sábado, 9 de março de 2019

Guiné-Bissau | Campanha eleitoral termina com todos os partidos na capital


O último dia da campanha para as legislativas de domingo (10.03) fica marcado por comícios em Bissau. CNE garante "todas as condições" para a votação e sociedade civil mobiliza-se para monitorizar eleições.

Depois de 20 dias de campanha eleitoral focada sobretudo no interior da Guiné-Bissau, os partidos candidatos às legislativas realizaram durante todo o dia desta sexta-feira (08.03) na capital, Bissau, comícios com apelos ao voto.

Mais de 761 mil eleitores são chamados às urnas no domingo para escolher os novos representantes do Parlamento guineense entre os candidatos apresentados por 21 partidos políticos.

Para muitos observadores, trata-se de um ato eleitoral que tenta pôr fim a uma crise política que dura desde 2015, depois de o Presidente, José Mário Vaz, e o líder do maior partido do país, Domingos Simões Pereira se terem incompatibilizado. 


O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor das legislativas de 2014, escolheu o Estádio Lino Correia, no centro da cidade, para o seu comício final, enquanto a segunda maior força política do país, o Partido de Renovação Social (PRS), terminou a campanha no bairro Lala Queima.

O Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), partido criado por um grupo de dissidentes do PAIGC, o termo da sua primeira campanha eleitoral foi no jardim em frente à Câmara Municipal da cidade, perto da sua sede nacional.

Também a Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), de Nuno Nabian, escolheu o centro da capital para fazer um comício de encerramento, neste caso junto ao porto de Pindjiguiti, onde também arrancou com a campanha eleitoral.

CNE garante "todas as condições" para votação

O presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau afirmou esta sexta-feira que "estão reunidas as condições logísticas, humanas e financeiras" para que as eleições legislativas "possam ocorrer no dia 10 de março".

Em conferência de imprensa, José Pedro Sambú explicou que, "neste momento, só podem votar as pessoas inscritas no caderno eleitoral, com cartão de eleitor", pondo fim a uma polémica sobre a inscrição adicional de nomes no sistema.

Para Sambú, a CNE " está empenhada em conduzir o processo eleitoral num clima de transparência e que sejam eleições justas, livres e transparentes".


 "As autoridades nacionais, em colaboração com as forças da ECOMIB [Força de Manutenção da Paz na Guiné-Bissau da África Ocidental, financiada pela União Europeia], vão garantir, na sua plenitude, a segurança do processo em toda a extensão do território nacional", explicou José Pedro Sambú.

Desenvolver e estabilizar a Guiné-Bissau

Depois da passada quarta-feira termos apresentado os perfis do PAIGC, do Movimento Patriótico e do RGB/Movimento Bafatá, hoje concluímos o trabalho com o PRS, o MADEM-G15, FREPASNA e MDG.

Alberto Nambeia - que substituiu na presidência do partido o fundador do Partido da Renovação Social (PRS), o ex-Presidente da República, Kumba Iala - é o cabeça de lista dos renovadores para as eleições de domingo.

Depois do conflito militar de 1998, o povo guineense confiou, em 1999, o destino do país ao partido liderado na altura por Kumba Iala, única vez que o PRS ganhou eleições legislativas e presidenciais na Guiné-Bissau. O partido que sempre esteve nas rédeas de governação propõe para as legislativas "Erguer a Guiné-Bissau", um programa eleitoral com o qual pretende desenvolver o país.

Alberto Nambeia quer estabilizar a Guiné-Bissau, apresentando-se como "Homem de Paz" capaz de unir os guineenses em torno dos grandes desafios. O partido que disputou todas as eleições do país concorre em todos os círculos eleitorais.
Mais hospitais, melhor educação...

Outro partido que concorre às legislativas é o recém criado MADEM-G15, formado essencialmente por dirigentes expulsos do PAIGC. O coordenador do grupo, o empresário Braima Camará, antigo dirigente do PAIGC e conselheiro especial do Presidente da República, é cabeça de lista. MADEM-G15 propõe mudança com melhores hospitais, melhor educação, melhores infraestruturas, grandes reformas da administração pública para que a Guiné-Bissau possa atingir o desenvolvimento.

