terça-feira, 13 de março de 2018

Lula: a prisão de um corrupto ou o encarceramento do Brasil verdadeiramente brasileiro?


EXCLUSIVO PG

Alberto Castro*, Londres

Visitei o Brasil pela primeira vez em janeiro de 2003, mês e ano em que Lula da Silva e o PT assumiram o comando do maior país de fala lusófona. Na altura senti no ar um misto de euforia e descrença sobre o futuro imediato do país. Lembro-me de, em Recife, ao comentar sobre a hipótese de mudar-me para o Brasil, ouvir do meu interlocutor a seguinte resposta: "cara, você tá doido?! Com tanto país desenvolvido e tranquilo no mundo inteiro você escolhe logo esta bosta cheia de violência, desemprego e gente sem educação prá viver?" 

Retorqui dizendo que acreditava nos ventos de mudança trazidos por Lula da Silva porque ele tem a cara do Brasil verdadeiramente brasileiro. Aquela que é a da maioria historicamente discriminada por sua condição social ou pecado de cor, a que nunca estivera no poder para cuidar de si mesma e do país com todo o amor e dedicação merecidos. O meu interlocutor encerrou a conversa com um estupefacto e descrente "só gringo doido prá acreditar que esse país vai mudar!".

Não me mudei para o Brasil mas passei a visitar o país e a região com regularidade e a acompanhar mais atentamente os seus desenvolvimentos. Antes de Lula, o Brasil que eu conhecia resumia-se ao campo de um imaginário romântico influenciado por leituras de obras de, entre outros, Machado de Assis, Jorge Amado, Vinicius de Moraes, algumas novelas da Globo, músicas de Martinho, Elis, Gil, Caetano, Djavan, Bethânia, Alcione e por aí fora e, claro, futebol, samba e carnaval, expressões maiores da arte e da cultura brasileiras, melhor dizendo afro-brasileira, que o mundo conhece. Um Brasil lusotropicalista, de democracia racial, mulheres belas e mulatas, exemplo para o mundo.

O Brasil real, violento, com todas as suas profundas desigualdades sociais e étnicas omitidas na mídia, nos discursos políticos e mesmo na academia em Portugal simplesmente não existiria para nós, ''gringos'', termo com que os brasileiros se referem aos estrangeiros. Tão pouco existiria um Brasil político. A existir, este seria um anão como diria um embaixador israelense. Foi Lula quem o colocou no mapa com suas políticas internas de inclusão social e externas de independência, afirmação de soberania, integração regional e maior atenção à cooperação sul-sul. Ele é ao mesmo tempo o Pelé e o Garrincha da política brasileira. Gênio da política como Pelé foi gênio da bola, alegria do povo como Mané Garrincha foi com seus estonteantes dribles e vida simples, conturbada, qual bom malandro brasileiro.

Fui vendo o país crescer em várias vertentes, afirmar-se como player de respeito internacional. Em encontros nas universidades por aqui, vi pela primeira vez brasileiros com faces mais próximas da maioria representativa do povo descrito por Darcy Ribeiro. Quantas vezes em eventos similares, e outros, pessoas não brasileiras se dirigiam a mim imaginando ser eu o brasileiro no grupo de brasileiros brancos? O mundo passara a admirar e respeitar, para lá do samba, do carnaval e do futebol, o gigante até então adormecido.

Vi Lula entrar na carruagem da rainha e com ele simbolicamente todo o povo pobre brasileiro sendo hóspede de honra no Palácio  de Buckingham. Vi Anthony Giddens, conceituado sociológico britânico, na altura reitor faculdade London School of Economics, LSE, com emocionante felicidade justificando-a com a presença do ex-metarlúgico Lula no encerramento da sua carreira como reitor da prestigiada instituição da Universidade de Londres. A tão cantada frase "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor", parecia fazer todo seu sentido patriótico. E de repente tudo o golpe levou...

Não conheço a complexidade dos controversos processos judiciais contra o ex-presidente. Mas pelo que, à distância e in loco, venho acompanhado de fontes dos mais diversos quadrantes sou levado a concluir que o caso Lula está mais para um julgamento político do que para um processo meramente jurídico. Até Reinaldo Azevedo, um conceituado jornalista brasileiro que se auto-define como sendo da direita liberal, crítico feroz dos governos petistas, vem sinalizando o mesmo nos seus mais recentes artigos de opinião tanto na Folha de São Paulo como no "É da coisa", programa que dirige na rádio Band News. É notória a seletividade com que a justiça trata envolvidos em casos de corrupção no Brasil. Uns, tal como a maioria do povo brasileiro, são suspeitos-padrão e, como tal, condenados por mera convicção cumprindo longas penas de prisão. Outros, oriundos da elite político-econômica, com evidentes provas de graves ilicitudes são absolvidos ou, se detidos, devolvidos à liberdade em curto espaço temporal.

É igualmente impressionante a seletividade, tanto à esquerda quanto à direita, com que se faz jornalismo no Brasil, o que prejudica todo um debate que se deve pautar pela isenção, o que em nada contribui para um melhor esclarecimento da sociedade. É mais desinformação, manipulação e ativismo político do que informação. Pior e mais assustador, é ver jornalistas e comentadores contribuírem de forma despudorada e impune para a propagação de crescente ódio político-ideológico que cliva com intolerância e violência a sociedade brasileira. Ouvi, estarrecido, um tal Marcelo Madureira, comentador de política na rádio Jovem Pan, perante notório júbilo dos seus companheiros no programa "3 em 1", desejar que Lula seja logo preso e que morra de infarto ou de AVC na cadeia! 

Nunca vi coisa mais reacionária, ignorante e estúpida como uma certa direita brasileira. Ela pensa que Lula é comunista, o que mostra que de comunismo nada entende. Associa o liberalismo exclusivamente ao conservadorismo ou ao ultra-conservadorismo. Tinha tudo para ganhar folgadamente as eleições deste ano e praticamente nocautear um PT quase moribundo devido aos sucessivos escândalos de corrupção desnudados com o chamado mensalão e seguiram com o famigerado petrolão. Mas a sede e a ganância pelo poder, o ódio doentio à Lula, à esquerda em geral e ao PT em particular, conduziram-na a um controverso processo de destituição de Dilma Rousseff por alegadas pedaladas fiscais, práticas comuns em qualquer gestão governamental. O resultado está à vista: um reavivamento do PT e uma incrível popularidade de Lula mesmo com toda a pancada que, diariamente e há anos, vem levando dos mídias, dos políticos da oposição e do judiciário.

Só resta aos detratores e opositores a prisão do ex-presidente que, sublinho, tem de pagar, como qualquer cidadão comum brasileiro, por ilícitos cometidos desde que indubitavelmente comprovados. Sonham com esse dia para o seu festim de abutres. Esquecem-se, porém, de que a prisão de Lula apenas com base em convicções, mesmo que fortes, poderá transformar-se num pesadelo que os atormentará a vida toda e ecoará, tanto no Brasil quanto um pouco por todo o mundo, como a prisão que se faz de um Brasil verdadeiramente brasileiro.  Poderá ser o fim do político, mas será certamente o princípio do mito!

*Colunista e correspondente internacional

Foto: Ricardo Stukert

Ministro de Merkel gera polémica ao falar de pobreza


Jens Spahn, indicado para a pasta da Saúde, diz que ser dependente de assistência social na Alemanha não é sinônimo de ser pobre. Comentário é alvo de críticas de conservadores e social-democratas.

Jens Spahn, o indicado da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, para o Ministério da Saúde do novo governo, se envolveu em uma controvérsia antes mesmo de assumir o cargo, ao fazer comentários sobre a pobreza na Alemanha.

Em entrevista ao jornal Berliner Zeitung publicada no último domingo (11/03), Spahn disse que os dependentes do sistema de assistência social de subsistência, conhecido com Hartz IV, não são pobres, uma vez que suas necessidades básicas são garantidas.

"Hartz IV não significa pobreza, mas é a resposta da nossa comunidade de solidariedade à pobreza", disse.

O futuro ministro – que é um dos maiores críticos de Merkel dentro de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU) – afirmou que ninguém deve passar fome no país, mesmo os que não são dependentes dos 930 centros de distribuição de alimentos, e disse que o Hartz IV faz com que o país tenha "um dos melhores sistemas de assistência social em todo o mundo”.

