terça-feira, 15 de janeiro de 2019

"Mas que grande desilusão" - disse o macaco...


A parte curta do Expresso a que chamam Curto. Não se iluda, porque não é nada curto, contem badana da semana que pode durar cerca de um mês. Referimo-nos aos assuntos abordados pela palavra escrita da profissional Joana Pereira Bastos, lá do burgo Balsemão.

Desta feita não iremos tecer considerações, mais ou menos consideraveis. Vamos ficar a ver os que lêem sobre as desgraças do país e do mundo. Assim como das coisas boas que acontecem. Acontecem? Quase não damos por isso. Talvez por distração ou por olhar para este mundo e atualidades com olhos de ver.

"Mas que grande desilusão". Disse o Macaco para a macaca, sua companheira, ao observar os humanos que estavam para além da jaula a que chamam civilização. 

Bom dia, talvez. (PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O ano de Lucília e o futuro de Theresa e Rui

Joana Pereira Bastos | Expresso

Bom dia,

Arranca hoje o novo ano judicial, com uma sessão solene no Supremo Tribunal de Justiça. E está longe de ser um ano qualquer. O último ano judicial desta legislatura é simultaneamente o primeiro da era Lucília Gago e será decisivo para a credibilidade da Justiça em Portugal.

A nova procuradora-geral da República recebeu uma herança pesada ao suceder, num processo muito polémico, a Joana Marques Vidal, que representou uma mudança no combate ao crime económico-financeiro, pondo fim à ideia de que há uma justiça para ricos e para pobres. Foi no mandato de Marques Vidal que se iniciaram as investigações que culminaram em processos contra um ex-primeiro-ministro, José Sócrates, o maior banqueiro do país, Ricardo Salgado, um dos gestores mais bem pagos da economia nacional, Zeinal Bava, um juiz desembargador, Rui Rangel, ou o diretor da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, só para dar alguns exemplos.

Mas a verdade é que nenhum destes casos chegou ainda à barra do tribunal. E só esse desfecho permitirá aferir realmente a verdadeira eficácia, transparência e competência da Justiça. Para já, nos dois casos importantes que já conheceram uma decisão judicial – e-toupeira e vistos gold – a montanha acabou por parir um rato: à partida, a SAD encarnada nem sequer irá a julgamento (a acusação caiu na fase de instrução, mas o Ministério Público recorreu) e os dois principais arguidos dos vistos Gold, o ex-ministro Miguel Macedo e o ex-diretor do SEF, Jarmela Palos, saíram ilibados. Será um prenúncio para o que acontecerá nos outros grandes casos judiciais? Passaremos “da prisão espetáculo ao espetáculo da absolvição”, como escreveu este sábado no Expresso a procuradora Maria José Morgado? E, se assim for, em quem acreditar: nas certezas do Ministério Público ou nas dúvidas que se tornam inultrapassáveis em tribunal? Faz falta um “videoárbitro para a Justiça”, ironiza o jornalista João Garcia.

Na Operação Marquês, o maior processo de corrupção da história do país, é este ano que, muito provavelmente, ficaremos a saber se José Sócrates vai ou não sentar-se no banco dos réus. Cabe ao juiz Ivo Rosa – que não é propriamente conhecido por assinar de cruz as pretensões do Ministério Público – decidir se há indícios suficientes para levar o ex-primeiro-ministro e os restantes arguidos a tribunal.

A quem já não resta qualquer esperança é ao antigo ministro socialista Armando Vara, que ficou ontem a saber que tem três dias para se apresentar na cadeia para dar início à execução da pena de cinco anos de prisão efetiva a que foi condenado em 2014. Será o primeiro arguido a cumprir pena por tráfico de influência em Portugal.

O combate à corrupção não passará, certamente, ao lado dos discursos que marcarão a cerimónia de abertura do ano judicial, que, além do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, contará com intervenções da nova PGR, do presidente do Supremo Tribunal, que também se estreia nesta ocasião, e da ministra da Justiça. Francisca Van Dunem começou o mandato em estado de graça, mas termina-o este ano sob contestação dos principais operadores da Justiça. Juízes, magistrados do Ministério Público, funcionários judiciais e guardas prisionais estão, estiveram e vão estar em greve, num ambiente de protesto generalizado que é raro, senão mesmo inédito, no sector.

