quarta-feira, 25 de julho de 2018

Austrália rouba e espia Timor-Leste… Agora julga decente espião denunciante


É mesmo um conto digno do pirata James Cook, da frota britânica, que alegadamente descobriu a Austrália… Tudo indica que depois dos navegadores portugueses e holandeses nos anos de 1500-1600. Mas a Austrália foi reivindicada pelos britânicos em 1770 e inicialmente colonizada por meio do transporte de presos para a colónia de Nova Gales do Sul, fundada em 26 de janeiro de 1788. Bandidos, portanto, foram os seus primeiros colonos. Prática daqueles tempos.

Talvez por isso ficasse no ADN de alguns serem “amigos do alheio”. No caso de Timor-Leste “amigos” do petróleo do Mar de Timor, sobrando-lhes ainda o vício de espiar os vizinhos de que os governos ‘cangurus’ tanto afirmam serem amigos. Pois. Já sabemos o que para eles significa essa do “amigos”. 

Uma testemunha decente, um espião australiano, acabou por, alegadamente, denunciar as ações espiãs do governo australiano para com o governo e Estado de Timor-Leste. Da parte da Austrália tudo isso por petróleo, por dólares, por ganância, talvez até por vício ancestral de roubarem (ADN). E é agora a Austrália que se considera no direito de julgar Bernard Collaery, o elemento australiano alegadamente denunciante de ação inadmissível contra o “amigo” Timor-Leste. Bernard esteve certo e teve um rebate de consciência, como devia. Quem não esteve certa foi a gentalha nos poderes, sem escrúpulos, descarada e doentia ainda hoje. Gentalha que infesta o planeta e o nosso quotidiano. Sobretudo coisa de Estados Piratas, ladrões. (MM | PG)

Ex-agente e advogado acusados de conspiração na Austrália julgados nesta quarta-feira

Redação, 24 jul (Lusa) - O julgamento de um ex-agente dos serviços secretos e de um advogado acusados de conspiração pelo Ministério Público australiano num caso relacionado com as negociações de fronteiras e exploração petrolífera começa na próxima quarta-feira.

O ex-agente do Serviço Secreto de Informação Australiano, conhecido apenas por 'Testemunha K', e o seu advogado, Bernard Collaery, foram acusados de conspiração no passado dia 28 de junho pelo Ministério Público e são agora julgados à porta fechada.

Os acusados enfrentam uma pena máxima de dois anos de prisão, se forem considerados culpados em julgamento.

Em causa está uma denúncia por parte da 'Testemunha K', que revelou um esquema de escutas montado pelos serviços secretos australianos em escritórios do Governo timorense, em Díli.

As escutas terão sido instaladas em 2004 por uma equipa liderada pela 'Testemunha K' durante obras de reconstrução dos escritórios, oferecidas como cooperação humanitária pela Austrália.

De acordo com os relatos, através das escutas, o Governo australiano obteve informações que permitiriam favorecer as intenções australianas nas negociações com Timor-Leste da fronteira marítima e pelo controlo da zona Greater Sunrise, uma rica reserva de petróleo e gás.

O tratado, que acabaria por ser assinado, apontava que cada país teria 50% da área a explorar, embora a maior parte das reservas se encontrasse dentro de território timorense.

Quando tomou conhecimento da existência das escutas, Díli contestou o tratado e apresentou uma queixa contra a espionagem de Camberra junto do Tribunal Arbitral de Haia, argumentando que, devido às ações do Governo australiano, o acordo era ilegal.

Timor-Leste retirou a acusação como um ato de boa fé e, em março de 2018, os dois países assinaram um novo tratado que delimitou uma fronteira marítima permanente entre os dois países, passando Timor a receber pelo menos 70% das receitas originárias da exploração do Greater Sunrise.

Desde 2012 que a 'Testemunha K' está retida na Austrália, após uma rusga organizada pelos ASIO (serviços secretos australianos) ter confiscado vária documentação, incluindo o passaporte.

Em 2016, a testemunha viu-se impossibilitada de viajar até Haia para dar o seu testemunho, visto que o Ministério dos Negócios Estrageiros australiano negou uma nova emissão do passaporte.

O caso tem sido contestado por várias organizações e personalidades.

Recentemente, vários ativistas do Movimento Contra a Ocupação do Mar de Timor condenaram o Governo australiano pela sua atuação, comparando-a com as do ditador indonésio Suharto.

"O Movimento Contra a Ocupação do Mar de Timor está surpreendido que, nos dias de hoje, o Governo australiano esteja a fazer o que antes julgavam que apenas o ditador Suharto fazia durante o seu reino".

O movimento, que é composto por várias organizações timorenses, condenou as acusações, apelidando-as de terem "motivações políticas" um ataque do Governo à democracia e liberdade de expressão.

"Esta atitude do Governo da Austrália demonstra que o Governo fará qualquer coisa em prol dos interesses comerciais do país", mesmo que implique "violar a lei internacional e privando um dos seus vizinhos mais pobres", disse o movimento.

Atualmente, Timor-Leste é o país asiático com menor Produto Interno Bruto.

No início do mês, um ex-diplomata da ONU que integrou a equipa de Timor-Leste espiada em 2004 criticou a Justiça australiana.

Em declarações ao jornal britânico The Guardian, Peter Galbraith considerou a acusação aos dois homens uma ação "vingativa e sem sentido", quando o que a Austrália devia fazer era esquecer este "episódio pouco edificante".

Galbraith insistiu que a operação de espionagem conduzida contra ele e outros funcionários de Timor-Leste foi "claramente um crime" à luz da lei internacional.

"É apenas vingativo e inútil, é hora de seguir em frente. Finalmente, depois de 18 anos, a Austrália fez a coisa certa [assinando o tratado de petróleo e gás em março desde ano]. Aceite os elogios, que são merecidos, e siga em frente", considerou.

JYO (ASP) // ARA

Cooperação com África em destaque na 10ª cimeira dos BRICS


Decorre a partir desta quarta-feira, em Joanesburgo, a 10ª cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Encontro conta com a presença de chefes de Estado africanos, incluindo de Angola e Moçambique.

O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, quer aproveitar a 10ª cimeira BRICS, que arranca esta quarta-feira (25.07), em Joanesburgo, para melhorar a imagem do seu país, depois de anos de crises políticas com muitos casos de corrupção na era do seu antecessor Jacob Zuma.

