Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
A candidatura de Montenegro expôs
o vazio político em que se afunda o PSD. Quando a política falha aos partidos
habituados ao poder, o que resta é a intriga que assegura o direito a disputar
a próxima oportunidade. Trata-se sempre de estar no sítio certo à hora certa,
são assim as regras do rotativismo partidário em Portugal.
A oposição é fraca, a linha
política de Rio é incompreensível, e o seu estilo é o que é. Mas nem Rio é o
principal problema do PSD, nem Montenegro a solução. Nas eleições de 2015 o PSD
já valia menos 10pp que em 2011. Ainda assim, o resultado foi positivamente
influenciado pelo mesmo aditivo com que a Direita contou nos anos de agressão e
radicalismo liberal: o medo, cuidadosamente fabricado por quem culpou o povo
pela crise e repetiu que a austeridade era a única redenção possível.
Era por isso óbvio que a
estratégia do PSD não resistiria à demonstração de que, em democracia, há
sempre alternativas possíveis. Passos ainda tentou, imbuído de um negacionismo
alienado, clamar que o Governo lhe pertencia, mesmo não sendo maioria. Ameaçou
e amaldiçoou o país que se atrevia a desprezar o sacrifício pessoal com que
tinha sido sacrificado. Mas nada parecia funcionar. Já então a oposição era
fraca, a linha política incompreensível, e o estilo de Passos era o que era.
Não foi preciso um Rui Rio para a derrota nas autárquicas. Foi o medo que se
foi, e com ele o que restava do PSD.
Montenegro não tem mais nada para
acrescentar a este vazio. Não tem uma ideia que escape à banalidade, só conhece
a política da austeridade, e não vai ser o que não foi. Diz ter chegado para
"galvanizar os portugueses", mas em torno de quê? Já sabíamos, quando
afirmou que "a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito
melhor", que o ex-líder parlamentar de Passos tem alguma dificuldade em
identificar sujeitos coletivos abstratos e ler as suas aspirações. Os únicos
portugueses que parecem poder ser galvanizados por Montenegro encontraram-se em
Belém, para um congresso de inconformados saudosistas da troika, animados pelo
sucesso eleitoral das direitas por esse Mundo fora.
Quem agradece as pretensões
galvanizadoras de Montenegro é António Costa, que terá mais facilidade em
ensaiar o discurso da bipolarização que justifica o pedido de maioria absoluta.
No vazio da política, é aqui mesmo que se encontra o PSD, entre o regresso à
troika e uma maioria absoluta do PS. Um tem de voltar a ser o que era para que
o outro possa ser o que sempre foi. São assim as regras do rotativismo
partidário em Portugal.
*Deputada do BE
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