Classificada de antidemocrática,
medida adotada a pedido de Boris Johnson leva milhares de britânicos às ruas do
país. Petição contra a manobra reúne mais de 1 milhão de assinaturas.
Opositores veem tentativa de golpe.
A decisão do primeiro-ministro
britânico, Boris Johnson, de forçar a suspensão
das atividades do Parlamento britânico nesta quarta-feira (28/08),
gerou revolta no meio político e protestos em diversas cidades do Reino Unido.
A medida, que deverá valer por
cinco semanas a partir de 10 de setembro, é vista como uma tentativa de
bloquear os esforços dos parlamentares contrários ao Brexit.
Milhares de pessoas saíram às
ruas para condenar a atitude de Johnson, considerada por muitos uma ameaça à
democracia no país. Manifestações ocorreram em Londres, Edimburgo, Cardiff,
Manchester, Bristol, Cambridge e Durham. A maior delas foi realizada
em frente à sede do Parlamento, na capital britânica.
Uma petição contra a suspensão do
Parlamento reuniu mais de 1 milhão de assinaturas em menos de um dia.
"O Parlamento não deve ser
suspenso ou dissolvido a menos e até que o período do Artigo 50 [referente ao
Tratado de Lisboa, que determina os procedimentos para os países que queiram
deixar a União Europeia] seja suficientemente estendido ou que a intenção do
Reino Unido de deixar a União Europeia tenha sido cancelada", dizia o
texto da petição.
Opositores chegaram a denunciar a
manobra de Johnson como uma tentativa de golpe ou até uma "declaração
de guerra". O premiê argumenta que a medida foi necessária para que o
governo possa avançar com uma nova agenda legislativa "ousada e
ambiciosa".
"O Parlamento terá a
oportunidade de debater o programa do governo como um todo e lidar com o
Brexit", disse Johnson em carta aos parlamentares.
A suspensão do Parlamento foi
autorizada pela rainha Elizabeth 2ª, que desempenha a função de chefe de
Estado. O anúncio da manobra ocorreu pouco depois de as lideranças dos partidos
de oposição concordarem em se unir para tentar bloquear um Brexit sem acordo.
O líder da oposição, Jeremy
Corbyn, definiu a medica como um assalto à democracia e reforçou a
possibilidade de convocar uma moção de desconfiança que poderia resultar na
deposição de Johnson pelo Parlamento, onde o premiê possui uma frágil maioria
de apenas uma cadeira a mais do que a oposição.
Corbyn enviou uma carta à
Elizabeth 2ª para expressar preocupação em relação aos planos de Johnson e
pediu à monarca uma reunião privada para abordar o assunto, o que também foi
feito pela líder do Partido Liberal Democrata, Jo Swinson.
"Protestei nos termos mais
fortes em nome do meu partido e de todos os outros partidos que vão se unir
para dizer que suspender o Parlamento não é aceitável", disse Corbyn.
"O que o primeiro-ministro está fazendo é uma espécie de assalto à
democracia para forçar uma saída da União Europeia sem acordo."
O presidente da Câmara dos Comuns
(câmara baixa do Parlamento), John Bercow, que geralmente não comenta assuntos
do governo, classificou a medida de uma "aberração constitucional".
"É óbvio que o propósito dessa suspensão agora seria impedir que o
Parlamento debata sobre o Brexit e cumpra com seu dever de definir o rumo do
país", completou.Com a suspensão, o Parlamento britânico deixará de se
reunir entre 10 de setembro e 14 de outubro. Os trabalhos apenas serão
retomados com a abertura da nova legislatura, que ocorre após uma cerimônia
chamada "o discurso da rainha", que Johnson pediu para que a monarca
adiasse.
A retomada das atividades do
Parlamento também ficou bastante próxima de uma reunião do Conselho Europeu
para discutir o Brexit, marcada para 17 e 18 de outubro. A reunião é vista como
um momento-chave para que o governo consiga um novo acordo de última hora com
os europeus.
A data para o Brexit está
prevista para 31 de outubro, e Johnson vem declarando repetidamente que
uma saída
sem acordo (o "no deal") é uma possibilidade.
Deutsche Welle | RC/afp/dpa
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