quinta-feira, 28 de março de 2019

Portugal | O mundo ao contrário


Rafel Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

1. Vai por aí uma grande celeuma por causa das relações familiares entre ministros, secretários de Estado, chefes de gabinete e afins deste Governo. A indignação é incompreensível.

Como vão repetindo alguns elementos da família, julgando em causa própria - o que só revela desembaraço -, ninguém pode ser prejudicado na sua vontade de servir Portugal e os portugueses só por ser filho, pai, tio, sobrinho, primo, irmão, avô, neto, cônjuge, namorado ou amante de um outro destacado servidor público. Não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar talento. E ainda menos um bom salário, refeições pagas, telemóvel de última geração, carro e eventualmente motorista. Se resvalássemos para esse puritanismo, o país estaria, não tarda, a pôr em causa o mérito de um cartão de militante partidário, que, para além constituir um atestado de competência, é também uma certidão de saudável pertença familiar. Finalmente, cabe recordar que está matematicamente demonstrado que somos todos descendentes de D. Afonso Henriques. No fundo, somos todos primos.



2. Mário Centeno não tem familiares no Governo. É um dos seus defeitos. Veja-se outro: foi contratado para ter as contas em ordem e, rompendo com uma longa tradição democrática, cumpriu o contrato. Uma tolice disruptiva que deixou PSD e CDS sem chão. Mas não sem reação. Assunção Cristas já disse que o ministro das Finanças leva os serviços públicos ao mínimo e a carga fiscal ao máximo. E Rui Rio que o brilharete se faz "à custa de um enorme aumento de impostos". Esta insistência na canga fiscal que pesa sobre os portugueses é coerente com a história recente dos dois partidos. Quem não se lembra da "brutal" redução do IRS de 2012 que protagonizaram? Ou da recusa heroica de Passos Coelho em aumentar os descontos para a Segurança Social, apesar do povo ter saído à rua para exigir esse agravamento? Ou ainda a decisão de aumentar o subsídio de desemprego em 10%, que permitiu, ao longo de quatro anos, um bónus de 267 milhões para 453 mil pessoas desempregadas?

*Chefe de Redação

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