domingo, 7 de abril de 2019

Angola | Revés na Unitel: que futuro tem o império empresarial de Isabel dos Santos?


O império empresarial de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano, parece ter os dias contados. Os seus principais negócios estão ameaçados pela nova era política em Angola, liderada por João Lourenço.

O império empresarial de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano, parece ter os dias contados. Analistas ouvidos pela DW África dizem que ela "perdeu o apoio da Sonangol” na UNITEL e as suas outras empresas, como o hipermercado Kandando, podem ir à falência. Além disso, há pouco tempo o Presidente João Lourenço retirou da tutela de Isabel dos Santos a coordenação do Plano Diretor Geral Metropolitano de Luanda e da construção da barragem Caculo Cabaça.

Apesar de ter sido reeleita em março deste ano para o conselho de administração da operadora angolana Unitel, para o período 2019/21, Isabel dos Santos parece não estar a gozar de boa simpatia por parte de outros accionistas da operadora de telefonia móvel, como a brasileira "Oi”.


É o que diz o jornalista angolano Ilídio Manuel, em declarações à DW África.A Oi detém 25% da Unitel e reclama na Justiça holandesa uma compensação por transações que, segundo a empresa brasileira, foram feitas com o propósito de a empresária "se enriquecer a ela própria e às companhias suas associadas, entre elas, a Unitel International Holdings.”Mas não é só a empresária angolana também já não tem o apoio da Sonangol, uma das accionistas da Unitel, sublinha Ilídio Manuel. "Isabel dos Santos perdeu o apoio da Sonangol, que por sua vez aliou-se aos brasileiros da "Oi”. Nesta situação ela conta apenas com o apoio do general "Dino” Nascimento. Significa que estamos numa posição de impacto”.

Intervenção de João Lourenço

Em Julho de 2018, o Presidente angolano João Lourenço, excluiu duas empresas, uma das quais associada a Isabel dos Santos, do consórcio encarregue da construção, por mais de quatro mil milhões de dólares (4.500 milhões de dólares), da barragem de Caculo Cabaça, que será a maior do país. Trata-se do consórcio CGGC & NIARA Holding Limitada.

Também em abril do ano passado, João Lourenço colocou nas mãos da ministra do Ordenamento do Território e Habitação a coordenação do Plano Diretor Geral Metropolitano de Luanda, um projeto elaborado e que seria executado por uma das empresas de Isabel dos Santos.

Para Ilídio Manuel, esta perda de influência está a enfraquecer a empresária. "É natural que depois de sucessivos desaires que ela tem vindo a sofrer com a perda de influência em empresas estratégicas como no domínio dos cimentos e no domínio das grandes obras, e ela sinta-se retraída”.

Império empresarial em dúvida

Em Angola, a empresária investiu em empresas como hipermercado Kandando, a televisão por satélite ZAP bem como em participações na banca angolana. Uma pergunta que não se quer calar é: será que a filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos vai ter dificuldades em continuar a investir em Angola? Ilídio Manuel afirma. "Não acredito que ela esteja motivada a fazer novos investimentos em Angola. Aliás, há uma erosão progressiva das suas empresas”.

O analista aponta o caso da rede de hipermercados de Isabel dos Santos. "Por exemplo, o (hipermercado) Kandando, não sei se vai sobreviver por quanto tempo, ela tem muita cooperação, sobretudo portuguesa nessas empresas, acredito que os salários chorudos que ela está pagando e o mercado que nós temos com uma série de dificuldades, não sei se vai sobreviver”.

Ilídio Manuel aponta mais obstáculos aos negócios de Isabel dos Santos. "É forçada agora a pagar as taxas assim como os impostos. Há fortes suspeitas de que no passado as empresas delas conseguiram obter grandes lucros justamente porque ela não pagava os impostos”.

Passado posto em causa

Isabel dos Santos, de 45 anos, foi considerada em 2014 pela revista norte-americana Forbes como a mulher mais rica de África, com uma fortuna estimada em três mil milhões de dólares. Mas essa riqueza terá sido adquirida por tráfico de influências, desconfia o ativista angolano Benedito Jeremias. "Não podemos dizer que a Isabel dos Santos é uma empresária que está bem-sucedida pelo fruto do seu trabalho ou porque soube na verdade investir. Ao longo da sua trajetória, ela encontrou as facilidades dentro da presidência, na pessoa do pai dela José Eduardo dos Santos e dos amigos do pai”.

Para Benedito Jeremias, a empresária terá de criar estratégias para manter-se na lista de uma das mulheres mais ricas do continente africano. "O tempo das vacas gordas, o tempo das facilidades, acabou. Agora é o tempo dela agregar todo o seu conhecimento técnico e económico para poder para poder contornar a situação. De outra forma não vejo a Isabel dos Santos a singrar, a continuar daqui a 15 ou 20 anos como uma das mulheres mais ricas de África e como uma empresária bem-sucedida em Angola”.

Manuel Luamba | Deutsche Welle

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