Jens Spahn, indicado para a pasta
da Saúde, diz que ser dependente de assistência social na Alemanha não é
sinônimo de ser pobre. Comentário é alvo de críticas de conservadores e
social-democratas.
Jens Spahn, o indicado da
chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, para o Ministério da Saúde do
novo governo, se envolveu em uma controvérsia antes mesmo de assumir o cargo,
ao fazer comentários sobre a pobreza na Alemanha.
Em entrevista ao jornal Berliner
Zeitung publicada no último domingo (11/03), Spahn disse que os
dependentes do sistema de assistência social de subsistência, conhecido com
Hartz IV, não são pobres, uma vez que suas necessidades básicas são garantidas.
"Hartz IV não significa pobreza,
mas é a resposta da nossa comunidade de solidariedade à pobreza", disse.
O futuro ministro – que é um
dos maiores
críticos de Merkel dentro de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU)
– afirmou que ninguém deve passar fome no país, mesmo os que não são
dependentes dos 930 centros de distribuição de alimentos, e disse que o Hartz
IV faz com que o país tenha "um dos melhores sistemas de assistência
social em todo o mundo”.
Estabelecido em 2002,
o Hartz IV prevê que autoridades locais paguem benefícios sociais a
pessoas como mães solteiras, incapacitadas ou desempregadas durante um longo
período.
A secretária-geral da CDU,
Annegret Kramp-Karrenbauer, disse que Spahn acertou ao afirmar que o sistema
social alemão deve ser revisado regularmente para assegurar que as necessidades
básicas dos dependentes sejam garantidas, mas considerou politicamente
incorreto que políticos que recebem altos salários tentem definir os
sentimentos dos mais carentes.
"Pessoas como nós, que são
bem pagas, não devem tentar explicar como os que recebem o Hartz IV se
sentem", afirmou.
Spahn, da ala mais à direita do
partido, e a centrista Kramp-Karrenbauer são considerados possíveis candidatos
à sucessão de Merkel.
"Zombaria" aos mais
pobres
O presidente da Associação de
Trabalhadores Democrata-Cristãos (CDA), Christian Bäumler, disse ao
jornal Handelsblatt que "Jens Spahn perdeu o contato com a
realidade".
A vice-presidente da Federação
Alemã de Sindicatos (DGB), Annelie Buntenbach, classificou as declarações do
futuro titular da Saúde como de "enorme ignorância°.
"Se Jens Spahn presume que
todos recebem o que necessitam, trata-se então de uma zombaria às 8 milhões
de pessoas que vivem com rendas demasiadamente baixas", afirmou.
Membros do Partido
Social-Democrata (SPD), parceiro de Merkel na coalizão governista que assumirá
o governo nesta quarta-feira, também criticaram as declarações de Spahn.
"Nosso país precisa de
coesão social, e não de debates insensíveis sobre estatísticas", disse o
futuro ministro do Trabalho, o social-democrata Hubertus Heil.
O secretário-geral do SPD, Lars
Klingbeil, disse que, durante as negociações para a formação do novo governo,
os parceiros de coalizão concordaram em se dedicar ao tema da pobreza entre
idosos e crianças.
"O Sr. Spahn aparentemente
não prestou a devida atenção durante as negociações", disparou.
"Conversamos explicitamente sobre o fato de que há pessoas em nosso país
que enfrentam dificuldades."
Katja Kipping, copresidente do
partido A Esquerda, disse que os comentários de Spahn refletem a mentalidade do
governo de "pisotear os que estão abaixo".
O colíder do Partido Verde,
Robert Habeck, avaliou que os temores existenciais e o sentimento de humilhação
dos dependentes dos benefícios são reais, "com frequência não apesar do
Harz IV, mas por causa dele".
Christian Lindner, líder do
Partido Liberal Democrático (FDP), defendeu Spahn, afirmando que, apesar de os
dependentes não viverem em "situações que possam ser chamadas de
confortáveis”, os valores pagos pelo programa de assistência social são
calculados de modo a fornecer o mínimo possível para sua subsistência.
AfD "abriu espaço" para
Spahn
Alexander Gauland, colíder do
partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), afirmou que o
êxito de sua legenda nas eleições gerais do ano passado, ao conquistar pela
primeira vez representação expressiva no Bundestag (Parlamento alemão),
praticamente forçou a indicação de nomes com o de Spahn para o gabinete de
Merkel.
"Spahn não teria se tornado
ministro se suas opiniões não tivessem ressonância dentro da CDU",
observou Gauland. Ele sustenta que o resultado das eleições forçou Merkel a dar
espaço às vozes mais críticas dentro de sua legenda. "Essa nova abordagem
ocorre graças ao fato de que a AfD obteve grande êxito na votação."
Recentemente, Spahn havia
recebido fortes críticas por defender
a decisão de um banco de alimentos da cidade de Essende não aceitar novas
inscrições para imigrantes, acolhendo apenas registros de pessoas com
passaporte alemão. Ele argumentou que jovens estrangeiros estariam se
comportando, durante a distribuição de comida, "de forma tão ousada e
robusta que idosos ou mães solteiras não teriam mais chance de acesso aos
mantimentos".
RC/rtr/afp/kna/epd | Deutsche
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