Mas esta cimeira também contará com a presença de governantes de dois PALOP. Falando à imprensa, em Joanesburgo, na apresentação do programa oficial da cimeira, Lindiwe Sisulu, ministra das Relações Internacionais e Cooperação sul-africana, sublinhou que a visita dos dois líderes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) insere-se no âmbito da cimeira de líderes que pretende reforçar as relações entre os BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e África. 

"A adesão aos BRICS tem sido benéfica para o nosso país e gostaríamos de garantir que o resto de África possa também usufruir dos BRICS, particularmente agora que o continente começa a dar os primeiros passos na criação de zonas de comércio livre, em que a maioria dos países já assinou o acordo, que é um passo importante para África", disse a chefe da diplomacia sul-africana.

"Criámos um programa especial para que os Estados africanos possam participar e uma ocasião adicional especialmente para os países membros da SADC, em particular. A África do Sul preside atualmente à SADC e, na nossa opinião, a grande maioria das questões que discutimos entre nós, na região, poderiam beneficiar do acesso direto aos BRICS", adiantou a ministra Lindwe Sisulu. 

Segundo a governante, além de João Lourenço (Angola) e Filipe Nyusi (Moçambique), participam ainda nesta cimeira BRICS, mais seis chefes de Estado do continente africano, nomeadamente da Namíbia, Gabão, Senegal, Uganda, Togo e do Ruanda.

O encontro entre os líderes dos BRICS e os seus homólogos africanos está agendado para o dia 27, último dia da cimeira, indica o programa oficial.

Dez anos de cooperação

A ministra afirmou que a 10.ª Cimeira BRICS será um "marco" na história dos BRICS,  porque representa uma década de cooperação. A reunião culminará com a adoção da "Declaração de Joanesburgo" que inclui as metas acordadas pelos cinco países membros do BRICS até ao final do ano. A presidência rotativa da África do Sul decorrerá até 31 de dezembro de 2018. 

A 10.ª Cimeira BRICS, que reúne um grupo de potências emergentes terá como tema a "Colaboração para o Crescimento Inclusivo e Prosperidade Partilhada na 4.ª Revolução Industrial" e decorrerá no Centro de Convenções de Sandton, no norte de Joanesburgo, sede da bolsa de valores e da maioria das multinacionais globais com operações em África.

"Nos últimos anos, a África do Sul perdeu muita credibilidade ao nível da política externa", afirma Philani Mthembu, diretor do instituto sul-africano para o diálogo global. "A economia também se ressentiu, e muito. Esta cimeira é uma oportunidade para o novo Presidente marcar pontos, explicando as linhas mestras da sua política externa", acrescenta.

Segundo Mthembu, "a África do Sul vai querer aproveitar para reforçar a cooperação com países como a China, a Índia e a Rússia, sem - no entanto - menosprezar os seus tradicionais bons contactos com os Estados Unidos e a Europa. A África do Sul reconhece que as relações internacionais podem ser um veículo muito importante para a resolução de problemas locais".

"Por isso", diz o especialista, "o Presidente sul-africano vai-se esforçar por incrementar o desenvolvimento económico através do apoio ao comércio e ao investimento externos também com os BRICS".

Infraestruturas, energia e empoderamento

Em que áreas é que os BRICS poderão e deverão investir? As propostas sul-africanas preveem a construção de um centro de pesquisas medicinais, em África, que deverá desenvolver vacinas e medicamentos contra doenças como a malária, o HIV ou a tuberculose.

Outra área prioritária será a das energias limpas. Um ponto igualmente importante é o reconhecimento do papel das mulheres, cujo contributo para o desenvolvimento não poderá ser esquecido, devendo - sim - ser apoiado, afirma Jakkie Cilliers, analista do Instituto sul-africano para questões de segurança.

"A vontade de cooperar nestas e noutras áreas continua grande. A China é sem dúvida o motor. E todos os BRICS tentam tirar partido deste relacionamento especial com a China no quadro dos BRICS, especialmente a África do Sul, que apenas contribui para 3 por cento da força económica dos BRICS, mas continua a ser vista como a maior potência económica do continente africano”, explica Jakkie Cilliers. A próxima cimeira BRICS terá lugar no próximo ano, no Brasil.

Martina Schwikowski, António Cascais, Agência Lusa | em Deutsche Welle

Guiné-Bissau | Central sindical acusa Governo de "esbanjamento de fundos públicos"


União Nacional dos Trabalhadores critica Governo de Bissau por gastar dinheiro do Estado na compra "de carros novos" em vez de aumentar o salário aos funcionários. Função Pública cumpre segundo de oito dias de greve.

De acordo com Júlio Mendonça, o líder daquela que é a maior central sindical na Guiné-Bissau, a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), o Governo prepara-se para mandar comprar viaturas para ministros e secretários de Estado, num valor de 270 milhões de francos CFA (cerca de 411 mil euros).

A união sindical afirma ainda que foram gastos, em três meses de governação, cerca de 300 milhões de francos CFA (cerca de 458 mil euros) "só em viagens".

Júlio Mendonça indicou que a previsão do Governo, elaborado no Comité de Tesouraria Nacional (onde são planeadas as despesas do Estado por cada mês) era que as viagens iam custar "apenas 90 milhões" por cada mês (cerca de 137 mil euros).

Mendonça disse ter tido acesso aos dados que indicam "esbanjamento de fundos públicos" a partir da representante da UNTG no Comité de Tesouraria Nacional.

Eleições são a prioridade?

"O Governo anda a dizer-nos que a prioridade é realizar eleições, mas quer comprar carros para ministros", observou o sindicalista, que questiona ainda o Executivo sobre se esse dinheiro não podia servir melhor na compra de equipamentos para os hospitais.

O secretário-geral da UNTG acusa o primeiro-ministro, Aristides Gomes de "incoerência", quando aquele considera impossível proceder aos ajustes dos salários dos funcionários públicos.

Júlio Mendonça afirma que as greves na Função Pública não vão parar enquanto o Governo não proceder aos ajustes salariais, subindo o ordenado mínimo nacional de 28 mil francos CFA (42 euros) para 50 mil (76 euros).

Para o sindicalista, a Guiné-Bissau só terá estabilidade política também quando o poder político proceder a "uma boa distribuição da riqueza nacional". "Não são as eleições que vão resolver esta instabilidade cíclica", defendeu Júlio Mendonça.

A Função Pública guineense observa esta quarta-feira o segundo de oito dias de greve geral, decretada pela UNTG, a sétima nos últimos dois meses, para, entre outros, exigir ajustes salariais dos funcionários.

