terça-feira, 24 de abril de 2018

Homenagem | AO POVO, AOS CAPITÃES DE ABRIL, AO ZECA, AOS ANTIFASCISTAS


"Grândola, Vila Morena"' é uma canção composta e cantada por Zeca Afonso que foi escolhida pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) para ser a segunda senha de sinalização da Revolução dos Cravos. José Afonso escreveu a primeira versão do poema “Grândola Vila Morena” após ter sido convidado a participar nos festejos do 52º Aniversário da coletividade Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (SMFOG) em 17 maio de 1964 e ter ficado impressionado com o ambiente fraterno e solidário desta Sociedade alentejana. 

À meia noite e vinte minutos e dezoito segundos do dia 25 de Abril de 1974, a canção foi transmitida pelo programa independente Limite através da Rádio Renascença como sinal para confirmar o início da revolução. Também por esse motivo, transformou-se em símbolo da revolução, assim como do início da democracia em Portugal. (Wikipédia)

Embaixada em Díli envia conselhos de segurança a portugueses em Timor-Leste


Díli, 24 abr (Lusa) - A embaixada de Portugal em Díli alertou hoje os portugueses em Timor-Leste para alguns riscos associados às eleições legislativas antecipadas de 12 de maio no país e recomendou-lhes que evitem eventos políticos.

Os alertas constam de uma nota enviada pela embaixada aos cidadãos portugueses, com um conjunto de recomendações de segurança relativas ao período eleitoral em curso, de eleições legislativas antecipadas.

O documento refere alguns dos potenciais "riscos" associados às eleições deste ano, nomeadamente "conflitos entre simpatizantes dos Partidos Políticos (...), entre grupos organizados desconhecidos" ou entre "grupos de artes marciais".

"Timor-Leste já passou por vários episódios de violência desde que se tornou independente, a situação atual, apesar de calma e tranquila, pode sofrer alterações repentinas, por isso todos devem estar preparados para reagir a qualquer mudança", considera a embaixada.

"As forças de segurança timorenses ocasionalmente estabelecem pontos de verificação de segurança ao longo das estradas, onde aos expatriados pode ser solicitada a identificação. Ocasionalmente, podem também ter lugar pontos de verificação executados por grupos não oficiais. Apesar de estes normalmente serem dirigidos para os nacionais, evite-os sempre que puder", recomenda.

Os eleitores timorenses votam a 12 de maio para eleger os 65 deputados do Parlamento Nacional com a campanha eleitoral a decorrer até 09 de maio.

Entre as recomendações, a embaixada diz que os cidadãos não devem participar em eventos políticos e devem "evitar as áreas e itinerários onde estão previstos eventos políticos", respeitando as caravanas partidárias e aguardando "serenamente a sua passagem sem manifestações de apoio ou de desagrado".

Caso se veja "inadvertidamente envolvido num evento político, mantenha a calma e tente sair do local o mais rápido possível", respeitando sempre a propaganda eleitoral.

Informar amigos em caso de deslocação para fora da área de residência, viajar com documentação e verificar o estado do carro são outras recomendações.

O documento, que inclui um calendário nacional da campanha política, inclui outras recomendações gerais de segurança e um apelo a quem não está registado na embaixada para que o faça.

Até ao momento, a campanha eleitoral tem decorrido sem incidentes de relevo, exceto por acidentes de viação envolvendo militantes de uma mesma força política.

ASP // FPA

MOÇAMBIQUE | Violência nas minas de rubis é mais um caso à espera de justiça?


Há um silêncio à volta do caso de violência contra garimpeiros das minas de rubis que aconteceu em 2017. Mas em Londres um ação judicial contra a Gemfields, acionista maioritária da empresa envolvida, já está em curso.

A empresa britânica Gemfields está a ser processada em Londres por mais de 100 garimpeiros moçambicanos, acusada de violação dos direitos humanos.

Em causa estão duas situações: uma de maus tratos, perpetrados pela polícia, que tiveram lugar em julho de 2017, e que resultaram em quatro mortos e vários feridos e ainda casos de violações sexuais. E a segunda tem a ver com a apropriação ilegal de terras.

Em Ntoro, uma das regiões onde se exploram os rubis, a população não vê com bons olhos a Montepuez Ruby Mining, detida em 75% pela empresa britânica.

Mussa Manuel é um dos descontentes e conta: "Em 2012 e 2013 a empresa e o Governo vieram falar connosco, a alegar que o terreno faz parte da zona de concessão mineira da empresa Ruby Mining. E depois a empresa veio inscrever-nos a todos para poderem reassentar-nos, construirmos as nossas casas. E depois disso, em 2014, no dia 16 de junho, vimos o branco com polícias, seguranças da empresa com máquinas que vinham destruir as nossas casas, sem que primeiro tivessem cumprido com os direitos que a empresa nos prometeu."

A quantas anda o caso em Moçambique?

A Leigh Day, escritório de advocacia especializado em direitos humanos, representa as vítimas. Denúncias feitas por jornalistas e ativistas no terreno permitiu a ação dos advogados. Mas em Moçambique, onde aconteceram as violações, não são conhecidas ações judiciais.

A Polícia garante que o caso já passou para as mãos da Procuradoria-Geral da República. A DW África procurou a PGR, mas de momento o organismo está sem porta-voz e tentativas de contactar o gabinete de informação foram sem sucesso.

Em meio a dificuldades CNDH faz o seu trabalho

Mas ouvimos a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, o presidente Luis Bitone revela: "Quando tomamos conhecimento, primeiro tivemos dificuldades financeiras de viajarmos de imediato para o local. Mas depois conseguimos, deslocamos para lá uma equipa de cinco comissários e eles trabalharam nas minas com as autoridades locais para produzirem um relatório e identificarem os possíveis autores."

"E o que estamos a fazer agora é discutir esses resultados para depois produzirmos as nossas recomendações concretas sobre o caso", garante Bitone.

E sobre a forma como o caso está a ser tratado pelas autoridades moçambicanas, o presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos reconhece que "é um problema estrutural, a morosidade processual é um problema constatado quase sempre em relatórios oficiais como não oficiais. A justiça deve começar a ser célere para responder a essas situações de violações graves dos direitos humanos. Portanto, não é um caso isolado."

