Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
Por quatro vezes o Parlamento
aprovou iniciativas que mandataram o Governo a reconhecer o tempo de serviço
dos professores. Na primeira, o PS votou a favor. Nas duas seguintes, não tendo
votado a favor na especialidade, aprovou os orçamentos que as continham. Na
quarta, ameaçou demissão alegando um impacto orçamental futuro que ninguém
consegue calcular porque depende da forma como esse descongelamento for
negociado, e de dados que o Governo esconde.
Nos Açores, onde governa o PS, a
contagem integral do tempo de serviço foi garantida com aplicação faseada no
tempo, sem dramas. Na Madeira, o PS votou a favor da mesma solução, sem dramas.
No continente, ameaçou demissão. O truque bastou para PSD e CDS darem o dito
por não dito, tão convictos estavam das suas posições, e António Costa, que
enfrentava uma campanha que lhe corria francamente mal, põe-se de novo a sonhar
com uma maioria absoluta.
Haverá quem diga que política é
isto, mas eu discordo. Governar é encontrar soluções, não é inventar pretextos
para problemas. Nenhum boa solução saiu desta alegada crise. Pelo contrário,
resta a ideia perversa de que a proteção dos direitos dos trabalhadores do
público se faz contra os trabalhadores do privado. É falso, esta legislatura já
o provou e ainda tem muito para decidir sobre trabalho, sobre SNS, sobre
Cuidadores e, já agora, sobre verdadeiros privilégios, como são as rendas da
energia.
Uma dessas decisões diz respeito
aos trabalhadores por turnos: enfermeiros, operárias, condutores ou operadoras
de call centers, tanta gente que não tem o mesmo direito à vida familiar e ao
descanso, que luta para organizar a sua vida que se faz ao contrário do resto
da sociedade. É justo garantir-lhes acompanhamento médico adequado, regras mais
justas de descanso e férias, previsibilidade no horário de trabalho e o
definitivo reconhecimento de que o seu esforço, no fim do dia, é sempre
superior.
O número de ilusionismo político
foi feito e ultrapassado. Agora voltamos àquilo que conta. Veremos com que
maioria podem contar os 750 mil trabalhadores por turnos. Será uma excelente
oportunidade para se oferecer uma solução de Esquerda a trabalhadores do
privado, porque atirá-los contra os do público nunca foi política da
geringonça, e muito menos de Esquerda.
* Deputada do BE
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