O 1.º de Maio foi sempre um
momento alto da unidade e da luta dos trabalhadores portugueses pela defesa do
regime democrático e das conquistas de Abril, por melhores condições de vida e
de trabalho e por um País mais justo e fraterno.
Rogério Silva | AbrilAbril |
opinião
Por muito que se tente abreviar,
não é possível falar sobre o 1.º de Maio sem que nos venham à memória as suas
origens, que nos remetem para a luta heróica do proletariado do século XIX,
contra as brutais condições de trabalho, impostas pelo sistema de exploração
capitalista, e para os acontecimentos de 1886 em Chicago, que constituem um
marco inolvidável na luta pela conquista das oito horas de trabalho.
Tudo começou no primeiro
Congresso da Associação Internacional do Trabalho (AIT), realizado em 1866 em Genebra,
que fixou o objectivo das oito horas de trabalho, como limite máximo da jornada
de trabalho diário.
Impulsionado pela justeza desta
decisão, nos anos 70 e 80 do seculo XIX, verifica-se, em especial nos EUA, um
forte ascenso da luta do movimento operário, dirigido pela Federação dos
trabalhadores dos Estados Unidos e Canadá, que, na sua quarta conferência
anual, realizada em 1885, em Chicago, decidiu realizar uma greve geral, a
iniciar no dia 1.º de Maio do ano seguinte, em que o principal objectivo era a
conquista das oito horas de trabalho.
A força bruta policial, que se
abateu sobre centenas de milhares de trabalhadores em luta, as prisões,
massacres e condenações à morte, que marcaram os acontecimentos sangrentos de
Chicago, traduzem a natureza repressiva do capital, que a burguesia
tradicionalmente utiliza, para tentar perpetuar a exploração da força de
trabalho e aumentar os lucros e a concentração da riqueza.
Mas não conseguiram impedir a
vitória dos trabalhadores: dezenas de milhares de trabalhadores alcançaram de
imediato a redução da jornada de trabalho e, quatro anos depois, em 1890, o
Congresso Americano aprovou a redução do horário de 16 para oito horas
diárias. Foram acontecimentos que provocaram um enorme impacto no
proletariado mundial, gerando um forte movimento de solidariedade.
Os congressos operários de Paris
realizados em 1889, que contaram com a participação de dois delegados
portugueses, decidiram internacionalizar o 1.º de Maio, declarando-o como dia
de luta do proletariado de todo o mundo, pela jornada de trabalho de oito horas,
e pelos demais direitos, dando assim um importante passo na luta organizada do
trabalho contra o capital.
Desde 1890, ano das primeiras
manifestações associadas aos objectivos do 1º de Maio, que este dia passou a
constituir um importante momento de afirmação da solidariedade
internacionalista, com os trabalhadores de todo o mundo, unidos na luta contra
a exploração capitalista, pela conquista e defesa de direitos sociais e
laborais e pela emancipação dos povos e dos trabalhadores, enquanto classe.
Em Portugal, o 1.º de
Maio que já era comemorado durante os últimos anos da monarquia, com
contornos de solidariedade internacional, foi após a implantação da República
palco de poderosas jornadas de luta, que criaram as condições para que, em
1919, os trabalhadores da indústria e comércio conquistassem a jornada de
trabalho de oito horas, depois de algumas câmaras municipais decretarem como
feriado oficial o dia 1.º de Maio.
A ditadura fascista, nascida do
golpe de 28 de Maio de 1926, que impôs a fascização dos sindicatos e a
supressão das mais elementares liberdades democráticas, procurou sempre impedir
as comemorações do 1.º de Maio, sem nunca o ter conseguido.
Apesar das limitações impostas
pelo regime e da repressão a que estavam sujeitos, o proletariado português
sempre encontrou as forças e os meios mais adequados para o comemorar, com
iniciativas, que muitas vezes assumiram a forma de grandes acções de massas,
pela defesa de reivindicações dos trabalhadores e, sempre, contra a política
fascista/colonialista, pelo pão a paz e a liberdade.
Nunca será demais homenagear
estes Homens e Mulheres que, inspirados naqueles que à terra lançaram as
sementes da luta contra a exploração, nunca desistiram de lutar pela melhoria
das condições de vida e de trabalho, pela dignidade a que os criadores de
riqueza têm direito e pela criação das condições para que o 25 de Abril tivesse
sido possível.
