quinta-feira, 22 de agosto de 2019

"O petróleo vai tirar-nos da crise", diz economista angolano


Consultora inglesa prevê que Angola vai permanecer em recessão até 2020. Para economista, o aumento da produção do petróleo pode ajudar o país a superar a crise. Serão também necessárias reformas mais profundas.

A Economist Intelligence Unit (EIU) prevê que a economia de Angola vai permanecer em recessão até 2020. A perspetiva económica fraca segue os crescimentos negativos nos últimos anos, que foram impulsionados pela descida do preço do petróleo desde 2014.

No ano passado, a recessão foi de 1,2%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e, nos primeiros três meses deste ano, a economia angolana voltou a entrar no vermelho com uma contração de 0,4%. Em 2018, a produção de petróleo caiu quase 10%, e atrair investimento externo para os recursos petrolíferos continua difícil.

O economista angolano Yuri Quixima frisa que "o problema da economia de Angola é o não aumento da produção do petróleo, independentemente de o preço ter crescido consideravelmente comparando com o último semestre de 2014, no início da crise do petróleo."

"Os pilares que fazem crescer a economia de Angola ainda não estão bem patentes. Por exemplo, o consumo alimentado pelas receitas petrolíferas e a dívida da China. E esses dois elementos estão a cair cada vez mais em função da queda da produção petrolífera", acrescenta Quixima.


Mais petróleo é a solução?

O economista Precioso Domingos partilha da mesma opinião. "É necessário lidar com os problemas ao nível da produção. Não há setor não-petrolífero que possa compensar isso", afirma em entrevista à DW.

Segundo Domingos, o petróleo pode ser o grande salvador da economia: "Aquilo que o Governo entende como sendo a causa da crise em Angola, que é o petróleo, é também o que nos vai tirar dessa crise."

"Tendo em conta as novas medidas que vêm sendo tomadas para recuperar a produção pelos campos marginais e a possibilidade do preço relativamente mais favorável do que há dois anos também pode atrair-se mais investimentos. Isso é o que vai fazer com que, no médio prazo, Angola cresça mais", sublinha.

A EIU prevê uma vitória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), nas eleições do próximo ano, e avalia que o Presidente angolano, João Lourenço, vai consolidar "as ligações económicas e de comércio, continuando a assinar acordos com os seus vizinhos."

Mas a consultora inglesa prevê que o "sentimento protecionista e os gargalos logísticos vão continuar, dificultando o crescimento potencial a médio termo", apesar dos esforços para aumentar a presença do setor privado na economia, diversificar a economia e aumentar os fluxos de investimento.

Reformas aquém do esperado

A EIU acrescenta que canalizar os 2 mil milhões de dólares do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) para financiar o desenvolvimento dos municípios é uma decisão sensata, mas representa uma visão de curto prazo, que pode limitar o potencial de investimentos a longo prazo. A consultora inglesa considerou positivas as alterações no Fundo, como a saída de Filomeno dos Santos, filho do antigo chefe de Estado angolano José Eduardo dos Santos, e a criação de uma nova política de investimento para restaurar a credibilidade internacional do FSDEA. 

Mas Yuri Quixima lança críticas: "Reduzir o dinheiro do fundo para aplicar nos municípios sem organizar a economia seriam políticas de muito curto prazo", tendo em conta que "as infraestruturas que se vão criar são na sua maior parte estruturas de consumo. Mas não são infraestruturas produtivas com grande impacto a médio e longo prazo no crescimento económico".

Precioso Domingos diz que a aproximação das autárquicas prejudica a realização de reformas económicas estruturais. "O facto de o Presidente ter autarquias em 2020 e querer ser reeleito em 2022 faz com que as medidas de reforma não sejam tão sérias como se esperava. A ousadia do Presidente não vai ser aquela que esperávamos. Vai querer continuar a manter um conjunto de pessoas que ele entende que são estratégicas do ponto de vista de eleições", diz.  

O documento produzido pela EIU, a unidade de análise económica da revista inglesa "The Economist",prevê ainda uma inflação de 17,8% para este ano. Os motivos são o enfraquecimento do kwanza e as descidas das taxas de juros. "As medidas para combater a inflação vão ser prejudicadas pela dinâmica cambial, combinada com o corte de julho aos subsídios da eletricidade", diz o texto.

Karina Gomes | Deutsche Welle

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