"Em primeiro lugar tem que ter a coragem de fazer a justiça de pôr os homens certos nos lugares certos. Romper com o sistema, com clientelismo, sectarismo, nepotismo, promover a igualdade de oportunidades. O mais importante vai depender da capacidade de liderança".

É o primeiro embate eleitoral do MADEM-G15, cujos dirigentes já foram governantes e deputados pelo PAIGC desde as primeiras eleições realizadas na Guiné-Bissau.

APU-PDGB (Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau), liderado por Nuno Gomes Nabian, candidato derrotado nas últimas presidenciais ganhas por José Mário Vaz, apresenta o empresário Mamadu Saliu Lamba como cabeça de lista às eleições legislativas.

Alternativa ao poder instalado

O partido que investiu muito pouco nestas eleições - já que está com olhos postos nas presidenciais - apresenta-se como alternativa aos que já tiveram na liderança sem que tivessem mudado o país.

Outro antigo primeiro-ministro que concorre com o seu partido é Baciro Djá, antigo dirigente do PAIGC, atual líder e fundador da FREPASNA. Baciro Djá aposta na educação dos jovens para apelar ao voto consciente. Durante a campanha eleitoral porta a porta, Djá tem oferecido apenas canetas às crianças e aos jovens eleitores, pedindo uma oportunidade para chegar ao poder e mudar o país.

Silvestre Alves, uma velha raposa da política guineense, lidera as aspirações dos militantes do MDG para as eleições legislativas deste domingo.

"Propomos mudança para formar um novo Estado, digno do seu nome. Virar a página e reformar o quadro político para reunificar a nação e fortalecer o Estado. É preciso definir quem pode ser deputado, quem pode ser ministro e Presidente da República, todos são questões fundamentais para criar ambiente propício para a Mudança. O trabalho do fundo passa por combater a corrupção".

Monitorização feita pela sociedade civil

Silvina Tavares, da Plataforma Política das Mulheres, uma das cinco organizações da sociedade civil que integram a equipa de monitorização, disse esta sexta-feira, em conferência de imprensa de apresentação do espaço, que a iniciativa visa "garantir que a ética, integridade e transparência sejam respeitadas e ainda evitar que a violência possa afetar as eleições".

Desde fevereiro que equipas de monitores se encontram espalhadas nas nove regiões do país consideradas de risco.

No sábado e no domingo, os monitores estarão no terreno com perguntas específicas para acompanhar o desenrolar da votação e de seguida enviarão relatórios, por SMS, telefone e plataforma 'online' para uma célula de análise para detetar eventuais ameaças e propor medidas junto das autoridades eleitorais.

Se for o caso, as ameaças serão comunicadas aos jornalistas para serem difundidas nos órgãos de comunicação social.

O grupo de monitorização fará várias comunicações à imprensa no dia da votação e ainda uma declaração preliminar, sobre o processo eleitoral, na segunda-feira (11.03).

Voto das mulheres

O grupo estará também atento aos órgãos de comunicação social e às redes sociais para rastrear indícios de corrupção eleitoral, segurança eleitoral, participação de jovens e mulheres, cumprimento de regras na comunidade, centros e assembleias de voto.

Elisa Pinto, líder local da antena de uma organização sub-regional de mulheres que trabalham em questões da paz e segurança, defendeu ser importante "também estar atento" à participação feminina no ato da votação, lembrando que, regra geral, as mulheres aproveitam o domingo para "outras lides domésticas".

"É importante que todas as mulheres recenseadas votem", observou Pinto.

A lei guineense não permite observadores eleitorais nacionais, mas Elisa Pinto acredita que a ação do grupo de monitorização da sociedade civil "não só é importante como necessária" para que as eleições decorram "sem sobressaltos" a partir da chamada alerta precoce de eventuais ameaças.

No final das eleições, as organizações de monitorização "esperem ter contribuído para um processo justo, transparente, seguro e inclusivo", factos que serão divulgados, após o escrutínio, através de documentação.

A ação do grupo é financiada pela União Europeia e pelo Fundo da Consolidação da Paz das Nações Unidas.

Braima Darame (Bissau), Agência Lusa | Deutsche Welle

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