Estabelecido em 2002, o Hartz IV prevê que autoridades locais paguem benefícios sociais a pessoas como mães solteiras, incapacitadas ou desempregadas durante um longo período.

A secretária-geral da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, disse que Spahn acertou ao afirmar que o sistema social alemão deve ser revisado regularmente para assegurar que as necessidades básicas dos dependentes sejam garantidas, mas considerou politicamente incorreto que políticos que recebem altos salários tentem definir os sentimentos dos mais carentes.

"Pessoas como nós, que são bem pagas, não devem tentar explicar como os que recebem o Hartz IV se sentem", afirmou.

Spahn, da ala mais à direita do partido, e a centrista Kramp-Karrenbauer são considerados possíveis candidatos à sucessão de Merkel.

"Zombaria" aos mais pobres

O presidente da Associação de Trabalhadores Democrata-Cristãos (CDA), Christian Bäumler, disse ao jornal Handelsblatt que "Jens Spahn perdeu o contato com a realidade".

A vice-presidente da Federação Alemã de Sindicatos (DGB), Annelie Buntenbach, classificou as declarações do futuro titular da Saúde como de "enorme ignorância°.

"Se Jens Spahn presume que todos recebem o que necessitam, trata-se então de uma zombaria às 8 milhões de pessoas que vivem com rendas demasiadamente baixas", afirmou.

Membros do Partido Social-Democrata (SPD), parceiro de Merkel na coalizão governista que assumirá o governo nesta quarta-feira, também criticaram as declarações de Spahn.

"Nosso país precisa de coesão social, e não de debates insensíveis sobre estatísticas", disse o futuro ministro do Trabalho, o social-democrata Hubertus Heil.

O secretário-geral do SPD, Lars Klingbeil, disse que, durante as negociações para a formação do novo governo, os parceiros de coalizão concordaram em se dedicar ao tema da pobreza entre idosos e crianças.

"O Sr. Spahn aparentemente não prestou a devida atenção durante as negociações", disparou. "Conversamos explicitamente sobre o fato de que há pessoas em nosso país que enfrentam dificuldades."

Katja Kipping, copresidente do partido A Esquerda, disse que os comentários de Spahn refletem a mentalidade do governo de "pisotear os que estão abaixo".

O colíder do Partido Verde, Robert Habeck, avaliou que os temores existenciais e o sentimento de humilhação dos dependentes dos benefícios são reais, "com frequência não apesar do Harz IV, mas por causa dele".

Christian Lindner, líder do Partido Liberal Democrático (FDP), defendeu Spahn, afirmando que, apesar de os dependentes não viverem em "situações que possam ser chamadas de confortáveis”, os valores pagos pelo programa de assistência social são calculados de modo a fornecer o mínimo possível para sua subsistência.

AfD "abriu espaço" para Spahn

Alexander Gauland, colíder do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), afirmou que o êxito de sua legenda nas eleições gerais do ano passado, ao conquistar pela primeira vez representação expressiva no Bundestag (Parlamento alemão), praticamente forçou a indicação de nomes com o de Spahn para o gabinete de Merkel.

"Spahn não teria se tornado ministro se suas opiniões não tivessem ressonância dentro da CDU", observou Gauland. Ele sustenta que o resultado das eleições forçou Merkel a dar espaço às vozes mais críticas dentro de sua legenda. "Essa nova abordagem ocorre graças ao fato de que a AfD obteve grande êxito na votação."

Recentemente, Spahn havia recebido fortes críticas por defender a decisão de um banco de alimentos da cidade de Essende não aceitar novas inscrições para imigrantes, acolhendo apenas registros de pessoas com passaporte alemão. Ele argumentou que jovens estrangeiros estariam se comportando, durante a distribuição de comida, "de forma tão ousada e robusta que idosos ou mães solteiras não teriam mais chance de acesso aos mantimentos".

RC/rtr/afp/kna/epd | Deutsche Welle

FALCÃO E YES MEN | Ex-chefe da CIA é nomeado novo secretário de Estado americano


Nomeado secretário de Estado nesta terça-feira (13), Mike Pompeo vem de uma temporada de um ano à frente da CIA (a Agência Central de Inteligência americana), onde ganhou a confiança de Donald Trump ao manter o presidente informado sobre os assuntos de segurança nacional, sempre se atendo aos limites politicamente esperados por seu chefe.

Pompeo, que assume no lugar de Rex Tillerson, traz a disciplina de alguém que se destacou em West Point - a prestigiosa Academia Militar americana -, além das manhas políticas de um ex-membro da Câmara de Representantes (2011-2017), onde serviu no polêmico Comitê de Inteligência.

Como diretor da CIA, cortou caminho até o círculo mais estreito de Trump, entregando pessoalmente muitos dos cruciais briefings diários de Inteligência no Salão Oval.

Ele ressoa a linha-dura de Trump contra o Irã e a Coreia do Norte e, para ficar em bons termos com o presidente, Pompeo também evitou contradizer diretamente a insistência de Trump de que a Rússia não trabalhou para apoiar sua eleição em 2016 - ainda que esta tenha sido a conclusão da CIA.

"Com Mike Pompeo, temos um processo de pensamento muito similar", disse Trump nesta terça.

Carreira meteórica

Pompeo, de 54 anos, tem uma carreira meteórica que se apoiou, em grande parte, em oportunidades políticas que acabaram por levá-lo a Trump.

Nascido e criado no sul da Califórnia, ele se formou na Academia Militar de West Point, onde foi um dos mais brilhantes de sua turma, em 1986, especializando-se em Engenharia.

Serviu no Exército por cinco anos - nunca em combate - e então seguiu para a Harvard Law School.

Mais tarde fundou uma empresa de Engenharia em Wichita, no Kansas, que contou com o apoio financeiro dos conservadores irmãos Koch, os bilionários da indústria do petróleo e poderosos doadores do Partido Republicano.

Os irmãos Koch apoiaram sua primeira disputa ao Congresso em 2010, e seu projeto ligado à energia promovido em seus primeiros anos na Casa eram vistos com bons olhos por eles.

Pompeo rapidamente chegou ao Comitê de Inteligência da Câmara, onde, como um supervisor da CIA e de outras agências, esteve a par dos segredos mais profundos do país.

Ganhou notoriedade no Comitê especial formado pelo republicanos para investigar a morte, em 2012, do embaixador Christopher Stevens e de outros três americanos mortos em Benghazi, na Líbia.

O episódio fez dele a voz de liderança contra a rival de Trump, a democrata Hillary Clinton. Como secretária de Estado, ela foi responsabilizada pelos republicanos pelas mortes ocorridas no ataque ao consulado dos EUA.

Uma CIA 'cruel'

Como diretor da CIA, Pompeo conseguiu "casar" o tom da agência com o dos pronunciamentos de Política Externa de Trump.

"A CIA - para ser bem-sucedida - precisa ser agressiva, cruel, impiedosa, implacável", declarou.

Ele brincou sobre a morte do líder norte-coreano, Kim Jong-un, o que levantou temores de um retorno a uma tendência da CIA a apoiar assassinatos de ditadores desfavoráveis aos EUA.

Ganhou a confiança de Trump nos briefings diários de segurança nacional, adaptando-se à aversão do presidente aos longos relatórios. Sua equipe passou a apresentar gráficos simples sobre os riscos globais e as ameaças aos Estados Unidos.

Pressionado em público, disse apoiar o relatório de janeiro de 2017 elaborado pela cúpula da comunidade de Inteligência, que concluiu que a Rússia interveio na corrida presidencial de 2016 nos EUA, em um esforço para ajudar Trump a derrotar Hillary.

Ao mesmo tempo, mostrou-se tolerante com os duros ataques do presidente à CIA, quando este acusou os informes de "fake news" e de viés político.

AFP

Foto: Mike Pompeo é o novo secretário de Estado americano | AFP/Arquivos / SAUL LOEB

EX LIBRIS DA CIA | Gina Haspel: uma mulher acusada de tortura à frente da CIA


Gina Haspel é a primeira mulher nomeada nesta terça-feira à frente da CIA, mas o papel desta ex-chefe das operações clandestinas nas prisões secretas onde detentos eram torturados, pode complicar sua tarefa de dirigir uma das maiores agências de inteligência do mundo.

