Louçã critica o quase vazio de
propostas do PSD e do CDS, partidos que tentam reorganizar-se, depois da
derrota nas Europeias, suavizando o discurso.
Ainda no rescaldo das Europeias e
da análise feita pelo Presidente da República, há uma semana,
sobre uma eventual crise à Direita nos próximos anos, Francisco Louçã
constata que a interpretação do diagnóstico feito por Marcelo “pegou fogo nos
meios” do PSD e CDS.
“PSD e CDS tentaram desvalorizar
as palavras do Presidente. O CDS pondo-se mais longe, e o PSD um pouco mais em
conflito com o Presidente”, analisa o bloquista, considerando que tudo isso se
compreende porque ambos os partidos estão a tentar fazer uma operação para a
qual têm muita dificuldade: “Depois da derrota tentaram interpretá-la como o
efeito de um discurso demasiado agressivo”.
Nesse sentido, Louçã entende que
“há uma suavização” do discurso que é “muito evidente” em Assunção Cristas.
“Ela não quer que ninguém se
lembre de Nuno Melo. E quer, pelo contrário, mostrar-se o contrário do que
foi durante estes quatro anos quando gostava de se arrogar o papel da campeã do
ataque a António Costa”, realça o comentador. Essa postura da líder do CDS,
recorda Louçã, “nem sempre lhe saiu bem”, embora Cristas gostasse dessa imagem
de que agora se quer “desfazer” para dizer que apresenta “propostas concretas”.
Em suma: “O CDS tenta
reconstruir-se procurando dar uma imagem de maior moderação porque interpreta
que foi uma radicalização à extrema-direita que o destruiu nas eleições
Europeias”.
Quanto ao PSD, o economista
vislumbra em Rui Rio uma atitude um pouco semelhante à de Cristas, tentando
reorganizar o discurso após a derrota do passado dia 26 de maio.
“[Rio] diz que a culpa é dele
próprio mas também de Rangel. Ou seja, do discurso mais impositivo de Rangel,
que foi também atrás dos fogachos do dia, dos casos e conflitos. Na
verdade, Rio escolheu Rangel para fazer exatamente isso e esperava que
resultasse, só que fracassou quando houve o episódio do conflito máximo em
torno dos professores”. E a partir daí, conclui, “a tendência eleitoral
modificou-se e Rangel ficou um peixe fora de água”.
Agora, “Rio procura
reorganizar o seu discurso e fá-lo também seguindo um pouco a ideia de que é
preciso sair do perfil do confronto. Qual é o problema disto? É que não há
propostas”, aponta o bloquista.
O comentador sublinha ainda outro
facto que está a dificultar a vida aos partidos da Direita. “O PS tenta ocupar
o centro e conquistar alguns dos elementos fundamentais da argumentação
política da Direita na questão orçamental, na figura de Centeno e até na forma
da condução das políticas públicas”.
E, nesse contexto, “o centro fica
muito esvaziado para a estratégia da Direita", analisa. Para Louçã, a
única proposta que surgiu até agora, do CDS, para que as primeiras consultas
passassem a ser feitas no privado "é evidentemente muito vulnerável".
"[A proposta surge] num
momento em que o setor privado está a ser posto em causa por exemplo com o que
se passa nas PPP”, refere, dando como exemplos os "escândalos" nos
vários hospitais: no Hospital de Cascais, no Hospital de Vila Franca de
Xira, que alegadamente internou doentes em casas de banho e em
refeitórios, e no Hospital de Loures, onde os doentes não seguem as segundas
consultas porque “não convém”.
“Um pandemónio absoluto esta
gestão do setor privado quando tomou conta do setor público”, resume.
Melissa Lopes | Notícias ao
Minuto | Foto: Blas Manuel
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