Paulo Baldaia | Jornal de Notícias
| opinião
O desplante com que o
primeiro-ministro fala do desplante de Joe Berardo no Parlamento "só"
compara com o desplante com que a larga maioria da classe política e dos
analistas gosta de lidar com o povo.
Podem ter a certeza, chegará o
dia em que os eleitores vão perceber a farsa. Nesse dia, com as portas
escancaradas, a extrema-direita entrará em força no Parlamento. Perdida a
virgindade, poderemos então reconstruir a democracia.
Comecemos por Berardo. O
"comendador" disto e daquilo - não esquecer que ele foi subindo o
grau da comenda - foi, na comissão parlamentar, igualzinho a si próprio, no
desplante com que participou no assalto ao BCP, no golpe da PT ou na chantagem
sobre o Estado, porque era portador de uma importante coleção de arte moderna.
Caímos como patinhos, sempre que alguém aparece do nada com o que quer que
seja. Neste sentido, o desplante de Costa a falar do desplante de Berardo é
igual ao desplante com que falamos dos aldrabões como se antes não os
tivéssemos tratado como heróis.
Voltemos a António Costa e ao
desplante com que trata todos os adversários políticos, como se fosse dono da
verdade e como se só ele fosse capaz de fazer a leitura política correta dos
mais recentes acontecimentos. Regressando ao desprendimento com que olha para
uma maioria absoluta, voltou a jurar no Parlamento que ela não lhe interessa,
porque - e passo a citar - "a verdadeira maioria foi constituída em 2015,
tem bons resultados, tem valido a pena e não se deve mudar".
Ao contrário do que ele pensa e
do que pensa uma larga maioria dos militantes socialistas, o melhor António
Costa não é o taticista que acende os quatro piscas para que ninguém perceba
para onde vai virar ou o que, de tanto querer recentrar o PS, se esquece
daquilo em que verdadeiramente fez a diferença. Como mostra a sondagem da
Aximagem, os portugueses não valorizam por aí além o que faz deslumbrar a corte
lisboeta, viciada em golpes palacianos. O que faz de António Costa o preferido
para governar Portugal é o facto de ter sido capaz de repor os rendimentos a
uma parte significativa dos trabalhadores e dos pensionistas e, acima de tudo,
o de ter sido capaz de reduzir o desemprego, que é igual a dizer o de ter sido
capaz de ajudar a criar empregos para centenas de milhares de portugueses que
não tinham como ganhar a vida. Quanto mais António Costa pergunta ao espelho se
há político mais esperto que ele, mais se afasta da possibilidade virtual de
ganhar as eleições com maioria. É o preço a pagar pelo desplante com que faz a
pergunta, tendo a certeza que a resposta só pode ser negativa.
*Jornalista
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