Díli, 23 ago 2019 (Lusa) -- Duas
jornalistas timorenses, que estiveram empenhadas, há 20 anos, no processo de
independência de Timor-Leste, pediram hoje à nova geração de profissionais que
se assuma como ativista em prol do desenvolvimento do país.
Em entrevista à Lusa, por ocasião
da passagem dos 20 anos do referendo que levou à independência de Timor-Leste,
Rosa Garcia e Susana Cardoso consideraram importante que o país tenha
jornalistas independentes e críticos.
Ambas com 45 anos, as duas
jornalistas entraram na profissão através do ativismo político estudantil da
luta pela independência.
"Timor-Leste precisa de
jornalistas independentes e críticos agora", disse Rosa Garcia.
"Agora temos independência,
somos uma nação soberana, temos constituição, temos dinheiro e tudo. Mas o povo
ainda não sentiu todo essa liberdade, que só chegou a algumas pessoas",
explicou.
Susana Cardoso concordou,
afirmando que o país precisa de "jornalistas profissionais" que
continuem "a lutar pelo bem de Timor" e que, por isso, "têm que
ser um pouco ativistas".
Exigir responsabilidade, melhores
critérios e mais e melhor trabalho dos jornalistas, também exige melhores
condições, melhores salários, com os baixos rendimentos a serem um dos maiores
desafios, acrescentou Rosa Garcia.
As duas jornalistas começaram a carreira ainda enquanto estudantes universitárias, trabalhando no único jornal que existia no final dos anos 1990, o Suara Timor Timur (STT) e no apoio a jornalistas estrangeiros que pediam informações de Timor-Leste.
As duas jornalistas começaram a carreira ainda enquanto estudantes universitárias, trabalhando no único jornal que existia no final dos anos 1990, o Suara Timor Timur (STT) e no apoio a jornalistas estrangeiros que pediam informações de Timor-Leste.
O STT, de Salvador Ximenes
Soares, tinha nascido em 1992, ano da captura de Xanana Gusmão.
Na época, o ativismo e o
jornalismo fundiam-se. "Foi um grande desafio para mim. Eu era uma ativista
estudantil, mas o meu objetivo era ser jornalista, porque queria transmitir a
informação que tínhamos", contou Rosa Garcia, que é hoje coproprietária do
jornal Timor Post.
"Ser jornalista tornava mais
fácil falar com todos. Mas era difícil ser independente. Fico arrependida de
aumentar o número de vítimas em alguns casos. Mas penso que fiz isso por bom
motivo e Deus vai-me perdoar", disse a profissional, recordando os
momentos dos confrontos com as milícias pró-indonésias.
Susana Cardoso participou em
manifestações na universidade nacional (UNTIM), foi presa e sujeita a
apresentações periódicas na polícia.
"Mas eu preferi ser
jornalista. Fazíamos a cobertura de tudo, mas sem treino, sem formação.
Aprendemos a trabalhar e melhorando as nossas capacidades", recordou.
O ativismo e o jornalismo
confundiam-se: "Ajudava a organizar as manifestações e depois fazia a
cobertura", disse Cardoso.
Em 1999, o ano em que a Indonésia
admite um referendo independentista, o desafio foi maior e obrigou a maior
isenção.
"Ter que ser jornalista,
falar com os apoiantes da independência" e depois "ter que ir falar
com os da autonomia, que faziam ameaças constantes", recordou Susana
Cardoso.
Rosa Garcia afirmou à Lusa que os
riscos de ser jornalista naqueles anos era imenso.
"Eu sobrevivi. Eu acho que
por causa de Nossa Senhora de Fátima. Tenho desde aí grande devoção porque
sempre levava comigo uma pequena santa", justificou.
ASP // PJA
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