Haspel, de 61 anos, deve substituir Mike Pompeo que Donald Trump escolheu para se tornar o chefe da diplomacia após a demissão de Rex Tillerson.

Espiã com ampla experiência em operações secretas, juntou-se à agência em 1985 e serviu em vários locais ao redor do mundo, incluindo Londres no final dos anos 2000.

"Gina é uma espiã exemplar e um patriota dedicada com mais de 30 anos de experiência na agência. Ela é uma líder experiente com uma habilidade fantástica para fazer coisas e inspirar os outros à sua volta", declarou Mike Pompeo, nomeando número 2 da agência há um ano.

Três ex-diretores da CIA e outros funcionários, incluindo James Clapper, ex-diretor de inteligência dos Estados Unidos, expressaram apoio a Haspel.

Por outro lado, dois senadores democratas manifestaram reservas quanto à sua nomeação em uma carta ao presidente Donald Trump.

"Sua carreira faz com que ela não seja adequada para este posto", estimaram os senadores Ron Wyden e Martin Heinrich.

Ela foi nomeada em 2013 para dirigir o Serviço Nacional Clandestino da CIA, mas foi substituída algumas semanas depois, aparentemente por dúvidas sobre sua responsabilidade na criação no exterior de prisões secretas após o 11 de setembro de 2001 onde métodos como simulação de afogamento, assimilado à tortura, eram usados ​​para interrogar suspeitos.

Destruição de vídeos comprometedores

De acordo com o Washington Post na época, ela havia "dirigido uma prisão secreta na Tailândia, onde os detidos eram submetidos a simulações de afogamento e outros maus-tratos".

O jornal americano afirmou que Gina Haspel também esteve envolvida na destruição em 2005 de vídeos comprometedores sobre essas técnicas de "interrogatório intensivo" aplicados a vários detidos na Tailândia.

Os advogados desses presos, supostos membros da Al-Qaeda, desejam recuperar os vídeos e apresentá-los no tribunal.

Entre os prisioneiros submetidos a métodos de interrogatório brutais sob a responsabilidade de Haspel havia dois sauditas: Abd al-Rahim al-Nashiri, considerado o cérebro do ataque ao petroleiro Limburg em 2002 e do ataque ao navio americano USS Cole em 2000, e Abu Zubaydah, o primeiro membro influente da rede islamita capturado pelos americanos após o 11 de setembro.

Um relatório secreto sobre este programa de tortura da CIA foi realizado em 2014 pelo Comitê de Inteligência do Senado, mas o atual presidente desta comissão, um republicano, tem tentando há vários meses reunir todas as cópias, garantindo que quer evitar vazamentos.

Os democratas temem que o republicano destrua todas as cópias deste relatório e que a verdade sobre este programa da CIA nunca seja revelada.

Este relatório de 6.700 páginas detalha os métodos de interrogatório e as condições de detenção altamente polêmica dos suspeitos, usando técnicas proibidas, como simulação de afogamento ou privação de sono para obter confissões.

Um resumo de 528 páginas foi tornado público em dezembro de 2014, mas a versão completa - sigilosa - inclui detalhes sobre os métodos, participantes e locais.

O ex-presidente Barack Obama, que temia que o relatório fosse enterrado, manteve uma cópia para sua livraria presidencial de Chicago. Mas permanecerá classificado até 2029.

AFP | Foto: Gina Haspel - Central Intelligence Agency/AFP / Handout

A vitória diplomática de Kim Jong Un e da paz no xadrez global


30 dias que tranquilizaram o mundo? a vitória diplomática de Kim Jong Un e da paz no xadrez global

Diego Grossi, mestre em História (PPGHC-UFRJ)

A imprensa ocidental vem divulgando nas últimas semanas (desde a participação conjunta das "duas Coreias" nas Olimpíadas de Inverno - que começaram em 09 de fevereiro) com grande ar de espanto a "aproximação" entre Coreia do Norte e Coreia do Sul e a consequente proposta de desnuclearização da península e distensionamento com os Estados Unidos da América; se esforçando, paralelamente para encaixar os atuais fatos à sua frequente narrativa de demonização da Coreia Popular paradoxando a realidade.

A mais nova cartada dos grandes meios de comunicação, alinhados à política internacional estadunidense, foi apresentar supostos passaportes brasileiros de Kim Jong Un e seu pai Kim Jong Il para acusá-los de um exótico interesse que, na narrativa midiática, fica entre "conhecer a Disney" e "fugir do próprio país". Todo esse circo sensacionalista, assim como dezenas de outras "notícias" que a precederam, tem como objetivos: a) desviar o foco das atenções referentes à península coreana, eclipsando a, ainda em curso, vitória diplomática da Coreia Popular na reaproximação com o governo sul-coreano (comentada a seguir) ; e b) sujar a imagem desse país numa conjuntura em que se mostraram nitidamente os verdadeiros defensores da paz.

Toda essa narrativa da imprensa parte, aliás, de um pressuposto equivocado e com fins de distorção, ignorando que a Coreia é e sempre foi uma só nação. A divisão entre uma Coreia "do Norte" e outra "do Sul" é resultado direto da invasão estadunidense na parte sul da península no término da Segunda Guerra Mundial, quando se sufocou os conselhos populares (surgidos na luta contra o Japão e que, no norte, se tornaram Estado - como os sovietes na Rússia socialista) e instalou-se no poder uma ditadura militar liderada por Syngman Rhee (que vivera até então metade de sua vida nos EUA), responsável por ordenar o assassinato de 100 mil comunistas e partidários da reunificação em um só golpe (incluindo crianças de dez anos de idade). A nação coreana, em nível étnico, cultural e territorial tem cerca de cinco milênios de história; um Estado unificado, entendido como "Coreia", mais de mil anos. A Coreia é uma só nação e quem se comporta como elemento estranho e alienígena, mantendo a divisão desde o final da II Guerra Mundial, é o Estado sul-coreano construído com a intervenção do imperialismo estadunidense.

Dessa forma, ao contrário do que o tom da imprensa hegemônica dá a entender, não deveria haver nenhum ar de surpresa diante do atual processo de reaproximação. E, muito menos, espanto com a Coreia do Norte por sua postura favorável ao processo. Há décadas, desde seu fundador Kim Il Sung, que os coreanos do norte trabalham ardorosamente pela reunificação da nação coreana, propondo, inclusive, um regime de tipo federativo em que possa prevalecer o esquema de "um país, dois sistemas"; aceitando, portanto, até mesmo o direito do Sul manter sua estrutura básica numa futura pátria reunificada (ao mesmo tempo que, no Norte, não abrem, corretamente, mão do socialismo).

Portanto, é fundamental considerar que a Coreia Popular sempre trabalhou, de todas as formas possíveis, pela paz e pela reunificação da nação coreana. O elemento novo na conjuntura não vem, então, de nenhuma mudança "surpreendente" numa suposta "belicosidade" do Norte, mas sim da correlação de forças na Coreia do Sul após a derrubada da presidenta Park Geun Hye e da extrema direita nacional. A imprensa, demais setores da direita e papagaios mal ou bem intencionados repetem insistentemente que a Coreia Popular é uma ameaça à paz por conta de sua firmeza política e seu programa nuclear. Nada, então, melhor do que a prática para mostrar quem tem de fato razão. E a prática mostrou, num período de poucos anos, como o governo norte-coreano está correto ao se cacifar de forma política e militar para negociar de igual para igual com qualquer força no mundo; conquistando, assim, os elementos necessários para caminhar no rumo da paz e da reunificação da nação coreana sem fazer qualquer concessão à ingerência imperialista. Kim Jong Un, em pouco tempo de governo, cumpriu sua promessa de "domar com fogo o maníaco estadunidense" e deu um xeque no imperialismo e seus adversários.

Como um mestre de xadrez, fez da Coreia Popular uma fiadora da paz ao colocar no adversário a responsabilidade de responder à altura. A questão que fica agora é: responderão, estes, à altura em prol da paz? Trump aceitará o convite para discutir o fim das hostilidades contra o povo coreano? Se não, até quando os "bem intencionados" perpetuarão a hipocrisia e continuarão a atacar a Coreia Popular e seus apoiadores? No xadrez não existe cinza. É preciso ter um lado.

