Rui Sá | Jornal de Notícias |
opinião
Em 2002, numa freguesia do Porto,
nenhuma força política obteve a maioria absoluta na respetiva Assembleia.
O PS, que tinha ganho as eleições
e, consequentemente, eleito o respetivo presidente da Junta, negociou com a CDU
um acordo para a composição da Junta de Freguesia (que é eleita pela
Assembleia). E assim aconteceu, com uma Junta constituída por elementos do PS e
da CDU, cada um com o seu pelouro, e que governou de uma forma globalmente
positiva até 2005.
Nas eleições que se realizaram
nesse ano, e onde naturalmente o PS e a CDU concorreram com listas próprias, no
domingo à noite, após a contagem dos votos constatou-se que, mais uma vez, o PS
ganhava as eleições sem maioria absoluta. Rapidamente entraram em contacto coma
CDU com uma conversa do tipo: "Camaradas, o nosso acordo durante estes
quatro anos correu bem, pelo que o devemos reeditar para os próximos quatro
anos". Pela parte da CDU houve acordo relativamente a essa proposta, pelo
que se pensava que assim iria acontecer. No entanto, na recontagem dos votos
que normalmente se faz constatou-se que, afinal, o PS tinha a maioria absoluta
(não me recordo as razões mas, habitualmente, estas alterações devem-se a votos
mal classificados - ou porque são considerados nulos e depois declarados
válidos ou porque contabilizados no partido errado).
Aí a conversa mudou. O PS deixou
de contactar os "camaradas" da CDU e, apesar da experiência
"positiva" do mandato anterior, achou por bem constituir uma Junta de
Freguesia monocolor apenas com eleitos socialistas.
Esta experiência, que apesar de
anedótica é autêntica, mostra bem o que está em jogo nas próximas eleições
legislativas. Bem sei que, a nível nacional, e ao contrário do que acontece nas
freguesias, não houve acordos de governação nem houve "governantes"
de outros partidos que não do PS.
Mas, no fundo, e apesar das
"falinhas mansas" que António Costa tem adotado nos últimos tempos
(dizendo que independentemente dos resultados vai dialogar muito e que as
políticas seguidas nos últimos anos são para prosseguir), todos sabemos que,
caso o PS tenha maioria absoluta, o disco mudará e o PS fará o que sempre fez
(à exceção desta legislatura e mesmo aí com "recaídas"...), ou seja,
governar à Direita. Por isso é sem admiração que vemos, por exemplo, o patrão
dos patrões a afirmar que prefere um Governo de maioria absoluta do PS ou que
vemos Rui Rio, desesperado, a tentar inverter a tendência de voto
"útil" de eleitores do PSD no PS - porque estes, sabendo que o seu
partido não ganha, preferem uma maioria absoluta do PS do que o deixar
condicionado à Esquerda...... E, se a Direita vota útil no PS, aos eleitores de
Esquerda só lhes resta votarem útil nas forças à sua esquerda...
*Engenheiro
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