Gemfields reage

Depois dos maus tratos, a Gemfields disse em comunicado que a Montepuez Ruby Mining tomou medidas, trabalhando em estreita colaboração com as autoridades e dando assistência humanitária a garimpeiros e membros da comunidade.

A mineradora garantiu ainda que oferece formação em direitos humanos aos colaboradores, à polícia moçambicana e às forças governamentais. A Gemfields já fez saber que é contra a violência e que se vai defender contra as acusações.

Intimidação

E a violência não é o único problema das comunidades onde se exploram as pedras preciosas, agora elas sentem-se intimidadas com a presença permanente da polícia.

Mussa Manuel, que vive em Ntoro, desabafa: "Há um acampamento de polícias, não andamos à vontade, parece que estamos fechados. Estamos limitados, quem nos vai ajudar a circular livremente?"

"Por isso nós na comunidade estamos mal, conseguimos circular, mas há revistas aos bolsos e até a hora limitada para andar. Se andares de qualquer maneira à noite terás problemas com a polícia. Assim não estamos a conseguir fazer as nossas atividades como antigamente", lamenta Manuel.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

Impasse na formação do Governo: CEDEAO regressa a Bissau


É esperada esta terça-feira (24.04), em Bissau, uma missão da CEDEAO que deverá ficar no país até à tomada de posse do novo Executivo. Primeiro-ministro promete solução para crise energética só depois de formar Governo.

A missão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) será liderada pelo chefe da diplomacia do Togo, Robert Dussey, que deverá reunir-se com as autoridades e atores políticos, "no quadro da implementação das recomendações da cimeira de Lomé", revelou fonte oficial.

A delegação da CEDEAO deverá ficar em Bissau até à tomada de posse dos membros do novo Governo, que poderá ser anunciado até sexta-feira. A composição do novo elenco continua a ser discutida. E apesar dos progressos alcançados, persistem ainda alguns pontos de discórdia.

"Não há grandes pontos de estrangulamentos, mas é preciso discutir. Não será um governo extenso", disse o novo primeiro-ministro, Aristides Gomes, quando questionado pelos jornalistas sobre se havia dificuldades na formação do Governo.

O primeiro-ministro, que esteve reunido na segunda-feira (23.04) com o Presidente José Mário Vaz, precisou que o novo Governo deverá estar concluído "talvez antes de sexta-feira" para ser apresentado ao chefe do Estado, que emitirá um decreto a anunciar os nomes.

Crise energética

Entretanto, a capital, Bissau, está sem luz e água canalizada há quatro dias. O novo primeiro-ministro diz que só se vai debruçar sobre a crise energética depois de formar o Governo.

Aristides Gomes disse compreender que exista uma crise energética em Bissau, que está às escuras desde quinta-feira passada, mas afirmou que o país tem "muitas dificuldades".

"Há muita coisa em que o país está em dificuldades, mas vamos fazer tudo para começar a atacar estes problemas, sem Governo não se pode fazer nada", observou o primeiro-ministro que lidera as negociações entre os cinco partidos representados no Parlamento para formação do Executivo.

Um grupo de cidadãos questionou a direção da Empresa de Eletricidade e Águas da Guiné-Bissau (EAGB) os motivos pelos quais Bissau está sem energia e água canalizada há quatro dias e promete continuar a interpelar as autoridades sobre o assunto.

O grupo de cidadãos promete dirigir-se terça-feira (24.04) ao gabinete do ministro, demissionário, da Energia, Florentino Pereira, para questioná-lo sobre o que se passa com a EAGB, cuja direção diz não ter uma resposta sobre os problemas por que passa a empresa.

Braima Darame (Bissau), Agência Lusa | em Deutsche Welle

Na foto: Presidente da comissão da CEDEAO, Jean-Claude Kassi Brou (centro), foi recebido pelo Presidente José Mário Vaz (dir.) há duas semanas

MATANÇA 1915 - Começa o genocídio armênio pelos turcos

A partir de 1909, preocupados em criar uma nação turca racialmente homogênea, os Jovens Turcos multiplicam as exigências contra os armênios da Ásia Menor.

Seiscentos armênios de Istambul são assassinados em 24 de abril de 1915 por ordem do governo do Império Otomano. É o começo do primeiro genocídio do século XX. Um milhão e meio de pessoas foram exterminadas.

Na Primeira Guerra Mundial (1914-1919), o território armênio foi dividido entre os russos, aliados da França e do Reino Unidos, e os turcos, aliados da Alemanha e da Áustria. A Armênia só obteria sua independência em 1991.

Cerca de dois milhões de armênios habitavam o país no final do século 19 sobre uma população total de 36 milhões de habitantes.

Nos anos que precedem a Primeira Guerra Mundial, a decadência do  Império Otomano se acelera e o sultão Abdul-Hamid II não hesita em atiçar o ódio religioso a fim de consolidar seu poder. Entre 1894 e 1896, como os armênios reclamavam reformas e uma modernização das instituições, o sultão ordena o massacre de 200 mil a 250 mil armênios com o apoio de curdos das montanhas.

Um milhão de armênios são despojados de seus bens e alguns milhares convertidos à força. Centenas de igrejas cristãs são queimadas ou transformadas em mesquitas. Na região de Van, coração da Armênio histórica, não menos de 350 aldeias são riscadas do mapa.

Esses massacres planejados tinham todas as características de um genocídio. As potências ocidentais se contentaram em emitir protestos formais. O sultão tenta se posicionar como chefe espiritual de todos os muçulmanos em sua condição de califa. Manda construir a estrada de ferro de Hedjaz para facilitar a peregrinação a Meca. Aproxima-se também do kaiser Guilherme II da Alemanha. Contudo, é deposto em 1909 pelo movimento nacionalista que ficou conhecido como Jovens Turcos, que o acusa de abrir o império aos apetites estrangeiros e de se mostrar leniente com os árabes.

Eles instalam no poder um Comitê União e Progresso, dirigido por Enver Pachá e indicam novo sultão. Outorgam ao país uma constituição e toma emprestado da Revolução Francesa o lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Porém, o império caminha rumo a um nacionalismo ainda mais estreito.

A partir de 1909, preocupados em criar uma nação turca racialmente homogênea, os Jovens Turcos multiplicam as exigências contra os armênios da Ásia Menor. Em 1º de abril de 1909 acontece em Adana a morte de 20 mil a 30 mil deles.