- Em Pravda.ru

Nações Unidas acusam o Facebook de espalhar ódio contra a comunidade Rohingya


Investigadores das Nações Unidas consideram que a rede social teve um papel determinante na crise de Myanmar.

O Facebook foi um veículo essencial para espalhar o discurso de ódio contra a comunidade Rohingya. É a conclusão dos especialistas das Nações Unidas que investigam a possibilidade de um genocídio em Myanmar, antiga Birmânia.

Marzuki Darusman, responsável da Missão Internacional Independente de Recolha de Provas em Myanmar, considera que a rede social desempenhou um papel determinante nos ataques à comunidade Rohingya.

Para o coordenador da investigação, o Facebook contribuiu para aumentar o conflito entre a população, especialmente na disseminação do discurso de ódio contra os Rohingya.

Em declarações aos jornalistas, Yanghee Lee, investigadora das Nações Unidas, lembrou que a rede social tem grande importância na vida pública e privada na antiga Birmânia e o governo usou-a para fazer chegar informação ao público.

Apesar de reconhecer que a rede social foi útil no país, lembra que foi também usada para espalhar o ódio.

A investigadora lembra que "os budistas ultranacionalistas têm os seus próprios Facebooks e estão realmente a incitar a violência e o ódio contra os Rohingya ou outras minorias étnicas".

Yanghee Lee deixa o alerta: o Facebook pode ter-se tornado um monstra e corrompido o objetivo para o qual foi criado.

A rede social ainda não reagiu a estas acusações, mas no passado a empresa já disse que está a trabalhar para expulsar os utilizadores que partilham conteúdos que incentivam o ódio em Myanmar.

Joana Carvalho Reis | TSF |  Foto: Cathal McNaughton/Reuters

SÍRIA | O lado oculto das matanças de Ghuta


Ao jantar serve-se uma violência obscena. Crianças agonizantes, «socorristas» de capacetes brancos. Atrás da câmara, o anónimo «correspondente» fala de armas químicas. O noticiário prossegue para as condenações inflamadas: Washington, Londres, Paris. Para a indústria da morte, o cenário está montado.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Serão certamente muitas as pessoas que até há um mês jamais teriam ouvido falar da região de Ghuta, na Síria, e hoje já sabem tudo o que ali se passa, desde que seja provocado pela essência maléfica do «tirano Bachar Assad». Estar informado é fácil, basta consumir o prato de resistência que nos é servido a cada jantar, dia-após-dia, com somas de pormenores macabros que não cuidam das recomendáveis doses q.b. e nos atormentam tanto a ingestão como a digestão para que a tragédia não passe de largo.

O mesmo aconteceu a propósito de Alepo1, por exemplo; já não tanto no caso de Mossul, e de maneira nenhuma com o genocídio e os crimes contra a humanidade que continuam a ser praticados em Gaza. É naturalíssimo que assim seja: os critérios de selecção e a definição da escala de importância dos acontecimentos são inquestionáveis atributos dos agentes da informação global deste admirável mundo novo. E coisa alguma existe mais fácil de explicar do que uma guerra.

Ghuta: o jornalismo pode e deve ter memória

Algumas memórias pessoais talvez tenham arquivado a palavra «Ghuta» a propósito de acontecimentos igualmente sangrentos vividos em Agosto de 2013, altura em que nos garantiram, a toda a hora e sem qualquer reserva, que o mesmo «tirano Bachar Assad» tinha usado armas químicas contra a população dessa região matando 1700 pessoas, um terço das quais crianças.

Talvez sejam menos aqueles que se lembram de a jurista suíça Carla Del Ponte2, à cabeça de uma comissão da ONU para investigação do massacre, ter então concluído, «estupefacta», que o massacre com gás sarin foi cometido pela «oposição» síria, mais propriamente a Al-Qaida; circunstância que obrigou o então presidente Obama – conhecido por não se acanhar perante oportunidades para guerrear – a cancelar o bombardeamento «de retaliação» que já tinha preparado contra Damasco3.

O enigma das armas químicas

O uso e abuso de armas químicas pelas tropas governamentais continua, aliás, a ser um tema âncora do cenário informativo montado para a Síria4; nulo relevo tem merecido, porém, a declaração pública feita há dias pelo secretário norte-americano da Defesa, o general James Mattis5, segundo a qual Washington «não tem provas» da utilização desse tipo de armas pelas forças regulares sírias. A prestigiada Newsweek teve o cuidado de pedir a Mattis que confirmasse o depoimento, o que este fez e assim foi publicado6. Uma informação tão bombástica, digna, pelo menos, de ser oferecida como sobremesa das nossas refeições, morreu assim, quase em segredo, nas páginas da prestigiada revista norte-americana.

A ocupação terrorista

A região de Ghuta é parte da grande Damasco, isto é, integra os vastos subúrbios da capital síria. O sector oriental de Ghuta está ocupado militarmente pelos terroristas da Al-Qaida desde 2012 e os cerca de 400 mil habitantes da altura estão reduzidos a 250 mil7. Apesar das restrições à circulação impostas pelos mercenários jihadistas em Ghuta Oriental, muitos milhares de pessoas conseguiram refugiar-se em bairros de Damasco, aterrorizados com a imposição da Charia – normativo legislativo que corresponde a uma leitura fundamentalista do islamismo político – e pelos exercícios de «devoção» impostos arbitrariamente, mercê dos quais, por exemplo, cidadãos comuns são degolados em público por se recusarem a escrever ou proclamar que «Assad é um cão».

Terroristas «radicais» e «moderados»: percebe a diferença?

São várias as designações usadas pelos grupos terroristas que ocupam Ghuta Oriental, alguns dos quais se extinguiram ou mudaram de nome8, mas todos eles têm em comum a dependência da estrutura tentacular da Al-Qaida, do financiamento pela Arábia Saudita ou pelo Qatar, e dos interesses da família Alluche, que se alongam até Londres, e patrocina directamente o Jayah al-Islam – «Exército do Islão».

O mimetismo das duas principais redes de mercenários – Al-Qaida e Daesh – graças ao recurso a uma volátil miríade de heterónimos, traduz a verdadeira fronteira entre «moderados», abertamente apoiados pela NATO e as grandes potências da União Europeia, e os «radicais», supostamente por elas combatidos. Os «moderados» têm assento nas recorrentes negociações entre o governo e a «oposição», sob mediação internacional; é através deles, ausentes da lista de «organizações terroristas» elaborada pela ONU, que os principais grupos ditos «radicais», nela incluídos, se tornam assim parte dos processos de discussão sobre «o futuro da Síria».

Por serem «moderados», os grupos que ainda controlam Ghuta Oriental, sob o comando operacional da Al-Qaida, estão enquadrados, no terreno, por agentes de elite do SAS (Special Air Service) britânico e da DGSE (agência de espionagem francesa), o que faz deles esquadrões da agressão franco-britânica contra a Síria como Estado soberano.

O «Exército do Islão» é um exemplo acabado de «moderação» e «vocação democratizadora». O seu patrono entre o Verão de 2012 e 2015, Zahran Zaluche, prometia semanalmente tomar Damasco na semana seguinte e executar, sem julgamento, «todos os infiéis», isto é, os não-sunitas que não cabem na definição do seu conselheiro religioso, o pregador whaabita Abd al-Azis ibn Baz ao serviço do islamismo político saudita. Foi o patriarca da família Zaluche, falecido em 20159, quem institucionalizou a transferência dos «infiéis» das prisões para os telhados dos prédios urbanos, para servirem de escudos humanos sempre que o exército sírio respondia aos constantes bombardeamentos de obuses contra Damasco.

Sucedeu-lhe o primo Mohamed Zaluche, que além de manter o clima de terror em toda a região ocupada se destaca por perseguir especialmente os homossexuais, juntando-os aos prisioneiros para funcionarem como «escudos humanos» ou lançando-os sumariamente dos telhados dos prédios. Foi a maneira que o herdeiro Zaluche encontrou de condenar a tolerância que há longo tempo existe na Síria em relação às orientações sexuais, consideradas do foro privado de cada um, uma realidade que a comunicação global desconhece ou finge desconhecer, caindo até no ridículo de atribuir ao regime as perseguições homofóbicas10.