Agência Lusa | em Deutsche Welle

Na foto: Executivo da Guiné-Bissau foi empossado no passado dia 26 de abril

'Extremamente descontente': China ataca cooperação militar entre EUA e Taiwan


Pequim está "extremamente descontente" com o plano dos Estados Unidos de desenvolver cooperação militar com Taiwan e alerta Washington que ação pode desestabilizar a região, disse o porta-voz da chancelaria chinesa, Geng Shuang, nesta quarta-feira (25).

Em maio, o Comitê de Serviços Armados do Senado dos EUA publicou um relatório sobre o orçamento de defesa do próximo ano, que incluía uma seção sobre o fortalecimento da cooperação militar com Taiwan, inclusive exercícios militares conjuntos e venda de armas, aumentando a presença militar dos EUA no Mar da China Oriental. O Senado aprovou o projeto em junho, mas o documento ainda deve passar pelo crivo da Câmara dos Deputados.

"A China está extremamente descontente e aponta um forte protesto contra as disposições acima mencionadas relativas ao PRC [República Popular da China, nome formal do país] no plano dos EUA para os gastos de defesa para o ano fiscal de 2019", disse Geng em uma entrevista coletiva.

Segundo o porta-voz, se o projeto for aprovado, isso prejudicará a confiança e a cooperação entre a China e Estados Unidos, ao mesmo tempo em que ameaça a estabilidade no Estreito de Taiwan.

"A China exorta os Estados Unidos a abandonar a mentalidade da Guerra Fria e o princípio de um 'jogo de soma zero' ao remover o conteúdo negativo em questão do documento para apoiar o desenvolvimento de relações bilaterais interestatais e não interferir nele", acrescentou Geng.

aiwan, situada em um grupo de ilhas a sudoeste da China continental, deixou de fazer parte do estado chinês em 1949. Embora os contatos comerciais e não-oficiais entre os dois lados tenham sido retomados no final dos anos 80, a China recusa relações diplomáticas com qualquer país que reconheça Taiwan como um Estado.

Os Estados Unidos estão entre os países que não reconhecem Taiwan como um estado independente. O governo dos EUA declarou que encerraria todos os laços políticos com Taiwan após o comunicado conjunto de 1979, mas continuaria a manter relações econômicas e culturais através do Instituto Americano em Taiwan.

Em 2015, o então presidente Barack Obama aprovou um pacote de venda de armas para Taiwan no valor de US$ 1,83 bilhão, enquanto seu sucessor, Donald Trump, assinou o Taiwan Travel Act, permitindo que autoridades dos EUA viajassem para a ilha e visitassem as autoridades de Taiwan.

Sputnik | Foto AFP/Sam Yeh

Fim de Trump: será desta?


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

O Partido Republicano terá acordado e se deparado com o horror que é Donald Trump, tudo a propósito daquela cimeira em Helsínquia em que todos ficaram com a ideia que Trump deve muito a Putin, Presidente russo. Porquê e o quê? Não há certezas.

A tal dívida estará muito provavelmente ligada a negócios entre Trump com oligarcas russo para financiar, no passado, negócios do agora Presidente americano. Os bancos convencionais viraram as costas a Trump e este socorreu-se de oligarcas russos que tinham vantagem neste e noutros negócios, designadamente operações de lavagem de dinheiro.

De igual modo, parece difícil de argumentar contra a tese que vem na sequência do que acima foi explando e que dá conta da ingerência da Rússia nas eleições americanas com prejuízo evidente de Hillary Clinton e vantagem óbvia de Donald Trump.

Perante isto e, sobretudo, perante a triste figura de ver o Presidente americano corroborar tudo o que Putin tem afirmado, desacreditando os próprios serviços de informação americanos o cenário é agora inacreditável e surreal, deixando os próprios republicanos pasmados e assustados.

Ora a viabilidade de Trump tremerá quando os republicanos que o têm apoiado, mesmo dentro do maior lamaçal jamais visto na Casa Branca, deixarem de o fazer. Coloca-se consequentemente a questão: Será desta?

A verdade é que sem o apoio dos republicanos, resta a Trump o apoio da indústria do armamento que deposita grandes esperanças em Donald Trump e alguns apoiantes entre os cidadãos, confusos, chamemos-lhe assim. Muito pouco.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

E se o tiro de Israel sair pela culatra?


Ao aprovar lei claramente discriminatória, Parlamento sugere que os palestinos não precisam existir. Assim como os massacres praticados pelo exército, pode ser erro histórico

Belén Fernández*, no Jacobin | OutrasPalavras | Tradução: Mauro Lopes

Na quinta-feira (19 de julho), o parlamento israelense aprovou uma nova lei estabelecendo Israel como a “Estado-nação do povo judeu”. O consenso até agora na mídia de elite sempre astuta é que a medida foi “controversa“.

O site do Jerusalem Post fornece o texto em inglês da legislação, que estipula que “a realização do direito de autodeterminação nacional no estado de Israel é unicamente para o povo judeu”. Em outras palavras, os palestinos não precisam existir .

Outras pedras preciosas do texto incluem a afirmação de que “o estado vê o assentamento judaico como um valor nacional e trabalhará para encorajar e promover seu estabelecimento e desenvolvimento”. O New York Times especulou cuidadosamente que essa previsão poderia “possivelmente ajudar… aqueles que gostariam de ver avançar políticas discriminatórias de alocação de terras”. A lei também rebaixa o árabe de idioma oficial para um com “status especial no estado”.

Enquanto o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu celebrou a aprovação da lei como “um momento crucial nos anais do sionismo e do Estado de Israel”, outros sionistas foram bem menos calorosos. O Times of Israel registrou a posição do rabino Rick Jacobs, presidente da proeminente União pela Reforma do Judaísmo nos Estados Unidos, que lamentou: “O dano que será feito por essa nova lei do Estado-nação à legitimidade da visão sionista e aos valores do estado de Israel como uma nação democrática – e judaica – é enorme”.

Jacobs está, sem dúvida, correto, mas parece que tal legitimidade já foi definitivamente esmagada pelo hábito recorrente de Israel de abater os palestinos desarmados e tomar suas terras. De fato, o tumulto sobre a nova lei obscurece a realidade de que não há realmente nada de novo nisso.