Os Jovens Turcos lançam campanhas de boicote ao comércio de propriedade de gregos, judeus e armênios. Quando estala a guerra em agosto de 1914, o sultão é pressionado a entrar no conflito ao lado das potências centrais – Alemanha e Áustria – contra a Rússia e os ocidentais. O turcos tentam sublevar em seu favor os armênios da Rússia, porém são derrotados pelos russos em Sarikamish em 29 de dezembro.

O Império Otomano é invadido. O exército turco perde 100 mil homens. Bate em retirada e, exasperado, multiplica a violência contra os armênios nos territórios que atravessa. Os russos conseguem atrair para si os armênios da Turquia. Em 7 de abril de 1915, a cidade de Van, no leste da Turquia, subleva-se e proclama um governo armênio autônomo.

Os Jovens Turcos aproveitam a ocasião para levar a cabo seu projeto de eliminar a totalidade dos armênios da Ásia Menor. No total, desapareceram durante o verão de 1915 dois terços da população armênia sob a soberania otomana.

O Tratado de Sèvres, assinado em 10 de agosto de 1920 entre os Aliados e o Império Otomano, previu levar a julgamento os responsáveis pelo genocídio. No entanto, o sobressalto nacionalista de Mustafá Kemal Ataturk atropela essas resoluções e as empurra para uma anistia geral em 31 de março de 1923.

Max Altman* | São Paulo | Opera Mundi | 24/04/2011 - 08h30

Imagem: Armênios deportados em marcha-Wikicommons

*Max Altman (1937-2016), advogado e jornalista, foi titular da coluna Hoje na História da fundação do site, em 2008, até o final de 2014, tendo escrito a maior parte dos textos publicados na seção. Entre 2014 e 2016, escreveu séries especiais e manteve o blog Sueltos em Opera Mundi.

O fiasco do bombardeamento da Síria


Thierry Meyssan*

Quanto mais o tempo passa desde o ataque aliado contra a Síria, a 14 de Abril de 2018, mais as informações disponíveis fazem ressaltar a amplitude do desastre. Se os Estados Unidos ainda conseguem impedir as fugas de informação provindo dos seus exércitos, não há hipótese com as provenientes de França. Washington, Paris e Londres, é certo, mostraram que continuam a julgar dirigir o mundo, mas também que já não possuem mais os meios para isso.

Uma semana após o ataque aliado contra a Síria, inúmeras questões permanecem em suspenso quanto aos objectivos desta operação e sobre a sua concretização. Os poucos factos confirmados contradizem as declarações oficiais ocidentais.

Os objectivos dos bombardeamentos

Segundo a narrativa Ocidental, estes bombardeamentos não visavam derrubar a República Árabe Síria (dita como «regime de Bashar»), mas, antes a sancionar a utilização de armas químicas.

No entanto, nenhuma prova da utilização destas armas pela Síria foi mostrada. Em seu lugar, os três aliados difundiram, cada um, avaliações fundadas num vídeo original dos “Capacetes Brancos” [1]; vídeo, ele mesmo, contradito em seguida por várias pessoas que aí apareciam e pelo pessoal do hospital no qual foi filmado (rodado-br) [2].

A contrario, pode-se, pois, questionar se o objectivo real não era o de derrubar a República. É o que parece confirmar o facto de terem sido lançados mísseis sobre o Palácio presidencial em Damasco. É igualmente a interpretação da Rússia, para quem o verdadeiro objectivo aliado era o de contrariar «os êxitos das Forças Armadas sírias na luta para libertar o seu território do terrorismo internacional».

A destruição do Centro de pesquisa farmacêutica de Barzeh permanece um mistério. Esta instalação nada tinha de secreto. Ela fora criada com ajuda dos Franceses. A OPAQ havia-a inspecionado 5 vezes e nada lá havia encontrado que pudesse estar ligado às pesquisas sobre armas químicas [3]. Segundo os seus responsáveis, no contexto de sanções internacionais, este laboratório realizava pesquisas sobre produtos anti-cancerígenos. Não era guardado e não houve qualquer vítima com o colapso dos edifícios. Isso não provocou dispersão de agentes químicos na atmosfera. Esta situação faz lembrar a destruição pelos Estados Unidos da fábrica Al-Shifa no Sudão. Em 1998, o Presidente Bill Clinton ordenou a sua destruição com o disparo de quatro Tomawaks, causando um morto e dez feridos. Os seus serviços de Inteligência garantiram que ela produzia gás de nervos por conta de Osama Bin Laden. Descobriu-se depois que era a principal unidade de produção de medicamentos genéricos do país [4]. Fabricava, nomeadamente, medicamentos contra a sida sem pagar a licença à Gilead Science, uma companhia dirigida por Donald Rumsfeld e George Schultz [5].

A realização da operação

Os Aliados dizem ter disparado 105 mísseis, enquanto os Russos apenas contaram 103 [6]. A coordenação entre os diferentes exércitos foi assegurada pela OTAN, muito embora esta nada tenha reivindicado [7]. De acordo com os seus estatutos, a Organização agiu com o aval do Conselho do Atlântico Norte, mas tal não é certo. Com efeito, este não fora consultado antes do bombardeio de Trípoli (Líbia), em 2011, e ninguém protestou. Esta coordenação visava assegurar que todos os mísseis lançados, quer do Mediterrâneo, do Mar Vermelho e do ar, atingissem o seu ponto de impacto ao mesmo tempo. No entanto, as coisas não correram como planeado (planejado-br): quando a operação aliada deveria ter sido feita em meia hora, passaram-se 1 hora e 46 minutos entre o primeiro e o último tiro.

A Rússia havia previamente anunciado que ripostaria se os seus soldados fossem mortos. Os Aliados, portanto, impuseram como missão aos seus exércitos velar por poupá-los.

No entanto, o Exército russo observou os disparos e transmitiu, em tempo real, as coordenadas dos mísseis aliados ao Exército árabe sírio para que ele pudesse destruí-los. Além disso, quando os Sírios foram ultrapassados pela pletora de disparos aliados, o Exército russo activou o seu sistema de inibição dos comandos e controlos da OTAN, paralisando assim a maior parte dos seus lançadores. Foi a primeira vez que os Franceses foram confrontados com este sistema, que havia já perturbado os Estados Unidos e os Britânicos no Mediterrâneo, no Mar Negro e em Kaliningrado.

