terça-feira, 13 de março de 2018

Ministro de Merkel gera polémica ao falar de pobreza


Jens Spahn, indicado para a pasta da Saúde, diz que ser dependente de assistência social na Alemanha não é sinônimo de ser pobre. Comentário é alvo de críticas de conservadores e social-democratas.

Jens Spahn, o indicado da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, para o Ministério da Saúde do novo governo, se envolveu em uma controvérsia antes mesmo de assumir o cargo, ao fazer comentários sobre a pobreza na Alemanha.

Em entrevista ao jornal Berliner Zeitung publicada no último domingo (11/03), Spahn disse que os dependentes do sistema de assistência social de subsistência, conhecido com Hartz IV, não são pobres, uma vez que suas necessidades básicas são garantidas.

"Hartz IV não significa pobreza, mas é a resposta da nossa comunidade de solidariedade à pobreza", disse.

O futuro ministro – que é um dos maiores críticos de Merkel dentro de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU) – afirmou que ninguém deve passar fome no país, mesmo os que não são dependentes dos 930 centros de distribuição de alimentos, e disse que o Hartz IV faz com que o país tenha "um dos melhores sistemas de assistência social em todo o mundo”.

Estabelecido em 2002, o Hartz IV prevê que autoridades locais paguem benefícios sociais a pessoas como mães solteiras, incapacitadas ou desempregadas durante um longo período.

A secretária-geral da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, disse que Spahn acertou ao afirmar que o sistema social alemão deve ser revisado regularmente para assegurar que as necessidades básicas dos dependentes sejam garantidas, mas considerou politicamente incorreto que políticos que recebem altos salários tentem definir os sentimentos dos mais carentes.

"Pessoas como nós, que são bem pagas, não devem tentar explicar como os que recebem o Hartz IV se sentem", afirmou.

Spahn, da ala mais à direita do partido, e a centrista Kramp-Karrenbauer são considerados possíveis candidatos à sucessão de Merkel.

"Zombaria" aos mais pobres

O presidente da Associação de Trabalhadores Democrata-Cristãos (CDA), Christian Bäumler, disse ao jornal Handelsblatt que "Jens Spahn perdeu o contato com a realidade".

A vice-presidente da Federação Alemã de Sindicatos (DGB), Annelie Buntenbach, classificou as declarações do futuro titular da Saúde como de "enorme ignorância°.

"Se Jens Spahn presume que todos recebem o que necessitam, trata-se então de uma zombaria às 8 milhões de pessoas que vivem com rendas demasiadamente baixas", afirmou.

Membros do Partido Social-Democrata (SPD), parceiro de Merkel na coalizão governista que assumirá o governo nesta quarta-feira, também criticaram as declarações de Spahn.

"Nosso país precisa de coesão social, e não de debates insensíveis sobre estatísticas", disse o futuro ministro do Trabalho, o social-democrata Hubertus Heil.

O secretário-geral do SPD, Lars Klingbeil, disse que, durante as negociações para a formação do novo governo, os parceiros de coalizão concordaram em se dedicar ao tema da pobreza entre idosos e crianças.

"O Sr. Spahn aparentemente não prestou a devida atenção durante as negociações", disparou. "Conversamos explicitamente sobre o fato de que há pessoas em nosso país que enfrentam dificuldades."

Katja Kipping, copresidente do partido A Esquerda, disse que os comentários de Spahn refletem a mentalidade do governo de "pisotear os que estão abaixo".

O colíder do Partido Verde, Robert Habeck, avaliou que os temores existenciais e o sentimento de humilhação dos dependentes dos benefícios são reais, "com frequência não apesar do Harz IV, mas por causa dele".

Christian Lindner, líder do Partido Liberal Democrático (FDP), defendeu Spahn, afirmando que, apesar de os dependentes não viverem em "situações que possam ser chamadas de confortáveis”, os valores pagos pelo programa de assistência social são calculados de modo a fornecer o mínimo possível para sua subsistência.

AfD "abriu espaço" para Spahn

Alexander Gauland, colíder do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), afirmou que o êxito de sua legenda nas eleições gerais do ano passado, ao conquistar pela primeira vez representação expressiva no Bundestag (Parlamento alemão), praticamente forçou a indicação de nomes com o de Spahn para o gabinete de Merkel.

"Spahn não teria se tornado ministro se suas opiniões não tivessem ressonância dentro da CDU", observou Gauland. Ele sustenta que o resultado das eleições forçou Merkel a dar espaço às vozes mais críticas dentro de sua legenda. "Essa nova abordagem ocorre graças ao fato de que a AfD obteve grande êxito na votação."

Recentemente, Spahn havia recebido fortes críticas por defender a decisão de um banco de alimentos da cidade de Essende não aceitar novas inscrições para imigrantes, acolhendo apenas registros de pessoas com passaporte alemão. Ele argumentou que jovens estrangeiros estariam se comportando, durante a distribuição de comida, "de forma tão ousada e robusta que idosos ou mães solteiras não teriam mais chance de acesso aos mantimentos".

RC/rtr/afp/kna/epd | Deutsche Welle

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