
Processo de Paz em ANGOLA.
2) O “DEMAIN L’UNITA” publicou
uma entrevista ao “AFRIQUE EDUCATION”, do “historiador” togolês
ATSUTSÉ KOKOUVI AGBOBLI, um dos principais promotores do Colóquio e o
responsável pela condução da entrevista a SAVIMBI no seu último livro.
Nas suas respostas, é claro na
ênfase e importância que ele concede a ANGOLA, defendendo os postulados
político-ideológicos que fundamentam o argumento da UNITA:
“Por que as elites Africanas não
estão ainda conscientes, eu me sinto na obrigação de afirmar sem hesitação: o
destino da ÁFRICA negra joga-se hoje em ANGOLA”.
“As grandes potências, membros do
CONSELHO DE SEGURANÇA, nomeadamente os ESTADOS UNIDOS, a FRANÇA, o REINO UNIDO
e a RÚSSIA, muito interessados na exploração dos enormes recursos naturais do
país, escolheram deliberadamente jogar a cartada do MPLA e lançar a UNITA no
cesto do lixo”.
“ A partir da assinatura dos
Acordos de BICESSE em 1991 e sob a pressão dos ESTADOS UNIDOS, do REINO UNIDO,
da RÚSSIA e de PORTUGAL, as NAÇÕES UNIDAS, escolhidas como árbitro, receberam a
dupla missão de manter o stato quo favorável ao MPLA em ANGOLA e de banir o
nacionalismo africano autêntico incarnado pela UNITA”.
Assim, tudo o que a UNITA
decidir-se a fazer está no caminho da defesa dos interesses de toda a ÁFRICA,
até por que “o doutor JONAS SAVIMBI não cessa de declarar que a UNITA
lançou-se na guerra em 1975 e em 1992, em resposta às agressões do governo do
MPLA: pois este, socialmente, politicamente e eleitoralmente minoritário no
país, viu-se-lhe atribuir o poder de ESTADO pelo colonizador português e, para
o conservar, sente-se obrigado a destruir pelas armas os partidos adversos
maioritários”, esquecendo-se que a UNITA, sendo uma criação da polícia política
Portuguesa PIDE / DGS, foi vinculada ao poder “branco” do regime
do “apartheid”, na dependência do qual se manteve enquanto ele durou e com
quem se habituou a explorar de forma etnocêntrica os conceitos de cultura e de
etnicidade, para efeitos políticos.
Mas mais grave que isso é o
sentido de oportunidade que parece orientar a UNITA a partir do apoio da
direita“gaulista” Francesa, para um novo quadro de alianças que se podem estar
a forjar, numa evidente alusão ao RUANDA: “o drama ruandês deve servir de
lição para ANGOLA. A derrota patente da acção da ONU no terreno não causa
nenhuma dúvida ao observador atento. Desarmando a UNITA deixando o MPLA
armar-se até aos dentes, estão criadas as condições para um novo genocídio”.
Não será esse um argumento
passível de ser bem aceite pelo poder instituído nos Países “do
interior” (a “ÁFRICA genuína”), como o RUANDA e o UGANDA? Se assim
for, qual o verdadeiro significado da revolta contra KABILA? Em caso dos
revoltosos tomarem o poder, qual irá ser o seu comportamento em relação a
ANGOLA e aos seus problemas internos?
O facto de surgirem as primeiras
notícias a referirem que há efectivos a falar Português entre os revoltosos que
avançam para KINSHASA, parece ter um significado que está no caminho da
verdadeira resposta.
3) A corroborar as nossas
apreensões face aos últimos desenvolvimentos na RDC e que trarão repercussões
no nosso País, está a intervenção no Colóquio do Professor MWAYILA TSHIYEMBE,
Director do INSTITUTO DE GEOPOLÍTICA AFRICANA, subordinada ao tema “ANGOLA:
PAZ – PETRÓLEO – REDISTRIBUIÇÃO DAS CARTAS NA ÁFRICA MEDIANA”:
“O petróleo não é o objectivo
último desta guerra civil, ainda que seja o instrumento mais importante dela”.
“Com ou sem petróleo, a guerra
civil angolana não perde o seu significado de conflito político”.
Assim ele considera que “o
petróleo é o nervo da violência do ESTADO”, pelo que “partindo dessa
prioridade, as elites militares ocupam uma posição importante na elite
dirigente” e daí se concluir que “o petróleo é o instrumento da
sobrevivência do poder do MPLA”, ao mesmo tempo que gera “o êxodo rural e
o reabastecimento das cidades, onde se aglomeram centenas de milhar de pessoas
fugidas à guerra”.
Efectivamente, parece-nos
importante sublinhar o facto da revolta contra KABILA se ter preocupado
imediatamente em abrir e consolidar a frente OESTE, de forma a com isso deter
capacidade de intervenção sobre o sector petrolífero Congolês, tal como o
acesso ao mar e a melhor possibilidade de progressão na direcção de
KINSHASA. Não serão estes os seus “professores”?
