Inês Cardoso* | Jornal de Notícias
| opinião
Os 18 minutos em que Luís Montenegro
se apresenta para combate no PSD foram cuidadosamente construídos para empolgar
e fazer valer argumentos.
É certo que todos facilmente
rebatíveis: sondagens sem idas a voto são meras perceções e é difícil alegar
que se pretende unir um partido cavando ainda mais o fosso que o divide, em
vésperas de eleições.
Em política, as justificações
valem o que valem. Não é fácil encontrar outro detonador para a decisão de
Montenegro que não seja a luta para formar as listas à Assembleia da República,
esse momento em que a corrida a um lugar torna mais evidentes os interesses e
disputas dentro de todos os partidos. Por isso cada um ouve o que quer nas
palavras de Montenegro, nos dedos apontados às (mais do que evidentes) falhas
de Rui Rio, nas preocupações com o interesse do país e com a lealdade da sua
intervenção.
Nesta disputa por poder, o PSD
está entalado entre um presidente que não soube ouvir os seus nem falar para as
pessoas e um candidato a líder que parece pouco interessado em medir o prejuízo
que esta divisão pode causar ao partido. Entre os que rejubilam com a
perspetiva de mudar e os que, mesmo criticando o desastre do último ano e a
falta de oposição a Costa, consideram o timing do ataque desajustado. A fratura
está para durar.
Perde o PSD, claro. Mas perde
igualmente o país, porque numa coisa Montenegro tem razão. O país precisa de
uma oposição como deve ser, quando o Governo já vai embalado a fazer campanha.
E precisa, mais ainda, de vida política e de mobilização para além dos
partidos, máquinas sedentas de poder em que o sentido de causa pública conta
muito pouco. É nestas alturas que sentimos que a política, como ação atuante de
cada um em função de todos, está muito distante daquilo que diariamente se joga
em seu nome. Podemos sempre rir perante os golpes palacianos e as novelas de
corredor. Mas talvez o assunto seja demasiado sério para isso.
*Diretora-adjunta do JN | Foto: em Público
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