Ben White, autor de Israel Apartheid: A Beginner’s Guide (O apartheid em Israel: um guia para iniciantes), apontou em artigo no Middle East Eye que “qualquer lei discriminatória já estava nos livrose as formas legais de criar comunidades segregadas em Israel já existiam”. Não só existe “direito zero à igualdade” no país, como a legislação israelense “já privilegia a proteção de um ‘Estado judeu’ sobre a igualdade para cidadãos não-judeus”.

banco de dados on-line sobre leis discriminatórias, administrado pela Adalah — Centro Jurídico dos Direitos das Minorias Árabes em Israel — conta 65 leis israelenses que discriminam direta ou indiretamente palestinos. Na lista estão temas como “Sentenças mínimas obrigatórias para atiradores de pedras condenados”, “Lei antiboicote – Prevenção de danos ao Estado de Israel por meio de boicote” e a charmosa “Lei Nakba – Emenda n. 40 à Lei de Orçamentos para Fundações”.

A “Lei Nakba”, relata o site da Adalah, está em vigor desde 2011 e “autoriza o ministro das Finanças [de Israel] a reduzir o financiamento estatal ou apoio a uma instituição que realizar uma atividade que rejeite a existência de Israel como ‘Estado judeu e democrático’ ou escolhe marcar o aniversário da fundação de Israel como um “dia de luto”.

Desde o começo, o objetivo primordial de Israel tem sido apagar a identidade palestina como um meio de usurpar a terra; vale recordar a teoria da ex-primeira-ministra israelense Golda Meir, apresentada em 1969, de que “não existiu essa coisa de palestinos… Eles não existiram”. No entanto, é bem mais fácil dizer do que fazer desaparecer todo um povo que não deseja ser eliminado — daí, talvez, a utilidade dos massacres militares israelenses periódicos.

A nova lei é uma continuação da praxe israelense de tentar fazer os palestinos desaparecerem. A renomada autora palestino-americana Susan Abulhawa afirmou que a legislação reflete a decisão de Israel de “formalizar seu Apartheid”, o que levou o Facebook a compor um inventário dos alardeados privilégios da “democracia” de Israel — onde “todos votam (exceto um milhão de não-judeus nativos sob o regime militar judaico)” e os comitês de bairros obedientemente “garantem que não-judeus não comprem ou aluguem imóveis em bairros judeus”.

O resultado da lei, escreveu Abulhawa, é que “os não-judeus nativos não são humanos o suficiente para receberem o direito humano de autodeterminação” e que “se eles escolherem viver em sua terra natal”,  deverão existir à mercê dos conquistadores.

Quanto aos refugiados palestinos e seus descendentes, é claro que eles não têm a opção de escolher morar em sua terra natal, pois o direito de retorno é reservado para pessoas de orientação judaica que não possuem qualquer conexão com a terra em questão. (Mesmo que o judaísmo nem sempre garanta que você em estará casa de graça no Estado-nação, como aconteceu com as judias etíopes, que foram obrigadas a tomar anticoncepcionais).

As recriminações da comunidade internacional sobre a lei “polêmica” e a iminente erosão da democracia em Israel provavelmente serão tão eficazes quanto a denúncia contínua dos assentamentos ilegais de Israel — que simplesmente entrou no reino dos ruídos de fundo, incapaz de impedir a remessa anual de bilhões de dólares de ajuda militar dos EUA a Israel.

Mas, enquanto Israel pode continuar liderando a indústria de criação de fatos, o terreno pode estar menos firme do que aparenta. Especialmente se, como Abulhawa espera, Israel estiver “cavando seu próprio túmulo”.

* Bélen Fernández - editora da revista Jacobin

Banon-fascismo | Ex-ideólogo de Trump quer unir extrema direita europeia


Steve Bannon planeja fundação para estimular movimentos eurocéticos de extrema direita no continente e rivalizar com instituto do bilionário liberal George Soros. Grupo deve ser baseado em Bruxelas.

Após ter influenciado a campanha e o governo de Donald Trump nos EUA, Steve Bannon quer agora estimular movimentos de extrema direita na Europa. Segundo uma reportagem do site Daily Beast, o ex-estrategista do presidente americano e ideólogo de direita quer criar uma fundação sem fins lucrativos chamada "O Movimento”, que deve ser baseada em Bruxelas.

Segundo a reportagem, Bannon espera que a fundação promova assistência, financiamento e ferramentas de pesquisa para movimentos de direita pela Europa, que promovam "controle de fronteiras” e que se oponham à União Europeia.

O objetivo, segundo declarou Bannon ao site, é rivalizar com a fundação Open Society (Sociedade Aberta), do bilionário de origem húngara George Soros, que costuma financiar iniciativas políticas pelo mundo. Desde a sua fundação em 1984, a fundação de Soros distribuiu 32 bilhões de dólares para causas pelo planeta.

Para figuras da direita como Bannon, Soros é um demagogo esquerdista que usa seu poder e dinheiro para promover valores liberais. "Soros é brilhante. Ele é mau, mas é brilhante”, disse Bannon ao Daily Beast.

O ex-estrategista do presidente Donald Trump vem desde o ano passado se encontrando com regularidade com membros da cena populista de direita europeia, como a francesa Marine Le Pen, o britânico Nigel Farage, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, além de conservadores poloneses e políticos do partido Alternativa para a Alemanha (AfD).

Para tocar a fundação, Bannon vai contar com a ajuda do britânico Raheem Kassam, um ex-editor do site Breitbart (que já foi chefiado por Bannon) e ex-assistente de Farage. "Esqueçam suas Merkels, Bannon e Soros vão ser os grandes influenciadores da política europeia nos próximos anos”, disse Kassam.

Segundo ele, a fundação já está estruturada, conta "com um orçamento significativo” e já está contratando funcionários. O plano é contratar inicialmente dez pessoas.

A escolha e Bruxelas não foi por acaso. A cidade é sede da Comissão Europeia e da Otan. Segundo Bannon, o primeiro teste da fundação será influenciar as eleições para o Parlamento Europeu, previstas para o próximo ano para criar um "supergrupo europeu” de deputados de direita.

"Todos concordam que o próximo mês de maio é extremamente importante. Vai ser o primeiro embate entre o populismo e os partidos de Davos em todo o continente", disse ele, referindo-se à cúpula econômica de líderes políticos e empresários que ocorre anualmente na Suíça.

Bannon também afirmou que teve a ideia de lançar a fundação após discursar em um evento do partido de Marine Le Pen, quando percebeu que os movimentos populistas de direita da maioria dos países europeus tinha pouco contato com seus equivalentes em nações vizinhas.

