À medida que se aproxima a data
fatídica, desvantagens do divórcio entre o Reino Unido e a UE ficam mais
evidenciadas. O melhor agora é a câmara baixa rejeitar o acordo para que haja
nova consulta, opina Birgit Maass.
Birgit Maass | Deutsche Welle |
opinião
Raro é o deputado do Parlamento
britânico que não está sentindo na nuca o hálito da história, antes da
votação decisiva na Câmara dos Comuns, nesta terça-feira (15/01). O resultado
da consulta definirá o destino do país por diversas gerações afora. Em jogo
estão o futuro econômico, a reputação internacional do Reino Unido, a
convivência entre as gerações e o modo de lidar com os migrantes.
No momento, parece que a
primeira-ministra Theresa May está prestes a sofrer uma amarga derrota, e é bom
que assim seja. O acordo sobre a saída do país da União Europeia ainda está
muito aquém do que os defensores do Brexit prometeram a seus adeptos.
De fato, dentro de alguns anos
Londres poderá escolher quais imigrantes da UE deixará ingressar no país, e
abandonará efetivamente as instituições europeias. Porém o Brexit também virá à
custa do crescimento econômico, e isso em grande escala. Das poupanças bilionárias
prometidas pelos "brexiteers", nem sinal. O Reino Unido soberano,
terra do leite e do mel, permanece um delírio de fantasia.
May cometeu vários erros. Por
muito tempo, ocultou de seus cidadãos as consequências econômicas do divórcio
em relação à UE. Tampouco deixou claro que o Reino Unido teria que fazer
concessões a Bruxelas, se no fim de março não quisesse pular fora da comunidade
sem acordo e com grandes prejuízos.
Em vez de construir pontes e de
recorrer a outros partidos, ela aprofundou os fossos do país. Ao tachar de
"citizens of nowhere" (cidadãos de lugar nenhum) aqueles que se veem
como cidadãos cosmopolitas – e está claro que se referia aos pró-europeus do
país – ela antagonizou muita gente.
Seu senso de dever e vontade
férrea conquistaram respeito até entre seus adversários. Mas parece que de
tanta diligência a chefe de governo perdeu o compasso moral. Ela parece
possuída por uma missão supostamente histórica, que seria implementar a vontade
da maioria dos eleitores do referendo do Brexit.
Sustar a imigração desimpedida de
cidadãos da UE virou para ela uma espécie de Santo Graal. Desde cedo, bloqueou
a si e a sua equipe de negociadores com "linhas vermelhas", como a de
se retirar incondicionalmente do mercado comum e da união aduaneira.
Em vão, ela tenta agora
conquistar o apoio de uma Câmara dos Comuns dividida, para que só haja esse
acordo e nenhum outro. As alternativas são: ou nada de acordo, ou nada de
Brexit – um segundo referendo, ela rechaça terminantemente.
No entanto, o referendo de 23 de
junho de 2016 foi um quadro momentâneo, e o apoio dos eleitores ao Brexit, nem
tão grande assim. Na época, poucos sabiam o que realmente significava abandonar
a UE. Neste ínterim ficou claro que diversas promessas dos apoiadores do Brexit
não poderão ser cumpridas, e seria democrático consultar mais uma vez os
eleitores.
Portanto os deputados deveriam
rejeitar o acordo, de modo a liberar o caminho para uma segunda consulta
popular. Claro que o Reino Unido pode sair da UE, porém com consideráveis perdas
econômicas. O povo deve decidir se, sob tais circunstâncias, de fato quer o
Brexit.
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