O último dia da campanha para as
legislativas de domingo (10.03) fica marcado por comícios em Bissau. CNE garante
"todas as condições" para a votação e sociedade civil mobiliza-se para
monitorizar eleições.
Depois de 20 dias de campanha
eleitoral focada sobretudo no interior da Guiné-Bissau, os partidos candidatos
às legislativas realizaram durante todo o dia desta sexta-feira (08.03) na
capital, Bissau, comícios com apelos ao voto.
Mais de 761 mil eleitores são
chamados às urnas no domingo para escolher os novos representantes do
Parlamento guineense entre os candidatos apresentados por 21 partidos
políticos.
Para muitos observadores,
trata-se de um ato eleitoral que tenta pôr fim a uma crise política que dura
desde 2015, depois de o Presidente, José Mário Vaz, e o líder do maior partido
do país, Domingos Simões Pereira se terem incompatibilizado.
O Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor das legislativas de 2014,
escolheu o Estádio Lino Correia, no centro da cidade, para o seu comício final,
enquanto a segunda maior força política do país, o Partido de Renovação Social
(PRS), terminou a campanha no bairro Lala Queima.
O Movimento para a Alternância
Democrática (Madem-G15), partido criado por um grupo de dissidentes do PAIGC, o
termo da sua primeira campanha eleitoral foi no jardim em frente à Câmara
Municipal da cidade, perto da sua sede nacional.
Também a Assembleia do Povo Unido
- Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), de Nuno Nabian, escolheu o
centro da capital para fazer um comício de encerramento, neste caso junto ao porto
de Pindjiguiti, onde também arrancou com a campanha eleitoral.
CNE garante "todas as
condições" para votação
O presidente da Comissão Nacional
de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau afirmou esta sexta-feira que "estão
reunidas as condições logísticas, humanas e financeiras" para que as
eleições legislativas "possam ocorrer no dia 10 de março".
Em conferência de imprensa, José
Pedro Sambú explicou que, "neste momento, só podem votar as pessoas
inscritas no caderno eleitoral, com cartão de eleitor", pondo fim a uma
polémica sobre a inscrição adicional de nomes no sistema.
Para Sambú, a CNE " está
empenhada em conduzir o processo eleitoral num clima de transparência e que
sejam eleições justas, livres e transparentes".
Desenvolver e estabilizar a
Guiné-Bissau
Depois da passada quarta-feira
termos apresentado os perfis do PAIGC, do Movimento Patriótico e do
RGB/Movimento Bafatá, hoje concluímos o trabalho com o PRS, o MADEM-G15,
FREPASNA e MDG.
Alberto Nambeia - que substituiu
na presidência do partido o fundador do Partido da Renovação Social (PRS), o
ex-Presidente da República, Kumba Iala - é o cabeça de lista dos renovadores
para as eleições de domingo.
Depois do conflito militar de
1998, o povo guineense confiou, em 1999, o destino do país ao partido liderado
na altura por Kumba Iala, única vez que o PRS ganhou eleições legislativas e
presidenciais na Guiné-Bissau. O partido que sempre esteve nas rédeas de
governação propõe para as legislativas "Erguer a Guiné-Bissau",
um programa eleitoral com o qual pretende desenvolver o país.
Alberto Nambeia quer
estabilizar a Guiné-Bissau, apresentando-se como "Homem de
Paz" capaz de unir os guineenses em torno dos grandes desafios. O
partido que disputou todas as eleições do país concorre em todos os
círculos eleitorais.
Mais hospitais, melhor
educação...
Outro partido que concorre às
legislativas é o recém criado MADEM-G15, formado essencialmente por dirigentes
expulsos do PAIGC. O coordenador do grupo, o empresário Braima Camará, antigo
dirigente do PAIGC e conselheiro especial do Presidente da República, é cabeça
de lista. MADEM-G15 propõe mudança com melhores hospitais, melhor educação,
melhores infraestruturas, grandes reformas da administração pública para que a
Guiné-Bissau possa atingir o desenvolvimento.
"Em primeiro lugar tem que
ter a coragem de fazer a justiça de pôr os homens certos nos lugares certos.
