Ao manifestar interesse em
comprar a Groenlândia, o presidente dos EUA tenta, mais uma vez, perturbar a
ordem ocidental do pós-guerra. O principal interesse é o domínio americano no
Ártico, opina Oliver Sallet.
O presidente dos Estados Unidos é
um famoso cético quando se trata de alterações climáticas provocadas pelo
homem. No entanto, o atual derretimento do gelo na Groenlândia pode estar
aquecendo seu coração. Isso porque a maior parte da Groenlândia está no Ártico,
uma das poucas regiões subdesenvolvidas do mundo com grande potencial
econômico.
Quando ele se
oferece para comprar
a Groenlândia, parece óbvio que o que interessa ao presidente são os
recursos naturais do lugar. A mudança climática e o derretimento
das massas de gelo levam a crer que estes serão em breve mais
fáceis de serem alcançados. Até mesmo Trump, o negador da mudança climática,
sabe disso – e não faz questão alguma de esconder que os EUA querem estar na
vanguarda da corrida pelo Ártico no futuro.
Os países árticos incluem não
apenas os EUA, o Canadá, a Noruega e a Dinamarca, mas também o rival
geopolítico de Trump, a Rússia. Até mesmo a China, que na verdade não possui
territórios árticos, está inequivocamente tentando justificar sua reivindicação
na região polar, descrevendo-se como um país "em grande proximidade"
do Ártico.
Está claro que o que está em jogo
aqui é mais do que apenas um negócio imobiliário. A corrida por recursos
naturais e rotas marítimas reflete a mudança na hierarquia geopolítica das
antigas e emergentes hegemonias. Trump está interessado em nada menos que o
domínio americano no Ártico – e por isso ele tem que competir com a Rússia e a
China.
De fato, a ideia de tornar a
Groenlândia um território dos EUA não é nova. O presidente Harry S. Truman tentou
isso em 1946. De Louisiana ao Alasca, os EUA fizeram antes grandes e históricas
aquisições de terras. Por que "Make America Great Again" não poderia
funcionar também com a Groenlândia?
Sete décadas se passaram desde
1946 – e não apenas isso. Imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, a ordem
mundial do pós-guerra, especialmente sob a liderança dos EUA, ainda estava
tomando forma. Hoje, o Ocidente, incluindo a Dinamarca, está fortemente ligado
aos EUA através da participação comum na Otan. A aliança militar era garantia
de liberdade e multilateralismo.
Agora, porém, a China está
contestando a posição americana como potência global – e Trump é parcialmente
responsável por isso. Desde que assumiu o cargo, ele tem buscado enfraquecer as
bases da estrutura ocidental: pressionando pela dissolução da União Europeia,
questionando o sentido da Otan, aproximando-se de déspotas e se afastando dos
antigos parceiros dos Estados Unidos no Ocidente. Oferecer-se para comprar o
território dinamarquês pode ser uma violação de um tabu – mas corresponde à
visão de mundo desse presidente dos EUA.
Oliver Sallet | Deutsche Welle |
opinião
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