quarta-feira, 1 de maio de 2019

UM OUTRO PRIMEIRO DE MAIO - Martinho Júnior


OITO ANOS DEPOIS DO ARRANQUE DA GRANDE MISSÃO VIVENDA VENEZUELA, O DESAFIO É INTERNACIONAL E SOBRETUDO PARA TODOS OS POVOS DO SUL

Martinho Júnior, Luanda 

1- Oito anos depois do lançamento da Grande Missão Vivenda Venezuela, os cenários na Venezuela vão-se transformando inexoravelmente, pois há um antes, um depois e um durante em razão duma das principais e mais decisivas missões bolivarianas, que responde a um direito básico de cidadania: o direito a uma habitação condigna para todos os habitantes do país.

Se antes era o vazio, com a renda petroleira a ser digerida pelos estômagos da clientela oligárquica intimamente associada aos interesses e conveniências do capitalismo da feição do império da hegemonia unipolar, agora todos estremecem com cada pequena vitória alcançada no espaço nacional, no fundo uma forma resistente e incontornável de responder à guerra económica e psicológica que os bolivarianos estão a ser obrigados a enfrentar.

Em Março de 2018, quando estive em Caracas e no micro estado de Vargas, constatei a enorme luta no sentido de responder aos desafios, fazendo desaparecer algumas das grandes favelas que se multiplicam na Venezuela, como aliás por todas as cidades da América Latina.



Em muitos prédios, lá estava o inconfundível olhar do Comandante Hugo Chavez, ou a sua assinatura que tanta esperança tem vindo a forjar para o mar dos excluídos que constituíram os substratos sociais mais pobres do país!

Sob esse olhar sereno, mas tão crítico quão desafiador, também eu estremeci ao perceber o que significavam tantas construções e habitações para um povo que sofreu desprezo e marginalidade durante tantas décadas, praticamente desde a independência há pouco mais de 200 anos.

Antes era a exclusividade duma clientela oligárquica de visão curta, a visão do seu próprio umbigo estimulado pelos interesses e conveniências que se impunham de fora e hoje, para aqueles que têm a oportunidade de conhecer os bairros, ruas e avenidas das cidades e localidades da Venezuela, a distribuição da riqueza é feita com uma enorme capacidade mobilizadora, como nunca antes houve, visando uma resposta integradora da sociedade, com abertura ao projecto duma democracia participativa, criativa, socializada, protagónica e inovadora.

Todas as pressões internas e externas que afectam a Venezuela, têm pela frente as missões, neste caso esta Grande Missão, uma resposta insuportável pelo seu exemplo mobilizador e pelo empenho psicológico de resistência que gera.

Nesses termos, a Venezuela que continua a não estar só e a poder articular iniciativas de resistência sobretudo com Cuba, faz crescer suas capacidades como resposta às medidas de agressão que chegam a partir do exterior!


2- Este Primeiro de Maio na Venezuela vai-se viver além do mais com a realização do Fórum sobre essa Grande Missão Vivenda Venezuela, entre 30 de Abril e 2 de Maio, num momento em que foram já construídas e entregues 2.621.703 habitações e se procura chegar à escala dos 3 milhões, lá para o final do ano corrente.

O Fórum está a ocorrer no Hotel Alba, Caracas e terá participação internacional, algo que corresponde ao exemplo que confere um mérito muito especial à revolução bolivariana e àqueles que reconhecem nela um ponto de viragem que sacode a espectativa de povos-alvo, aqueles com mais de “cem anos de solidão”!

Entre as presenças internacionais lá estarão alguns africanos: representações de Moçambique, do Togo, do Quénia e da Tunísia.

Decerto que no mínimo, as mais de 20 representações internacionais vão colher experiência e carregar baterias em busca de inspiração, por que habitação condigna é um enorme desafio para todos os povos, nações e estados do sul e mesmo para os países considerados desenvolvidos, que se debatem com contenciosos sociais nunca antes experimentados face a ondas migratórias que eles próprios contribuíram para fazer eclodir.

Há representações por exemplo, da Alemanha, do Canadá, da Espanha, da França, da Rússia e da China…

Os africanos decerto que estão ávidos em perceber como toda essa saga é possível, agora com a cripto-moeda Petro fora do raio-de-alcance das pressões financeiras e das sanções da hegemonia unipolar impostas pelos fascistas ao serviço da administração republicana de Donald Trump nos Estados Unidos.

