30 dias que tranquilizaram o
mundo? a vitória diplomática de Kim Jong Un e da paz no xadrez global
Diego Grossi, mestre em História
(PPGHC-UFRJ)
A imprensa ocidental vem
divulgando nas últimas semanas (desde a participação conjunta das "duas
Coreias" nas Olimpíadas de Inverno - que começaram em 09 de fevereiro) com
grande ar de espanto a "aproximação" entre Coreia do Norte e Coreia
do Sul e a consequente proposta de desnuclearização da península e
distensionamento com os Estados Unidos da América; se esforçando, paralelamente
para encaixar os atuais fatos à sua frequente narrativa de demonização da
Coreia Popular paradoxando a realidade.
A mais nova cartada dos grandes
meios de comunicação, alinhados à política internacional estadunidense, foi
apresentar supostos passaportes brasileiros de Kim Jong Un e seu pai Kim Jong
Il para acusá-los de um exótico interesse que, na narrativa midiática, fica
entre "conhecer a Disney" e "fugir do próprio país". Todo
esse circo sensacionalista, assim como dezenas de outras "notícias"
que a precederam, tem como objetivos: a) desviar o foco das atenções referentes
à península coreana, eclipsando a, ainda em curso, vitória diplomática da
Coreia Popular na reaproximação com o governo sul-coreano (comentada a seguir)
; e b) sujar a imagem desse país numa conjuntura em que se mostraram
nitidamente os verdadeiros defensores da paz.
Toda essa narrativa da imprensa parte,
aliás, de um pressuposto equivocado e com fins de distorção, ignorando que a
Coreia é e sempre foi uma só nação. A divisão entre uma Coreia "do
Norte" e outra "do Sul" é resultado direto da invasão
estadunidense na parte sul da península no término da Segunda Guerra Mundial,
quando se sufocou os conselhos populares (surgidos na luta contra o Japão e
que, no norte, se tornaram Estado - como os sovietes na Rússia socialista) e
instalou-se no poder uma ditadura militar liderada por Syngman Rhee (que vivera
até então metade de sua vida nos EUA), responsável por ordenar o assassinato de
100 mil comunistas e partidários da reunificação em um só golpe (incluindo
crianças de dez anos de idade). A nação coreana, em nível étnico, cultural e
territorial tem cerca de cinco milênios de história; um Estado unificado,
entendido como "Coreia", mais de mil anos. A Coreia é uma só nação e
quem se comporta como elemento estranho e alienígena, mantendo a divisão desde
o final da II Guerra Mundial, é o Estado sul-coreano construído com a
intervenção do imperialismo estadunidense.
Dessa forma, ao contrário do que
o tom da imprensa hegemônica dá a entender, não deveria haver nenhum ar de
surpresa diante do atual processo de reaproximação. E, muito menos, espanto com
a Coreia do Norte por sua postura favorável ao processo. Há décadas, desde seu
fundador Kim Il Sung, que os coreanos do norte trabalham ardorosamente pela
reunificação da nação coreana, propondo, inclusive, um regime de tipo
federativo em que possa prevalecer o esquema de "um país, dois
sistemas"; aceitando, portanto, até mesmo o direito do Sul manter sua
estrutura básica numa futura pátria reunificada (ao mesmo tempo que, no Norte,
não abrem, corretamente, mão do socialismo).
Portanto, é fundamental
considerar que a Coreia Popular sempre trabalhou, de todas as formas possíveis,
pela paz e pela reunificação da nação coreana. O elemento novo na conjuntura
não vem, então, de nenhuma mudança "surpreendente" numa suposta
"belicosidade" do Norte, mas sim da correlação de forças na Coreia do
Sul após a derrubada da presidenta Park Geun Hye e da extrema direita nacional.
A imprensa, demais setores da direita e papagaios mal ou bem intencionados
repetem insistentemente que a Coreia Popular é uma ameaça à paz por conta de
sua firmeza política e seu programa nuclear. Nada, então, melhor do que a
prática para mostrar quem tem de fato razão. E a prática mostrou, num período
de poucos anos, como o governo norte-coreano está correto ao se cacifar de
forma política e militar para negociar de igual para igual com qualquer força
no mundo; conquistando, assim, os elementos necessários para caminhar no rumo
da paz e da reunificação da nação coreana sem fazer qualquer concessão à
ingerência imperialista. Kim Jong Un, em pouco tempo de governo, cumpriu sua
promessa de "domar com fogo o maníaco estadunidense" e deu um xeque
no imperialismo e seus adversários.
Como um mestre de xadrez, fez da
Coreia Popular uma fiadora da paz ao colocar no adversário a responsabilidade
de responder à altura. A questão que fica agora é: responderão, estes, à altura
em prol da paz? Trump aceitará o convite para discutir o fim das hostilidades
contra o povo coreano? Se não, até quando os "bem intencionados"
perpetuarão a hipocrisia e continuarão a atacar a Coreia Popular e seus
apoiadores? No xadrez não existe cinza. É preciso ter um lado.
- Em Pravda.ru
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