Domingos de Andrade* | Jornal de
Notícias | opinião
É um círculo vicioso. Cada vez
menos povoado, o interior do país vai perdendo representatividade e peso
político. Sem voz no Parlamento, cresce a dificuldade de ver debatidas e
aprovadas medidas que equilibrem a balança a seu favor. Desde 2002, o interior perdeu
seis deputados e nas próximas legislativas prepara-se para uma redução de mais
dois.
Não deixará de haver um político
que bata no peito a lamentar o sucedido. O problema é que nem por isso se
preparou, com tempo, uma reforma do sistema eleitoral que evitasse a crescente
distorção do território.
Este é o Governo que criou uma
Secretaria de Estado para a Valorização do Interior. Mas uma coisa é o sinal de
boa vontade (ou propaganda?), outra a aprovação de medidas com impacto direto
no terreno. Essas, claro, ou incomodam ou custam dinheiro. Eliminar portagens
nas antigas SCUT, por exemplo. Assumir um choque fiscal capaz de atrair
investimento. Descentralizar serviços e admitir que a administração central
saia dos limites do Terreiro do Paço.
Um país que não está devidamente
representado na Assembleia da República é a prova provada da falência do
próprio sistema político. De um conjunto de eleitos que os eleitores mal
conhecem, que saem pouco nos dias em que deveriam ter trabalho nos círculos que
os elegem, que passam sessões legislativas inteiras sem uma única intervenção
no hemiciclo.
E na verdade, na verdade
verdadeira, também não fará muita diferença. Mais deputado, menos deputado,
porque a maioria está lá para servir os diretórios partidários e não o interesse
de quem os elegeu. E essa é a questão fulcral. Há anos que se arrasta o debate
em torno de propostas como a de criação de círculos uninominais. Seja essa ou
outra via para reformar o sistema, algo tem de ser feito no sentido da coesão e
da representatividade do todo e das suas partes. Não apenas para que o país
pare de morrer aos poucos, mas para que também a classe política recupere o
respeito e a confiança daqueles que é suposto representar.
*Diretor do JN
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