Jorge Rocha* | opinião
Não vi o debate quinzenal desta
tarde (8/3) durante muito tempo, que outros compromissos se tonaram mais
prioritários. Do pouco a que assisti, sobre a questão dos prejuízos no Novo
Banco como leitmotiv, foi fácil discernir duas perspetivas opostas:
lançando as hostilidades a partir do histrionismo irritante de Heloísa Apolónia
as esquerdas, que se juntaram ao Partido Socialista para, nestes três anos,
viabilizarem o governo de António Costa, ou se fazem de lerdas, ou são-no
mesmo. O primeiro-ministro foi exemplar na forma como explicou as razões,
porque nem nacionalizou o Banco, nem o deixou falir: num e noutro
caso os custos para os contribuintes teriam sido, e ainda se arriscariam a ser
bem maiores, e com o risco acrescido de ver o que resta do sistema bancário
nacional ir pelo cano de esgoto.
Hoje é possível concluir que não
havia um Banco mau e um Banco bom. A gestão incompetente, e por isso mesmo
criminosa do antigo DDT, transformou o Grupo Espírito Santo numa ruína tal, que
só dele se deu in extremis a mão a um Banco péssimo e a um
Banco mau. Daí que sejam injustas as críticas dos aliados políticos, que
verberam quem quer resolver a crise do BES com os menores custos económicos e
financeiros para os portugueses. E quero crer que têm disso consciência: o fazerem-se
de lerdos apenas tem a ver com o jogo politiqueiro de usarem a demagogia mais
básica para sublinharem as suas divergências ideológicas.
Mas muito pior se comportam os
partidos das direitas. A começar pelo CDS, que nunca poderá ser dissociado de
dar tanta importância à bancarrota do BES - essa sim merecedora de usar-se uma
palavra que demasiadas vezes surge na boca de Cristas para criticar o governo,
que levou em cima com a crise financeira internacional de 2008! - que a sua
líder confessou ter assinado a Resolução de 3 de agosto de 2014, quando vinha
da praia. Esse momento serviu para demonstrar a irresponsabilidade congénita de
Assunção Cristas quanto a cuidar dos interesses nacionais, não se imaginando
que mais será preciso revelar para que seja merecidamente votada ao blackout político
a que, desde então, se deveria ter conformado.
Mas que dizer do PSD, que tem o
despudor de arvorar indignação, quando foi Maria Luís Albuquerque quem prometeu
custo zero para os portugueses com uma resolução demasiado tardia, porque
consequência do permanente empurrar a realidade do BES com a barriga até se
revelar impossível qualquer boa solução para uma crise bancária, que já fizera
sucumbir o Banco Português de Negócios do universo cavaquista, o Banco Privado
Português de João Rendeiro e trazia no rasto o Banif do falecido Horácio Roque?
Ou, como pode o PSD dissociar-se da realidade factual de Durão Barroso, Marcelo
Rebelo de Sousa e Cavaco Silva, acompanhados das respetivas esposas ou
companheira, terem-se reunido em aprazível convívio na vivenda de Ricardo
Salgado para decidir a primeira candidatura do ex-primeiro-ministro algarvio à
Presidência da República? Não terá sido essa a explicação para, mesmo quando a
falência estava à vista, Cavaco imitar o célebre ministro da Propaganda de
Saddam Hussein, declarando o BES uma instituição sólida? Ou como explica o PSD
o ter sido o partido a responsabilizar-se pela nomeação do unanimemente
execrado Carlos Costa para o Banco de Portugal, com Cavaco e Passos Coelho a
pressionarem o enfraquecido José Sócrates a aceitar-lhes a «sugestão», não
estando o então primeiro-ministro em condições de negar-lhes a vontade? E, como
esquecer que foi este mesmo governador do Banco de Portugal, entretanto
renomeado para novo mandato por Passos Coelho, quem designou o braço-direito do
ministro Pires de Lima (do CDS, recordemo-lo!) para ganhar 30 mil euros mensais
na procura de comprador do Novo Banco, depois de ter mostrado os seus «dotes»
nas privatizações desastrosas da ANA, dos CTT, da CP Carga ou da TAP?
Com um curriculum tal, como podem
o PSD e o CDS criticar quem tudo anda a fazer para limpar a porcaria toda que
deixaram de herança?
A exemplo dos políticos dos
partidos, que criticam á esquerda, os das direitas sabem bem tudo isso. Se
tiverem um mínimo de consciência reconhecerão consigo mesmos o quão desonestos
estão a revelar-se nas suas demagogas diatribes. Mas alegarão consigo mesmos
que, nesta situação, têm de dizer qualquer coisa, nem que sejam descabeladas
mentiras.
*jorge rocha | Ventos Semeados
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