Sete meses no governo

Analistas lançam dúvidas se Bannon vai ser bem-sucedido em unir grupos da direita populista no Parlamento Europeu. Em 2014, uma tentativa de união entre o grupo de Farage e deputados do partido de Marine Le Pen fracassou. As duas siglas acabaram formando blocos rivais.

Bannon também enfrentou uma série de reveses nos EUA ao longo do ano passado. Ele ganhou notoriedade a partir de 2012 quando virou editor-chefe do Breitbart, um site direitista de notícias financiado pela família americana Mercer. A família apoiou Trump durante a campanha de 2016 e, segundo analistas, pressionou o presidente a nomear Bannon para o cargo de "estrategista-chefe” da Casa Branca após a posse.

Bannon durou apenas sete meses no cargo, tendo sido forcado a se demitir após conflitos com outros membros do governo. Meses depois, Trumpatacou publicamente Bannon por declarações que o ex-estrategista concedeu para um jornalista que acompanhou a rotina do governo. Em janeiro de 2018, Bannon perdeu o apoio da família Mercer e acabou deixando seu cargo no Breitbart.

JPS/ots/rt | Deutsche Welle

Foto: Steve Bannon e Marine Le Pen durante encontro, em março

Portugal | O Orçamento aos tropeções pelo verão


Francisco Louçã | Expresso | opinião

A meticulosa entrevista de segunda-feira do ministro das Finanças espelha uma forma triunfal de preparação do Orçamento. Se é possível que Centeno tenha lamentado a falta de perguntas sobre a Europa – afinal, é nas funções de presidente do Eurogrupo que ocupa a maior parte do seu tempo e a União realizou há poucas semanas uma cimeira que foi anunciada como o momento refundador do euro mas que se esvaiu em silêncio – respondeu afoitamente aos temas do Orçamento. Deixando de lado a propaganda (um “Orçamento para nove milhões e meio de portugueses”, não se compreende a razão para ignorar os outros), o facto é que o ministro apresentou o seu mapa para a lei. Há nisso boas notícias e más notícias.

Claro que não era fácil. A preparação deste Orçamento tem três problema que não são menores: é o último do mandato e deve acertar os efeitos das promessas todas (as pensões das longas carreiras contributivas, as 35 horas, a redução do IRS e outras), pelo que se aconselharia que a preparação tivesse começado com tempo; está sob pressão de um objetivo ambicioso de défice a rondar 0%; e o desgaste do tempo está a revelar o efeito acumulado de destruição dos serviços públicos e a exigir medidas de urgência, que custam dinheiro. Acresce que a luta social é agora mais intensa, quanto mais não fosse porque os trabalhadores percebem que o governo pode ser pressionado e têm aliados. Ou seja, espera-se muito deste Orçamento.

E aí chegam as más notícias. Centeno, que há meses lançou o tema do não-aumento da função pública, agrava o problema insistindo agora numa solução para os professores que consistiria em manter as perdas anteriores, salvo uma pequena compensação já anunciada. A doutrina é conhecida, deixar a inflação desvalorizar os salários e as carreiras para acertar os ponteiros do relógio nos salários baixos. A questão é assim menos a hermenêutica das decisões anteriores, porque toda a gente percebeu que o governo se decidiu no orçamento anterior por um compromisso ambíguo como forma de adiar o problema, mas é antes a solução concreta, que deveria ser obtida até ao início de setembro e que vai passar necessariamente pela intervenção de António Costa.

O problema é que o aumento dos funcionários públicos não se pode tornar no alfa e ómega do Orçamento. É um problema e grave. Mas há outros problemas que foram agigantados pela visão administrativa que tem predominado e que oculta a ameaça. O melhor exemplo é a saúde. O governo faz a conta e anuncia mais pessoal especializado, médicos e enfermeiros, e tem razão, a conta é mesmo verdadeira. A dificuldade é que esses recrutamentos não chegam, porque está a compensar a catástrofe da troika mais a falta de especialistas e há um país que precisa e exige sempre mais, e faz bem.

A boa notícia, a bem dizer, é mesmo que o ministro tenha sentido a necessidade de dar esta entrevista. Na falta de avanços de uma negociação tão atrasada, que se registe este mapa da posição do governo deve ser simplesmente entendido como um cartão de visita. Ora, há uma diferença entre um caderno de encargos e uma lista triunfal de realizações. Essa diferença é o tempo e a vontade de trabalhar soluções.

Portugal | Maioria das pensões são inferiores ao salário mínimo


Bloco propõe novo aumento extraordinário das pensões no Orçamento do Estado para 2019 e quer valorizar as longas carreiras contributivas. Dados da Segurança Social revelam que 1,6 milhões de pessoas auferem pensões abaixo dos 580 euros.

Em Portugal, há mais de 1,6 milhões de aposentados e pensionistas a auferir menos de 580 euros por mês. Cerca de 54 por cento do total das pensões, revela a edição impressa de terça-feira do Correio da Manhã.

O jornal, que se baseia em dados atualizados pelo Pordata, mas que ainda não se encontram publicados nos sites das respetivas instituições públicas, explica ainda que 1,4 milhões dizem respeito a pensões de velhice, 145 mil de invalidez e 100 mil a pensões da Caixa Geral de Aposentações (CGA).

A idade média de reforma na Segurança Social subiu para os 64,2 anos.

Bloco quer aumentar pensões e valorizar longas carreiras contributivas

Em declarações ao jornal Público, a deputada Mariana Mortágua avança que o Bloco pretende que o Orçamento do Estado para 2019 contemple um novo aumento extraordinários das pensões.

“Defendemos um aumento extraordinário, além do que a lei já prevê, o qual é já um adquirido, normalmente, em agosto, temos tido desde que a lei foi descongelada”, afirmou a economista bloquista.

A deputada explicou ainda que em matéria de reformas, o Bloco de Esquerda vai insistir para que “sejam postos em prática os planos para as longas carreiras contributivas para que as pessoas se possam reformar sem penalizações”.

Mariana recorda que existiu, inclusive, um grupo de trabalho, constituídos por elementos do Governo, do Bloco e dos PS, que “preparou esse plano”. “A segunda fase desta medida foi levada pelo Governo à Concertação Social onde não avançou”. Por essa razão, “tem de ser concretizado porque a penalização é muito grande nas reformas antecipadas e há muitas pessoas à espera.

Esquerda.net

Portugal prófogos | A liberalização dos eucaliptos de Cristas faz cinco anos


Desde a aprovação do decreto-lei assinado pela líder do CDS-PP (então ministra das Florestas), publicado a 19 de Julho de 2013, 81% das acções de arborização ou rearborização usaram eucaliptos.

