segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Portugal | O habitual «patriotismo» dos ases que as direitas arvoram em seus heróis


Jorge Rocha | opinião

Há uma dúzia de anos a condição profissional de diretor de uma empresa da área de engenharia obrigava-me à leitura da, então, fértil imprensa económica. Entre diários e revistas em papel dedicava a quotidiana hora do almoço ao seu acompanhamento. Daí que tenha visto surgir no firmamento um brilhante cometa chamado Álvaro Santos Pereira, apostado em enviar bitaites sobre a realidade política nacional, apesar de viver acantonado do outro lado do Atlântico.

Sabe-se, porém, como são os nossos empresários e gestores, quando alguém se autoenaltece com currículo estabelecido em terras do tio Sam ou delas aparentado. Saloios que continuam a ser ,deixaram-se bafejar pelas banalidades do infalível guru, sobretudo quando, como era o caso, ele excedia-se em críticas ao governo socialista então em funções. Cada artigo do farsante era recebido com a devoção dos crentes perante as homilias enfáticas dos seus pregadores. E, quando saiu uma coletânea de tais artigos era um ver se te avias nas reuniões de diretores gerais com as administrações - sou disso testemunha! - com os mais arrivistas a dela se servirem para se porem em bicos de pés para quem os houvera nomeado ou, pelo menos, ainda os ia mantendo em funções.

O que se seguiu bastou para confirmar o quão fraudulento era o pseudoeducador do patronato luso: chegado ao governo da troika depressa se confirmou como um erro de casting, integrando a lista dos recicláveis à primeira ocasião. Ainda assim deixando-nos a pérola de redimir as finanças nacionais à custa da exportação dos pastéis-de-nata.

Mas asnos foram os que nele acreditaram, julgando-o eivado de espírito patriótico, porque o verdadeiro objetivo do embusteiro era cuidar da sua vidinha, faltando-lhe para tal a inserção de uma passagem pela vida governativa no curriculum. Tão só garantida concorreu a bem remunerado cargo numa organização (OCDE), cujo propósito é dar-se ares de estipular as escolhas das nações para que melhor se adequem aos interesses capitalistas. Ora, com a prosápia antes revelada, e o cargo ministerial num executivo tão do agrado de tais mentores, acedeu ao atrativo tacho.

Nesta altura ele serve de exemplo para uma lei que se vai definindo como axiomática: quando socialistas vão sendo nomeados para cargos internacionais (Guterres, Sampaio, Centeno ou Vitorino) têm por objetivo bater-se pelo bem coletivo a nível global, jamais fazendo o que possa prejudicar o seu próprio país. Pelo contrário, quando é gente de direita, que a tais patamares se promovem (Durão Barroso ou este Álvaro trapaceiro), só o não prejudicam se não puderem. De facto, lavrando relatório com o carimbo da sua organização o antigo guru do pastel-de-nata recomenda prudência a quem queira investir em Portugal por o dar como espaço de grande corrupção, prejudicando a imagem de um país cada vez mais respeitado internacionalmente.

Se cometa foi, este arrivista tarda em desaparecer nas profundas do universo com viagem só de ida, porque os danos por ele feitos ainda muito tardarão a ser retificados.

jorge rocha | Ventos Semeados

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