OUTRAS NOTÍCIAS

Hoje é o dia D para o Brexit. Pelas 19h30 tem lugar no Parlamento britânico a votação decisiva sobre o acordoalcançado em novembro entre as instituições europeias e o Governo de Theresa May que define os termos em que será feita a saída do Reino Unido da União Europeia - nomeadamente quanto é que o país ainda tem de pagar ao bloco europeu, o que acontece aos britânicos que vivem num estado-membro e aos cidadãos da UE que residem no Reino Unido ou como evitar a fronteira física na Irlanda, o assunto mais sensível. O The Guardian explica os detalhes do que está em cima da mesa.

O chumbo é o resultado mais provável da votação e o problema é que ninguém sabe o que acontece a seguir. May tem três dias para apresentar um plano b, mas estará, mais do que nunca, debaixo de fogo: os Trabalhistas já prometeram avançar com uma moção de censura e querem convocar eleições, caso o acordo seja rejeitado.

Nos últimos dias, a primeira-ministra britânica dramatizou as consequências de um chumbo no Parlamento, garantindo que, se isso acontecer, o Reino Unido acabará por sair “à bruta” da União Europeia, gerando um caos de dimensões imprevisíveis, ou por nem sequer sair, o que representaria um desrespeito ao resultado do referendo de 2016, causando “danos catastróficos” à confiança dos britânicos na democracia.

Um grupo de deputados europeístas de vários partidos exigiu, entretanto, um segundo referendo como forma de desbloquear o impasse. E perante toda esta incerteza, já há quem compre kits de emergência para sobreviver ao Brexit. Depois de algumas empresas e transportadoras terem alertado para a possível falta de stocks nos supermercados imediatamente após a saída, vendem-se agora caixas que pesam 15 quilos e que incluem mantimentos para um mês…

Se o futuro do Reino Unido se define, em parte, esta tarde, o do PSD traça-se depois de amanhã. Às 17h de quinta-feira - uma hora “de bradar aos céus” nas palavras do presidente da distrital de Lisboa, Pedro Pinto - o conselho nacional extraordinário do partido decidirá, por voto secreto, a moção de confiança que Rui Rio propôs em resposta ao desafio de Luís Montenegro para que aceitasse disputar a liderança do partido, marcando eleições diretas já.

Vem aí a contagem de espingardas e, para já, Rio segue na frente. Montenegro já começou a preparar o discurso para esse cenário, dizendo que a aprovação da moção de confiança não será para si uma derrota, pois o seu desafio foi para diretas e não para um Conselho Nacional. E garante que, se estivesse na posição de Rio, “Sá Carneiro teria aceitado o desafio e convocado eleições”. No Expresso Diário, Martim Silva explica quais são os cinco pontos para perceber a guerra Montenegro vs. Rio e tudo o que vai acontecer no encontro de quinta-feira, que promete ser tão ou mais picante do que os mais picantes dos congressos do partido.

Por falar em picante, a Porto Editora nega que tenha havido censura no caso dos polémicos cortes de um poema de Álvaro de Campos num manual escolar do 12º ano, mas confirma que retirou três versos à "Ode Triunfal" por conterem “linguagem “explícita”, relacionada com a “prática da pedofilia”. A decisão, noticiada domingo pelo Expresso, foi recebida com incredulidade e crítica pelas associações de professores de Português. A “Ode Triunfal” é um “texto canónico, uma referência” que não pode ser truncadadesta forma, dizem. O Expresso descobriu entretanto mais um manual onde os versos foram omitidos.

O Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e outros nove hospitaisde todo o país não têm condições para receber voos noturnos de emergência médica, do INEM ou da Força Aérea, por não terem heliportos com os requisitos necessários. A notícia é avançada pelo JN (apenas na versão digital paga).

Já o Hospital de Egas Moniz, também em Lisboa, sofreu um roubo milionário, conta o Correio da Manhã. Dez aparelhos médicos de gastroenterologia, no valor de 300 mil euros, desapareceram de um gabinete médico com acesso restrito.

O IRS surpreendeu reformados ao cortar algumas pensões. Este mês houve pensionistas que receberam menos e que, sem recibo, dizem não perceber porquê.

Cerca de um quarto dos trabalhadores de baixa por doençaque foram chamados a juntas médicas foram considerados aptos para trabalhar, o que não significa que sejam situações de fraude, ressalva o ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva.