O diploma, publicado há cinco anos, veio facilitar as acções de arborização e rearborização com eucaliptos, uma espécie originária da Austrália e que representou cerca de 40% das áreas ardidas no ano passado.

Segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o eucalipto foi a espécie utilizada em mais de 81% das acções de arborização ou rearborização autorizadas ou comunicadas àquela instituição.

Após os incêndios que fustigaram Pedrógão Grande e os concelhos vizinhos em Junho do ano passsado, o Parlamento aprovou uma alteração à «lei da liberalização do eucalipto», de Cristas, que limitou substancialmente a expansão da espécie na floresta nacional.

Eucalipto já era o rei da floresta portuguesa

A mudança legislativa operada pelo anterior governo, desenhada pela então ministra da Agricultura e das Florestas, Assunção Cristas, foi decidida num momento em que já era conhecido que o eucalipto se tinha tornado a espécie maioritária na floresta portuguesa em 2010. Em Janeiro de 2013, era conhecida a versão preliminar do Inventário Florestal de 2010 que confirmava que os eucaliptais ocupavam mais de 750 mil hectares.

Ainda assim, Assunção Cristas e o governo do PSD e do CDS-PP avançaram com a alteração que facilitou a utilização da espécie em detrimento de espécies autóctones.

Cortes para a floresta, favores à indústria

O eucalipto é a espécie predilecta da indústria da pasta de papel, que, no entanto, possuiu apenas pequenas propriedades florestais. A ausência de medidas de valorização da produção lenhosa tem levado a que os pequenos proprietários florestais tenham apostado no eucalipto, tendo em conta a facilidade com que vendem a madeira, ainda que a preços que têm permitido às papeleiras aumentar sucessivamente os seus lucros – e 2017 não foi excepção.

Recorde-se que o anterior governo do PSD e do CDS-PP foi ainda responsável por outras medidas que contribuíram para a fragilização da floresta nacional face ao risco de incêndios, como foi o corte em 20 milhões de euros no orçamento do ICNF, de 8 milhões no orçamento da Protecção Civil ou da isenção de taxas moderadoras para os bombeiros.

AbrilAbril

Na foto: Assunção Cristas, hoje presidente do CDS-PP, tutelou as florestas durante quatro anos e meio. A liberalização do eucaliptal é uma das marcas que deixou | Paulo Novais / Agência Lusa

Salvar bancos. Salvar vidas


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

Se há apenas três meses cometêssemos a ousadia de partilhar com alguém que, no pico de julho, Portugal ia enviar meios aéreos para acorrer a gigantescos incêndios florestais na Suécia, o mais provável era sermos beliscados violentamente numa zona carnuda do corpo. Ou aconselhados a tirar uns dias para recuperar do desvario. A verdade é que referências que normalmente associávamos ao universo da ficção científica já se apoderaram da realidade. Os fenómenos meteorológicos extremos, ligados com maior ou menor incidência às alterações climáticas, obrigam-nos a repensar as respostas. E tornam urgente a necessidade de os líderes políticos concertarem estratégias que previnam ou mitiguem o impacto das catástrofes naturais. Porque se há uma coisa que a deslocalizada onda de calor e a tragédia grega nos vêm provar é que nenhum país da Europa (e já agora do Mundo) está preparado para estas manifestações. Sejam elas espontâneas ou resultantes de erros humanos acumulados durante décadas. É neste contexto que as nações têm de reforçar a cooperação. No caso concreto da Europa, é imperioso tirar do papel o - vamos chamar-lhe assim - "Governo Europeu da Protecção Civil", consubstanciado num novo sistema de resposta a desgraças naturais. Com mais meios e outras competências. E um orçamento à altura.

Salvar bancos foi certamente importante para estancar a sangria económico-financeira da zona euro, mas salvar as vidas sacudidas pelas catástrofes também tem de motivar reuniões magnas entre chefes de Estado. A probabilidade de sermos confrontados com mais golpes desta envergadura é grande. Há oito anos, a Grécia chorou uma história parecida. Seria injusto concluir que não aprendeu nada com tantas mortes. Mas não seria entendível que, perante o que lhes aconteceu a eles agora, nos aconteceu a nós em Pedrógão em 2017 e está a acontecer ao planeta há tantos anos, não nos sentíssemos impelidos a prevenir mais e a lamentar menos.

*Subdiretor

A NOSSA TRAGÉDIA GREGA


Um Curto quase sem palavras da nossa parte. Essa ausência justifica-se em memória das vítimas dos fogos na Grécia. Pode ler no Expresso muito do que lá aconteceu e continua a acontecer naquela tragédia que é grega, como no ano passado foi portuguesa. Honremos as vítimas com o nosso respeito. (PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

A nossa tragédia grega

Vítor Matos | Expresso

Bom dia!

“E outro homem contou-me ter visto uma rapariga também a subir a um penhasco. Quando chegou ao cimo, caiu e morreu à frente dele”. Um horror é um horror em qualquer lado. Não conseguimos entender o que é um terror destes, como se vivessemos uma guerra em tempo de paz e para isso nunca se está preparado. É o impensável que volta a abalroar-nos. As histórias de Mati, na Grécia, são como as que vivemos em Pedrógão Grande e depois dos fogos de outubro, que nos deixaram chocados, enraivecidos e impotentes perante tragédias injustificadas numa sociedade dita desenvolvida. E que são uma exacta consequência de sermos sociedades desenvolvidas. Maria Papavlachou, uma jornalista do canal televisivo grego Alpha TV, disse a frase que abre este texto num testemunho ao Expresso, sobre o que viu e ouviu, em reportagem, nos momentos mais dramáticos dos incêndios gregos. Mais uma vez, impensável.

Gente de pijama que correu da cama para o mar para se salvar das chamas. Uma estrada cheia de carros ardidos, e 26 pessoas encontradas mortas, algumas abraçadas. Parece que o mal gosta da repetição. O corpo de uma criança no chão. Mães com filhos no colo mar adentro, quase afogados para não morrerem queimados, a subirem para barcos da guarda costeira e encontrarem a salvação no porto de Rafina, conta Maria Papavlachou. Pais à procura de filhos que estavam de férias. Desespero, morte, mas também o alívio dos que conseguiram fugir das chamas.

