Os partidos da oposição em
Moçambique não têm tirado vantagens dos vários problemas de governação que o
país enfrenta, diz analista entrevistado pela DW África.
Um dos principais objetivos do
Comité Central da FRELIMO, o partido no poder, que decorreu de 3 a 5 de maio na cidade da
Matola, província de Maputo (Moçambique), era traçar a estratégia para as
eleições gerais de 15 de outubro próximo. Mas como o sucesso depende muito do
segredo nada foi revelado ao público. Entretanto, a atual conjuntura nacional e
até interna do partido permite adivinhar as bases que irão nortear as
estratégias. A DW África entrevistou o analista político Eduardo Sitói sobre as
prováveis táticas do partido que governa Moçambique.
DW África: Que estratégias a
FRELIMO irá usar para o embate eleitoral de outubro próximo?
Eduardo Sitói (ES): Aquilo
que a FRELIMO está ou deixou de fazer conta menos. A ideia da estratégia
eleitoral julgo o que conta mais é a ineficácia dos partidos da oposição em
mobilizar as pessoas por forma a tirarem vantagens, digamos assim, de algo que
possa mudar a opinião pública face aos vários problemas de governação que a
FRELIMO tem. Então, uma vez que existe esta ineficácia e um retrocesso na
capacidade de alguns desses partidos, é esta infelizmente a situação que faz
com que não conheçamos as estratégias, mas não podemos esperar muita coisa.
DW África: Há determinados
setores que especulam sobre uma aproximação entre a FRELIMO e o MDM, a segunda
maior força da oposição, nas próximas eleições. Tem a mesma perceção?
ES: Não, porque penso que o
MDM ficou pelo caminho. Especulava-se primeiro sobre a possibilidade de uma
aliança eleitoral entre o MDM e a RENAMO, a principal força da oposição, uma
aliança eleitoral que parecia viável com aquilo que constatamos nas
eleições intercalares em Nampula. Mas depois disso, enquanto se esperava que nas
eleições de outubro último para as autarquias, o MDM e RENAMO voltariam a ter
esta estratégia, tudo se desmoronou e táticamente o MDM esteve muito mais
próximo da FRELIMO. Neste momento não se sabe muito bem o que é que o MDM está
a fazer ou qual é a estratégia efetiva que está a traçar, embora a animosidade
entre o MDM e a RENAMO infelizmente ainda se mantenha e que isso possa ser
capitalizado pela FRELIMO. Mas julgo que a FRELIMO dificilmente iria fazer isso
porque o MDM é um grupo que originalmente deriva da própria RENAMO...
A possibilidade de se dar total confiança a esse partido julgo muito
discutível por parte da FRELIMO.
DW África: Uma estratégia
eleitoral assente numa campanha anti-corrupção como forma de se auto-atribuir
credibilidade e legitimidade seria algo a ser aventado?
ES: Penso que as pessoas não
dariam muita credibilidade a FRELIMO se esse partido quisesse concorrer com uma
estratégia anti-corrupção. A oposição poderia utilizar melhor essa estratégia
porque no público em geral a perceção é grande no sentido de que as condições
económicas do país não são as melhores e tem ligações com os problemas de
corrupção que afetaram a governação nos últimos anos. Mas o que digo é que há
muita pouca capacidade dos partidos da oposição para mobilizar e explorar esse
facto.
DW África: Até que ponto o
suposto envolvimento do Presidente Filipe Nyusi no caso das dívidas ocultas lhe
pode ser penalizador nas próximas eleições?
ES: Se esse envolvimento
fosse provado e os dados aparecessem com alguma nitidez isso poderia ser
problemático. O que se pensava que iria acontecer nessa reunião do Comité
Central, ou seja uma certa contestação interna da liderança de Nyusi, tudo isso
não aconteceu. O facto que aconteceu ao nível do Comité Central foi a
liderança de Nyusi ter saído reforçada...
Nadia Issufo | Deutsche Welle
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