Foi precisamente à porta do Ministério de Vieira da Silva que ontem se registaram momentos de tensão, com dezenas de bombeiros sapadores a tentarem invadir as instalações em protesto contra as regras de progressão na carreira, os salários e a idade de reforma, barrando a entrada no Ministério e impedindo a circulação na zona da Praça de Londres, em Lisboa.

De oficioso a oficial: Bruno Lage foi confirmado treinador do Benfica. Em comunicado à CMVM, o clube confirmou que o antigo treinador da equipa B assume a formação principal da Luz. "A primeira opção é este senhor que está aqui ao meu lado: Bruno Lage", disse ontem Luís Filipe Vieira, garantindo não ter contactado mais nenhum treinador. Mas é difícil acreditar. Lage finge que sim e agarra-se aos feelings: "Os jogadores não têm dito nada, mas eu senti logo no olhar dos jogadores. São os tais feelings. Olhei para eles e senti que ia ser o líder deles e as coisas têm seguido de uma forma muito natural”. Foi assim, com olhares e feelings, que Bruno oficialmente substituiu Rui (Vitória).

De Espanha chega uma história angustiante. Um menino de dois anos está preso desde domingo num poço com 110 metros de profundidade e apenas 20 centímetros de diâmetro. O incidente ocorreu na Serra de Totalán, no sul do país, e as equipas de resgate, constituídas por mais de uma centena de operacionais, tentam três alternativas para salvar a criança. Em 2017, os pais já perderam um filho de três anos, vítima de ataque cardíaco.

MANCHETES

Público: O caso da Ode Triunfal: Alunos de 17 e 18 anos não podem ler o poema?

Jornal de Notícias: Hélis de emergência proibidos de aterrar durante a noite em dez hospitais

Correio da Manhã: Assalto milionário a hospital

I: Como vai ser o dia-a-dia de Armando Vara na prisão de Évora

Jornal de Negócios: IRS deixa reformados com cortes nas pensões

FRASES

“Quando os livros de história forem escritos, as pessoas vão olhar para a decisão desta Câmara e perguntar: ‘Salvaguardámos a nossa economia, segurança e união ou desiludimos o povo britânico?’”

Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, sobre a votação decisiva que decorrerá hoje na Câmara dos Comuns

"Se Sá Carneiro estivesse na minha posição faria o mesmo",

Luís Montenegro, candidato à liderança do PSD

“Disseram-me que isto era um polvo”

Capitão Orlando Pinheiro, um dos 68 arguidos no processo de corrupção nas messes da Força Aérea, em alusão ao esquema de sobrefaturação que vigorava entre militares e fornecedores e que era visto como “uma situação normal de há muitos anos”

“Tenho 41 anos, sou pai, apesar de muita gente me tratar como um rapaz”

Bruno Lage, treinador do Benfica

O QUE ANDO A VER

A Casa que Jack Construiu, de Lars von Trier

Maltratado pela crítica nacional, mas aplaudido lá fora, classificado como “obra-prima única e exaltante” (Le Monde) e eleito como um dos filmes do ano, a última longa-metragem do polémico realizador dinamarquês conta a história de um serial-killer (Matt Dillon), narrada a partir de cinco “incidentes” que o psicopata descreve como obras de arte, num longo diálogo reflexivo que mantém com Verge, a versão moderna do poeta romano Virgílio que conduz Dante pelos círculos do inferno. Ao contrário do que escreveu Jorge Leitão Ramos no Expresso, é, na minha opinião, um filme que vale bem a pena ver.

O QUE ANDO A LER

A verdade sobre o caso Harry Quebert, de Joel Dicker 

Se no caso do filme não concordo com grande parte da crítica publicada por cá, no caso deste livro subscrevo-a inteiramente. Estando longe de ser uma pérola da literatura ou uma obra inesquecível, é um thriller bem contado e que dá muito gozo ler, sobretudo para quem gosta de policiais e para quem tem saudades da trilogia Millennium, do falecido jornalista sueco Stieg Larsson. A história do misterioso desaparecimento, em 1975, de uma jovem de 15 anos numa pequena e pacata vila costeira norte-americana e do aparecimento do seu cadáver, mais de 30 anos depois, no jardim de um dos mais conceituados escritores do país é um thriller que se devora rapidamente, capaz de “deixar pessoas acordadas toda a noite”, como refere a crítica publicada no Expresso. E eu, com olheiras, confirmo.

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