segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Timor-Leste | Oposição acusa secretário-geral do CNRT de se "abrigar à imunidade"

Francisco Kabuadi Lay
Díli, 25 fev (Lusa) -- Deputados da oposição timorense acusaram hoje o secretário-geral do principal partido da coligação do Governo timorense de tentar usar o Parlamento Nacional para "fugir à justiça" e "abrigar-se à imunidade", argumento contestado pelas bancadas do executivo.

Francisco Kalbuadi Lay, reassumiu hoje o mandato como deputado depois de oito meses à espera de ser empossado pelo Presidente timorense como ministro Coordenador dos Assuntos Económicos.

Lay, que o Ministério Público quer ouvir no âmbito de um processo de alegado branqueamento de capitais, regressou a Timor-Leste no fim de semana depois de ter sido submetido a tratamentos médicos no exterior.

"Creio que tem sempre esta estratégia de fugir da justiça e por isso vem abrigar-se neste órgão de soberania para ter a imunidade", disse à Lusa o deputado da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) José Somotxo.


"Amanhã o Kalbuadi desaparece. Vem para ter a imunidade e fugir da justiça e amanhã já não está aqui - vem outro deputado. Isto para mim é palhaçada", disse José Somotxo, no plenário.

Somotxo sublinhou que os políticos timorenses, principalmente os governantes, "não estão a contribuir para a justiça" ao tomarem decisões como esta.

"Não sei como vai funcionar a justiça se toda gente está a fugir dos seus crimes", disse.

O ex-ministro da Defesa e do Interior acrescentou ainda que Francisco Kalbuadi Lay "foi notificado para ir responder perante a justiça pelos seus atos" e que regressar ao tribunal, nestas circunstâncias "não é normal".

Opinião ecoada pelo deputado António da Conceição, Partido Democrático (PD), que recentemente pediu que a sua imunidade fosse levantada para responder perante um processo, em que acabou por ser condenado a uma pena suspensa de prisão.

O deputado do PD disse que os parlamentares se arriscam a passar a mensagem de que "o parlamento se torna como um órgão para proteção" perante a justiça.

"Acho que isto é um mau sinal. Devíamos clarificar a situação e depois retomar a posição", afirmou à Lusa, mostrando-se esperançado que ocorra ao deputado do CNRT, o mesmo que ocorreu consigo.

Admitindo que por o processo de Kalbuadi Lay estar ainda em investigação pode não ser apropriado "o parlamento retirar a imunidade", afirmou Conceição, reiterando que cabe ao deputado "decidir por si próprio" o que fazer.

Já Adérito Hugo da Costa, da bancada do CNRT, disse à Lusa que a oposição "tem o direito de expressar a sua posição" e acrescentou que as regras de imunidade "não são um privilégio, mas um requisito caso algum deputado esteja envolvido numa investigação" da justiça.

"A imunidade não é um privilégio para que os cargos políticos usem. É um requisito", apontou.

"O deputado Francisco é deputado eleito por isso fez um período de substituição temporária desde a tomada de posse e depende de si voltar para retomar a posição. É uma questão normal. A questão da correspondência da justiça é normal", afirmou.

Sobre o eventual levantamento da imunidade de Kalbuadi, caso venha a ser constituído arguido, Hugo da Costa disse que isso é "normal" e que já ocorreu recentemente noutros casos.

ASP//MIM

Sem comentários:

Mais lidas da semana