Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de
Notícias | opinião
Pode um patrão valer por 52
trabalhadores? Não. A nenhum homem ou mulher pode ser dado esse poder.
Independentemente da sua condição social ou profissional. Mas sendo essa uma
impossibilidade filosófica, é um facto que os CEO das principais empresas cotadas
na Bolsa portuguesa obtiveram no ano passado um rendimento médio 52 vezes
superior ao de cada funcionário. Fosso salarial que, ano após ano, se vai
repetindo e que traduz a natural vocação dos grandes grupos económicos em
privilegiar os acionistas em detrimento dos empregados. A lógica é a de sempre:
a obtenção de resultados redunda no pagamento de prémios chorudos aos gestores
e de dividendos aos donos. São as regras do mercado. Mas a dimensão das
empresas e dos empresários não se mede apenas na riqueza e nos postos de
trabalho gerados, mas também, e cada vez mais, na forma como coletivizam os
lucros. E por coletivizar entenda-se democratizar, universalizar, recompensar.
No fundo, gerir com justiça. A The Navigator Company, cujo CEO Diogo da
Silveira terminou o ano de 2018
a ganhar 23 vezes mais do que os trabalhadores, deu,
pese embora esta discrepância salarial, um exemplo que merece nota. Os
acionistas aprovaram a distribuição de 23 milhões de euros em prémios aos 3200
trabalhadores (cerca de 7200 euros por cabeça). Ora, isto só foi possível
porque o grupo registou a melhor performance da sua história (225 milhões de
euros de lucro, uma subida de 8%), embora isso em Portugal não seja condição
obrigatória para nenhum tipo de altruísmo. Aliás, ninguém estranharia que o
quinhão agora reservado aos funcionários tivesse ido parar ao bolso dos
acionistas. Mas não: ao melhor resultado de sempre, a The Navigator Company
decidiu atribuir o prémio mais elevado de sempre aos trabalhadores. Certamente
que nem todas as empresas podem dar-se a este luxo (devíamos chamar-lhe
normalidade), mas fica provado que a busca de resultados e a sujeição às regras
do capitalismo não são um bicho-papão. E que é possível conciliar a derradeira
missão de uma empresa (o lucro) com a responsabilidade social perante aqueles
que, em diferentes patamares de responsabilidade, alimentam o êxito. É assim
que se mede o valor dos patrões.
*Diretor-adjunto
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