domingo, 25 de agosto de 2019

Timor-Leste precisa de media ativista pelo desenvolvimento -- jornalistas veteranas


Díli, 23 ago 2019 (Lusa) -- Duas jornalistas timorenses, que estiveram empenhadas, há 20 anos, no processo de independência de Timor-Leste, pediram hoje à nova geração de profissionais que se assuma como ativista em prol do desenvolvimento do país.

Em entrevista à Lusa, por ocasião da passagem dos 20 anos do referendo que levou à independência de Timor-Leste, Rosa Garcia e Susana Cardoso consideraram importante que o país tenha jornalistas independentes e críticos.

Ambas com 45 anos, as duas jornalistas entraram na profissão através do ativismo político estudantil da luta pela independência.

"Timor-Leste precisa de jornalistas independentes e críticos agora", disse Rosa Garcia.

"Agora temos independência, somos uma nação soberana, temos constituição, temos dinheiro e tudo. Mas o povo ainda não sentiu todo essa liberdade, que só chegou a algumas pessoas", explicou.

Susana Cardoso concordou, afirmando que o país precisa de "jornalistas profissionais" que continuem "a lutar pelo bem de Timor" e que, por isso, "têm que ser um pouco ativistas".

Exigir responsabilidade, melhores critérios e mais e melhor trabalho dos jornalistas, também exige melhores condições, melhores salários, com os baixos rendimentos a serem um dos maiores desafios, acrescentou Rosa Garcia.

As duas jornalistas começaram a carreira ainda enquanto estudantes universitárias, trabalhando no único jornal que existia no final dos anos 1990, o Suara Timor Timur (STT) e no apoio a jornalistas estrangeiros que pediam informações de Timor-Leste.

O STT, de Salvador Ximenes Soares, tinha nascido em 1992, ano da captura de Xanana Gusmão.

Na época, o ativismo e o jornalismo fundiam-se. "Foi um grande desafio para mim. Eu era uma ativista estudantil, mas o meu objetivo era ser jornalista, porque queria transmitir a informação que tínhamos", contou Rosa Garcia, que é hoje coproprietária do jornal Timor Post.

"Ser jornalista tornava mais fácil falar com todos. Mas era difícil ser independente. Fico arrependida de aumentar o número de vítimas em alguns casos. Mas penso que fiz isso por bom motivo e Deus vai-me perdoar", disse a profissional, recordando os momentos dos confrontos com as milícias pró-indonésias.

Susana Cardoso participou em manifestações na universidade nacional (UNTIM), foi presa e sujeita a apresentações periódicas na polícia.

"Mas eu preferi ser jornalista. Fazíamos a cobertura de tudo, mas sem treino, sem formação. Aprendemos a trabalhar e melhorando as nossas capacidades", recordou.

O ativismo e o jornalismo confundiam-se: "Ajudava a organizar as manifestações e depois fazia a cobertura", disse Cardoso.

Em 1999, o ano em que a Indonésia admite um referendo independentista, o desafio foi maior e obrigou a maior isenção.

"Ter que ser jornalista, falar com os apoiantes da independência" e depois "ter que ir falar com os da autonomia, que faziam ameaças constantes", recordou Susana Cardoso.

Rosa Garcia afirmou à Lusa que os riscos de ser jornalista naqueles anos era imenso.

"Eu sobrevivi. Eu acho que por causa de Nossa Senhora de Fátima. Tenho desde aí grande devoção porque sempre levava comigo uma pequena santa", justificou.

ASP // PJA

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