O Foro realiza-se precisamente na altura em que entram em vigor as sanções sobre o petróleo da Venezuela e o cerco à Venezuela, a Cuba e à Nicarágua se elevam a níveis sem precedentes.


Os grandes falcões fascistas que animam a administração Trump, temem o exemplo da Grande Missão Vivenda Venezuela, mas só com uma guerra com emprego de força militar bruta poderão obstruir uma iniciativa dessa natureza.

A estratégia bolivariana conta com trunfos internos que valorizam as políticas de paz e de resistência em todo o espaço nacional, pelo que a escalada em curso, que começa a atingir níveis de asfixia, encontrará pela frente capacidades que respondem a uma guerra de nova geração.

A Venezuela está a responder com uma ampla frente de iniciativas às acções que lhe são dirigidas a partir do exterior, ainda que elas procurem conjugar-se com algumas acções dentro do espaço nacional, em resultado da presença institucional dos fantoches de ocasião.

As arruaças dos Guaidós estão perdidas em seus próprios labirintos face às respostas que estão a ser dadas com as Missões em curso e o 1º de Maio em caracas é uma prova de contraste duma avassaladora dialética.

Apesar da situação relativa por exemplo a muitos medicamentos de que a Venezuela precisa, decerto que aliados como Cuba, Rússia, China e outros (como por exemplo o Irão), vão-se fazer sentir contrabalançando as emergências, numa altura em que também na alimentação crescem as respostas com o incremento da agricultura e da pecuária em todo o país…


3- Os fragilizados estados, nações e povos de sul, perante o grau de imposição de domínio da hegemonia agora que Donald Trump se viu forçado a submeter-se aos grandes falcões de carácter fascista ou mesmo nazi, terão de se voltar para si próprios e encontrar formas de resistência em seus próprios territórios face às avassaladoras premissas desta guerra contemporânea de última geração, uma guerra vocacionada para afectar a sociedade, a economia, as finanças, que em escalada procura paralisar e asfixiar os povos até à rendição.

Os termos desta IIIª Guerra Mundial em curso são avassaladores e vão muito para além do emprego da força militar bruta, por que após a lição da Síria (e de certo modo também do Iraque) o império da hegemonia unipolar pretende utilizar os recursos dos lóbis da energia e do armamento por que se autoalimentam da convicção de que será por esta via que o império vai alguma vez alcançar vitória!

A hegemonia unipolar neste momento retirou lições da Síria, ela própria também em estado de asfixia económica e financeira por iniciativa da hegemonia unipolar, mas perdeu a iniciativa geoestratégica.

Na Venezuela corre-se o risco de, com o bloqueio o império tentar asfixiar o país, cansar o seu povo e aguardar o momento para fazer uso dum outro jihadismo, adaptado às características latino-americanas dos espaços envolventes, em especial em conformidade com os poderosos clãs paramilitares colombianos.

Essa é a razão contudo dos Guaidós arruaceiros andarem à solta, por que será na dialética que eles se vão minguando e acabarão por se dissipar nos seus contínuos labirintos de improvisada ocasião.

A Venezuela Bolivariana que já tem capacidades inteligentes no espaço circundante, vai saber responder se alguma vez se partir para a guerra e apesar de estar a fazer tudo para não se chegar a esse clímax.

Na Venezuela, simultaneamente ao Foro, está em curso o Congresso Nacional dos Construtores pela Paz, que visa inventariar e impulsionar todas as capacidades que sustentam a Grande Missão Vivenda Venezuela, que no fundo se inscrevem nas capacidades de resistência e das contramedidas activas que a situação impõe.

Este 1º de Maio na Venezuela, para além da mobilização dos trabalhadores que se irão manifestar nas ruas das principais localidades do país, é um momento de balanço e de preparação para os próximos embates que se avizinham, mas mesmo assim aposto: em finais de 2019, a Grande Missão Vivenda Venezuela atingirá os 3 milhões e preparar-se-á para atingir os 5 milhões nos próximos anos!

Cuba, Venezuela e Nicarágua vencerão!

Martinho Júnior - Luanda, 30 de Abril de 2019

Fotos:
1- Abertura do Foro Grande Missão Vivenda Venezuela;
2- Recepção aos visitantes, a 5 de Março de 2018, na gare Rodoviária de Cátia la Mar, estado de Vargas (da minha autoria);
3- Comunidade construída pela Grande Missão Vivenda Venezuela em Maiquetia, a 5 de Março de 2018 (da minha autoria);
4 e 5- Modelos de vivendas construídas no âmbito da Grande Missão Vivenda Venezuela.

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