Romper com o sistema, com clientelismo, sectarismo, nepotismo, promover a
igualdade de oportunidades. O mais importante vai depender da capacidade de
liderança".
É o primeiro embate eleitoral do
MADEM-G15, cujos dirigentes já foram governantes e deputados pelo PAIGC desde
as primeiras eleições realizadas na Guiné-Bissau.
APU-PDGB (Assembleia do Povo
Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau), liderado por Nuno Gomes Nabian,
candidato derrotado nas últimas presidenciais ganhas por José Mário Vaz,
apresenta o empresário Mamadu Saliu Lamba como cabeça de lista às eleições
legislativas.
Alternativa ao poder instalado
O partido que investiu muito
pouco nestas eleições - já que está com olhos postos nas presidenciais
- apresenta-se como alternativa aos que já tiveram na liderança sem que
tivessem mudado o país.
Outro antigo
primeiro-ministro que concorre com o seu partido é Baciro Djá, antigo
dirigente do PAIGC, atual líder e fundador da FREPASNA. Baciro Djá aposta na
educação dos jovens para apelar ao voto consciente. Durante a campanha
eleitoral porta a porta, Djá tem oferecido apenas canetas às crianças e
aos jovens eleitores, pedindo uma oportunidade para chegar ao poder e
mudar o país.
Silvestre Alves, uma velha raposa
da política guineense, lidera as aspirações dos militantes do MDG para as
eleições legislativas deste domingo.
"Propomos mudança para
formar um novo Estado, digno do seu nome. Virar a página e reformar o quadro
político para reunificar a nação e fortalecer o Estado. É preciso definir quem
pode ser deputado, quem pode ser ministro e Presidente da República, todos são
questões fundamentais para criar ambiente propício para a Mudança. O trabalho
do fundo passa por combater a corrupção".
Monitorização feita pela
sociedade civil
Silvina Tavares, da Plataforma
Política das Mulheres, uma das cinco organizações da sociedade civil que
integram a equipa de monitorização, disse esta sexta-feira, em conferência de
imprensa de apresentação do espaço, que a iniciativa visa "garantir que a ética,
integridade e transparência sejam respeitadas e ainda evitar que a violência
possa afetar as eleições".
Desde fevereiro que equipas
de monitores se encontram espalhadas nas nove regiões do país consideradas de
risco.
No sábado e no domingo, os monitores
estarão no terreno com perguntas específicas para acompanhar o desenrolar da
votação e de seguida enviarão relatórios, por SMS, telefone e plataforma
'online' para uma célula de análise para detetar eventuais ameaças e propor
medidas junto das autoridades eleitorais.
Se for o caso, as ameaças serão
comunicadas aos jornalistas para serem difundidas nos órgãos de comunicação
social.
O grupo de monitorização fará
várias comunicações à imprensa no dia da votação e ainda uma declaração
preliminar, sobre o processo eleitoral, na segunda-feira (11.03).
Voto das mulheres
O grupo estará também atento aos
órgãos de comunicação social e às redes sociais para rastrear indícios de
corrupção eleitoral, segurança eleitoral, participação de jovens e mulheres,
cumprimento de regras na comunidade, centros e assembleias de voto.
Elisa Pinto, líder local da
antena de uma organização sub-regional de mulheres que trabalham em questões da
paz e segurança, defendeu ser importante "também estar atento" à
participação feminina no ato da votação, lembrando que, regra geral, as mulheres
aproveitam o domingo para "outras lides domésticas".
"É importante que todas as
mulheres recenseadas votem", observou Pinto.
A lei guineense não permite observadores
eleitorais nacionais, mas Elisa Pinto acredita que a ação do grupo de
monitorização da sociedade civil "não só é importante como
necessária" para que as eleições decorram "sem sobressaltos" a
partir da chamada alerta precoce de eventuais ameaças.
No final das eleições, as
organizações de monitorização "esperem ter contribuído para um processo
justo, transparente, seguro e inclusivo", factos que serão divulgados,
após o escrutínio, através de documentação.
A ação do grupo é
financiada pela União Europeia e pelo Fundo da Consolidação da Paz das
Nações Unidas.
Braima Darame (Bissau), Agência
Lusa | Deutsche Welle
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