quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Angola | A PONTE GENÉTICA!... -- Martinho Júnior



Há dois anos publiquei esta intervenção na minha página no Facebook (e em outras de vários grupos) e, pela sua acuidade, parece-me bom relembrá-la hoje, quando cada vez mais se torna evidente que para a sobrevivência da espécie humana e o respeito que a Mãe Terra de todos merece, urge construir todas as pontes umbilicais em benefício da civilização e da vida!

Em Angola está-se não só longe de assim proceder, como também as interpretações egoístas e elitistas em relação à natureza obstruem, ou chegam mesmo a fazer esquecer, a necessidade de educação de todo o povo angolano no sentido de se mobilizar para cuidar de todo o espaço nacional, dos seus tão diversificados ambientes e, sobretudo, da água interior, por que água é vida, garante de biodiversidade e garante da sobrevivência do próprio homem, cujo corpo tem mais de 60% de OH2!

O avanço para norte dos desertos do Kalahári e do Namibe é um dos fenómenos que estão já a afectar a vida em Angola em toda a periferia sul e, com a diminuição dos caudais em muitos cursos de água, a começar a ameaçar a região central das grandes nascentes, pelo que essas tão necessárias pontes umbilicais em benefício da civilização e da vida, são um premente assunto que já de há muito deveria ter sido cuidadosa e massivamente abordado.


Há preocupações visíveis do actual Presidente da República pelas periferias norte, leste e sul, todavia, apesar dos planos de aproveitamento dos rios para a construção das tão necessárias barragens (em especial o Cuanza), barragens hidroeléctricas produtoras de energias limpas, as questões ambientais não só não revertem para as prioridades em termos do respeito pela sustentabilidade a muito longo prazo, como o relacionamento dos factores físico-geográfico-ambientais com os factores humanos, continua a não estar na ordem do dia influenciando o carácter do poder, do estado e de toda a sociedade!

Isso acontece por que o capitalismo neoliberal deseduca o próprio estado angolano, absorvido no que dá lucro imediato e é estendido pelos ventos de elitismo que sopram movendo êxtases e miragens turísticas a partir do Botswana, sob a directa influência do “lobby” dos minerais e do capitalismo transnacional que lhe é “genético”!...

Esse elitismo aproveita oportunisticamente para absorver em seu benefício todo o possível conhecimento científico sobre a imensa região que já domina para além das kimberlites responsáveis por colocar o Botswana no lugar de primeiro produtor mundial de diamantes!
A mudança de paradigma deveria ter sido para ontem e, cada ano que passa, as pontes umbilicais dos angolanos para com o respeito pela natureza do seu próprio país, correm o risco de ser pontes que irão correr atrás dos prejuízos como sobre brasas já está a acontecer a sul, por que não havendo cultura científica, nem educação e mobilização de todo o povo angolano no sentido duma geostratégia para um desenvolvimento sustentável, é o futuro que está em risco e as futuras gerações!


Aqueles que lutaram no movimento de libertação pelo direito à vida independente e soberana de Angola, clamam hoje pela sua sequência, não só pelo seguro direito à vida dos humanos, mas pelo equacionar dos garantes de sustentabilidade e segurança a muito longo prazo, por que para que o homem seja feliz em Angola, terá de ser muito mais responsável e consciente em relação à água interior de todo o seu espaço nacional e regional, sobretudo em relação ao fenómeno imprescindível da região central das grandes nascentes!

Que se respeite o caminho de civilização que está aberto para todo o povo angolano e que todas as pontes umbilicais que se construírem sejam nesse exclusivo sentido!

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Para cada um de nós, seres humanos, houve um dia a disponibilidade secreta duma ponte-dádiva, original, uma ponte umbilical, num ambiente desconhecido, incógnito, misto de trevas, de plácidas águas e veludo, quando a vida nada mais era senão um micro embrião: uma nave cósmica em seu bojo, com seu sangue, com seu pulsar, com seu leve ardor intermitente, concedia então o tudo ou nada ao projecto fluido dum novo ser!


