quarta-feira, 8 de maio de 2019

Moçambique | Nyusi mente


Empresários desmentem Nyusi, perspectivas caíram “para o nível mais baixo em quase dois anos e meio” em Moçambique

Os indicadores macroeconómicos que o Presidente Filipe Nyusi afirmou demonstrarem fortes sinais de “retoma da economia” não passam de retórica política. Os empresários em Moçambique sentem que as perspectivas para o futuro caíram “abruptamente para o nível mais baixo em quase dois anos e meio”, revela o mais recente índice Purchasing Managers’ Index (PMI) do Standard Bank.

Discursando no encerramento do Comité Central do seu partido o Presidente Filipe Nyusi declarou que: “Reconhecemos contudo que o desempenho dos indicadores macroeconómicos situam-se fora dos parâmetros inicialmente previstos no Programa Quinquenal do Governo, mas demonstram fortes sinais de resiliência e retoma da economia. Os resultados sobre o desempenho do Governo da Frelimo motivam-nos o facto de constatarmos o aumento da produção agrícola, o controlo da inflação, criação de postos de emprego (...) observa-se a estabilização dos indicadores macroeconómicos, condição indispensável para a atracção dos investimentos”.

Porém para o economista-chefe do Standard Bank: “Os dados disponibilizados recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística demonstram que a economia cresceu 3,3 por cento face ao ano anterior durante 2018, tendo sido a taxa de crescimento mais baixa desde 2001”.


Na óptica de Fáusio Mussá o Banco de Moçambique (BM) “evidenciou alguma preocupação relativamente às possíveis pressões de liquidez cambial, limitações fiscais e implicações a nível da inflação. A flexibilização da política monetária estagnou, tendo a taxa de política principal ficado inalterada com 14,25 por cento desde Dezembro de 2018, e com um aumento inesperado do rácio de reservas mínimas de divisas para 36 por cento. A inflação nacional encerrou o mês de Março com 3,4 por cento, um valor ligeiramente mais elevado que os 3,1 por cento que haviam sido registados para o mesmo período em 2018. Continuamos a observar a evolução do aumento da inflação média de 12 meses, apesar de continuar dentro das previsões de 6 por cento a 7 por cento” do BM.

“O par USD/MZN continua a aumentar, reflectindo uma combinação de fatores que continuam a pressionar a liquidez cambial no mercado. Desde o final de setembro do ano passado, o par aumentou em 6,5% para 64,6, o nível mais elevado em 24 meses. O par vai continuar a aumentar antes de inverter a tendência no segundo semestre, provavelmente devido às decisões finais quanto ao investimento no gás natural previsto para este ano”, indica ainda o economista-chefe do Standard Bank no índice económico PMI tornado público nesta terça-feira (07).

O @Verdade revelou recentemente que o Governo vai em breve rever em baixa as projecções de crescimento real do Produto Interno Bruto em 2019 de 4,7 por cento para apenas 1,8 a 2,8 por cento. A taxa de inflação média anual que foi estimada em 6,5 por cento será revista para 8,5 por cento até ao final do ano.

“Sentimento empresarial em relação ao futuro decaiu abruptamente em Abril”

O Purchasing Managers’ Index de Abril revela que: “As condições para as empresas do sector privado na economia de Moçambique foram fracas em Abril, com a produção, novas encomendas e o emprego a crescerem a taxas mais lentas. Os preços dos meios de produção aumentaram a um ritmo relativamente moderado, enquanto que o sentimento das empresas relativamente ao futuro caiu abruptamente para o nível mais baixo em quase dois anos e meio”.

“O indicador PMI caiu de 50,4 em Março para 49,9 em Abril, assinalando uma deterioração muito ligeira nas condições para as empresas no início do segundo trimestre. Foi a primeira vez em dez meses que o PMI deslizou para baixo da marca inalterada dos 50,0”, refere o documento que é produzido través de inquérito mensal aos gestores de compras de um conjunto de cerca de 400 empresas a operarem em Moçambique.

No Purchasing Managers’ Index de Abril “As firmas moçambicanas consideraram que as condições de funcionamento foram prejudicadas por um crescimento da produção mais fraco durante o mês de abril. A taxa de expansão abrandou para o valor menos acentuado desde Agosto de 2018. Evidências pontuais refletiram uma redução menos acentuada das pressões da procura por todo o sector privado, tendo algumas companhias referido a falta de stocks e problemas de financiamento que conduziram a uma menor produção”, pode-se ler.

“De acordo com os relatórios do painel, a procura foi parcialmente afectada pela réplica do Ciclone Idai. Não obstante, as novas encomendas parecem ter ultrapassado a actividade, dado as empresas terem declarado um ligeiro aumento de encomendas em atraso pela primeira vez até à data, em 2019”, indica o PMI.


 O documento económico constatou que: “A taxa de criação de emprego desacelerou assinalavelmente desde Março, com as empresas a registarem apenas um aumento marginal no emprego. Os membros do painel reduziram também as aquisições pela primeira vez em 13 meses, atribuindo o facto a um excesso de oferta dos inventários durante este período de fraco crescimento da procura. Como tal, os níveis dos stocks caíram, embora de modo fraccionado”.

“Com o crescimento da procura a deslizar e a economia a sofrer o impacto do Ciclone Idai, o sentimento empresarial em relação ao futuro decaiu abruptamente em Abril. As expectativas permaneceram globalmente positivas, mas encontravam-se no seu nível mais baixo desde Novembro de 2016”, concluiu o barómetro empresarial do Standard Bank.

 Adérito Caldeira | @Verdade

Sem comentários:

Mais lidas da semana