Pois Mohamed Zaluche foi um dos representantes da «oposição» presente nas negociações internacionais de Genebra. Para que tal fosse possível, o encarregado de negócios de França nesta cidade suíça tomou em mãos o encargo de mandar cobrir e disfarçar os casos de nudez em obras de arte existentes no hotel destinado ao sensível hóspede chegado de Ghuta Oriental. Cuidado que, aliás, nada tem de novo pois já a Inquisição católica, no século XVI, mandou tapar sectorialmente os primorosos frescos de Miguel Ângelo nos tectos da Capela Sistina.

A intervenção estrangeira é uma verdadeira guerra secreta contra a Síria

Este pequeno exemplo de prestimosos serviços diplomáticos prestados pela França a um expoente do terrorismo islâmico «moderado» segue a linha vigente ainda em Ghuta Oriental, onde o «Exército do Islão» e outras designações encaixadas na estrutura da Frente al-Nusra, isto é, a al-Qaida, recebem múltiplos apoios governamentais francês e britânico através dos respectivos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Defesa.

Além do enquadramento operacional pelo SAS, pelo próprio MI6 (serviços britânicos de espionagem) e pela DGSE francesa, os grupos mercenários ditos «islâmicos» e ditos «moderados» recebem um vasto conjunto de outros apoios, designadamente no âmbito de design de fardamentos, logos identificativos, organização de desfiles propagandísticos dos esquadrões de mercenários e elaboração de materiais de comunicação como fotos, vídeos, websites, brochuras e relatórios militares.

Para tal, o ministério britânico dos Negócios Estrangeiros contratou empresas de «gestão de crise» como a Regester Larkin e a Innovative Communications & Strategies, para trabalharem sob a supervisão do Ministério da Defesa. Ambas as sociedades têm instalações em Londres e em Washington. Estas cumplicidades governamentais franco-britânicas com o terrorismo actuando na Síria não foram reveladas por qualquer lunático viciado em teoria da conspiração, mas pelo circunspecto e bem comportado diário Guardian.

No terreno, as multifacetadas orientações de apoio transmitidas pelos governos de Londres e Paris são passadas à prática, ombro-a-ombro com os grupos jihadistas, por «organizações não-governamentais» transformadas pela propaganda em símbolos do altruísmo e do humanitarismo. É o caso dos Médicos sem Fronteiras, que serve de disfarce a actividades da DGSE; dos Capacetes Brancos (White Helmets), que já chegaram ao estrelato dos oscares de Hollywood11, da Adam Smith International (ASI), da Integrity Global, entre outras.

O que está a acontecer em Ghuta Oriental é um episódio de guerra; e o objectivo de qualquer guerra é derrotar o inimigo – sendo esta a génese das matanças. Não foi o governo de Damasco quem criou o conflito que destroça o país; hoje já não existem dúvidas – embora os factos continuem escondidos pela comunicação social dominante – de que a guerra de agressão externa contra a Síria estava planeada desde meados da primeira década deste século, quando ganhou forma a enorme mistificação que foram as «primaveras árabes», sucedâneos das «revoluções coloridas» fabricadas em Washington com o envolvimento da NATO e da União Europeia12.

O desmantelamento da Síria deveria seguir-se ao do Iraque e da Líbia, à entrega à Irmandade Muçulmana de países como a Tunísia e o Egipto (esta falhada), no âmbito de uma recomposição de fronteiras e regimes no Médio Oriente que já custou mais de quatro milhões de vidas humanas desde 20011314.

Da tragédia encenada à tragédia real

Ao jantar de cada dia tomamos conhecimento da tragédia de Ghuta Oriental, agora cercada pelas tropas sírias após um lento processo15 de reconquista de posições ocupadas por tropas e mercenários estrangeiros16.

No lado oculto deste cenário está o drama vivido pela população de Damasco sob os bombardeamentos constantes da Al-Qaida e dos seus aliados transnacionais, efectuados durante os últimos seis anos a partir das suas bases de Ghuta. Na capital síria, cerca de um terço dos cinco milhões de habitantes, a que agora se juntam vagas de refugiados em desespero, estão remetidos às suas residências, aterrorizados com os obuses jihadistas; grande parte do comércio permanece encerrado; a administração e as empresas funcionam de maneira fortemente condicionada.

As imagens que nos servem confrontam-nos com a tragédia que atinge populações civis como se fosse o resultado de acções arbitrárias, unilaterais e gratuitas cometidas por uma das partes em conflito e não de uma guerra onde estão em causa «a soberania, a independência, a unidade e a integridade territorial» de um país, a Síria, ainda há poucos dias reafirmadas pelos membros do Conselho de Segurança da ONU ao aprovarem a resolução 2401. Sinal da hipocrisia dos tempos: países que deram luz verde a essa resolução, como os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, estão simultaneamente envolvidos numa guerra de agressão cujo objectivo é minar a soberania, a independência, a unidade e a integridade territorial da Síria.

Pelo que não devemos surpreender-nos com o facto de lágrimas cinicamente vertidas por causa das vítimas civis da guerra em Ghuta Oriental não terem caído dos mesmos olhos quando a ofensiva «contra o Daesh», conduzida pela chamada «coligação internacional» integrando Estados Unidos, França e Reino Unido, provocou a morte de nove a 11 mil civis na cidade iraquiana de Mossul.

A guerra é a matança institucionalizada. Uma das suas armas mais letais é a ocultação ostensiva e deliberada de algumas das facetas explicativas do horror, assim se abrindo o caminho para a escabrosa distinção entre matanças boas e matanças más, garantindo a perenidade da lucrativa indústria da morte.

Notas:
1. Em plena crise, a 30/8/2013, o Guardian, habitualmente alinhado nas críticas a Assad, publicava um artigo onde se reconheciam dúvidas sobre os «ataques químicos» e se dava conta de a intervenção americana e britânica na Síria ter sido propulsionada pelos interesses de ambas as potências no negócio da energia (gás e petróleo). Ver artigo de Nafeez Ahmed «O plano de intervenção na Síria foi motivado por interesses petrolíferos, não por preocupação com as armas químicas».
2.Carla del Ponte presidiu ao Tribunal Internacional para a Ex-Jugoslávia entre 1999 e 2007. Em Setembro de 2012 faz parte da Comissão Independente Internacional de Inquérito para os crimes de guerra na Síria, abertamente preparada para julgar Bachar Assad após uma vitória dos «rebeldes». Após ter reconhecido, em Maio de 2013, o uso pela «oposição» de gás de nervos (sarin), viu a comissão arrastar os seus trabalhos e acabou por se demitir em Agosto de 2017, declarando ao Libération (06/08/2017) que «a oposição é composta por não mais do que extremistas e terroristas» – ao contrário das suas expectativas iniciais, que eram de encontrar «a oposição no lado do bem e o governo no papel do mal».
4.Um balanço consistente da questão foi feito por Tim Anderson para a TeleSur, em «Maquinações químicas: Ghuta Oriental e as crianças sírias desaparecidas» (11/04/2015).
5.Em 2017 o general James Mattis ainda afirmava «não haver dúvidas» sobre a responsabilidade do governo sírio nos «ataques químicos» (CNBC (11/04/2017)]. A 2 de Fevereiro passado a Reuters titulava dizendo-o «preocupado com o eventual uso pela Síria [leia-se, pelo governo sírio] de gás sarin, retirando ênfase ao resto da declaração de Mattis: «(mas) não tenho provas. O que digo é que outros (…) disseram que foi usado gás sarin, portanto estamos à procura de provas». Foi esta declaração que a Newsweek quis ver esclarecida..
8.A Deutsche Welle, habitualmente crítica de Assad, reconhece, em 20/02/2018, a existência de grupos jihadistas (a que chama «rebeldes») em Ghuta Oriental: «Que grupos rebeldes lutam em Ghuta Oriental, Síria».
10.Ver «O Emirato Islâmico e a homossexualidade», por Thierry Meyssan, em Voltairenet (20/06/2016).
11.Além de Vanessa Beeley, MPN News (06/09/2017), ver também Max Blumenthal, Alternet (02/10/2016)
12.Ver, a seguir, declarações feitas em 2013 por Roland Dumas, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da França, acerca das propostas que recebeu, em Inglaterra e em 2009 (dois anos antes da chamada «rebelião síria» começar), para colaborar na intervenção que os britânicos preparavam na Síria.
13.Em Outubro de 2007 o general Wesley Clark discursou no Commonwealth Club, em San Francisco, recordando as palavras que ouvira a um oficial do Pentágono, poucas semanas após o ataque às torres gémeas (11/09/2001), acerca de um «golpe político» dos neoconservadores (neocons). «Acabo de receber este memorando do gabinete do Secretário da Defesa» – disse-lhe a fonte, e continuou: «diz que vamos atacar e destruir os governos de sete países em cinco anos – começaremos com o Iraque, a seguir avançamos para a Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e Irão». O caso é reportado pelo jornalista Glenn Greenwald em «Wes Clark e o sonho neocon», na Salon, (26/11/2011).
14.Robert F. Kennedy Jr., filho do malogrado senador assassinado em 1968 e opositor da política imperial americana, vai mais longe e aponta o ano de 1949 para o começo da intervenção secreta da CIA na Síria: «Porque não nos querem os árabes na Síria?», em Politico (23/2/2016)
15.O exército sírio faz preceder o avanço sobre as zonas ocupadas pelos jihadistas do lançamento de panfletos e mapas dirigidos aos civis que permanecem no enclave, indicando como podem escapar da zona de combates e chegar a locais protegidos. Frente e verso de um folheto em árabe, e a sua tradução para inglês (25/02/2018).