Há 45 anos que o 1.º de Maio anda
de mão dada com o 25 de Abril
Se o derrube do fascismo abriu as
portas da esperança num País livre e desenvolvido, nos domínios económico,
social e cultural, o primeiro 1.º de Maio em liberdade, legitimou o carácter
revolucionário do 25 de Abril, com os trabalhadores e o povo a encherem as ruas
e praças de todo o País, com as maiores manifestações de sempre, para darem
inicio a uma caminhada, lado a lado com os militares de Abril, que tornou
irreversível o sentido da liberdade e da democracia no nosso País.
As ruas ocupadas de alegria,
juventude, esperança, e confiança no futuro, abriram as portas a novos avanços
para os trabalhadores, como a liberdade sindical, a contratação colectiva, o
salário mínimo nacional, o direito a férias pagas, e todos os direitos sociais
e laborais que vieram a ser consagrados na Constituição da República
Portuguesa.
A partir daí, o 1.º de Maio foi
sempre um momento alto da unidade e da luta dos trabalhadores portugueses,
organizados e mobilizados pela CGTP-IN, pela defesa do regime democrático e das
conquistas de Abril, pela defesa dos direitos sociais e laborais, por melhores
condições de vida e de trabalho e por um País mais justo e fraterno, visando o
fim da exploração do homem pelo homem.
Por muito que tentem, o 1.º de
Maio não se resume a uma efeméride, como pretendem os ideólogos do sistema
capitalista, com o propósito de negar ou suavizar a luta de classes.
No actual contexto político
económico e social, o 1.º de Maio constitui um importante momento de
manifestação de descontentamento pelas políticas contrárias aos interesses dos
trabalhadores e de luta para que seja possível avançar mais na reposição e
conquista de direitos e travar a pretensão do governo minoritário do PS, com o
apoio do PSD, do CDS e do patronato, de alterar para pior a legislação laboral
fazendo-a recuar, designadamente em matéria de período experimental e horários
de trabalho, a tempos que julgaríamos ultrapassados.
O 1.º de Maio é dia de
convergência de todas as lutas que temos vindo a travar, do sector privado
ao público, destacando as reivindicações sectoriais, de empresas e serviços, da
juventude, das mulheres trabalhadoras, dos reformados e pensionistas.
É dia de fazer ouvir bem alto a
exigência do aumento geral dos salários, incluindo do salário mínimo nacional e
a valorização das carreiras, como estratégia essencial de valorização do
trabalho e dos trabalhadores, mas também como imperativo nacional, para que o
País possa avançar para patamares salariais semelhantes ao dos restantes países
europeus, que contribuam para a dinamização da procura interna, a criação de
empregos de qualidade e o necessário desenvolvimento industrial e da economia
do País.
É dia de luta por horários de
trabalho dignos que respeitem a conciliação entre o trabalho e o direito a
uma vida com qualidade, que permita o acesso á cultura ao desporto e ao lazer.
É dia dos milhares de
trabalhadores, que resistem a horários de trabalho desregulados e a ritmos
de trabalho desumanos, geradores de acidentes e doenças profissionais, trazerem
à rua a denúncia destas situações, que lhes infernizam as vidas.
É dia de luta que se impõe, para
impedir o alastramento do corte geracional nos direitos, enquanto
trajectória que as forças do capital pretendem impor, visando o nivelamento por
baixo, das condições de trabalho e dos salários.
É o momento para fazer ouvir a
voz dos milhares de jovens trabalhadores, que não se rendem, nem acomodam,
perante níveis de precariedade para que foram arrastados e que o Governo não
quer, por opção própria, erradicar.
Um grande dia de luta nacional a que se juntam muitas outras camadas da população, para exigir e demonstrar que é possível aumentar as pensões de reforma, combater a pobreza, melhorar as funções sociais do estado.
Será um dia de luta, unidade,
confiança e esperança em que os trabalhadores organizados e unidos nos
sindicatos de classe da CGTP Intersindical Nacional, de Norte a Sul e regiões
autónomas, vão exprimir na rua, com alegria e de forma enérgica, as suas
legítimas expectativas numa vida melhor neste País em que vivem e trabalham e
onde têm o direito a ser felizes.
Foto: João C. / AbrilAbril
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