Partidos da oposição marcharam
para pedir ao Presidente a não ceder a pressão de nomear novo Governo. Enquanto
isso, a central sindical pede solução para greve na função pública através de
uma marcha pacífica em Bissau.
Na manifestação convocada pela
oposição, o MADEM G-15 (Movimento para a Alternância Democrática) e o Partido
da Renovação Social (PRS), exigiram a conclusão do processo de eleição da mesa
do Assembleia Nacional Popular (ANP).
Luís Oliveira Sanca, primeiro
vice-presidente do MADEM-G15, pediu ao Presidente da República para não ceder a
pressões e aguardar a conclusão da formação definitiva da mesa do Parlamento.
José Mário Vaz, Primeiro
Magistrado da Nação, a quem tivemos grande consideração e estivemos sempre
juntos até que chegamos a fase atual, portanto vamos pedir-lhe para não ceder a
nenhum momento, repito a nenhum momento para nomear o novo primeiro-ministro,
enquanto não forem ultrapassados os problemas na Assembleia Nacional Popular.
Sede do PRS em Bissau
Por seu turno, Jorge Malú
um dos vice-presidentes do Partido de Renovação Social (PRS), terceira força
política mais votada nas legislativas de 10 de março apelou "a todos os
guineenses para estarmos unidos nesta causa, sobretudo quando temos a certeza
que temos razão, nós estamos a reivindicar a nossa razão".
O PRS reivindica a indicação de
um nome para o lugar de primeiro secretário da mesa do parlamento da
Guiné-Bissau, enquanto o MADEM-G15 se recusa a apontar outro nome, que não seja
o do seu coordenador nacional, Braima Camará, para ocupar o cargo de segundo
vice-presidente do Parlamento.
Para Jorge Malú "querem
ocupar 80% na mesa da Assembleia Nacional Popular, isso é possível? Que tipo de
matemática é essa, não vamos aceitar isso. Um partido que ganhou com 47
mandatos e pretende ter 80% dos elementos na mesa".
O PRS reivindica a indicação de
um nome para o lugar de primeiro secretário da mesa do parlamento da
Guiné-Bissau, enquanto o Movimento para a Alternância Democrática (Madem) se
recusa a apontar outro nome, que não seja o do seu coordenador nacional, Braima
Camará, para ocupar o cargo de segundo vice-presidente do parlamento.
Melhores condições de trabalho
Uma outra manifestação de caráter
social foi promovida também esta quinta-feira (06.06.) pela União Nacional dos
Trabalhadores da Guiné (UNTG) e a Confederação Geral dos Sindicatos
Independentes (CGSI).
Recorde-se, que as duas centrais
sindicais realizam desde há três semanas períodos de greve que decorrem sempre
entre terça e quinta-feira para reivindicar a aplicação de um conjunto de
diplomas sobre estatuto de carreiras de vários funcionários públicos, a
conclusão do processo de aprovação do novo código de Trabalho, bem como um
aumento do salário mínimo para 150 euros mensais.
Os participantes na manifestação
das duas centrais sindicais estiveram na rua vestidos com "coletes
amarelos” para se diferenciarem dos manifestantes políticos.
À imprensa, Júlio Mendonça,
Secretário-geral da UNTG, acusou a classe política de ser a pior no continente
e, por isso pediu a união dos trabalhadores guineenses no combate aos
"desmandos políticos no país".
"Cabe aos trabalhadores
começar a pensar e refletir porque a nossa luta é para dignificar todo aquele
que presta um bom serviço ao Estado guineense. A Guiné-Bissau não é o país mais
pobre da África mas o problema é que temos a pior classe política a nível do
continente, em particular e do mundo em geral. Por isso vamos continuar a
lutar contra todos esses desmandos políticos".
Júlio Mendonça, criticou por
outro lado o que considerou ser a grave violação dos direitos dos trabalhadores
"sobretudo por parte das empresas multinacionais. Por isso o nosso apelo
à classe trabalhadora, é que ganhe a consciência que só reivindicando é
que vai conquistar os seus direitos. Os direitos dos trabalhadores estão
plasmados nas leis da República e devem ser conquistados se não forem aplicados
voluntariamente por quem de direito. E no setor público aquilo que
ganhamos é pequena coisa e insignificante. Por isso temos que acreditar nas
nossas dinâmicas e coerência de que somos capazes de conquistar ainda mais
coisas", concluiu.
Também Malam Ly Baldé, Secretário-geral
da Confederação dos Sindicatos Independentes responsabilizou o Governo liderado
por Aristides Gomes pela situação laboral atual do país.
"Apesar de pouca adesão dos
trabalhadores, esta marcha tem um significado tão grande para as duas centrais
sindicais, pois permiti-nos exprimir o nosso desagrado face à situação atual do
funcionalismo público guineense. Temos 45 pontos em reivindicação mas que
o Governo não pode dar resposta a todos. Daí haver alguma cedência da nossa
parte...mas o que estamos a reivindicar são diplomas aprovados em Conselho de
Ministros, mas que até agora não foram aplicados. Refiro-me por exemplo
aos estatutos da carreira docente, da Televisão da Guiné-Bissau, dos
oficiais de Justiça, dos Funcionários do Ministério das Finanças e do
Ministério das Pescas".
Vigília em Bissau
Ainda no âmbito das
manifestações, cerca de três dezenas de mulheres dos partidos que representam a
maioria no Parlamento da Guiné-Bissau e outros partidos sem assento parlamentar
realizaram esta quinta-feira uma vigília no centro de Bissau a exigir a
nomeação do primeiro-ministro.
"As mulheres dos partidos de
maioria parlamentar estão a exigir ao Presidente da República para nomear o
Governo que saiu das urnas", disse à Lusa Joana Kopte, da Assembleia do
Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB).
Tudo está parado
Segundo Joana Kopte Nhanque, as
mulheres guineenses estão a sofrer e pedem ao Presidente para nomear o Governo
para o país sair da situação em que se encontra.
"Não há escola, não há nada.
As mulheres não conseguem vender e têm crianças em casa sem nada para
comer", disse.
Joana Kopte disse também que no
final da vigília vão entregar cartas às Nações Unidas, União Africana, União
Europeia, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa, e vão prosseguir com o protesto até ao final do
mandato do Presidente guineense, José Mário Vaz, que termina a 23 de junho.
Participaram na vigília mulheres
do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC),
APU-PDGB, União para a Mudança, Partido da Nova Democracia, Partido da
Convergência Democrática e Partido da Unidade Nacional.
Fátima Tchumá Camará (Bissau),
Agência Lusa | Deutsche Welle
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