Na foto: Muitas das crianças de Ghuta Oriental não recordam os dias antes do conflito. Créditos/ ITV News

PORTUGAL | Governo está a trabalhar para "baixar mais" os custos energéticos

O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, disse hoje que o Governo está a trabalhar em várias frentes para baixar os custos de energia, o que já conseguiu pela primeira vez em 18 anos, mas pretende "fazer mais".

"O que conseguimos para 2018 foi que, pela primeira vez em 18 anos e conseguimos mais do que isso, que foi baixar 4,4% as tarifas de acesso, e é óbvio que os grandes consumidores têm tarifas de acesso muito elevadas. Conseguimos baixar os custos do sistema", sublinhou.

O ministro falava durante uma visita ao parque químico de Estarreja, onde ouviu os empresários queixarem-se dos elevados custos da energia que, para alguns produtos, chegam a representar dois terços dos custos de produção.

"Não estamos satisfeitos com o resultado alcançado e estamos a querer fazer mais. Estamos a trabalhar também em novas medidas que vamos lançar, como as linhas de apoio à eficiência energética, que vão ter medidas de apoio a quem transforma a sua unidade industrial no sentido de uma maior eficiência energética, apoiando esse investimento e poupando custos", anunciou.

Manuel Caldeira Cabral salientou que o Governo vem trabalhando também "nos custos gerais do sistema, com uma atenção grande aos contratos com os grandes fornecedores, no sentido de ir baixando progressivamente os custos aos cidadãos e às empresas".

Maior eficiência energética para baixar os custos de produção, mas também o aumento das energias renováveis, "sem subsidiação" para uma redução, a prazo, dos custos em Portugal, são outros fatores apontados pelo ministro para reduzir a dependência energética.

"Estamos a trabalhar nas interligações, que são muito importantes e o que estamos a fazer com as interligações para Marrocos, ou com o trabalho diplomático que fizemos de abertura da França, para que haja interligações que liguem, de uma vez por todas, o mercado ibérico ao mercado europeu, terão um contributo importante para baixar os custos do sistema, permitindo escoar excessos de produção nas alturas em que produzimos mais do que necessitamos, mas também ir buscar energia mais barata a Espanha ou França", completou.

A visita do ministro foi acompanhada por João de Mello, presidente executivo da CUF, Jon Bilbao, diretor-geral da Dow para Portugal e Espanha, Cristina Ballester, diretora-geral da Air Liquide para Portugal e Espanha, e de Luis Montelobo, delegado representante do Conselho de Gerência da CIRES, além de outros executivos das empresas do Complexo Químico de Estarreja.

Composto pelas empresas CUF, Air Liquide, CIRES e Dow Portugal, o Complexo Químico de Estarreja garante quase 500 postos de trabalho diretos, 418 milhões de euros de exportações e 209 milhões de euros para a balança comercial.

Lusa | em Notícias ao Minuto

PORTUGAL | Impostos da EDP, lágrimas e crocodilos


Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

A EDP, que teve um lucro de 1113 milhões em 2017, reportou também uma taxa de imposto efetiva de 0,7%, correspondente a 10 milhões de euros. O "Expresso" noticiou e a EDP desmentiu, garantindo que tinha pago 481 milhões de impostos em Portugal. O debate está instalado e Rui Rio juntou-se-lhe, indignado, comprometendo o PSD com alterações às leis fiscais "de modo a que isto não seja possível".

Comecemos por tentar perceber quem tem razão. O número do "Expresso" está correto, mas a taxa efetiva de 0,7% pode não corresponder necessariamente aos impostos pagos em Portugal, mas aos impostos que a EDP estima pagar em 2017 em todo o Mundo. Este cálculo inclui mais-valias de 591 milhões não tributadas da venda de negócios em Espanha (a EDP não explica porquê) e ganhos fiscais nos EUA. Qual é então a taxa efetiva paga pela EDP em Portugal? Não sabemos, porque a empresa não o reporta. Mas uma coisa é certa, o imposto de 2017 não será, ao contrário do que afirma a EDP, de 481 milhões. Mesmo que esse valor tenha sido pago, uma parte terá sido relativa a operações de 2016 e outra a título de pagamentos por conta, ou seja, que ainda sofrerá deduções no futuro, diminuindo em muito a fatura fiscal da EDP no país.

Vamos agora às questões que resultam das declarações de Rui Rio. Como é que é possível a EDP pagar tão pouco imposto e como é que se alteram as leis?

Rio deixa parecer que a EDP está a usar uma lei específica para poupar nos impostos e diz estar disposto a alterá-la. O problema é um pouco mais complexo. A EDP paga poucos impostos porque faz planeamento com a complexa teia de leis fiscais existentes, aqui e noutros países. Leis essas que o PSD não só defende, como deseja tornar mais permissivas.

A Reforma do IRC feita por PSD/CDS foi um incentivo ao planeamento fiscal. Entre as novas normas constava o regime de participation exemption, que permitia a uma empresa como a EDP não pagar imposto sobre lucros e rendimentos recebidos de outras empresas, desde que tivesse uma participação de 5% nas mesmas. Não é difícil imaginar os esquemas que é possível montar com esta regra. O mesmo se aplica ao reporte de prejuízos fiscais, que passou de 5 para 12 anos, ou ao regime de tributação de patentes, com 50% de benefício, considerado pela Comissão Europeia como um incentivo ao planeamento fiscal.

Algumas destas leis foram revertidas pela atual maioria, mas muito falta ainda fazer, da tributação das SGPS ao regime do Centro Internacional de Negócios da Madeira. O PSD opôs-se a todas as reversões. Mais, no último Orçamento do Estado, o PSD propôs a reposição do regime de participation exemption e de prejuízos fiscais, a redução da taxa sobre lucros (inclusive das grandes empresas) e sobre rendimentos de instrumentos financeiros e de capital.

Com este cadastro, é difícil antever o que poderá o PSD propor em matéria de IRC. Mas cá estaremos para o debate. Veremos como o PSD votará as propostas realmente existentes de combate ao planeamento fiscal.

* Deputada do BE

FICÇÃO À VISTA NO BALSÂMICO CURTO. CAIR NA REALIDADE É QUE É UMA…


Começamos bem a manhã, com ficção científica em filmes e nas viagens interplanetárias que as máquinas lançadas para o espaço e as lentes superpoderosas nos revelam com graus de fidelidade somente pela rama. Mas que lá por isso não nos impede de sonhar. Pois. É que o “sonho comanda a vida” e daí muitos sonhos já se terem tornado realidade. A espécie humana é terrível para o planeta terra e para a vida neste mesmo planeta… Mas também é maravilhosa. Depende para onde está virada. Quando se fixa no lucro, na posse, no convite à ganância, nos valores materiais, estraga tudo. Caso contrário não. E é capaz de elaborar e pôr em prática maravilhas.

Pois é. Esta é a abertura PG para o Expresso Curto. Hoje no matraquear de Pedro Santos Guerreiro. Uma boa peça.

