Consultora inglesa prevê que
Angola vai permanecer em recessão até 2020. Para economista, o aumento da
produção do petróleo pode ajudar o país a superar a crise. Serão também
necessárias reformas mais profundas.
A Economist Intelligence Unit
(EIU) prevê que a economia de Angola vai permanecer em recessão até 2020. A perspetiva
económica fraca segue os crescimentos negativos nos últimos anos, que foram
impulsionados pela descida do preço do petróleo desde 2014.
No ano passado, a recessão foi de
1,2%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e, nos primeiros três meses
deste ano, a economia angolana voltou a entrar no vermelho com uma contração de
0,4%. Em 2018, a
produção de petróleo caiu quase 10%, e atrair investimento externo para os
recursos petrolíferos continua difícil.
O economista angolano Yuri
Quixima frisa que "o problema da economia de Angola é o não aumento da
produção do petróleo, independentemente de o preço ter crescido
consideravelmente comparando com o último semestre de 2014, no início da crise
do petróleo."
"Os pilares que fazem
crescer a economia de Angola ainda não estão bem patentes. Por exemplo, o
consumo alimentado pelas receitas petrolíferas e a dívida da China. E esses
dois elementos estão a cair cada vez mais em função da queda da produção petrolífera",
acrescenta Quixima.
Mais petróleo é a solução?
O economista Precioso Domingos
partilha da mesma opinião. "É necessário lidar com os problemas ao nível
da produção. Não há setor não-petrolífero que possa compensar isso",
afirma em entrevista à DW.
Segundo Domingos, o petróleo pode
ser o grande salvador da economia: "Aquilo que o Governo entende como
sendo a causa da crise em Angola, que é o petróleo, é também o que nos vai
tirar dessa crise."
"Tendo em conta as novas
medidas que vêm sendo tomadas para recuperar a produção pelos campos marginais
e a possibilidade do preço relativamente mais favorável do que há dois anos
também pode atrair-se mais investimentos. Isso é o que vai fazer com que, no
médio prazo, Angola cresça mais", sublinha.
A EIU prevê uma vitória do
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), nas eleições do
próximo ano, e avalia que o Presidente angolano, João Lourenço, vai consolidar
"as ligações económicas e de comércio, continuando a assinar acordos com os
seus vizinhos."
Mas a consultora
inglesa prevê que o "sentimento protecionista e os gargalos
logísticos vão continuar, dificultando o crescimento potencial a médio
termo", apesar dos esforços para aumentar a presença do setor privado na
economia, diversificar a economia e aumentar os fluxos de investimento.
Reformas aquém do esperado
A EIU acrescenta que canalizar os
2 mil milhões de dólares do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) para financiar o
desenvolvimento dos municípios é uma decisão sensata, mas representa uma visão
de curto prazo, que pode limitar o potencial de investimentos a longo prazo. A
consultora inglesa considerou positivas as alterações no Fundo, como a saída de
Filomeno dos Santos, filho do antigo chefe de Estado angolano José Eduardo dos
Santos, e a criação de uma nova política de investimento para restaurar a
credibilidade internacional do FSDEA.
Mas Yuri Quixima lança críticas:
"Reduzir o dinheiro do fundo para aplicar nos municípios sem organizar a
economia seriam políticas de muito curto prazo", tendo em conta que
"as infraestruturas que se vão criar são na sua maior parte estruturas de
consumo. Mas não são infraestruturas produtivas com grande impacto a médio e
longo prazo no crescimento económico".
Precioso Domingos diz que a
aproximação das autárquicas prejudica a realização de reformas económicas
estruturais. "O facto de o Presidente ter autarquias em 2020 e querer ser
reeleito em 2022 faz com que as medidas de reforma não sejam tão sérias como se
esperava. A ousadia do Presidente não vai ser aquela que esperávamos. Vai
querer continuar a manter um conjunto de pessoas que ele entende que são
estratégicas do ponto de vista de eleições", diz.
O documento produzido
pela EIU, a unidade de análise económica da revista inglesa "The
Economist",prevê ainda uma inflação de 17,8% para este ano. Os motivos são
o enfraquecimento do kwanza e as descidas das taxas de juros. "As medidas
para combater a inflação vão ser prejudicadas pela dinâmica cambial, combinada
com o corte de julho aos subsídios da eletricidade", diz o texto.
Karina Gomes | Deutsche Welle
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