sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Angola | Porque não há mais ex-ministros indiciados em Angola?


Apenas um antigo ministro do governo de Eduardo dos Santos, Augusto Tomás, está detido e aguarda julgamento. Ex-governante é acusado de desvio de dinheiro. Analistas consideram "estranha e seletiva" a atuação da justiça.

Augusto Tomás já foi formalmente acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no caso que que envolve o Conselho Nacional de Carregadores. O ex-ministro dos Transportes vai responder em tribunal pelos crimes de peculato na forma continuada, associação criminosa, branqueamento de capitais e abuso de poder na forma continuada, entre outros.

O analista político angolano Augusto Báfuabáfua estranha o facto de apenas um ex-governante estar indiciado quando é de domínio público que o país tem os cofres vazios. "É incrível como é que num país onde houve um desmesurado peculato, houve um desvio enorme não de dezenas, mas de centenas de milhões de dólares, para não dizer de biliões, e só o ministro é que é indiciado. É estranho", sublinha em entrevista à DW.


E os outros suspeitos de corrupção?

Augusto Báfuabáfua esperava também que os antigos embaixadores, governadores provinciais e vice-ministros na governação do ex-Presidente José Eduardo dos Santos suspeitos de atos de corrupção fossem indiciados. "O que se esperava é que essa altura tinha de haver dezenas para não dizer centenas de cidadãos que hoje são detentores de grandes volumes de riqueza, mas a justiça não se fez sentir", critica.

Questionado sobre se a justiça angolana estará a agir de forma parcial, o analista não duvida que está a ser "seletiva". Por isso, de uma coisa tem a certeza: Augusto Tomás vai ser condenado pelos crimes que pesam sobre si. "Neste caso, Augusto da Silva Tomás foi a pessoa visada pelo que se alega há mais probabilidade de ser condenado do que não. O que lamento é que seja o único, esperava por muitos mais", diz.

Em entrevista à DW África, o ativista cívico Benedito Jeremias "Dito Dali" também defende a condenação dos corruptos e a recuperação imediata dos valores roubados. "O que importa é que o Estado crie mecanismos e tenha poderes suficientes para poder recuperar todo dinheiro que foi roubado e confiscar todo o património público que essa gente surripiou do Estado, isso é que é mais importante", sublinha.

Além de Augusto Tomás, também aguardam julgamento José Filomeno dos Santos "Zenú", filho do ex-Presidente da República, e o sócio Jean-Claude Bastos de Morais. São ambos acusados de desvio de dinheiro do Fundo Soberano de Angola.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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