Os últimos números nos rodapés das televisões, à hora a que escrevo este Expresso Curto, dão 77 mortos, mais de 200 feridos e um número indeterminado de desaparecidos. A guarda costeira conseguiu salvar mais de 700 pessoas que fugiam das chamas para a praia. Alexis Tsipras, o primeiro-ministro grego, declarou três dias de luto nacional. E o procurador do Supremo Tribunal grego pediu uma investigação à lentidão do Estado na resposta de emergência e pelo facto de não haver uma resposta de emergência, escreve a edição do jornal Ekathimerini em inglês (sim, os gregos têm jornais com edições em inglês). Onde é que já vimos isto?

Nádia Piazza, presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, escreveu um texto para o Expresso Diário com a propriedade da dor de quem sabe como o fogo nos leva o mais querido: no caso, um filho de cinco anos: “O fogo não escolhe classes, nacionalidades, etnias nem credos. Arde onde há desleixo. Ardeu a pobreza de Pedrógão Grande, ardeu a riqueza de Mati. E arderá todos os sítios onde o desleixo e a incúria reinarem. Aprendamos por fim”.

A foto de uma mulher, com um braço entrapado, a olhar para um carro calcinado. A consternação. Mati, acabou. A estância de férias do Mar Egeu, com hotéis, restaurantes, clubes noturnos, cinemas ao ar livre e marinas com iates, acabou. Uma catástrofe de “proporções bíblicas”, como pode ler aqui. O desordenamento urbanístico, a construção desenfreada e sem licença em área florestal, e a falta de planos de emergência são para já os primeiros culpados pela tragédia. Mais uma vez, onde é que já ouvimos isto? “Portugal não é a Grécia”, repetíamos em 2011: o Pedro Guerreiro, diretor do Expresso, escreve sobre este novo paralelo trágico entre portugueses e gregos.

As imagens são assustadoras. A diferença é que em Portugal temos os problemas do interior e, pelo visto, na Grécia, os problemas são do litoral, como também escreve o Público. O Observador explica as semelhanças entre a Grécia e Portugal. O Guardian publica mais uma reportagem impressionante: “É terrível ver a pessoa ao nosso lado a afogar-se e não conseguirmos ajudar”, diz uma testemunha ao jornal inglês. Na Suécia, onde houve fogos gravíssimos esta semana, e para onde o Governo português até mandou meios, a tragédia não teve proporções humanas como estas. Será que o nível de desenvolvimento conta?

Um aviso: numa altura em que a Europa Ocidental é atingida por uma onda de calor e a Grécia e a Suécia são afetados por incêndios, os meteorologistas antecipam um agravamento das condições climatéricas durante esta semana. Segundo o site AccuWeather, as temperaturas máximas vão aumentar em Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Holanda e Suécia na próxima quinta e sexta-feira. Portugal, até agora, mal tem tido verão.

OUTRAS NOTÍCIAS

Rui Rio, líder do PSD, deu ontem à TVI a sua primeira entrevistadesde que está à frente do partido. Perdeu uma boa oportunidade. Não trouxe qualquer novidade, não surpreendeu, quase não deu notícia. Foi de tal forma que o que sobrou foi a intenção de formar um Governo com o CDS no caso de o Orçamento do Estado não passar com os votos da “geringonça”, desafiando António Costa a viabilizar essa solução, mas mesmo esse cenário o próprio desvalorizou: "Estamos aqui a falar de uma história da carochinha, eles vão entender-se". No mesmo dia, Assunção Cristas já tinho dito à TSF, distanciando-se de Rio sem adivinhar o que ele ia dizer ànoite, que poderia apoiar um Governo do PSD sem participar com ministros, só a partir de um acordo de base parlamentar, caso não houvesse “convergência suficiente” com os sociais-democratas. Que se saiba, Cristas e Rio só falaram uma vez desde que este chegou a líder.

No entanto, apesar de o Expresso já ter escrito que o PSD vai votar contra o OE e que Rio está preparado para eleições, continua sem dizer como votará o partido. “Como posso dizer que voto contra uma coisa que nem existe?”, disse na entrevista.

Esperava-se que tivesse preparado alguma coisa para dizer e marcar o arranque das férias políticas. Mas não. As diferenças em relação ao Governo pareceram mais de tom: seria mais austeroque António Costa até porque não governaria com a esquerda, é contra as 35 horas, mas mais uma vez nunca criticou o primeiro-ministro diretamente. Se perder as Europeias, diz, não sairá da liderança, mas deixa já para memória futura uma parte da responsabilidade que lhe será imputada: “Se o PSD tiver um resultado mais fraco, é mau. Se não subir, é mau. Se ganhar, aí é que é bom.” Uma lógica imbatível. Rio quer crescer no eleitorado pela “credibilidade”.

Apesar de os trabalhos parlamentares já terem fechado, a Assembleia da República ainda não foi para férias e Tancos continua a dar polémica. Neste caso, a eventual audiência do chefe do Estado Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, está a ser boicotada e dificultada pelo PS, escreve o Expresso. O líder da bancada do CDS, Nuno Magalhães, acusa Ascenso Simões, do PS, de estar a travar a ida do CEME ao Parlamento. Diz que é gravíssimo, que o deputado socialista foi de "férias" e que o PS está a fazer um "veto de gaveta" e a branquear o escrutínio do caso da “discrepância” entre as armas furtadas e recuperadas. O CDS ameaça recorrer a Ferro Rodrigues e invocar o irregular funcionamento da Assembleia da República e dá aos socialistas um prazo: esta manhã. Ascenso nega estar de férias. Rovisco Duarte continua disponível para ir falar aos deputados e Marco António Costa, presidente da comissão, confirma que só falta a luz verde do PS para se chamar o general.

Depois de uma resolução para se transladarem os restos mortais de Mário Soares para o Panteão Nacional, eis que a concelhia do PSD de Lisboa propõe que se faça o mesmo ao fundador do partido, Francisco Sá Carneiro.

Mas se a vida não é feita apenas de grandes tragédias e de intriga política, na vida dos portugueses há pequenas tragédias que se traduzem na dificuldade de viver com baixos rendimentos, o que também tem tudo a ver com política. O desemprego está a cair, mas há 764,2 mil trabalhadores em Portugal que ganham o salário mínimo, escreve o Expresso, segundo os dados declarados à Segurança Social, relativos a março deste ano e citados no 9º Relatório de Acompanhamento do Acordo sobre a Remuneração Mínima Mensal Garantida (RMMG). O relatório foi apresentado por Vieira da Silva, ministro Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, aos parceiros sociais. Segundo o Público, houve uma quebra no número de trabalhadores a receber a remuneração mínima para o emprego criado no arranque de 2018, o que mostra que a maior parte dos novos postos de trabalho registados neste período ficou acima dos 580 euros.

