terça-feira, 14 de maio de 2019

Portugal | O desplante!


Paulo Baldaia | Jornal de Notícias | opinião

O desplante com que o primeiro-ministro fala do desplante de Joe Berardo no Parlamento "só" compara com o desplante com que a larga maioria da classe política e dos analistas gosta de lidar com o povo.

Podem ter a certeza, chegará o dia em que os eleitores vão perceber a farsa. Nesse dia, com as portas escancaradas, a extrema-direita entrará em força no Parlamento. Perdida a virgindade, poderemos então reconstruir a democracia.

Comecemos por Berardo. O "comendador" disto e daquilo - não esquecer que ele foi subindo o grau da comenda - foi, na comissão parlamentar, igualzinho a si próprio, no desplante com que participou no assalto ao BCP, no golpe da PT ou na chantagem sobre o Estado, porque era portador de uma importante coleção de arte moderna. Caímos como patinhos, sempre que alguém aparece do nada com o que quer que seja. Neste sentido, o desplante de Costa a falar do desplante de Berardo é igual ao desplante com que falamos dos aldrabões como se antes não os tivéssemos tratado como heróis.



Voltemos a António Costa e ao desplante com que trata todos os adversários políticos, como se fosse dono da verdade e como se só ele fosse capaz de fazer a leitura política correta dos mais recentes acontecimentos. Regressando ao desprendimento com que olha para uma maioria absoluta, voltou a jurar no Parlamento que ela não lhe interessa, porque - e passo a citar - "a verdadeira maioria foi constituída em 2015, tem bons resultados, tem valido a pena e não se deve mudar".

Ao contrário do que ele pensa e do que pensa uma larga maioria dos militantes socialistas, o melhor António Costa não é o taticista que acende os quatro piscas para que ninguém perceba para onde vai virar ou o que, de tanto querer recentrar o PS, se esquece daquilo em que verdadeiramente fez a diferença. Como mostra a sondagem da Aximagem, os portugueses não valorizam por aí além o que faz deslumbrar a corte lisboeta, viciada em golpes palacianos. O que faz de António Costa o preferido para governar Portugal é o facto de ter sido capaz de repor os rendimentos a uma parte significativa dos trabalhadores e dos pensionistas e, acima de tudo, o de ter sido capaz de reduzir o desemprego, que é igual a dizer o de ter sido capaz de ajudar a criar empregos para centenas de milhares de portugueses que não tinham como ganhar a vida. Quanto mais António Costa pergunta ao espelho se há político mais esperto que ele, mais se afasta da possibilidade virtual de ganhar as eleições com maioria. É o preço a pagar pelo desplante com que faz a pergunta, tendo a certeza que a resposta só pode ser negativa.

*Jornalista

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