Trabalhadores grevistas do
Caminho-de-Ferro de Luanda denunciaram o ferimento de pelo menos 12 colegas e a
detenção de outros três numa intervenção da polícia para garantir os serviços
mínimos da circulação de comboios.
A informação, avançada à agência
Lusa esta segunda-feira (13.05.) pelo secretário para informação da comissão
sindical do Caminho-de-Ferro
de Luanda (CFL), Lourenço Contreiras, dá conta ainda que se encontra
no local um elevado número de polícias, das divisões municipais do Cazenga,
Sambizanga, Rangel e Cazenga, auxiliados pela brigada canina. Em causa está a
retomada dos serviços mínimos, exigidos por lei em situação de greve.
Na sexta-feira (10.05.), o
Conselho de Administração do CFL anunciou o início esta segunda-feira dos
serviços mínimos diários, entre as 06:00 e as 18:13, com seis comboios de
passageiros suburbanos, operações interrompidas devido à greve e que contavam
apenas com duas composições.
A nota da empresa dava conta que,
no sábado (11.05.), iria circular um comboio para serviços técnicos para
avaliar o estado das linhas e garantir as condições de circulação.
Efetivos da polícia no local
Segundo Lourenço Contreiras, desde sábado um elevado número de efetivos da
polícia encontra-se no local, tendo os trabalhadores grevistas sido persuadidos
a ceder à realização dos serviços mínimos."Esta manhã, quando nos
dirigíamos às instalações, infelizmente, encontrámos o espaço todo vedado pela
polícia, com brigada canina e superequipados e impossibilitaram a nossa
entrada", contou Lourenço Contreiras.
O sindicalista disse que, face à
situação, os trabalhadores grevistas dirigiram-se para a passagem de nível na
Estação dos Musseques, mas foram afastados do local pela polícia.
"Na medida que vinham ao
nosso, encontro vinham usando os porretes, atingiu vários colegas, uma colega
foi atingida na cabeça e caiu sobre a linha", contou o sindicalista. Lourenço Contreiras disse que também foi atingido durante a ação da polícia,
encontrando-se ferido.
Serviço garantido por não
grevistas
Entretanto, a circulação do
comboio efetivou-se, tendo chegado a Viana e já regressado à Estação do Bungo,
adiantou o secretário para a informação da comissão sindical, frisando que o
serviço foi garantido pelas chefias e alguns trabalhadores não grevistas.
"Não sabemos com quem
estamos metidos, não se acredita que num país, onde há liberdade sindical, os
trabalhadores, por reclamarem um direito, vivam esse terror que estamos a
viver", lamentou.
CFL reconhece direito à greve mas
recusa chantagens
O Caminho-de-Ferro de Luanda
(CFL) reconhece o direito àgreve
dos seus trabalhadores, mas exige que seja respeitado o "direito de
quem queira trabalhar", disse o porta-voz da empresa.
Augusto Osório reagia à situação
que se verificou na manhã desta seguna-feira no CFL, na sequência da retomada
dos serviços mínimos exigidos por lei em caso de greve, que originou a
intervenção da polícia e ferimentos e detenções de alguns dos trabalhadores
grevistas.
Segundo Augusto Osório, na manhã
desta segunda-feira, tal como estava previsto, às 06:00 partiu o comboio de
passageiros da Estação do Bungo com destino à Estação de Viana, mas, diante da
passagem de nível do Cazenga, um grupo de grevistas impediu a circulação do
comboio colocando-se na linha.
"Naturalmente, houve
intervenção policial, que procurou conversar e sensibilizar os grevistas para a
violação da lei que estavam a cometer", referiu.
Intervenção policial foi
pedagógia
O porta-voz do CFL salientou que
a intervenção da polícia foi pedagógica, esclarecendo que "não estava ali
para privar os grevistas de manifestarem qualquer intenção
reivindicadora".
"A polícia, claramente,
apontou o facto de eles estarem a violar a lei e que não podia continuar a
permitir a violação das normas, protagonizando esta situação de violação à
segurança pública, de desacato às autoridades", frisou, garantindo que a
empresa irá responsabilizar os grevistas em causa "até às últimas
consequências".
Augusto Osório disse que a intervenção
da polícia foi no sentido de "repor a ordem pública e a lei", através
dos seus métodos, tendo de "usar a força para a retirada dos indivíduos da
linha férrea"."O Conselho de Administração reconhece o direito que as
pessoas têm em fazer a greve, isto é um direito constitucional. Não queremos
outra coisa senão que eles, no respeito ao direito deles, respeitem também o
direito de quem queira trabalhar, juntar-se ao esforço para servir as
populações e atingir aquilo que é objetivo social do Caminho-de-Ferro de
Luanda", salientou.
Atos de violência e chantagem
O responsável acusa os grevistas
de protagonizarem atos de "violência, chantagem", para impedir
"qualquer uma outra pessoa que queira trabalhar de o fazer".
"Não sei que tipo de
sindicalismo esses indivíduos querem fazer. Gostaria de questionar a central
sindical que está por trás desses sindicalistas, que tipo de sindicalismo, se
eles se reveem nesta violência, nestas atitudes de arruaça, de desordem pública.
Eu próprio fui ameaçado de morte pelo simples facto de prestar declarações à
imprensa, é esse sindicalismo que temos", disse.
"Isso, para nós, é uma
sabotagem, que tem fins para lá dos meramente laborais, fins meramente
reivindicativos. Querem é sabotar o Caminho-de-Ferro de Luanda para atingir
fins políticos inconfessos, mas para isso recorrem a todo o tipo de
ilegalidade, de arruaças, de situações inimagináveis", continuou.
Negociações continuam
Questionado sobre se diante do
quadro vão continuar as negociações, Augusto Osório referiu que existe um
acordo entre as partes, que está a ser cumprido, com exceção do aumento
salarial na ordem dos 80%, por falta de condições da empresa.
"As negociações não devem
ser feitas 'ad eternum', houve negociações de que resultou o acordo, que está a
ser cumprido. O que tem que ser permanente é o diálogo e a concertação",
disse.
"O Estado não deve ceder a
chantagens de um grupo de indivíduos. O Estado vai continuar a atingir os seus
objetivos e todos aqueles que estão a ameaçar e envolvidos em situações ilegais
vão ser responsabilizados de acordo com as leis. Vamos até às últimas
consequências no serviço que temos de prestar às populações e tendo sempre em
cumprimento as leis do país", acrescentou.
Agência Lusa, ar | Deutsche Welle
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