terça-feira, 24 de setembro de 2019

Portugal | Maioria absoluta? Não, obrigado!


Rui Sá | Jornal de Notícias | opinião

Em 2002, numa freguesia do Porto, nenhuma força política obteve a maioria absoluta na respetiva Assembleia.

O PS, que tinha ganho as eleições e, consequentemente, eleito o respetivo presidente da Junta, negociou com a CDU um acordo para a composição da Junta de Freguesia (que é eleita pela Assembleia). E assim aconteceu, com uma Junta constituída por elementos do PS e da CDU, cada um com o seu pelouro, e que governou de uma forma globalmente positiva até 2005.

Nas eleições que se realizaram nesse ano, e onde naturalmente o PS e a CDU concorreram com listas próprias, no domingo à noite, após a contagem dos votos constatou-se que, mais uma vez, o PS ganhava as eleições sem maioria absoluta. Rapidamente entraram em contacto coma CDU com uma conversa do tipo: "Camaradas, o nosso acordo durante estes quatro anos correu bem, pelo que o devemos reeditar para os próximos quatro anos". Pela parte da CDU houve acordo relativamente a essa proposta, pelo que se pensava que assim iria acontecer. No entanto, na recontagem dos votos que normalmente se faz constatou-se que, afinal, o PS tinha a maioria absoluta (não me recordo as razões mas, habitualmente, estas alterações devem-se a votos mal classificados - ou porque são considerados nulos e depois declarados válidos ou porque contabilizados no partido errado).

Aí a conversa mudou. O PS deixou de contactar os "camaradas" da CDU e, apesar da experiência "positiva" do mandato anterior, achou por bem constituir uma Junta de Freguesia monocolor apenas com eleitos socialistas.


Esta experiência, que apesar de anedótica é autêntica, mostra bem o que está em jogo nas próximas eleições legislativas. Bem sei que, a nível nacional, e ao contrário do que acontece nas freguesias, não houve acordos de governação nem houve "governantes" de outros partidos que não do PS.

Mas, no fundo, e apesar das "falinhas mansas" que António Costa tem adotado nos últimos tempos (dizendo que independentemente dos resultados vai dialogar muito e que as políticas seguidas nos últimos anos são para prosseguir), todos sabemos que, caso o PS tenha maioria absoluta, o disco mudará e o PS fará o que sempre fez (à exceção desta legislatura e mesmo aí com "recaídas"...), ou seja, governar à Direita. Por isso é sem admiração que vemos, por exemplo, o patrão dos patrões a afirmar que prefere um Governo de maioria absoluta do PS ou que vemos Rui Rio, desesperado, a tentar inverter a tendência de voto "útil" de eleitores do PSD no PS - porque estes, sabendo que o seu partido não ganha, preferem uma maioria absoluta do PS do que o deixar condicionado à Esquerda...... E, se a Direita vota útil no PS, aos eleitores de Esquerda só lhes resta votarem útil nas forças à sua esquerda...

*Engenheiro

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