Optamos por deixar à sua leitura e interpretação o que contém a prosa do empregado do tio Balsemão Inpresa de Bilderberg e Quinta da Marinha. Vá, siga as letras, as palavras, as frases, os parágrafos… Pois. Fique a saber mais sobre sonhos, obras de arte filmicas e a atualidade. Quando caímos na real é que são elas. Os que não dizem pelo menos pensam: “isto é que é uma grande merda”. E é. Pois. Isso está patente neste Balsâmico Curto. Cá por mim vou tirar umas férias desta fase de abrir com o Curto. Carlos Tadeu, daqui da casa PG sem fins lucrativos, tomará posse desta parte. Inté. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

A Outra Terra

Pedro Santos Guerreiro | Expresso

No filme “Another Earth” (ou “A Outra Terra”), de Mike Cahill, surge no nosso céu um planeta idêntico à Terra, um planeta espelho do nosso. Esse planeta contém um segredo, que já revelaremos sem estragar o enredo. Mas ontem, num artigo da Astronomical Journal, soubemos que foram identificados 15 planetas fora do sistema solar, dos quais uma “Super Terra” onde poderá existir água e, portanto, vida. É o planeta K2-155d. Imaginemos agora o contrário: que cientistas do planeta K2-155d descobriram a existência da Terra. E que, tentando conhecer-nos, intercetaram o Expresso Curto de hoje:

Planeta K2-155d. Relatório de um dia solar no planeta Terra, a 200 anos-luz.

No Planeta Terra, há um homem que é notícia todos os dias: Donald Trump. Na última rotação da Terra, este homem travou um negócio de 142 mil milhões de dólares, o equivalente a 70% da riqueza gerada num ano num país chamado Portugal. A compra da Qualcomm pela Broadcom, de um país chamado Singapura, foi bloqueada com a justificação de pôr em causa a segurança nacional.

Neste planeta, as grandes empresas pagam cada vez menos impostos. Mas Donald Trump parece ser um homem preocupado com a sua nação, os Estados Unidos, onde dois pacotes-bomba explodiram nas últimas horas na localidade de Austin, provocando um morto e dois feridos.

A verdade é que o senhor Trump está envolvido em polémicas constantes. Na mesma rotação da Terra, uma atriz pornográfica de nome-fantasia Stormy Daniels, que terá sido paga por Trump para se calar sobre um caso que ambos mantiveram, disse estar disposta a devolver os 130 mil dólares que diz ter recebido para pôr fim ao silêncio. (Naquele país, os Estados Unidos, há um próspero negócio de pornografia. Próspero e letal: em três meses morreram cinco atrizes pornográficas. “Os atores e atrizes pornográficos têm de lidar com ataques todos os dias”, diz uma neurocientista e investigadora chamada Nicole Prause.)

Trump é Presidente daquele país, depois de ganhar uma eleição que se suspeita ter sido influenciada por outro país grande, a Rússia. A Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes esteve um ano a investigar e concluiu agora que houve mesmo cidadãos russos que tomaram “medidas ativas” em redes sociais nas eleições de 2016 mas, contrariando a opinião dos serviços secretos, não encontraram provas de conluio dos russos com Trump.

O Presidente deste país, Vladimir Putin, anunciou que a Rússia tem uma nova arma nuclear invencível. E sua intervenção numa região muito sensível do planeta Terra é de tal forma que se diz que “Putin está a tomar conta do Médio Oriente”. Nesta região, há um país em guerra, a Síria, onde morreram 511 mil pessoas em sete anos, incluindo 350 mil civis, dos quais perto de 20 mil são crianças.

O senhor Putin não é amado em muitas regiões. Nesta rotação da Terra, a primeira-ministra de outro grande país, o Reino Unido, fez-lhe um ataque duríssimo. A governante, de nome Theresa May, exigiu informações a Putin sobre um ataque com um gás nervoso chamado Novichok contra um espião, Sergei Skripal. A senhora May disse que é “altamente provável” que Moscovo tenha responsabilidades no ataque, declarando que “a Rússia tem currículo de assassínios patrocinados pelo Estado”.

Theresa May recordou outras atrocidades do regime do senhor Putin, acusou-o de “montar uma campanha continuada de ciberespionagem e perturbação, incluindo ingerência em eleições e pirataria digital contra o Ministério da Defesa dinamarquês e o Parlamento alemão”, e de fomentar conflitos numa zona de outro país, a Ucrânia, e de ter feito a “anexação ilegal” de um Estado, a Crimeia, há quatro translações da Terra, naquela que foi “a primeira vez desde a II Guerra Mundial que uma nação soberana tomou território à força a outro país na Europa”, um continente que atravessa um período invulgarmente longo de paz. O Presidente russo negou o envolvimento no assassinato do espião e um representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo fala em “circo” em Londres.

(É uma linguagem que se usa neste Planeta. Até no desporto. O presidente de um grande clube, o Benfica, que está a ser investigado por um alegado acesso ilegal a um processo com emails, que foram entretanto escondidos pela justiça, também diz que “acabou a paródia”. É estranho, mas este desporto chamado futebol tem jogadores como um senhor André Gomes que deu uma entrevista a dizer que tem vergonha de sair à rua porque é assobiado pelos adeptos. Há pior: o presidente de um clube de um país chamado Grécia, o Paok, entrou em campo com uma pistola e ameaçou o árbitro de morte. Os terráqueos têm uma estranha noção de desporto).

A Rússia vai organizar um campeonato do mundo de futebol daqui a uns meses. Um pivot de uma televisão estatal russa acusou o Reino Unido de ser ele a estar por detrás do assassinato do espião, para gerar um boicote ao mundial.

Qual das notícias é verdadeira? Não se sabe bem. Neste planeta circulam velozmente notícias falsas em redes sociais, o que levou um grupo de especialistas da Comissão Europeia a pedir uma coligação contra as “fake news” e a criar mecanismos de financiamento do jornalismo de qualidade. Nestas redes, o senhor Trump está em todo o lado, como diz um intelectual quase nonagenário chamado Noam Chomsky, que numa entrevista diz que o Presidente americano é “um demagogo e showman consumado que sabe como manter ativa a sua base de adoradores”, afirmando que “as pessoas já não acreditam nos factos”, o que relaciona com “o descrédito das instituições”. “Não há nada mais que Trump, Trump, Trump. Os média caíram na estratégia traçada por Trump. Todos os dias ele dá-lhes um estímulo ou uma mentira para se manter sob os holofotes e ser o centro das atenções. Enquanto isso, o flanco selvagem dos republicanos vai desenvolvendo sua política de extrema direita, cortando direitos dos trabalhadores e abandonando a luta contra a mudança climática, que é precisamente aquilo que pode acabar com todos nós.”

Fim de relatório de hoje. Não é fácil compreender este Planeta Terra. Equipa de K2-155d pede apoio.

Este exercício só tem um fim: ver de forma distanciada alguns acontecimentos quotidianos pode ser esclarecedor sobre a nossa loucura coletiva. Ou enlouquecedor quanto à nossa capacidade de esclarecimento individual.

No filme “Another Earth”, a Outra Terra é uma réplica do nosso planeta da nossa mas tem uma descontinuidade temporal, o que permite viajar para lá viajando também no tempo, para o passado. É, pois, uma possibilidade de nos redimirmos dos nossos erros, evitando aquilo de que arrependemos. Se pudesse voltar ao passado, que erros evitaria, que culpas dissolveria? Talvez uma possibilidade de entendimento esteja noutro filme, “Melancolia” de Lars von Trier, em que um outro planeta irá chocar com a Terra, destruindo-a. Neste filme, os depressivos são os mais calmos ante a tragédia iminente. Os outros, se calmos estivessem, veriam no tempo de vida a escala correta: se soubéssemos que o mundo acabaria amanhã, veríamos num ápice o que e quem é verdadeiramente importante para nós. É um desperdício de vida atermo-nos em menoridades, por graves que pareçam. Melhor é viver pelo grande, pelo bem, pelo que e com quem nos move e comove. Neste planeta.