Essa frente OESTE da RDC está
concomitante à frente NORTE que a UNITA possui em ANGOLA, em relação à qual ela
atribui a missão principal de atacar LUANDA e a alargar as acções na zona
diamantífera, mas que poderá ser mobilizada para outros fins, desde que hajam
interesses políticos de ordem estratégica em relação à Região de impacto.
MWAYILA TSHIYEMBE é de opinião
que o petróleo “determina a política regional de ANGOLA na recomposição da
ÁFRICA mediana em gestação, como ilustra bem a intervenção de LUANDA na queda
dos regimes de MOBUTU em KINSHASA e de LISSOUBA em BRAZZAVILLE em 1997” , pelo que considera que
esse “direito de ingerência”exercido por ANGOLA e os Países dos GRANDES
LAGOS, “criaram um novo dado regional”.
Isso quer dizer que a UNITA, a
quem não se pode negar o sentido da oportunidade política (por razões de sua
própria sobrevivência enquanto Organização Armada) está pronta a procurar obter
um novo protagonismo na Região e a actual situação na RDC sendo-lhe propícia
para tal, pode movê-la no sentido de procurar obstruir a posição de ANGOLA: se
KABILA não é um aliado para confiar, conforme a sua Governação tem demonstrado
ao se isolar progressivamente, pode ser que a revolta na RDC por mobilizar um
leque muito variado de tendências, traga ainda mais factores negativos para
ANGOLA que a Governação desastrada daquele e, enquanto pelo menos houver
indecisão da parte do Governo Angolano, ela pode beneficiar da possibilidade de
intervenção e de alinhamento.
II. CUMPRIR O PROGRAMA DO
MUANGAI
1) O discurso de SAVIMBI a 02 AGO
98 e que foi distribuído em LUANDA aos militantes da UNITA pela mão de SAMAKUVA
após o seu regresso do BAILUNDO, não deixa margem para dúvidas:
“O protocolo de LUSAKA é
completamente contra a UNITA”.
“O momento é este para entrar no
círculo do cidadão”.
“Se nós não pensarmos bem, vamos
limitar a nossa entrada no círculo do cidadão angolano, só há duas vertentes:
ou entramos pelo governo e está errado, ou entramos pela luta armada. Pode ser
um facto”.
“Haverá sempre o cuidado da minha
parte de não colocar quadros válidos do partido em LUANDA. Só gostaria que
aqueles que fossem desempenhar este papel ingrato tivessem a consciência, que
fazem parte de uma grande família que é a UNITA e que tem um programa que não
foi cumprido”.
“Mas que a guerrilha vai aumentar
de intensidade, matam, despem, roubam, isto vai acontecer, é uma ordem ao nosso
grupo de resto que está já em LUANDA”.
“O assalto ao FUTUNGO está à
vista. Temos o controlo do Presidente DOS SANTOS no BRASIL, estamos a fazer
tudo, mas absolutamente tudo dentro do BRASIL para piorar o seu estado de
saúde, ele vai continuar lá até ao final do ano”.
“Os Russos especialistas em
segurança que formaram a DISA estão do nosso lado e eles conhecem o modus
operandi da segurança do presidente DOS SANTOS”.
“O programa da UNITA não acaba no
protocolo de LUSAKA. O nosso objectivo é o programa do MUANGAI que tem que ser
cumprido”.
2) Este é o tipo de documento
que, verificando-se a sua autenticidade, se deveria fazer chegar à Comunidade
Internacional e à ONU, não só com as nossas legítimas preocupações
em relação à UNITA e ao seu eventual papel (em ANGOLA e em toda a
Região), mas também com o sentido da necessidade de a responsabilizar pela
consequência de todos os seus actos em relação aos Acordos que ela própria foi
firmando ao longo dos anos, para acabar sempre por os romper.
Não haverão já motivos suficientes
para considerar SAVIMBI criminoso e psicopata?
III. QUADRO OPERACIONAL DAS
FORÇAS ARMADAS DA UNITA
1) É um documento que tivemos
acesso através de fonte própria, que faz a informação e análise da organização
militar da UNITA com a data de 22 MAI 98, precisamente no mês em que ela se
esforçou por mobilizar a opinião pública e a intelectualidade a partir da
SORBONNE em PARIS.
2) A essa data, as unidades
especializadas estariam em formação na área do ANDULO, “treinadas pelos
instrutores estrangeiros nomeadamente sul-africanos brancos, marroquinos,
russos e líbios”, abrangendo as armas de ARTILHARIA, DEFESA ANTI AÉREA,
RECONHECIMENTO, ENGENHARIA ESPECIAL e COMANDOS, formando 2 Regimentos, sob
doutrina “soviética”:
O 1º, sob o Comando do GENERAL
SAMY, com 4 a
5.000 homens.