Não o interpretávamos, nem o sabíamos enquanto tal: estávamos na inocência absoluta, como na absoluta dependência, como na ignorância completa que momentos antes havia apenas deixado de ser apagão!

Pouco a pouco contudo, sensível e emocionalmente, essa ponte umbilical, abria-se à primeira impressão consistente, para lá dos próprios sentidos e limites insipientes e nos conduzia em pleno plasma, no trago das águas, até ao outro lado do desconhecido, à mais inusitada das percepções que um micro embrião poderia a quente deter e começar a decifrar: a dialética na primeira das relações, a relação entre duas margens com a nossa própria mãe!

Desde então, ficou gravado no mais profundo do subconsciente humano, a incontornável qualidade vital da ponte entre o micro embrião e nossa mãe, da mãe de cada um, da mãe que concedeu ao homem o impulso inusitadamente contraditório de sua própria vida, ainda que ele intrinsecamente mal se apercebesse enquanto frágil projecto!...

Foi assim que a mãe nos gravitou até à força latente de sermos após o parto, com a carga de informação genética e o transe do nascimento, para com os outros, para com o presente, para com o passado e para com os sonhos, a plataforma, inscrita sete mil milhões de vezes, reproduzida e multiplicada, de prodigiosos construtores de pontes…

Em muitos casos, os artifícios acumulados procuraram subverter a vida, de tão inesperada e estranha que ela é, com pontes que são apenas meros reflexos subvertidos, ou cópias degradadas da original ponte vital e genética.

Saibamos racional e maduramente interpretar a densidade dessa dádiva tornada lição e elevá-la por sua vez a uma ponte ainda mais abrangente, de civilização, respeitando com toda a humildade a arquitectura e a engenharia, dialética e vital, da Mãe Terra… e dos seus múltiplos cordões umbilicais, disponíveis em outras incontáveis pontes!

Sejamos ainda mais humildes enquanto transitórios sonhadores construtores de pontes, colectores de legados e sonhos intemporais e de margens: estamos singularmente em breve passagem num planeta azul perdido no universo, feitos de seus próprios materiais, de suas químicas e dialéticas condições…

A transitoriedade da vida conforme ela é misteriosamente sondada, é num planeta que por seu turno, não passa de outro frágil micro embrião num plasma incontinente do que supostamente será, numa escala que ao homem é impossível avaliar (quão minúsculos e ignorantes somos, ainda que com todo o saber acumulado), a quase impenetrável nave do espaço sideral, ela própria com suas tão insondáveis pontes e invisíveis cordões umbilicais e ainda mais vaporosas margens!  --  Martinho Júnior - Luanda, 11 de Setembro de 2017 

Martinho Júnior -- Luanda, 14 de Setembro de 2019

Imagens:
01- A primeira ponte umbilical de cada ser humano, garante de gestação e crescimento até ao nascer;
02- Queimadas, uma ruptura na ponte genética e umbilical entre o homem e a natureza, prejudicial para os fenómenos climático-ambientais; não há argumento algum que possa justificar a falta de educação e mobilização do estado e de todo o povo angolano no sentido de fazer a todo o transe diminuir o carbono na atmosfera do seu próprio país e cuidar dos rios voadores que são as nuvens, das chuvas emanadas delas e dos fenómenos que dão origem à região central das grandes nascentes;
03- O homem fora duma estação espacial, liga-se a ela pela ponte umbilical que lhe garante vida nas condições extraterrestres;
04- Quadro comparativo do número de queimadas por país: Angola é, de longe, o país que tem produzido mais queimadas no mundo e o estado angolano, ao invés de educar-se e mobilizar-se, educando e nobilizando seu próprio povo, ilude-se e aliena-se com as propostas de conceitos elitistas sobre o ambiente e a natureza que sopram do Botswana, só por que elas dão lucro e brilham como os diamantes;
05- A região central das grandes nascentes é, para a vida em Angola, a muito longo prazo, um garante de sustentabilidade, como é a água componente em mais de 60% do corpo humano, garante equação e condição de sua própria vida...

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