Além disso, dois navios russos deixaram o porto de Tartus para brincar ao gato e ao rato com um submarino nuclear de ataque Britânico [8].

Segundo os Estados-maiores Russo e Sírio foram destruídos 73 mísseis em vôo, o que contestam, com desdenho, os Estados-maiores Aliados. Ora, no terreno, todos puderam constatar, eu incluído, a actividade da defesa antiaérea e ninguém viu os impactos dos 105 mísseis Aliados anunciados.

Os Aliados lembraram de imediato que qualquer informação mais precisa era classificada. Todavia, os fóruns especializados deram lugar a todo tipo de revelações, inverificáveis, sobre o fracasso maciço desta operação. No máximo, sabe-se, com certeza, que um avião francês não foi capaz de lançar um de seus mísseis e foi forçado a largá-lo no mar sem o disparar [9], e que duas fragatas multi-funções Francesas tiveram uma avaria informática e não puderam atirar os seus mísseis de cruzeiro navais (MdCN) [10] ; sintomas bem conhecidos de todos aqueles que enfrentaram a arma inibidora russa.

A defesa síria foi ultrapassada pelo número de mísseis disparados de todos os lados. Ela escolheu, portanto, defender prioritariamente certos alvos como o Palácio Presidencial e sacrificar, assim, outros como o centro de pesquisa Barzeh. Depois, a Rússia anunciou que fornecia novas baterias de anti-mísseis à Síria.

Seja como for, esta operação é claramente o maior fiasco militar desde a Segunda Guerra Mundial.

A retórica Ocidental

A ilegalidade destes bombardeamentos é clara pelo Direito Internacional: nenhum dos três agressores foi atacado pela República Árabe Síria e a sua acção não foi autorizada pelo Conselho de Segurança.

Ora, os Aliados propagandearam a legitimidade da sua iniciativa. Esta foi desmentida pelo serviço jurídico do Bundestag Alemão [11]. Com efeito, descontando o carácter fantasista do suposto ataque químico na Ghuta, este tipo de bombardeamento não permite, de forma nenhuma, garantir que os sofrimentos dos civis acabem.

A França, por sua vez, não parou de sublinhar que não tinha entrado em guerra contra o «regime de Bashar» ; propósito imediatamente contradito pela Síria, que devolveu a Grã Cruz da Legião de Honra do Presidente al-Assad ao Embaixador da Roménia, o qual representa os interesses franceses em Damasco. «Não é ponto de honra para o Presidente Assad usar uma condecoração atribuída por um regime escravo dos Estados Unidos que apoia os terroristas», disse o porta-voz da presidência.

Certos autores, próximos da OTAN, evocaram a «responsabilidade de proteger» (R2P) proclamada pela ONU. Mais uma vez, ainda, tal é irrelevante. Com efeito, a R2P apenas se aplica para suplementar Estados falhados, o que não é evidentemente o caso da República Árabe Síria cujos serviços públicos continuam a funcionar após 7 anos de guerra.

Em última análise, se os Estados Unidos, a França e Reino Unido mostraram, com esta operação, que se colocavam fora do Direito Internacional, eles mostraram também que os seus Exércitos já não são aquilo que eram.

Thierry Meyssan* | Voltaire.net.org |Tradução Alva

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Notas:
[1] “United States Assessment of the Assad Regime’s Chemical Weapons Use” («Avaliação pelos Estados Unidos das Armas Químicas do Regime Assad»-ndT), Voltaire Network, 13 April 2018. « Évaluation nationale du ministère français de la Défense sur l’attaque chimique du 7 avril 2018 », Réseau Voltaire, 14 avril 2018. “Syria action – UK government legal position”, Voltaire Network, 14 April 2018.
[2] Por exemplo : “Testemunha ocular que nega a acusação dos "Capacetes Brancos"”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 15 de Abril de 2018.
[3] Última inspecção : “Progress in the elimination of the Syrian chemical weapons programme” («Progresso na eliminação do programa das armas químicas Sírias»-ndT), by Ahmet Üzümcü , Voltaire Network, 23 March 2018.
[4] Sobre as consequência sanitárias desastrosas desta destruição, ver o artigo do Embaixador alemão da época, Werner Daum : “Universalism and the West. An Agenda for Understanding”, in «The Future of War», Harvard International Review, Vol. 23 (2) - Summer 2001.
[5] « La guerre, comme stratégie industrielle » («A guerra, como estratégia industrial»- ndT), Réseau Voltaire, 19 mars 2003.
[7] “Falsidades ‘Made in USA’ e mentiras ‘Made in Italy’”, Manlio Dinucci, Tradução Maria Luísa de Vasconcellos, Il Manifesto (Itália) , Rede Voltaire, 17 de Abril de 2018.
[8] “British submarine in duel with Kremlin’s ‘Black Hole’ hunter-killer” («Submarino Britânico em duelo com caçador “Buraco Negro” do Kremlin»-ndT), Mark Hookham & Tim Ripley, The Times, 16 avril 2018.
[9] «Frappes en Syrie : un des missiles Scalp « n’est pas parti » du Rafale» («Ataques na Síria : um dos mísseis Scalp não saiu do Rafale»-ndT), Guerric Poncet, Le Point, 18 avril 2018.
[11] “Völkerrechtliche Implikationen des amerikanisch-britischfranzösischen Militärschlags vom 14. April 2018 gegen Chemiewaffeneinrichtungen in Syrien” («Implicações sobre o Direito Internacional dos Ataques militares americano-franco-britânico, de 14 de Abril de 2018, contra as Instalações de armas químicas na Síria»- ndT), Bundestag, 18. April 2018.

CANADÁ | O que está por trás do atropelamento em Toronto?


Polícia e testemunhas não têm dúvida: foi um ato deliberado. Mas, com motorista detido, investigadores evitam fazer conexão entre ataque que matou ao menos dez na cidade canadense e atentados na Europa.

A polícia de Toronto investiga nesta terça-feira (24/04) o que levou um jovem de 25 anos a jogar uma van deliberadamente contra pedestres numa movimentada rua comercial, deixando ao menos dez mortos e 15 feridos.  

O motorista foi identificado como Alek Minassian e, embora o atropelamento tenha sido claramente intencional, a polícia por ora evita falar em terrorismo. Até agora, não foi possível fazer conexões entre ele e movimentos extremistas.