O 2º, sob o Comando do GENERAL
CHIMUCO, com 2 a
3.000 homens.
O armamento “tem origem da
RÚSSIA, ÁFRICA DO SUL e PAÍSES ÁRABES, de onde conseguiu alguns bons números de
peças de artilharia moderna do tipo SKUD”, estando ainda equipados com “armas
ligeiras modernas com BMP – 1 e 2 para o desembarque e assalto”.
Aparentemente esses dois
regimentos teriam o reforço dos 6.000 homens que se encontram em SAUTAR, sob o
Comando do Brigadeiro ABREU KAMORTEIRO, em reforço das acções no eixo MALANGE –
LUANDA.
3) O documento continua depois a
fazer a descrição da organização armada da UNITA, das suas dificuldades de
mobilização e logística (em função segundo diz das sanções) e interpreta-as de
forma muito valorativa, pois a situação é de tal ordem que SAVIMBI está a
procurar a solução militar como forma de conseguir resultados que não consegue
por outros meios.
O autor teve a lucidez de apontar
algumas das deficiências de actuação das NOSSAS FROÇAS, em relação não só ao
enquadramento proveniente da UNITA, mas também em relação aos “ex soldados
da UNITA desmobilizados e os militantes da UNITA”. Deficiências de nossa
actuação são aproveitadas como exemplo no sentido de afirmar que “a
POLÍCIA veio exclusivamente para matar” e “se não lutarem acabarão
por morrer”.
Em conclusão é sua opinião
que “as acções militares do Governo podem ofuscar a vitória que o Governo
tem já sobre a UNITA”, o que reforça a ideia que aquela organização armada está
a ressentir-se muito da conjuntura imposta pelas sanções.
4) O documento enumera depois
entre outros a “ubicação de alguns núcleos de COMANDOS MILITARES de
FRENTES e seus respectivos COMANDANTES”, bem como o “QUADRO ORGÂNICO DO
EMG” e o “QUADRO ORGÂNICO DO ACTUAL COMISSARIADO POLÍTICO MILITAR
NACIONAL”.
IV. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
1) Se efectivamente SAVIMBI não
encontra solução para as suas pretensões através do Acordo de LUSAKA, que lhe
está a ser penalizador em função das sanções, diminuindo-lhe a capacidade
logística e reduzindo as possibilidades de apoio no exterior apesar da imensa
capacidade financeira que lhe advém da exploração dos diamantes, também é
verdade que aumentam os riscos de ele, uma vez que se encontra em situação de
desespero, ordenar acções visando os centros político-administrativos
principais do País, assim como os dirigentes do Governo e do MPLA,
principalmente o seu Presidente.
2) A actual situação na RDC é um
dado novo que lhe vai permitir sair bastante do sufoco em que aparentemente se
encontrava, ou mesmo criar condições para romper a prazo dilatado com o
estrangulamento progressivo que estava a ser sujeito, tendo em conta as alianças
que ele naturalmente encontrou, ou vai encontrar.
Ao mesmo tempo, estando a ser
pressionado em relação aos diamantes, ele está a procurar mudar a situação de
forma a procurar soluções na área dos petróleos.
Assim, havendo indefinições no
campo estratégico que se reflectem no plano táctico-operativo, devemos aumentar
o caudal de informação em relação à actuação da UNITA, melhorando a capacidade
geral de INTELIGÊNCIA, de CONTRA INTELIGÊNCIA e do RECONHECIMENTO, como
prioridades, de forma a melhor se fazerem as avaliações.
3) Isso não significa que haja
uma mudança política-diplomática em relação à necessidade de se continuarem, ou
mesmo acentuarem as pressões internas e através da COMUNIDADE INTERNACIONAL,
principalmente nos Países vizinhos, muito pelo contrário.
O grau de exigência deve ser
muito forte em relação aos ESTADOS constituintes da SADC, tendo em conta, em
relação a muitos deles, as ligações históricas que a UNITA foi neles cultivando
e que ela vai procurar mobilizar sempre, o que significa também dizer, que se
ela estiver a actuar na RDC com expressão armada, seria importante dar-lhe um
golpe militar onde ela estiver, seja com quem estiver, principalmente se ela
participar com efectivos importantes, mas com o respaldo dos ESTADOS amigos no
quadro da SADC.
A alternativa de nada fazermos,
sob o ponto de vista militar, mas continuarmos com as pressões
político-diplomáticas, pode contudo trazer maior capacidade de manobra, quando
a situação se clarificar.
Um concerto para já com os Governos
do RUANDA, BURUNDI e UGANDA pode ser bastante importante, se atendermos à
influência que esses ESTADOS dos GRANDES LAGOS têm sobre o desenvolvimento da
situação na RDC, restando avaliar se eles têm neste momento algum
comprometimento com a UNITA, como algumas questões nos sugerem (principalmente
a iniciativa da abertura prioritária da frente OESTE por parte dos rebeldes).
16-08-1998 12:25
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