Na Alemanha, ministro do Meio
Ambiente tenta reverter derretimento da imagem do Brasil no exterior. "Sem
acordo com criminosos do clima", pedem ativistas do Greenpeace em ato
contra reunião de Salles com indústria alemã.
O ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, foi alvo de protesto em Berlim nesta segunda-feira
(30/09). Dezenas de ativistas do braço alemão do Greenpeace organizaram uma
manifestação em frente à sede da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e
Comércio (DIHK), no centro da capital alemã, contra a visita do brasileiro.
Cerca de 50 manifestantes
segurando bandeiras do Brasil e da Alemanha montaram um cordão de isolamento em
frente ao prédio a fim de impedir a entrada de Salles.
Eles também estenderam uma faixa
na fachada com a frase "Sem acordos com criminosos do clima", em
referência ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), e exibiram o
tronco de uma árvore em chamas. Na tora, estava escrito: "Não destruam a
Amazónia." Os ativistas ainda ancoraram um barco no rio Spree, que
passa ao lado da sede da confederação.
"A mudança climática é um
problema global. A agenda do governo Bolsonaro em relação ao clima tem sido a
favor do lobby do agronegócio, mas a destruição da Amazónia é algo que coloca todos
no planeta em perigo", disse o representante do Greenpeace Jannes Stoppel.
No entanto, Salles não chegou a
comparecer a qualquer encontro no local nesta segunda-feira. Apesar de a agenda
vazada indicar uma reunião, nada chegou a ser oficialmente acertado com o
ministro no local, segundo representantes da DIHK.
Na semana passada, Salles
iniciou uma turné pelos Estados Unidos, França e Alemanha para tentar
reverter o derretimento da imagem do Brasil e do governo do presidente Jair
Bolsonaro no exterior por causa da má repercussão das queimadas e do aumento do
desmatamento na Amazónia.
Mas o Ministério do Meio Ambiente
tem evitado divulgar antecipadamente a programação do ministro. Salles chegou a
Berlim no domingo, mas sua agenda no site da pasta não indica nenhum
compromisso na capital pelos próximos três dias. O ministro deve deixar a
Alemanha na quarta-feira e seguir para o Reino Unido.
Apesar de sua agenda pública
parecer vazia, Salles deve se reunir na terça-feira à tarde com Svenja Schulze,
ministra do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da
Alemanha. A reunião foi confirmada pela pasta alemã.
Em agosto, Schulze determinou a
suspensão de repasses da sua pasta no valor de 155 milhões de reais para
projetos de preservação no Brasil em reação às ações do governo Bolsonaro na
área ambiental.
Na ocasião, a suspensão do
repasse provocou uma reação agressiva do presidente brasileiro, que declarou:
"Ela [Alemanha] não vai mais comprar a Amazónia, vai deixar de comprar a
prestações a Amazónia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa
disso." Diante da resposta de Bolsonaro, Schulze reagiu: "Isso mostra
que estamos fazendo exatamente a coisa certa."
Ainda está previsto um encontro
entre Salles e o ministro Gerd Müller, da pasta para Cooperação e
Desenvolvimento da Alemanha. O governo brasileiro também vem travando uma queda
de braço com esse ministério, desta vez relacionada ao futuro do Fundo
Amazónia, o programa bilionário de proteção à floresta que conta com recursos
da Noruega e da Alemanha.
No primeiro semestre, Salles
promoveu uma série de mudanças unilaterais na gestão do programa, incluindo a
extinção de dois comités, o que contrariou os alemães e os noruegueses. Os dois
países europeus também se posicionaram contra uma proposta do ministro
brasileiro de usar recursos do fundo para indemnizar fazendeiros que ocupam
áreas de proteção ambiental, e rechaçaram publicamente insinuações de Salles
sobre supostas fraudes na gestão do programa.
Salles ainda tem programado em
Berlim encontros com a imprensa alemã, incluindo o jornal conservador Frankfurter
Allgemeine Zeitung. Na semana passada, na sua etapa francesa da turnê
internacional, o ministro evitou falar com a imprensa brasileira, preferindo
conceder entrevista ao diário conservador francês Le Figaro. Na ocasião,
ele também foi alvo de protesto em Paris, e sua agenda não incluiu nenhum
encontro com autoridades francesas.
Clarissa Neher, Jean-Philip
Struck (de Berlim) | Deutsche Welle
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