"O que aconteceu nesta rua atrás da gente é terrível", disse Ralph Goodale, ministro da Segurança Pública do Canadá. "Mas não parece estar conectado, de forma alguma, a uma questão de segurança pública, com base nas informações que temos até agora."

O atropelamento levou imediatamente a temores de que também o Canadá teria entrado na mira do extremismo islâmico, após uma série de ataques, usando automóveis e reivindicados pelo "Estado Islâmico", em cidades como NiceBerlimBarcelonaLondres e Nova York.

Com o motorista detido, investigadores começaram o processo de reconstruir como – e por quê – um dia ensolarado de início de primavera em Toronto se transformou numa cena de horror. Mas, até o início desta terça, pouco havia sido divulgado sobre Minassian: sabe-se apenas que é morador de Richmond Hill, subúrbio da metrópole canadense, e que não tem antecedentes criminais.

"Esta será uma longa investigação", disse o vice-chefe da polícia de Toronto, Peter Yuen. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, pediu calma: "Ainda estamos coletando informações e, assim que pudermos, compartilharemos com os canadenses."

Nesta terça-feira, Minassian foi formalmente acusado ao comparecer a um tribunal em Toronto. Ele responderá a dez acusações de homicídio doloso (quando há intenção de matar) e a 13 tentativas de homicídio – a promotoria canadense não esclareceu este último número, sendo que o ataque deixou 15 feridos.

Minassian entrou no tribunal algemado, de cabeça raspada e vestindo um macacão branco. Perante o juiz, ele falou seu nome em voz alta e com confiança, mas respondeu às perguntas com poucas palavras, segundo relatos da imprensa local e do correspondente da DW em Toronto, Jeff Harrington.

Nem o suspeito nem as autoridades deram detalhes sobre a motivação do atropelamento. O juiz decidiu que Minassian permanecerá preso enquanto aguarda o julgamento. Uma próxima audiência foi marcada para 10 de maio.

A polícia canadense recebeu, às 13h26 (horário local), uma chamada de emergência informando que pedestres haviam sido atropelados na movimentada rua Yonge, uma área comercial no norte de Toronto, a maior cidade do Canadá. O furgão branco alugado percorreu a rua ou a calçada na hora do almoço por cerca de um quilômetro. 

"Essa pessoa estava intencionalmente fazendo isso, ele estava matando todo mundo", contou uma testemunha, identificada como Ali, à TV local. "Ele continuou, foi adiante. As pessoas estavam sendo atingidas, uma após a outra."

O motorista, que tentou fugir do local depois do incidente, foi detido por um policial, aproximadamente meia hora depois e a poucos metros do local dos atropelamentos.

Durante a detenção, ele segurava em suas mãos um objeto não identificado, conforme mostram vídeos divulgados nas redes sociais. Ele chega a gritar para o policial – "atire em minha cabeça". O policial conseguiu prendê-lo sem tiros disparados.

O atropelamento ocorreu a cerca de 30 quilômetros do centro da cidade, onde os ministros do Exterior dos países do G7, incluindo Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, se reuniram na segunda-feira.

RPR/efe/rtr/dw/ots | Deutsche Welle

Guarda-costas de Bin Laden vive de ajuda social na Alemanha


Sami A. e sua família recebem mais de mil euros mensais do estado da Renânia do Norte-Vestfália. ele é considerado uma ameaça extremista e é monitorado pela polícia, mas não pode ser deportado para a Tunísia.

O ex-guarda-costas de Osama bin Laden recebe mais de mil euros em assistência social na Alemanha, revela a imprensa alemã nesta terça-feira (24/04). Sami A. vive há quase 20 anos no país sob vigilância por ser considerado um "pregador perigoso" e uma ameaça islamista, mas não pode ser deportado para a Tunísia.

A pedido do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o estado da Renânia do Norte-Vestfália comunicou repassar, de acordo com a legislação de assistência social para requerentes de refúgio, o valor de 1.167,48 euros mensais ao ex-guarda-costas de Bin Laden, segundo publicação do tabloide alemão Bild.

O valor se compõe da seguinte forma: 194 euros para Sami A. e para sua esposa, além de pagamentos entre 133 e 157 euros por cada uma das quatro crianças do casal. No entanto, para chegar ao valor de 1.167,48 euros mensais, Sami A. teria de receber outros benefícios, mas estes não foram especificados pela cidade de Bochum, onde ele mora, sob alegação de proteção de dados pessoais.

Apesar de ser considerado uma ameaça islamista na Alemanha, Sami A. não pode ser deportado. Em abril de 2017, em última instância, um tribunal da Alemanha considerou que, apesar das mudanças na situação política da Tunísia, ainda havia o risco de Sami A. enfrentar tratamento desumano ou tortura ao retornar ao país. Desta forma, Sami A. permanece na Alemanha. Todos os dias, o suposto extremista tem que se reportar à polícia em Bochum, cidade onde reside.

Desde 2006, autoridades alemãs tentam em vão deportar o ex-guarda-costas de Bin Laden. Em 2005, o Departamento de Estrangeiros chegou a negar ao tunisiano uma extensão de sua permissão de residência. Há anos, Sami A. trava uma batalha judicial contra sua deportação.

"Aqui, a lei de refúgio alemã é explorada descaradamente. Temos que financiar um terrorista com dinheiro dos impostos porque não podemos deportá-lo", disse Eckhardt Rehberg, presidente do grupo de trabalho para Orçamento Familiar da União Democrata Cristã (CDU), ao diário Bild.

Sami A. veio para a Alemanha em 1997 como estudante. De 1999 a 2000, ele passou à clandestinidade num campo afegão de treinamento terrorista e subiu ao posto de guarda-costas de Bin Laden. Atualmente, ele é casado e tem quatro filhos. Sua família tem cidadania alemã.

Nos anos seguintes ao ataque de 11 de setembro de 2001, o tunisiano esteve repetidamente sob suspeita de se mover em meio a círculos terroristas. Em 2009, o serviço de inteligência alemão chegou a deter Sami A. no carro de um suposto terrorista da Al Qaeda.

