Jorge Rocha | opinião
Há uma dúzia de anos a condição
profissional de diretor de uma empresa da área de engenharia obrigava-me à
leitura da, então, fértil imprensa económica. Entre diários e revistas em papel
dedicava a quotidiana hora do almoço ao seu acompanhamento. Daí que tenha visto
surgir no firmamento um brilhante cometa chamado Álvaro Santos Pereira,
apostado em enviar bitaites sobre a realidade política nacional, apesar de
viver acantonado do outro lado do Atlântico.
Sabe-se, porém, como são os
nossos empresários e gestores, quando alguém se autoenaltece com currículo
estabelecido em terras do tio Sam ou delas aparentado. Saloios que continuam a
ser ,deixaram-se bafejar pelas banalidades do infalível guru, sobretudo quando,
como era o caso, ele excedia-se em críticas ao governo socialista então em funções. Cada artigo
do farsante era recebido com a devoção dos crentes perante as homilias
enfáticas dos seus pregadores. E, quando saiu uma coletânea de tais artigos era
um ver se te avias nas reuniões de diretores gerais com as administrações - sou
disso testemunha! - com os mais arrivistas a dela se servirem para se porem em
bicos de pés para quem os houvera nomeado ou, pelo menos, ainda os ia mantendo
em funções.
O que se seguiu bastou para
confirmar o quão fraudulento era o pseudoeducador do patronato luso: chegado ao
governo da troika depressa se confirmou como um erro de casting, integrando a
lista dos recicláveis à primeira ocasião. Ainda assim deixando-nos a pérola de
redimir as finanças nacionais à custa da exportação dos pastéis-de-nata.
Mas asnos foram os que nele
acreditaram, julgando-o eivado de espírito patriótico, porque o verdadeiro
objetivo do embusteiro era cuidar da sua vidinha, faltando-lhe para tal a
inserção de uma passagem pela vida governativa no curriculum. Tão só garantida
concorreu a bem remunerado cargo numa organização (OCDE), cujo propósito é
dar-se ares de estipular as escolhas das nações para que melhor se adequem aos
interesses capitalistas. Ora, com a prosápia antes revelada, e o cargo ministerial
num executivo tão do agrado de tais mentores, acedeu ao atrativo tacho.
Nesta altura ele serve de exemplo
para uma lei que se vai definindo como axiomática: quando socialistas vão sendo
nomeados para cargos internacionais (Guterres, Sampaio, Centeno ou Vitorino)
têm por objetivo bater-se pelo bem coletivo a nível global, jamais fazendo o
que possa prejudicar o seu próprio país. Pelo contrário, quando é gente de
direita, que a tais patamares se promovem (Durão Barroso ou este Álvaro
trapaceiro), só o não prejudicam se não puderem. De facto, lavrando relatório
com o carimbo da sua organização o antigo guru do pastel-de-nata recomenda
prudência a quem queira investir em Portugal por o dar como espaço de grande
corrupção, prejudicando a imagem de um país cada vez mais respeitado
internacionalmente.
Se cometa foi, este arrivista
tarda em desaparecer nas profundas do universo com viagem só de ida, porque os
danos por ele feitos ainda muito tardarão a ser retificados.
jorge rocha | Ventos Semeados
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