O mundo do trabalho não é fácil, e profissões que já tiveram algum glamour estão para lá de proletarizadas. Voar era uma delas. Desde fim de março que a Autoridade para as Condições de Trabalho está a investigar legalidade da atuação da low cost Ryanair durante a última greve. Esta quarta-feira há nova paralisação e a Inspeção diz que está “pronta a intervir”, mas nada concluiu ao fim de quatro meses de investigação, escreve no Expresso a Rosa Pedroso Lima.

Em relação ao caso da ida de Durão Barroso para o Goldman Sachs, que tanto deu que falar, há novidades: a Provedora de Justiça europeia (Ombudsman) encerrou finalmente o seu inquérito à contratação do ex-presidente da Comissão Europeia, confirmando a constatação de que a Comissão geriu mal o assunto e mantendo as suas recomendações e sugestões de melhoria, anunciaram ontem os serviços da provedoria.

Rui Moreira, presidente da câmara do Porto, reuniu-se com Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio de Belém, com que falou sobre a transferência do Infarmed para o Porto, um processo que considera não estar a ser tratado da melhor forma.

Emmanuel Macron tem viagem marcada para Lisboa na sexta-feira para uma cimeira com o primeiro-ministro português e o presidente do Governo espanhol, sobre as interligações energéticas europeias, mas vamos ver se não terá de ficar em Paris. O Governo do Presidente francês enfrentará nos próximos dias a primeira moção de censura, com poucas possibilidades de passar, originada pelo escândalo desencadeado pelo seu ex-chefe de segurança, que espancou manifestantes que fingiam ser polícias.

Estamos a 25 de julho e para Donald Trump é um dia como outro qualquer, ou seja, as notícias são sempre surpreendentes sobretudo pelo insólito. Não bastava que fosse tão fácil comprar armas nos Estados Unidos, agora será ainda mais fácil fabricá-las em casa, através de uma tecnologia que está em desenvolvimento, mas que promete mudar o mundo num futuro próximo. A administração Trump autoriza fabricação de armas de fogo por impressão 3-D, escreve aqui o Luís M. Faria: “A administração Trump chegou a acordo com Cody Wilson, um homem que em 2012 pôs na internet os planos e o software necessários para produzir o Liberator, a primeira arma imprimida em 3-D.Após mais de cem mil descargas, o governo bloqueou o site por infringir as regras sobre exportações internacionais. Wilson foi a tribunal, invocando o seu direito à liberdade de expressão, e agora o governo cedeu.” Faça download e atire.

Ficámos também a saber que a marca de Ivanka Trump vai fechar. A filha de Donald Trump, vai acabar com a sua marca de roupa e acessórios destinados a mulheres jovens porque se quer dedicar a tempo inteiro ao seu trabalho como uma das principais conselheiras da Casa Branca. As suspeitas de conflito de interesses, dizem os críticos, também terão pesado na sua decisão.

Mais um passo na questão coreana: os EUA pediram ao Governo do líder norte-coreano, Kim Jong-Un, que autorize a presença de observadores durante o processo de desmantelamento da base de mísseis de Sohae, no noroeste do país.

Um óbito inesperado: Oksana Shachko, de 31 anos, ativista do grupo feminista Femen, foi encontrada morta no seu apartamento em Paris.

Na economia, duas notícias de resultados positivos: o BPI viu o resultado líquido consolidado subir de um prejuízo de 101,7 milhões de euros para 366,1 milhões de euros no primeiro semestre de 2018; e a Impresa (proprietária do Expresso), anunciou um lucro de 2,5 milhões, contra 85 mil euros no período homólogo.

AS MANCHETES DO DIA

Público: “Maioria do emprego criado este ano ficou acima do salário mínimo”

JN: “Razia nas caixas multibanco desde a chegada da troika”

I: “Somos todos gregos”

Correio da Manhã: “Banca trava crédito à habitação”

Negócios: “Banco CTT faz compra de 100 milhões”

O QUE ANDO A LER

É impossível ir ao Museu do Prado e ficar indiferente às pinturas negras do pintor espanhol de Francisco de Goya (1746-1828). Por isso estou a ler dois ensaios sobre o tema. "Pinturas negras de Goya", explica de forma canónica esta parte mais intrigante da obra do artista. Mais interessante é "Goya y el Abismo del Alma", um livro de um especialista húngaro em estética e teoria da arte, László f. Foldényi, que conta como o quadro "Saturno a devorar o seu filho" o impressionou. Isso é pouco. O quadro ia acabando com ele. Imaginemos um homem que está a estudar a obra de um pintor, caso deste estudioso. Que olha para o quadro, enquanto o quadro olha para ele, um velho desgrenhado, de olhos enlouquecidos, a comer a carne humana do filho, porque lhe ameaçava o poder. A composição teve um tal efeito no homem que ele quase se deixou deprimir (deprimiu-se mesmo) e deixou de conseguir trabalhar. Foi salvo por um sonho, que conta no ensaio, uma baleia gigante a olhar para ele com uns olhos que podiam ser os do velho da pintura do mestre espanhol. É uma forma interessante de como uma obra de arte pode ter tanto poder e efeito sobre nós, e conclui assim um dos capítulos, colocando-se no lugar de Saturno, o Deus enlouquecido: "Se Deus é o outro, então eu, que acreditava ser Deus, serei talvez o Diabo?"

Outra leitura que recomendo, para quem gosta de Banda Desenhada e já tem saudades dos heróis da infância. Alix, o romano vai voltar aos álbuns, recriado pela dupla David B. e Giorgio Albertini, e o tema faz a capa da Le Figaro Magazine. Os autores, que se dedicavam a uma BD alternativa longe dos cânones franco-belgas, contam como era a sua relação com a obra de Jacques Martin. Os textos da revista não falam apenas de banda desenhada, mas colocam o tema sob a perspetiva histórica, com a opinião de vários historiadores sobre a forma como Martin tentava recriar o mundo romano com um realismo que nada tem a ver com as paródias de Astérix e Obélix.

Bom, este Expresso já está a ficar demasiado longo, por isso espero que tenha um bom dia, mesmo num dia triste como este.

Imagem em Expresso, Anadolu Agency/Getty Images

Mais lidas da semana