PV/ots | Deutsche Welle

Na foto: Ex-guarda-costas de Osama bin Laden, Sami A., de camiseta listrada, em uma de suas várias audiências judiciais

PORTUGAL | PS, BE, PCP e Verdes: o difícil equilíbrio


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Mariana Mortágua, em entrevista ao DN, tece considerações sobre aquilo que foi designado, com intenções pejorativas, por geringonça. O futuro à esquerda não se avizinha risonho e parece ter ficado o aviso.

Agora ficam também os avisos dos partidos à esquerda do PS sobre uma hipotética Lei de Bases para a Saúde – um hipotético entendimento entre PS e PSD, também neste particular.

António Costa estica alegremente a corda e está mais do que visto que a mesma corre o sério risco de partir. E Rui Rio goza o prato de ver a esquerda titubear com o pais a falar nele e com a oposição interna mais refreada.

Rio acaba por ser o grande vencedor, com um sorriso nos lábios, deixa a possibilidade de um novo entendimento sobre segurança social. Costa sairá mais derrotado do que parece pensar: esta aproximação ao PS põe em causa o entendimento à esquerda, mas põe sobretudo em causa o resultado nas próximas legislativas. Costa talvez considere que a ideia de um bloco central é apelativa. Tenho dúvidas que o eleitorado pense da mesma forma, até porque a dita “geringonça” está a funcionar com um relativo grau de sucesso.

Os partidos mais à esquerda serão vistos como vítimas da acção de Costa, papel esse que lhes será vantajoso no próximo acto eleitoral.

António Costa e o PS serão os grandes derrotados e se, por hipótese, na eventualidade de um maior entendimento com o PSD, o partido de Rio roer a corda, estes partidos de esquerda não farão parte de novos entendimentos com o PS. Naturalmente.

E hoje subsiste uma certeza para muitos eleitores: não será positiva uma maioria absoluta para o PS que lhe permita governar sozinho e talvez seja imperativo reforçar o poder dos partidos à sua esquerda.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

PORTUGAL | Programa de estabilidade… da pobreza e desigualdades

Programa Estabilidade 2018-2022 do governo PS: diminuição do défice à custa das despesas com pessoal, das prestações sociais e de uma taxa de investimento público inferior à média da União Europeia


Em 5 anos o governo PS pretende cortar 12.050,9 milhões € em rúbricas que são fundamentais para prestação de serviços públicos de qualidade, para o aumento digno das pensões de reforma e aposentação e para o combate à pobreza no país. Mas há 792 milhões € para financiar o Fundo de Resolução para apoiar a banca, mais do dobro do previsto em 2018 destinado às progressões nas careiras da Função Pública. Esta é a verdade que as palavras de Mário Centeno procuram esconder. 

Uma política de cortes nas despesas dos serviços públicos e nas despesas com prestações sociais atingirá principalmente os portugueses de baixos rendimentos, agravando as suas condições de vida e as graves desigualdades já existentes no país. Fica assim clara a razão por que Centeno pretende manter congelados os salários da Função Pública e Vieira da Silva se recusa a eliminar o factor de sustentabilidade.

*O Diário.info | Ler texto completo [PDF]

- Título PG

PORTUGAL | O deputado Ascenso Simões é mal pago?

Pedro Tadeu | Diário de Notícias | opinião

O deputado Ascenso Simões publicou no Facebook, onde se identifica, à inglesa, como "mp socialist party", um recibo do seu vencimento relativo a este mês de abril. Fui ver.

Notei, em primeiro lugar, aquilo que Ascenso Simões tapou: são três frases pintadas, a preto, com o mesmo rigor institucional aplicado por funcionários públicos obrigados a ceder à comunicação social documentos parcialmente em segredo de Estado.

Ascenso Simões escondeu da turba os dados bancários, a situação familiar que justifica a percentagem de retenção na fonte do IRS e o dia em que lhe pagaram o salário... E aqui a minha perplexidade despontou.

Que Ascenso Simões não queira o seu número de conta bancária a circular pela internet parece-me pretensão razoável e sensata.

Que declare no site da Assembleia da República que é casado, e com quem, mas não queira no Facebook divulgar essa informação nem se tem dependentes a cargo, parece-me, nesta partilha em rede social, uma tentativa de defesa da vida privada legítima mas com procedimento um pouco dúbio e eficácia muito pífia... .

Recusar divulgar o dia em que recebeu o salário, que torna público com estardalhaço, é que me parece um completo mistério... Porque raio não quer Ascenso Simões que se saiba o dia em que o Estado português lhe depositou no banco um total de 5614,55 euros? Porque acha problemático saber-se a data em que ADSE, IRS, grupo parlamentar do PS e Segurança Social repartiram 1892,27 euros de descontos feitos ao seu salário de abril?... Que maluqueira!

Passei à análise das parcelas.

O salário do deputado, antes dos descontos, totaliza 5586,10 euros: 3624,41 são a "remuneração principal", 1591,37 são "ajudas de custo" e 370,32 euros, lê-se no recibo, são "despesas de representação". Ascenso Simões escreve que esta última alínea está errada, devia ser "exclusividade"... imagino que estes curtos 370 euros de complemento salarial não sirvam para seduzir quem pode ganhar muito mais somando alguns trabalhos "por fora" às remunerações auferidas pelos dias de discussão no Parlamento.

Estas quantias da "nota de abonos e descontos" referem-se à parte de salário que está sujeita a impostos, segurança social

e outras contribuições e, por esta via, Ascenso Simões só levou para casa 3693,63 euros... Repare-se como este valor final é quase igual à "remuneração principal" identificada no recibo: que bela obra de arquitetura salarial!

Mas, anexada a esta folha, vem um "talão de abonos". Aqui Ascenso Simões recebe dinheiro que não está sujeito a descontos, vai limpinho para o banco: 1371,60 euros relativos a deslocações da residência para a Assembleia (a casa, explica o deputado, fica a 400 km), 376,32 euros em deslocações pelo país em funções parlamentares e mais 172,80 euros em "trabalho político". A soma dá 1920,72 euros. Este valor, adicionado ao valor líquido do salário, totaliza os 5614,55 euros finais... E, agora, repare-se como esta quantia é quase igual ao salário bruto do deputado: 5586,10 euros. O arquiteto desta obra remuneratória é mesmo genial!

É demasiado um deputado levar para casa 5600 euros ? Não. Parece-me, atendendo à responsabilidade do cargo, ao simbolismo das funções, ao nível salarial praticado com quadros de topo de grandes empresas, um valor aceitável.