OUTRAS NOTÍCIAS

Aqui na Terra, há quem promova “uma viagem a Marte, sabendo que terá uma grande vitória chegando à Lua”, como escreve Paulo Baldaia, no DN. Refere-se a Assunção Cristas e à ambição medida ou desmedida (depende dos analistas) no rescaldo do Congresso do CDS, que o Expresso Diário aqui explica: o CDS quer ser popular, deixar de ser visto como o partido “dos quadros e dos ricos”, e assim abrir as suas possibilidades eleitorais. “Cristas está a ocupar o espaço deixado vazio na oposição pelo PSD”, analisa Miguel Sousa Tavares na SIC.

Como? A explicação é dada por Adolfo Mesquita Nunes, convidado desta semana da Comissão Política, podcast do Expresso. O vice-presidente do CDS não se compromete com ver Cristas como primeira-ministra já em 2019, mas explica o crescimento verificado, a ascensão desejada e o percurso pela frente. No final do episódio, revolta-se com as críticas de Estrela Serrano a Nádia Piazza, presidente da Associação de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande que, como independente, vai ajudar o CDS a construir o programa eleitoral. A crítica de Estrela Serrano, que acusa Nádia Piazza de orientação política contra o governo, é, diz Adolfo, “indigna” e “torpe”.

Como vamos de greves? Vamos em 13 este ano, número que vai aumentar com as paralisações já anunciadas por médicos, enfermeiros e professores. Na greve de ontem dos trabalhadores da infraestruturas de Portugal, os comboios sobrelotados nas horas de ponta provocaram caos em Lisboa.

Mais de metade das linhas de comboio está em mau estado, noticia o Público em manchete. Nos últimos quatro anos houve vinte descarrilamentos.

Estamos a dois dias da data limite para os proprietários limparem terrenos. Mas calma, não vai haver caça à multa. Haverá pelo menos um mês e meio de tolerância para quem mostre disponibilidade para ainda cumprir a missão.

A criminalidade nas escolas de Lisboa aumentou 10%, avança o DN em manchete. No ano letivo 2016/17 registaram-se 1797 crimes, entre os quais furtos, roubos, agressões e tráfico de droga.

Há cada vez mais vestígios de droga nos esgotos de Lisboa. Os de Ecstasy aumentaram 40%. João Goulão, presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, relaciona este aumento com o facto de as amostras em Lisboa serem recolhidas na estação de tratamento de águas residuais de Alcântara, que serve a maior zona de diversão noturna de Lisboa, o Bairro Alto.

Marcelo está em visita de Estado à Grécia, acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Hoje tem encontro marcado com Presidente da República Helénica, Prokopios Pavlopoulos, e com o primeiro-ministro, Alexis Tsipras.

Esta semana cumpre-se o quinto aniversário da eleição do cardeal arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, para Papa. A revolução de Francisco é uma “Igreja cada vez mais próxima das pessoas”, explica a Renascença.

A cimeira empresarial entre Portugal e Angola, que estava prevista para 27 de março, como o Expresso adiantara, foi adiada, avança o Negócios. O que assim se adia é uma operação de charme ao mais alto nível para pacificar as relações entre os dois países.

Esta semana, uma equipa do FMI está em Angola a rever projeções macroeconómicas e em diálogo com as autoridades nacionais do setor económico e financeiro.

E por falar em banca: o negócio está quase fechado, escreve o Eco, a Santa Casa e outras IPSS pagam 50 milhões por 2% do Montepio. Confirmando-se, o Montepio tem o inacreditável valor de 2,5 mil milhões de euros. Isto depois de ter fechado 2016 com capitais próprios negativos em 250 milhões… e de receber uma prenda das Finanças, um crédito fiscal de 800 milhões. Pedro Sousa Carvalho, no Eco, é contundente: chama “martelar as contas” a uma engenharia financeira com a ajuda do governo. Está bonito, isto.

Entretanto, as penhoras de contas bancárias ultrapassam mil milhões, contabiliza o Jornal de Notícias.

A Altice vai vender os negócios de voz internacional da PT à Tofane Global. Aliás, vai vender todos os negócios grossistas de voz internacional que detém em Portugal, França e República Dominicana. Tudo para baixar uma dívida à volta de 50 mil milhões de euros. Hoje, a Altice Portugal vai apresentar a estratégia organizacional da sua operação no nosso país.

O Sporting ganhou 2-1 ao Chaves. “Só há amor com Bas Dost”, escreve a Lídia Paralta Gomes na crónica do jogo da Tribuna. Na contra-crónica, Rogério Casanova diz que aquela bola “vai ter um bebé daqui a nove meses”.

FRASES

“Já ninguém neste país aguenta mais políticos a inventar habilitações que não têm e a passearem um penacho académico obtido de forma fraudulenta. Que Rui “Banho de Ética” Rio não tenha percebido isso é apenas mais uma prova de que a nova forma de estar na política que ele prometeu ao país é extremamente parecida com a antiga.” João Miguel Tavares, no Público, sobre o currículo aldrabado de Feliciano Barreiras Duarte.

“O presidente do Benfica, ao sublinhar um aspeto - “não nos conseguem defrontar pela competência e quiseram vencer-nos ao manchar o nosso nome” -, está a arranjar uma cortina de fumo.”Martim Silva, no Expresso Diário.

O QUE EU ANDO A LER

A ler, a ouvir, a ver, porque há (sempre) tanto se encontrarmos por onde nos podemos perder.

Dois livros ainda com tinta fresca, ambos de Natália Correia (1923-1993), editados pela Ponto de Fuga. “Entre a Raiz e a Utopia” é um conjunto de escritos inéditos em livro sobre António Sérgio (1883-1969) e o cooperativismo, que “correspondem a pelo menos doze anos (1946-1958) de uma relação de profunda cumplicidade e de luta pelos ideais universais, vivida entre a poeta e o pensador”, como escreve a investigadora Ângela de Almeida na introdução; “Descobri que Era Europeia” é uma terceira edição, revista e aumentada, que parte de “Impressões Duma Viagem à América”, escritas em três viagens aos Estados Unidos (em 1950, 1978 e 1983). Na primeira, Natália tinha apenas 26 anos e quando mostrou o manuscrito, alguém que o leu fez-lhe notar “um acentuado egocentrismo da primeira à última página”, como relata a própria Natália Correia no prefácio. “É bem possível. Não sei fazer as coisas de outra forma. Sou uma ave que só sabe voa a toda a amplitude do espaço que o seu amor criou. Este livro sou eu.”

O texto sobre a primeira viagem (o principal deste volume) relata uma América de contrastes (ou os contrates da América). “É tão impossível gostar da América como não gostar. Isto traduz-se num sentimento abstrato: o da fascinação.”. Uma fascinação por um país em “puberdade física e mental que convive, no seu âmago, com os fantasmas das coisas irreveladas”, em que os americanos transmitem "a angústia do inacabado”.

Falando em Estados Unidos, mas 2018: “Onde está Barack Obama?”, pergunta Julian E. Zelizer na Atlantic. Autor do livro “A Presidência de Barack Obama” (o livro pode ser encontrado aqui), Zelizer dá voz aos que questionam o silêncio do antigo Presidente, justificando que Trump está a ter uma ação tão radical que merecia que o seu antecessor também rompesse a tradição de líderes de administrações anteriores saírem de cena. O seu silêncio “está apenas a prejudicar o seu partido”.

E já que estamos em entrevistas, passe pela imperdível rubrica semanal “A Casa às Costas”, da Tribuna Expresso. A desta semana é com o antigo jogador Luís Filipe Andrade: “Chamavam-me o pé de chumbo. Tinha ranho no nariz, mordia a língua e ninguém passava por mim, mas não tinha técnica”.

Na música, o Luís Guerra esteve no (maravilhoso) concerto dos Slowdive em Lisboa na semana passada e explica aqui como reconciliou 2018 com 1993. (falando em regressos, leia tambémcomo a baixista ex-Pixies Kim Deal estará em Portugal com as Breeders: noutras vezes que cá esteve, achou deprimente ser assobiada na rua). No Porto, hoje há concerto de Yann Tiersen no Coliseu, às 21:30. Em Lisboa, prossegue o Cumplicidades, Festival Internacional de Dança Contemporânea.

Quer fechar em beleza? Então veja esta reportagem multimédia do Expresso, acabadinha de publicar: “Não caias em tentação”.

Daqui do Planeta Terra, por agora é tudo. Tenha um excelente dia.

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