A criação de 500 mil postos de
trabalho foi uma das promessas eleitorais do Presidente João Lourenço em 2017.
Em Angola, duvida-se que, com o
Plano de Ação para Promoção da Empregabilidade (PAPE), o Governo de João
Lourenço consiga cumprir a promessa eleitoral de garantir 500 mil empregos para
os angolanos, apesar de disponibilizar o equivalente a 58 milhões de euros para
o combate ao desemprego.
Em declarações à DW África, o
jornalista angolano Jorge Neto afirma que o principal obstáculo ao
cumprimento da promessa é a corrupção que ainda grassa no país.
"Fala-se em luta contra a
corrupção, mas são os mesmos corruptos que estão colocados nos mesmos postos, e
isso não vai mudar agora. Portanto, eu não acredito que até 2021 se consiga
criar estes postos de trabalho", comenta Neto.
Decreto para combater o
desemprego
O Presidente angolano aprovou, na
semana passada, por decreto, o PAPE para combater a taxa de desemprego no país,
estimada em quase 29%. Os 58 milhões de euros previstos no plano provirão do
Orçamento Geral do Estado e do Fundo Petrolífero, devendo beneficiar
sobretudo os jovens ou quem procura o primeiro emprego.
Jorge Neto, diretor do Jornal
Manchete, alerta que é "preciso ter-se muita atenção para que esse
dinheiro também não vá parar a sítios onde sabemos que já foi parar muito
dinheiro".
"O valor disponibilizado é,
de facto, relevante. Agora, a eficiência, a eficácia dos projetos, a seriedade
desta empreitada é que poderá colocar em causa a eficiência. Não é o problema
da crise", acrescenta.
Angola é assolada por uma crise
económica e financeira desde finais de 2014 como consequência da baixa do preço
do petróleo no mercado internacional. Mas o jornalista diz que isso já não é
desculpa, pois, os próprios empresários adaptam-se.
"É de louvar"
Para o presidente do Movimento
dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, 58 milhões de euros para o
emprego dos jovens é uma ótima notícia.
Em dezembro do ano passado,
Teixeira foi para as ruas de Luanda protestar contra a demora na criação dos
500 mil postos de trabalho prometidos por João Lourenço. Mas agora aplaude a
iniciativa do Presidente: "É uma medida de louvar por parte da
Presidência da República. Mostra que é um Presidente sério, porque na época
eleitoral ele prometeu e está agora a tentar cumprir", diz o líder do MEA.
No entanto, o dirigente
associativo pede a inclusão de instituições juvenis na fiscalização da
implementação destes projetos e não apenas o Instituto Nacional do Emprego e de
Formação Profissional (INEFOP), como prevê o decreto presidencial.
"Há necessidade de se criar
um gabinete técnico de jovens para supervisionar o processo. Porque os
processos são entregues a determinadas instituições do Estado, mas sem o
acompanhamento direto das instituições juvenis", adverte.
Evitar partidarização
Isso evitará também a
partidarização do projeto, refere ainda Teixeira - para que não seja
preciso ter cartão do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de
Angola (MPLA), para beneficiar do dinheiro.
"Temos assistido noutros
projetos a uma atitude menos boa dos membros da juventude do MPLA. São eles que
definem os projetos, quem vai e quem não vai, e depois vão pedir cartão de
militante. Estamos numa outra república, estamos numa sociedade diferente - há
quem diga que estamos num país novo. Há necessidade de a cidadania superar as
questões partidárias", sublinha o líder do MEA.
Durante a campanha eleitoral, o
Presidente João Lourenço não prometeu apenas a criação de 500 mil postos de
trabalho. Prometeu também combater a corrupção e a impunidade, apoiar o
empresariado nacional e melhorar as condições de vida da população.
O jornalista Jorge Neto lembra o
chefe de Estado que o seu "período de graça" já terminou e é hora de
pôr a "mão na massa".
"Quero acreditar que a
disponibilidade deste plano de ação e promoção de empregabilidade que o
Presidente da República acabou de criar através do Decreto 113/19, de 16 de
abril, vem exatamente dar indicativos de que já não há tempo para mais, ou seja,
'fiz promessas eleitorais, tenho agora que cumprir'."
Desemprego aumentou 8,8 %
O desemprego em Angola aumentou
8,8% e atinge mais as famílias que vivem nos grandes centros urbanos, noticiou
esta sexta-feira (26.04) o jornal angolano Expansão, que cita um relatório do
Instituto Nacional de Estatísticas (INE) sobre o Inquérito de Despesas,
Receitas e Emprego em Angola (IDREA), divulgado na semana passada.
Segundo o documento do INE, por
cada 100 jovens com idades entre os 15 e os 24 anos, 52 estavam no desemprego
em 2018 - ao todo, 2,1 milhões de pessoas.
Ainda de acordo com o
INE, entre março de 2018 e fevereiro de 2019, 60% dos jovens com idades
entre os 18 e 19 anos estavam desempregados, sendo esta faixa etátria a mais
afetada pelo desemprego em Angola.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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