Acho mal é que nos "vendam" a ideia de que os deputados, coitadinhos, só ganham 3600 euros (o valor do salário-base que costuma ser apresentado como vencimento dos eleitos em São Bento) quando, na verdade, está arquitetada uma forma de receberem muito mais dinheiro.

Acho mal que se monte um esquema de pagamentos em deslocações de valor tão elevado, não sujeito a impostos, que é um péssimo exemplo para difundir no país uma cultura de respeito pelo Estado e pelos pagamentos fiscais.

Acho mal pagarem-se deslocações à residência (livres de impostos), uma vez que já se pagam ajudas de custo (sujeitas a impostos). Admitiria, porém, uma subida deste valor para quem mora nas ilhas ou no estrangeiro.

Acho mal que não se pague um salário-base de nove mil ou dez mil euros para que os deputados, obrigados ao regime de exclusividade, recebam, líquidos, cinco mil euros, depois de pagarem os devidos impostos e contribuições sociais.

Acho que para quem ganhe mais do que aquilo, não é profissional da política e é eleito deputado, se devia apurar um salário bruto semelhante ao que recebia antes de ser eleito.

Acho, sobretudo, que tudo o que penso pode estar errado mas que esta matéria devia ser discutida com decência e frontalidade.

Acho, ainda, patriótico e maravilhosamente anacrónico que o recibo das deslocações da AR ainda faça contas em escudos: o deputado Ascenso Simões, lê-se, recebeu mais de 385 contos para andar, um mês, pelo país. Viva Portugal!

Na foto: Ascenso Simões

25 DE ABRIL? ONDE? ONDE? NÃO NOS VENHAM COM LOAS...


Expresso Curto por Martim Silva. Tarde mas a boas horas. Aqui fala-se do 25 de Abril, daquele de há 44 anos. Sim. Não. Talvez. Isso já lá vai e este país já não tem nada que ver com Portugal do 25 de Abril de 1974, com as liberdades, a justiça e a democracia que vislumbrámos e porque lutámos e lutamos. Ora vêem? Não tem mesmo nada a ver. É que em 44 anos já devíamos não ter de lutar tanto para vislumbrarmos o que já devia ter sido adquirido, e não foi. Porquê? Desleixámo-nos. Fomos nas loas dos tais tipos da CEE que depois saltou para União Europeia. União? Onde? Onde? Os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, explorados e oprimidos? Roubam-nos para dar a banqueiros e outros vigaristas e ladrões. 25 de Abril da liberdade, da democracia... Mas eles querem enganar quem? Já foi, e já feneceu. Não nos venham com loas.

Bom dia, se conseguirem. Bom emprego, se conseguirem. Bom almoço, se conseguirem. Bom jantar, se conseguirem. Boa casa e dormida, se conseguirem. Há muitos que nada disto conseguem e atascam-se na miséria ou na pobreza envergonhada. Uns e outros somam para aí 3 a 4 milhões de portugueses. 25 de Abril? Onde? Onde? (CT | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O 25 de Abril e o mercado da habitação. Tem tudo a ver...

Martim Silva | Expresso

Bom dia,

quem acordou neste dia há 44 anos vivia num país sem liberdade. Num país com censura. Num país sem eleições livres. Hoje, está a acordar num 24 de Abril de um país que já teve o seu 25 de Abril. Celebre. Festeja. Sorria. Tem razões para isso. Temos todos.

Amanhã celebra-se o Dia da Liberdade. É assim há 44 anos. Momento alto das comemorações é sempre o desfile na Avenida da Liberdade. O Livre de Rui Tavares apostou forte e este ano apresenta como 'rainha da marcha' o antigo ministro das Finanças grego e verdadeira pop-star internacional de certa esquerda Yanis Varoufakis.

Claro que na sessão evocativa do 25 de Abril, no Parlamento, os olhos estarão, como estão sempre, no discurso do Presidente da República, tradicionalmente um dos mais importantes do ano. Mas, ainda assim, este ano merece realce outro facto: PSD, PS, BE e CDS escolheram mulheres para discursar. Margarida Balseiro Lopes, Elza Pais, Isabel Pires e Ana Rita Bessa. Um 25 de Abril mais no feminino que o normal. Ainda bem.

Falamos de liberdade. O Sérgio Godinho dizia que só há liberdade a sério quando houver paz, pão e habitação (e outras coisas). Pois é de habitação que falamos agora.

Habitação

Nas vésperas do 25 de Abril, o Governo aproveitou para anunciar um pacote destinado a resolver o evidente problema com o arrendamento, causado pela mistura entre a explosão do turismo e a liberalização do mercado de arrendamento (a somar à dificuldade no acesso ao crédito bancário para compra de casa).

Um cocktail potencialmente explosivo que torna a questão da habitação seguramente um dos temas políticos mais importantes no nosso país nesta altura. Seguramente um tema forte para a próxima campanha eleitoral.

Como conciliar todas estas vertentes, o mercado de arrendamento, o crescimento do turismo, a pressão nos centros urbanos?

António Costa sublinhou que o problema não é existir alojamento local a mais mas sim o facto de existir habitação a preços acessíveis a menos.

Entre as medidas apresentadas, destaque para o corte substancial nos impostos dos senhorios que façam contratos de arrendamento muito longos ou longuíssimos (taxa passa de 24 para 12% nos contratos a dez anos e desce ainda mais para contratos de 20 anos).

No DN de hoje destaca-se que os inquilinos com mais de 65 anos vão ter direito a contratos vitalícios.

Neste artigo do Expresso pode conhecer todas as medidas do pacote apresentado pelo Governo.

Meta? Chegar aos 50 anos do 25 de Abril, em 2024, daqui a seis anos, com a proclamação inserida na Constituição integralmente cumprida, anunciou António Costa.

Constituição que afirma, no artigo 65, que "Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar."

Miguel Sousa Tavares comentou a situação e o pacote legislativo ontem na SIC.

Atentado mortal em Toronto

A última noite ficou marcada em termos de noticiário internacional com o atropelamento mortal nas ruas de Toronto. Está para já descartada a hipótese de se ter tratado de um atentado terrorista. Mas as autoridades apontam para um "atropelamento intencional". Um homem matou 10 pessoas e deixou outras em estado muito grave num atropelamento nas ruas de Torono, no Canadá.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,

O deputado socialista Ascenso Simões, denunciando a alegada campanha anti-parlamentar que se criou na sequência das notícias sobre as viagens dos deputados, revelou ontem no Facebook o seu recibo de ordenado. O Observador leu os documentos à lupa e explica cada uma das parcelas dos vencimentos dos parlamentares.

