terça-feira, 25 de junho de 2019

Tráfico de seres humanos em Angola com vinte casos transitados em julgado


Luanda, 25 jun 2019 (Lusa) -- A Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana anunciou hoje que cerca de vinte casos de tráfico de seres humanos em Angola já transitaram em julgado e que este tipo de crime exige novos mecanismos de atuação.

"Hoje o quadro do tráfico no país não podemos dizer que não é preocupante, registamos números de queixas e participações baixas, mas isso não quer dizer que a atividade não exista, portanto temos um registo baixo de casos", disse hoje Astergidio Pedro Culolo, sub-PGR junto do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME) angolano.

Em declarações hoje aos jornalistas à margem de uma palestra sobre Tráfico de Seres Humanos em Angola, dirigida aos efetivos da polícia nacional, o magistrado deu conta que as províncias de Luanda, Lunda Norte e Zaire lideram as ocorrências.

Segundo Artergidio Pedro Culolo, orador da palestra promovida hoje pelo Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, em parceria com o Comando Geral da Polícia de Angola, aquelas províncias "têm registado atividades mais relevantes" de tráfico humano, sobretudo "devido as fronteiras".


"Em termos de casos, posso apenas falar dos que já foram tratados judicialmente, que são perto de 20 casos nessas províncias. Há províncias em que não há registo nenhum, mas o facto de não haver registo não quer dizer que ali não exista o tráfico", apontou.

"Poderá existir, mas ainda não detetamos e se isso acontece, é porque os nossos sistemas de alerta não têm estado a funcionar devidamente", realçou.

Em janeiro, o padre católico Félix Gaudêncio disse à Lusa que a população da província do Cunene, sul do país, "estava assustada" com os "crescentes relatos" de traficantes de seres humanos, sobretudo crianças, quatro dos quais já detidos pela polícia.

"O quadro é de medo, a população está mesmo com medo, em pânico, porque se trata de uma população que, anteriormente, acolhia muitas pessoas, orientava quem estivesse perdido, mas hoje em dia há esse receio de orientar ou acolher estranhos", disse o padre na altura.

O também presidente da Associação Ame Naame Omuno, de defesa e promoção dos direitos humanos na província, defendeu ainda o "reforço do policiamento" no seio das comunidades, afirmando que o tráfico de seres humanos na província "é uma prática antiga".

"Porém, agora ganha maior visibilidade por causa dos meios de comunicação e por causa do mediatismo, então, isso é uma realidade porque chama muito a atenção o facto de aparecerem pessoas assim mortas, de vez em quando", bem como "aparecerem pessoas a dizerem que estavam a ser aliciadas para serem levadas para a Namíbia", concluiu.

Em dezembro de 2018, um vídeo publicado nas redes sociais apresentava um suposto autor confesso desses crimes, relatando como terá matado uma mulher, a quem terá retirado os órgãos, que foram levados para a Namíbia.

Questionado sobre o assunto, o delegado do Ministério do Interior de Angola no Cunene, Tito Munana, deu conta que as autoridades judiciais "ainda não provaram se os relatos do suposto traficante do vídeo divulgado eram verdadeiros".

Hoje, quando questionado pela Lusa sobre o tráfico de órgãos humanos, sobretudo a nível da província do Cunene referiu que a "situação é preocupante", afirmando que "apesar de existirem, ainda não foram detetados".

"É também preocupante, creio que casos desses assim ainda não foram detetados, mas existem. Temos registado, agora, com alguma preocupação a movimentação de crianças para o exterior do país, que as vezes não cumprem com as regras", frisou.

"E pode ser que seja essa atividade, daí a necessidade de estarmos informados para afinarmos os mecanismos e começarmos a detetar", concluiu o também membro da Comissão Interministerial Contra o Tráfico de Seres Humanos em Angola.

Diário de Notícias | Lusa

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