O juiz Ivo Rosa do Departamento Central de Investigação e Ação Penal é muito duro com os responsáveis do Ministério Público Joana Marques Vidal e Amadeu Guerra no despacho de arquivamento do caso TAP/Sonangol.

O presidente angolano decidiu exonerar o embaixador de Luanda em Lisboa. Ainda não se sabe quem será o novo embaixador na capital portuguesa.

Perante a agenda fraturante legislativa que os partidos de esquerda estão a apresentar, e que vai da eutanásia às barrigas de aluguer, da adopção gay à mudança de sexo, qual o comportamento de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República?

O contrato do SIRESP foi alterado de forma a garantir que o sistema de comunicações de emergência não volte a falhar quando é preciso. Veremos. E esperemos.

No Pinhal Interior, as populações vão começar a ter formaçãosobre como agir em caso de incêndios.

Salvador e Luísa Sobral já são comendadores. O Presidente da República condecorou-os pelo notável sucesso no Festival da Eurovisão do ano passado (e agora aproxima-se nova gala, desta vez em Lisboa).

Nas Dicas de Poupança, o Pedro Andersson explica como pode cortar na conta do gás.

Na Comissão Política, o podcast de política do Expresso, olhámos para a entrevista de Jerónimo de Sousa ao nosso jornal no último fim de semana.

As novas cativações de Mário Centeno estão à espera de publicação há 50 dias.

Lá fora,

O Senado norte-americano acabou de confirmar, numa votação renhida, a nomeação de Mike Pompeo como novo líder da diplomacia norte-americano. Mesmo a tempo de Pompeo poder já participar na Cimeira da Nato de sexta-feira como Secretário de Estado da Administração Trump.

Donald Trump que por estes dias está a receber o seu 'amigo' Emanuel Macron. Da agenda dos encontros destaque para as políticas proteccionistas do presidente norte-americano e para a ameaça sobre o acordo nuclear com o Irão. No Público, a Teresa de Sousa fala da amizade improvável entre Trump e Macron e do que ela pode significar.

Shania Twain disse que se pudesse teria votado Trump (não pode porque é canadiana). O comentário deu polémica e já a obrigou a vir retratar-se.

O antigo presidente norte-americano George Bush (pai) foi internado no hospital com uma infeção. Internado precisamente um dia depois do funeral da sua mulher, Barbara.

No Reino Unido, há um novo príncipe, com 3,8 quilos e ainda muita especulação quanto ao nome. Trata-se do terceiro filho de William e Kate. O correspondente da SIC em Londres conta o ambiente que por lá se vive.

Ontem falou-se muito do príncipe que nasceu no Reino Unido. Mas nascem 250 bebés a cada minuto no planeta. Planeta que já tem qualquer coisa como 7,5 mil milhões de humanos. No final deste século deveremos ser 11 mil milhões. Dados de um estudo das Nações Unidas que tenta olhar para a sustentabilidade da Terra.

Salah Abdeslam, o único terrorista sobrevivente dos atentados de Paris em 2015, foi condenado por um tribunal belga a 20 anos de cadeia por tentativa de assassínio de agentes policiais belgas. Abdeslam foi detido na Bélgica em 2016, depois de meses em fuga. Atualmente encontra-se detido em França, onde aguarda julgamento precisamente pela responsabilidade nos atentados terroristas.

Sundar Pichai. Sabe quem é? É o CEO da Google. E esta semanaestá a corre-lhe bem, com o bónus de 380 milhões de prémios a que teve acesso esta semana, e que corresponde a um lote de acções que lhe foram entregues quando aceitou tornar-se vice-presidente da empresa.

O primeiro-ministro arménio foi obrigado a demitir-se na sequência dos protestos populares. Serzh Sargsyan foi presidente da Arménia dois mandatos. Promoveu mudanças constitucionais para tornar o sistema político de cariz parlamentar. E depois fez-se eleger primeiro-ministro contra as suas próprias promessas. O povo não perdoou o movimento 'à Putin'.

Um conjunto de cientistas europeus fez uma carta aberta a pedir a criação de um centro europeu dedicado à Inteligência Artificial, para evitar a fuga de cérebros para outras partes do globo.

Nos últimos dois anos, a Finlândia andou a experimentar e a testar o conceito de Rendimento Básico Universal. Agora, deixou cair a ideia.

Protestos, pilhagens e violência nos últimos dias na Nicarágua já provocaram mais de duas dezenas de mortos.

DESPORTO

Não está propriamente fácil o final da época para o Benfica. Não só perdeu a liderança do campeonato como parece que dificilmente voltará a ter Jonas nos tempos mais próximos. O máximo goleador do campeonato está a contas com uma lesão nas costas.

Em alta parece estar o FC Porto. Ontem aviou o Setúbal por cinco a um. Já só faltam três jogos para o final do campeonato. E as estatísticas mostram que o ataque portista é o mais goleador deste século (superando as temporadas com Hulk, Falcão ou Jackson). A Tribuna chama aos portistas monster truck.

Rafael Nadal voltou a vencer a prova que vence quase sempre.

Hoje joga-se a primeira mão da primeira meia-final da Liga dos Campeões, opondo Roma e Liverpool.

O QUE ANDO A LER

Nos últimos dias, e depois de umas hesitações e avanços e recuos, agarrei-me furiosamente a "Pátria", de Fernando Aramburu. A primeira obra do espanhol traduzida em Portugal. Uma excelente supresa. Um impactante romance em torno de duas famílias do País Basco, dilaceradas cada uma à sua maneira pela violência da ETA.

Ainda estamos em abril/maio, mas um forte candidato aos melhores livros que li em 2018.

Finalmente, não fui infelizmente ver ontem os Arcade Fire ao Campo Pequeno. Gostava, mas não fui. Aqui na Blitz pode ler tudosobre o que por lá se passou.

Por hoje é tudo. Tenha um grande dia. E não esqueça, depois de um 24 de Abril chega sempre um 25 de Abril.

Boas leituras

Mais lidas da semana